O que é a minhocultura / vermicompostagem? Como fazer? Quais as vantagens?
Leia sobre o manejo de um minhocário.
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O que é a minhocultura?
Espécies de minhoca usadas no minhocário
Tipos de minhocário
Onde instalar o minhocário?
Alimentos para o minhocário
Cuidados especiais com o minhocário
Coleta de húmus no minhocário
Como usar húmus de minhoca
Reciclagem de minhocas no minhocário
Problemas e soluções no minhocário
O que é a minhocultura?
A minhocultura (ou vermicompostagem) é o uso de minhocas para transformar, biologicamente, resíduos orgânicos em adubo (húmus). A prática possui várias aplicações e adapta-se facilmente ao campo e ao meio urbano, produzindo tanto o húmus quanto minhocas, ambos com possibilidade de comercialização e complementação de renda.
O húmus de minhoca é um ótimo fertilizante, que melhora os atributos físicos (melhora a estrutura do solo e formação de agregados), químicos (oferta, retenção e ciclagem de nutrientes) e biológicos (aumenta a diversidade de microrganismos benéficos) do solo.
Mais especificamente, o húmus é rico em nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio, melhora a aeração e umidade do solo, equilibra o pH etc.
Na produção agrícola, os estercos são muito utilizados como fonte de resíduos orgânicos. As minhocas concentram e disponibilizam nutrientes no húmus com mais rapidez do que a decomposição natural do esterco, e, além disso, o húmus é mais concentrado, possui menor teor de umidade e menor densidade, logo, é necessário uma quantidade menor à ser aplicada no solo em comparação ao esterco.
É normal pensarmos que a simples presença de minhocas no solo já é o suficiente para a adubação das plantas, porém, apesar da ocorrência natural das minhocas, a produção de húmus é baixa, não atendendo as demandas nutricionais das plantas.
Para aumentar a produção de húmus e acelerar o processo, realiza-se a criação das minhocas em cativeiro, sob condições minimamente controladas, produzindo húmus de qualidade em quantidades suficientes através de um processo fácil, de baixo custo e com pouca mão-de-obra quando bem planejado. Sendo uma atividade adaptada à pequena escala de produção, a sua realização em uma propriedade familiar depende do espaço físico para instalação do minhocário, da disponibilidade de resíduos orgânicos para servir de alimento às minhocas e de alguns minutos diários para o manejo.
Créditos: Pixabay
Espécies de minhocas usadas em minhocário
As espécies mais adequadas para a compostagem são as minhocas epigéicas, ou seja, espécies que vivem mais próximas à superfície, alimentando-se basicamente de resíduos orgânicos, ingerindo grandes quantidades de materiais ainda não decompostos. Assim, recomenda-se a minhoca vermelha-da-califórnia e a noturna africana, pois são espécies que se alimentam de resíduos orgânicos semi-crus, com alta capacidade de reprodução e crescimento rápido. Dependendo da situação, opta-se por uma ou por outra.
Minhoca vermelha-da-califórnia
Conhecida também como vermelhinha, é a preferida para a produção de húmus pois, devido a alta adaptabilidade às condições de criação intensiva, também produz grandes quantidades de húmus, se reproduz rapidamente e é altamente resistente às condições ambientais.
Diariamente esta espécie consome o seu peso em matéria orgânica e produz um casulo a cada 2 ou 3 dias, contendo em seu interior 3 ou 4 minhocas.
Vale ressaltar que as minhocas são hermafroditas. Cada indivíduo apresenta aparelhos reprodutores masculino e feminino, porém, para alcançar bons níveis de reprodução, a minhoca-vermelha-da-califórnia precisa se acasalar com outra minhoca de sua espécie, e ambas devem estar na idade adulta (verificada pela presença do clitelo bem desenvolvido).
O ciclo de vida desta espécie é de aproximadamente 45 dias. Para cada 10 quilos de esterco, a minhoca vermelha-da-califórnia produz cerca de 6 quilos em húmus.
Noturna africana
Conhecida também como gigante-africana, é bastante utilizada no mercado de iscas vivas para a pesca e para a produção de proteínas na alimentação animal. É uma espécie que tem crescimento acelerado nos primeiros 50 dias de ciclo, e tem um tamanho médio entre 8 e 19 centímetros. Possui um peso médio entre 2,7 e 3,5 gramas, e é mais sensível à mudanças de temperatura e manipulação, tendo uma preferência por temperaturas em torno de 25°C, tolerando variações entre 16°C e 30°C. Desta forma, a criação em locais onde as temperaturas atinjam níveis abaixo de 15°C é inviável.
