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Uso da adubação verde para a recuperação de solos degradados

Leia sobre o uso de plantas de cobertura para a recuperação de áreas degradadas.



Os solos podem se tornar degradados por atividades agrícolas através da eliminação de florestas / matas nativas, uso de solos inaptos, exposição do solo à fatores erosivos / intempéries, plantio convencional, uso insuficiente ou excessivo de fertilizantes e de água de irrigação, uso inadequado de máquinas e equipamentos agrícolas e ausência de práticas conservacionistas. A degradação abrange a perda da capacidade de produção ou do potencial de uso econômico.

Para recuperar estas áreas, existem diversas práticas e ferramentas disponíveis, sendo o uso de plantas de cobertura uma das mais importantes para a recuperação destas áreas.

Neste conteúdo, não iremos focar nos detalhes do processo de degradação, mas sim no uso das plantas de cobertura para a recuperação dos solos degradados.

A recuperação de áreas degradadas inclui algumas metas:

  • Aumento do teor de matéria orgânica no solo;
  • Aumento do teor de nutrientes no solo;
  • Aumento da biodiversidade;
  • Melhorar a qualidade e disponibilidade de água;
  • Promover equilíbrio entre os componentes bióticos e abióticos do sistema;
  • Promoção da cobertura viva no solo durante todo o ano;
  • Aumento do desenvolvimento de raízes agressivas para promover boa ciclagem de nutrientes, aeração, agregação, atividade biológica e rompimento de camadas adensadas;
  • Reduzir ou eliminar processos de degradação;
  • Reduzir a erosão do solo.

 

Benefícios dos adubos verdes / cobertura verde no solo

Os adubos verdes influenciam as características químicas, físicas e biológicas do solo, conforme as características de cada espécie de planta.

 

Efeitos químicos da adubação verde no solo

  • Fixação biológica de nitrogênio atmosférico;
  • Aumento da CTC;
  • Redução do alumínio tóxico;
  • Ciclagem de nutrientes;
  • Remoção de metais pesados;
  • Aporte de nutrientes.

 

Efeitos físicos da adubação verde no solo

  • Aumento da estabilidade de agregados;
  • Redução da erosão (hídrica e eólica);
  • Menor variação de temperatura;
  • Redução da densidade do solo;
  • Aumento da porosidade;
  • Aumento da infiltração e retenção de água;
  • Aumento da aeração;
  • Facilita o desenvolvimento de raízes.

 

Efeitos biológicos da adubação verde no solo

  • Maior atividade de microrganismos benéficos (fixadores de nitrogênio, micorrizas, minhocas);
  • Supressão de microrganismos causadores de doenças (através da alelopatia e promoção da competição).

Para entender melhor esses benefícios da adubação verde, clique aqui!

 

Recuperação de áreas degradadas com plantas herbáceas e arbustivas

As áreas degradadas por atividades agrícolas podem apresentar diversos problemas como o declínio da produtividade e da qualidade dos produtos, ou até a impossibilidade de se realizar um cultivo agrícola. A recuperação da área degradada busca melhorar a integridade ecológica, biodiversidade e estabilidade da área em longo prazo, podendo tornar esta área apta a um novo uso produtivo, desde que sustentável.

O uso de plantas melhoradoras promovem diversos benefícios:

  • Cobrem o solo rapidamente, predominando sobre a vegetação nativa, sem exigir altos custos de controle. O rápido cobrimento promove redução da erosão (hídrica e eólica), bem como reduz oscilações de temperatura e degradação da matéria orgânica. Além disso, ocorre também diminuição da evaporação de água;
  • Reciclagem de nutrientes, trazendo-os das camadas mais profundas do solo para camadas mais superficiais, reduzindo a perda dos nutrientes;
  • Rompimento de camadas compactadas e/ou coesas no solo;
  • Remoção de metais pesados (com destaques para feijão-de-porco, mucuna preta e Galianthe grandifolia);
  • Aumento do teor de matéria orgânica.

 

Recuperação de áreas degradadas com plantas arbustivas e herbáceas

Abaixo temos alguns resultados de estudos, mas caso você queira ler mais sobre as espécies para adubação verde, clique aqui!

 

Plantas para cultivo no outono / inverno

As espécies de plantas a serem usadas dependem do clima, solo e região. Estudos no RJ apontam que tremoço-branco e aveia preta promoveram bons resultados em solos pobres em fósforo, cálcio e magnésio. Já no norte do MT, centeio e nabo-forrageiro promoveram bons resultados, ao passo que no sul do estado, as plantas que se destacaram foram aveia-preta, aveia-branca, centeio, nabo-forrageiro, tremoço-branco e triticale. Já estudos conduzidos no sudoeste do RS, a aveia-preta reduziu em 92% a movimentação de areia pelo vento, reduzindo assim a arenização.