Outro fator limitante é a fuga, esta espécie que possui grande mobilidade, e foge do cativeiro sempre que este apresenta alguma condição prejudicial às suas necessidades (MARTINEZ, 1998). Esta espécie possui também bastante capacidade de degradação de restos orgânicos.
Tipos de minhocário
Para agricultores familiares que não pretendem vender comercialmente o húmus, mas apenas usá-lo na propriedade, sugere-se a construção de um minhocário de baixo custo e pouca manutenção, que produza húmus com esterco dos animais ou restos vegetais oriundos da propriedade.
Minhocário campeiro
É o mais simples e barato de ser construído, deve ser montado em local sombreado durante a maior parte do dia, especialmente nas horas mais quentes (entre 10h e 14h), evitando o ressecamento da superfície e fuga das minhocas. É aconselhável também posicionar o minhocário em um terreno com leve declividade, evitando o encharcamento pela chuva.
O tamanho do minhocário campeiro depende mais da disponibilidade de alimento para as minhocas do que do material de construção. Sugere-se uma área de 1m x 1m x 0,2m, facilitando a colocação do alimento e retirada de húmus. O interior do minhocário deve ser forrado com tela tipo sombrite ou filme plástico perfurado, contendo o alimento e as minhocas, porém, permitindo a passagem do excesso de água.
Para evitar os efeitos da chuva, deve-se cobrir o minhocário com folhas secas ou construir uma proteção com ripas de bambu cortadas ao meio e revestidas com lona de plástico.
As minhocas devem ser colocadas no fundo do minhocário, e sobre elas o alimento, forçando assim as minhocas a se deslocar para cima, garantindo sua distribuição pelo minhocário.
Para um minhocário de 1 metro de largura por 1 metro e 20 centímetros de comprimento, são necessárias entre 1200 e 1500 minhocas, e 3 a 4 carrinhos de mão de esterco bovino, totalizando aproximadamente 90 quilos. O esterco deve ter entre 4 e 7 dias, não sendo muito fresco e úmido, evitando a fuga das minhocas.
Durante o verão, o minhocário irá produzir aproximadamente 50 quilos de húmus em 40 ou 50 dias, já no inverno, esta produção é atingida em até 90 dias.
Minhocário sob túnel baixo de plástico
Indicado para produtores que já desenvolvem alguma atividade relacionada com o cultivo de hortaliças e dispõem de estrutura para túnel de plástico na sua propriedade. Este minhocário possui como vantagem uma cobertura barata e eficiente contra a chuva, melhorando o controle da umidade e consequentemente qualidade final do produto, visto que as perdas de nutrientes do húmus são menores em comparação com o minhocário campeiro.
As medidas do minhocário podem ser adaptadas de acordo com o material disponível, porém, a largura não deve ser superior a 1 metro. A melhor maneira de montar esse tipo de minhocário é montando a estrutura do túnel, de forma que as pontas dos arcos sejam fincadas perpendiculares ao chão. Para a montagem do túnel, seguir o mesmo procedimento em canteiros de hortaliças:
- Fixar arcos e estacas. O topo das estacas deve ser protegido com algum material resistente evitando que o plástico se rasgue.
- Colocar os esteios.
- Depois, colocar o plástico de cobertura sobre os arcos, amarrando as extremidades aos esteios, com um cordão resistente de náilon ou com arame.
Deve-se atentar para que o plástico fique esticado de tal forma que não fique nem muito solto e nem muito justo. Para que a cobertura fique bem segura, deve-se cruzar um cordão resistente entre os vãos do túnel. Já as laterais do minhocário podem ser montadas com bambu, tijolos, tábuas de madeira etc. O fundo deve ser forrado com pedaços de tela tipo sombrite.
O manejo do túnel é de extrema importância. A cobertura só deve ficar fechada durante a noite ou em dias chuvosos. Já em dias ensolarados, recomenda-se abrir a cobertura, evitando a alta elevação da temperatura interna. Se o minhocário estiver em local bastante exposto ao sol, pode-se colocar uma tela do tipo sombrite na estrutura do túnel de plástico.
Neste sistema, assim como no minhocário campeiro, as minhocas também são colocadas no fundo e o resíduo orgânico colocado sobre elas. É importante também manter uma cobertura de palha sobre o resíduo orgânico, evitando o ressecamento na camada superior e protegendo as minhocas da incidência de luz.