Outros estudos avaliaram o nitrogênio acumulado em plantas de milho, observando maior produtividade na cultura com ervilhaca e nabo-forrageiro (solteiros ou consorciados com aveia) do que com pousio e aveia solteira. Outros estudos também apontaram maior produção de massa seca de milho em cultivos subsequentes à aveia-preta, aveia-branca, nabo-forrageiro e braquiária.

 

Plantas para cultivo na primavera / verão

As espécies mais estudadas são as leguminosas de primavera / verão. Estudos feitos em Luvissolo degradado em Alagoinha (PB) apontaram que leucena, mucuna-preta, guandu, kudzu e feijão-de-porco foram as mais eficientes para a produção de fitomassa. Em outro estudo no Acre, consórcios de Massai com leguminosas amendoim-forrageiro e puerária aumentaram em 80% a produtividade de forragem quando comparados com pastagens solteiras.

Já em Uberaba (MG), bons resultados para produção de massa seca e aporte de N para o solo foram obtidos com milheto e crotalária, ao passo que em MS, crotalária, guandu e consórcio crotalária + milheto promoveram os melhores resultados de produtividade em repolho. Em solos compactados em Goiás, o milheto teve boa densidade e comprimento de raízes em todas as camadas e graus de compactação, ilustrando um bom potencial de uso e adaptabilidade a solos degradados.

 

Recuperação de áreas degradadas com plantas arbóreas

A escolha das espécies e quantidades de plantas para a recuperação da área deve ser feita com sabedoria.

Nas florestas, existem as plantas:

  • Pioneiras: crescem rapidamente em locais iluminados e possuem ciclo de vida curto;
  • Secundárias: crescimento e necessidade de iluminação intermediárias
  • Clímax: crescimento lento em locais sombreados, possuem longo ciclo de vida.

As plantas pioneiras conseguem se desenvolver em locais com sol pleno, e produzem rapidamente muitas sementes pequenas, geralmente com dormência, que são dispersas por animais. As espécies clímax, cujo crescimento é mais lento, germinam e se desenvolvem na sombra, e produzem sementes grandes, geralmente sem dormência.

Existem também plantas cujos frutos atraem diversos animais, que irão dispersar suas sementes, sendo essas espécies de plantas denominadas "bagueiras". Temos como exemplo as espécies açaí juçara (Euterpe edulis), figueiras, palmeiras, mirtáceas etc.. Essas espécies promovem o aumento do número de espécies na área, sendo uma boa estratégia.

Para a recuperação de áreas degradadas em zonas ripárias, pode-se isolar a área, eliminar os fatores de degradação, controlar espécies competidoras, conduzir a regeneração natural, introduzir mudas, semeadura direta ou hidrossemeadura, transferência de serrapilheira, indução de banco de sementes autóctones, transferência de banco de sementes alóctones e poleiros (naturais e artificiais).

 

Na tabela abaixo, podemos observar o hábito e utilidade de espécies arbóreas para a recuperação de áreas degradadas.