Para o minhocário sob túnel baixo, com 1 metro de largura e 4 metros de comprimento, são necessárias aproximadamente 4500 minhocas e 12 carrinhos de mão de esterco bovino (aproximadamente 360 quilos), produzidos entre 4 e 7 dias e sem excesso de umidade, que resultarão em 200 a 220 quilos de húmus após 40 a 50 dias.
Onde instalar o minhocário?
A escolha do local correto para a instalação do minhocário é muito importante. Caso a produção seja para comercialização, o local de instalação deve ser próximo ao mercado consumidor, para não encarecer um produto que é barato. Em caso de grande produção, também deve haver energia elétrica.
O local também deve estar próximo à fontes de matéria-prima e de fonte de água limpa (evitar água com cloro), e longe de residências. O acesso deve ser fácil para facilitar o manejo. Recomenda-se a instalação em local parcialmente sombreado, em terrenos elevados com pouca declividade. Deve ser um local sem excesso de umidade ou de vento.
O minhocário deve ter temperaturas médias entre 20ºC e 25ºC, umidade de 60% a 70%, ph 7,0, boa aeração e drenagem, evitando compactação e encharcamento do meio.
Alimentos para o minhocário
As minhocas exigem uma alimentação balanceada, rica em nitrogênio, fibras e carboidratos. Logo, toda matéria orgânica de origem animal ou vegetal, passada por pré-compostagem, livre de fermentação pode ser usada no minhocário. Assim, as fontes podem ser esterco de animais, restos de cultura, palha, folhas, cascas de frutas, lixo domiciliar, lodo de esgoto e resíduos agroindustriais.
O esterco bovino é um dos mais comuns devido a grande disponibilidade nas propriedades. Contudo, podemos também usar estercos de outros animais como porcos, cavalos, ovelhas, aves ou de coelhos, porém, tendo um maior cuidado nas características físico-químicas do esterco.
Os estercos quando recolhidos frescos, devem passar por um pré-tratamento, evitando as altas temperaturas que são prejudiciais às minhocas. Uma compostagem prévia destes estercos por 15 ou 20 dias pode ser suficiente.
Para o esterco bovino, que possui relação C/N em torno de 30, a vermicompostagem pode levar de 30 a 40 dias. Para outros resíduos com relação C/N acima deste valor, o tempo será mais longo, especialmente se não forem triturados.
Resíduo orgânico | % C | % N | Relação C/N | Autores |
---|---|---|---|---|
Esterco de boi | 40 | 1,20 | 33 | Aquino, 1996 |
Esterco de cavalo | 26 | 1,44 | 18 | Kiehl. 1985 |
Esterco de galinha poedeira | 17 | 4,00 | 4 | Almeira, 1991 |
Esterco de porco | 49 | 3.06 | 16 | Petrussi et al. (1998) |
Palha de capim colonião | 51 | 0,41 | 124 | Silva, 1992 |
Leucena | 47 | 3,28 | 14 | Silva, 1992 |
Guandu | 52 | 3,10 | 17 | Aquino, 1996 |
Mucuna preta | 49 | 2,24 | 22 | Kiehl, 1985 |
Crotalária júncea | 51 | 1,95 | 26 | Kiehl, 1985 |
Bagaço de cana-de-açúcar | 55 | 0,20 | 273 | Aquino, 1996 |
A incorporação de resíduos vegetais como palhas, restos de frutas ou de hortaliças pode ser uma boa alternativa para a alimentação das minhocas, porém, devemos atentar para não usar restos vegetais doentes ou infectados, evitando a propagação de doenças e diminuindo a qualidade do húmus.
Devemos evitar também o excesso de restos vegetais suculentos como abóbora ou melancia, pois podem atrair insetos ou ratos, além da possibilidade de fermentação destes resíduos, comprometendo o desenvolvimento das minhocas. Quando possível, estes tipos de resíduos devem ser picados e compostados em outro local para diminuir a umidade. Alimentos que devem ser evitados são: restos de carne ou saladas com sal e óleo, pois estes prejudicam a atividade das minhocas.
Sempre que o alimento principal das minhocas for mudado, aconselha-se que o agricultor encaminhe uma amostra do húmus para um laboratório de análise de solos e resíduos orgânicos credenciado, avaliando o seu teor de nutrientes.
O agricultor que possui gado leiteiro pode usar a água de lavagem dos vasilhames e restos de farinha de milho para enriquecer o esterco.
Após preenchido os canteiros com a matéria-prima compostada, pode-se cobrir com folhas de bananeira ou restos de capina, o que irá manter a umidade e proteger contra a incidência direta de luz solar, além de reduzir a fuga das minhocas.
Teste de resíduos
Caso haja dúvida se o alimento está ou não em condições de ser fornecido às minhocas, é possível fazer um teste simples:
- Pegar uma garrafa PET de 2 litros, cortada ao meio (usar a parte inferior) e colocar 300 gramas do alimento
- Soltar 10 minhocas adultas na superfície do alimento
- Fechar o recipiente com pano ou TNT e fixar com alguma corda ou atilho de borracha
- Após 24 horas, retirar a cobertura e verificar se houve tentativa de fuga das minhocas. Depois contar o número de minhocas que permaneceram no alimento.
Se todas as minhocas tiverem permanecido no alimento, é sinal de que o material tem condições de ser usado na alimentação delas. Por outro lado, se uma quantidade de minhocas tentou fugir, ou se as minhocas apresentarem um sintoma estranho (corpo mais mole do que o normal, pouca movimentação, partes do corpo inchadas ou aspecto sanguinolento), significa que o alimento ainda não está pronto e precisa ser compostado por mais alguns dias. Este teste deve ser repetido tantas vezes quantas forem necessárias, para ter certeza que o alimento está em condições de ser usado e que não representa risco para as minhocas.
Como adicionar os alimentos no minhocário?
No manejo convencional, o minhocário é preenchido até o seu limite com os alimentos (apenas uma vez), e então as minhocas são introduzidas na superfície. Este método possui alguns problemas como a dificuldade de se observar quando o alimento já foi totalmente consumido, e a dificuldade de se retirar as minhocas devido ao seu espalhamento.
O manejo em camadas é feito adicionando camadas sucessivas de alimento conforme a camada anterior já tiver sido transformada em húmus, facilitando a retirada do húmus em diferentes momentos, conforme a necessidade do agricultor, e a retirada do maior número de minhocas no fim do processo. Adiciona-se cerca de 1000 a 1200 minhocas por metro quadrado, colocando-as no fundo do canteiro junto com um pouco de húmus do canteiro de onde as matrizes vieram. Então, coloca-se a primeira camada de alimento com 10 a 20 centímetros de espessura.
O tempo de processamento depende da população de minhocas e época do ano. Quando a primeira camada apresentar um aspecto de borra de café, a camada de alimento tiver uma redução de altura (de 40%) e as minhocas uma pequena redução de tamanho, significa que o alimento já foi consumido. Nesse estágio, o húmus pode ser retirado e armazenado na sombra até sua estabilização final (entre 30 e 60 dias) ou pode se continuar o preenchimento do canteiro, colocando a próxima camada de alimento, sempre com a mesma espessura.
Quando as minhocas percebem a nova camada de alimentos, migram para esta nova camada deixando os casulos na camada inferior. Seguindo este manejo, a próxima camada só será adicionada após a segunda camada ter sido consumida, podendo se adicionar quantas camadas forem possíveis.
Este tipo de manejo tem como vantagens a uniformidade química e física do húmus, possibilidade de interromper o processo e utilizar o húmus quando uma camada for finalizada e facilidade em remover a maioria das minhocas do canteiro. Já as desvantagens deste processo são a diferença no grau de humificação entre as camadas e a diferença de umidade entre camadas superiores e inferiores.
Cuidados especiais com o minhocário
- Ao comprarmos um esterco produzido fora da propriedade, devemos atentar para a presença de sementes de plantas daninhas que podem vir juntas misturadas ao esterco e infestando a propriedade.
- Não realizar mudanças bruscas na alimentação, evitando estressar as minhocas, que pode acontecer até com esterco de animais com alimentação diferenciada (gado criado a pasto e gado confinado). É importante conhecer a procedência do esterco oferecido às minhocas.
- Atentar para a presença de formigas que podem formar ninhos no canteiro e se alimentar das minhocas. Deve-se remover estes ninhos do canteiro, eliminando também o húmus ao seu redor.
- Não aplicar produtos químicos. A aplicação de borra de café, farinha de ossos ou casca de ovo moída pode inibir o aparecimento das formigas e complementar a alimentação das minhocas.
- Atentar-se ao aparecimento de sanguessugas (extremamente danosas para as minhocas), que vivem em ambientes semelhantes e são parecidas com as minhocas na fase jovem, porém com coloração mais alaranjada e maior resistência ao esmagamento. Quando adultas, as sanguessugas não possuem clitelo visível, ao contrário da minhoca (Imagem abaixo). Para prevenir, os canteiros devem ser bem drenados, e quando ocorre a presença das sanguessugas, deve-se retirá-las manualmente e destruí-las. Se a infestação for alta e houver grande quantidade de minhocas mortas, deve-se descartar o canteiro e reiniciar a criação com novas matrizes de minhocas.