Espécie Hábito Aproveitamento
Açaí (Euterpe precatoria) Palmeira Alimento e construção
Açoita-cavalo (Luehea sp.) Árvore Madeira
Angelim-branco (Andira sp.)  Árvore Forragem
Araçá (Eugenia sp.) Árvore Mel e forragem
Araçá-d'água (Myrciaria dubia Árvore Alimento
Araçá-verde (Psidium sp.) Árvore Alimento e lenha
Araticum-cagão (Annona densicoma Árvore Forragem
Aroeira (Astronium lecointei) Árvore Madeira
Breu-folha-miúda (Protium sp.) Árvore Forragem
Buchicho-liso (Miconia sp.) Árvore Mel
Carapanaúba-amarela (Aspidosperma auriculatum Árvore Medicamento e lenha
Caroba (Jacaranda copaia) Árvore Madeira
Cedro (Cedrela odorata) Árvore Madeira
Cedro-branco (Cedrela fissilis) Árvore Madeira
Cedro-bravo (Guarea sp.) Árvore Mel
Cipó-sangue (Machaerium sp.) Cipó Mel
Cipó-unha-de-gato (Acacia sp.) Cipó Medicamento
Copaíba-branca (Copaifera sp.) Árvore Madeira e medicamento
Fava-branca (Piptadenia sp.) Árvore Construção
Freijó-branco (Cordia sp.) Árvore Forragem
Fumo-bravo (Aegiphila sp.) Árvore Mel
Goiabinha (Eugenia sp.) Árvore Mel e forragem
Imbaúba-branca (Cecropia leucoma) Árvore Forragem e medicamento
Ingá-canela (Inga sp.) Árvore Alimento e lenha
Ingá-mirim (Inga sp.) Árvore Alimento e lenha
Jacareúba (Calophyllum sp.) Árvore Madeira
Jatobá (Hymenaea courbaril) Árvore Madeira, alimento e medicamento 
Jenipapo (Genipa americana) Árvore Madeira e alimento
Jequitibá (Cariniana sp.) Árvore Madeira
Laranjinha (Casearia gossypiospermum) Árvore Madeira
Limãozinho (Zanthoxylum rhoifolium) Árvore Construção
Louro-amarelo (Nectandra sp.) Árvore Forragem e construção
Louro-manga (Ocotea sp.) Árvore Forragem e lenha
Malva-branca (Heliocarpus sp.) Árvore Artesanato
Morototó (Didymopanax morototoni) Árvore Madeira
Mutamba-preta (Guazuma ulmifolia) Árvore Madeira, alimento e medicamento
Pau-alho (Gallesia gorazema) Árvore Mel
Pau-pirarucu (Actinostemon amazonicus) Árvore Mel
Pau-pombo (Tapirira guianensis) Árvore Madeira
Pau-sangue (Pterocarpus sp.) Árvore Lenha e construção
Pau-xixuá (Maytenus sp.) Árvore  Medicamento
Pau-d'arco-amarelo-folha-lisa (Tabebuia sp.) Árvore Madeira, medicamento e lenha
Pequi (Caryocar villosum) Árvore Madeira e alimento
Periquiteira (Trema micrantha) Árvore Forragem e construção
Peroba-rosa (Aspidosperma sp.) Árvore Madeira
Pirarara-mirim (Esenbeckia sp.) Arbusto Mel e medicamento
Pupunha (Bactris gasipaes) Palmeira Alimento
Sacaca (Croton sp.) Arbusto MEdicamento
Samaúma-barriguda (Chorisia speciosa) Árvore Madeira, forragem
Tarumã (Vitex triflora Árvore Madeira, lenha
Timbaúba (Enterolobium maximum) Árvore Madeira, forragem e artesanato
Ubim-do-brejo (Geonoma sp.) Palmeira Construção
Urucu (Bixa orellana) Árvore Alimento e medicamento
Vela-branca (Allophylus floribundus) Árvore Mel e ferragem

Fonte: Adaptado de Wadt et al. (2003).

 

O sistema agrofloresta é uma boa alternativa para a recuperação de áreas degradadas. Neste sistema, as árvores são plantadas / manejadas em associação com culturas agrícolas ou forrageiras. Neste sistema são combinadas diversas espécies com diferentes funções no ecossistema: ciclagem de nutrientes, atração de fauna, fixação de carbono, geração de renda etc.

A recuperação de áreas de pastagens pode ser feita com espécies arbóreas em sistema silvipastoril, proporcionando sombreamento que favorece o crescimento de pastagens e bem-estar animal. Algumas plantas, como pequi, angico ou canafístula, além de servirem como fonte de proteínas, podem fornecer frutos, madeira ou outras fontes de renda. Outras espécies podem também atuar como fixadoras de nitrogênio atmosférico nas áreas degradadas, observe a tabela abaixo.

 

Espécie  Porte máximo (m)  Possibilidade de uso
Acacia auriculiformis 20 Ornamentação e tanino
Acacia longifolia 8 Lenha e mel
Acacia mangium 30  Celulose e construção civil
Acacia mearnsii 10 Tanino
Albizia guachapele 20 Ornamentação
Albizia lebbeck 25 Forragem
Albizia Saman 30 Ornamentação
Casuarina equisetifolia 30 Tanino, quebra-vento e fixação de dunas
Casuarina cunninghamiana  20 Quebra-vento
Calliandra clothyrsus 10 Cerca viva e ornamentação
Clitoria fairchildiana 20 Lenha
Enterolobium cyclocarpum 40 Cerca viva e postes
Enterolobium contortisiliquum 30 Cerca viva e postes
Gliricidia serpium 10 Forragem e moirão vivo
Inga marginata 15 Alimentação e mel
Leucaena leucocephala 20 Forragem
Mimosa bimucronata 10 Lenha
Mimosa caesalpiniifolia 10 Forragem, mourão e quebra-vento
Mimosa flocculosa 7 Lenha
Mimosa scabrella 12 Mel
Mimosa tenuiflora 5 Cerca viva
Paraserianthes falcataria 40 Tanino e celulose
Piptadenia gonoacantha 20 Lenha
Sesbania grandiflora 10 Forragem e tanino

Fonte: Adaptado de Franco et al. (1992).

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

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