- Outros animais de maior porte como ratos, sapos, rãs e aves podem aparecer no canteiro, devendo assim ser eliminados através do uso de armadilhas ou telas de proteção.
- Nos minhocários ao ar livre, deve-se eliminar outras espécies de minhocas que possam ser atraídas devido à abundância de alimentos. A presença de outras espécies de minhocas reduz a uniformidade de húmus e reprodução das minhocas.
- Sempre estar atento à umidade do alimento, não devendo ficar abaixo de 50%, ficando sempre entre 60% a 75%. Para controlar a umidade, devemos pegar um pouco do material na mão e apertar, se não escorrer água, o material está muito seco e é preciso umedecer, se escorrer bastante água na mão e no braço, deve-se suspender o molhamento e revirar o alimento diariamente até atingir os níveis indicados, e se surgirem apenas algumas gotas entre os dedos, significa que a umidade está adequada.
Coleta de húmus no minhocário
Para sabermos o momento certo para se coletar o húmus, devemos fazer uma análise visual do minhocário, observando as seguintes situações:
- Húmus pronto deve ter coloração escura e uniforme;
- Odor agradável de terra molhada;
- Granulometria deve ser semelhante à borra de café;
- Redução do tamanho das minhocas (sinal de que não há mais alimento no minhocário);
- Aparência de graxa ao esfregar o substrato nas mãos.
Quando o minhocário é manejado em camadas, as minhocas ao terminar de consumir a última camada de alimentos, já se encontram na superfície em sua maioria, facilitando a separação do húmus. A maneira mais prática de se executar esta tarefa é por meio da colocação de iscas com sacos vazios de batata ou cebola em cima da última camada de húmus, colocando uma quantidade de alimento novo sobre a rede e aguardando 2 dias para as minhocas passar pela rede em busca do alimento novo.
A rede é então retirada com as minhocas e o alimento, e é levada para outro local, onde se iniciará um novo minhocário. As iscas devem ser feitas tantas vezes quanto forem necessárias, até se verificar que poucas minhocas surgem no alimento novo. As minhocas capturadas por este método são suficientes para se iniciar um novo minhocário. Este procedimento não retira todas as minhocas do húmus, permanecendo algumas, e outras nascerão dos casulos, porém, isto é um problema apenas quando o minhocultor visa comercializar o húmus. Os interessados na exploração comercial devem buscar as informações necessárias na legislação vigente sobre produção e comercialização do húmus de minhoca (Instrução Normativa SDA nº25, de 23 de julho de 2009, da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Outro método para separação das minhocas do húmus, é a instalação de canteiros com divisórias. Aos 40 dias aproximadamente, a divisória deve ser suspensa e as minhocas se movem naturalmente para o esterco recém colocado na outra parte (quando necessário). Durante uma semana, mantém-se a divisória suspensa e, ao final desse período, deve-se observar se as minhocas já migraram e, em caso afirmativo, abaixa-se a divisória e retira-se o húmus.
Para a separação das minhocas com peneiras, deve-se evitar a irrigação do húmus pelo menos uma semana antes. Então, usa-se as peneiras que possuem grande eficiência na separação, porém, é um trabalho exaustivo que exige muita mão-de-obra.
O húmus pode ser usado logo que sair do minhocário, porém, atinge melhor qualidade química e biológica entre 1 e 2 meses após o armazenamento e, após este período, vai perdendo qualidade.
Como usar húmus de minhoca
Como mencionado anteriormente, a composição química do húmus de minhoca é muito variável e, por ser um material com elevada carga microbiológica, seu uso não deve ser recomendado da mesma forma que adubos minerais solúveis.
O húmus de minhoca deve ser armazenado por até 6 meses. A partir disso, vai perdendo os seus nutrientes.
Em valores médios, o húmus de minhoca apresenta:
- 50% de umidade
- pH entre 6,8 e 7,1
- 1,5% de nitrogênio
- 1,3% de fósforo (P2O5)
- 1,7% de potássio (K2O)
- 1,4% de cálcio (Ca)
- 0,5% de magnésio (Mg)
- entre 15:1 e 11:1 de relação Carbono/Nitrogênio (relação C/N)
Para fruteiras, as indicações generalizadas de uso são:
- 300 a 600 gramas na cova, no momento do plantio
- 1 a 2 quilos por pé a cada ano, na projeção da copa
Para hortaliças, as indicações generalizadas de uso são:
- 600 gramas a 1 quilo de húmus para cada metro quadrado de canteiro
- 300 gramas para espécies transplantadas para covas
Agricultores que possuem uma maior produção de húmus podem aplicar quantidades maiores, como 5 a 10 quilos por pé de fruteira ou 2 a 4 quilos por metro quadrado em canteiro de hortaliças. Entretanto, quando não é possível suprimir as necessidades das plantas com o húmus, deve-se complementar a nutrição com estratégias que aumentem e conservem a matéria orgânica no solo, como por exemplo plantas de cobertura e adubação verde.
Húmus líquido
Também é possível usar o húmus de minhoca na forma líquida, podendo ser usado na fertirrigação, pulverização foliar ou evitar a disseminação de sementes de plantas invasoras presentes no húmus (provenientes do esterco geralmente), recomendando-se o uso do húmus já estabilizado, armazenado por no mínimo 2 meses.
Para preparar o húmus líquido, devemos usar 2 quilos de húmus em 10 litros de água, evitando a exposição ao solo, e agitando vigorosamente até que todo o sólido se dissolva. O húmus líquido pode ser preparado de um dia para o outro, porém, recomenda-se o preparo durante 3 a 4 dias, agitando uma vez por dia durante 1 a 2 minutos.
Um dia antes da aplicação, recomenda-se não agitar para que as partículas sólidas se depositem no fundo facilitando a filtragem, que é feita com um tecido fino (do tipo “voile”), dobrado em 3 camadas para evitar o entupimento do sistema de irrigação. Após a filtragem, o produto pode ser aplicado diretamente, sem necessidade de diluição.
Em experimentos com morango, 1 litro de húmus por metro quadrado de canteiro a cada 15 dias apresentou resultados satisfatórios. Quanto ao material sólido, resultante do processo de filtração, mesmo com menor teor de nutrientes, pode ser usado como fertilizante em canteiros de hortas e pomares. Outro uso para o húmus líquido é o uso como bioestimulante, ativando os mecanismos de defesa e crescimento das plantas.
Reciclagem de minhocas no minhocário
As minhocas recolhidas podem ser reaproveitadas em uma nova produção de vermicomposto, e o excedente pode ser comercializado, sendo utilizado para complementar a alimentação de animais (produção de farinha) ou como isca de pesca.
Para se produzir a farinha, deve-se desidratar as minhocas, sendo a desidratação a frio o método mais empregado. Como a minhoca tem muita água, o rendimento é baixo, sendo necessário entre 7 e 9 quilos de minhoca para produzir 1 quilo de farinha. Na farinha são encontrados aminoácidos essenciais e vitaminas importantes para o desenvolvimento animal e até consumo humano, sendo um mercado em grande expansão a nível mundial.
Para complementar o conteúdo, recomendamos assistir ao vídeo abaixo, do canal "Compostagem e Minhocultura Descomplicada", que explica como elaborar um casulo para minhocas.
Problemas e soluções no minhocário
Leia abaixo sobre os problemas mais comuns no minhocário e suas respectivas soluções:
Problema | Solução |
Minhocas acumuladas na parte superior / cama muito úmida | Ocorre por excesso de água. Adicionar mais serragem e evitar alimentos ricos em água |
Minhocas acumuladas na parte inferior / cama muito seca | Ocorre por falta de água. Aplicar água. |
Cheiro desagradável / presença de moscas | Causado por falta de aeração. Parar de colocar alimentos e revolver a cama. |
Causado por excesso de comida. Parar de colocar alimentos e revolver a cama. | |
Presença de moscas | Causada por ambiente ácido / decomposição lenta. Evitar frutas ácidas e fragmentar os alimentos. |
Cheiro de mofo | Causado por alimentos como carne, laticínios ou gordura. Evitar estes alimentos. |
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
Aquino, Adriana Maria de. Vermicompostagem. RJ: Embrapa Agrobiologia, 2009. 6p. (Embrapa Agrobiologia. Circular Técnica, 29).
NADOLNY, Herlon Sérgio. REPRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS MINHOCAS ( Eisenia andrei Bouché 1972 e Eudrilus eugeniae (Kinberg 1867)) EM RESÍDUO ORGÂNICO DOMÉSTICO. Orientador: Prof. Dr. Jair Alves Dionísio. 2009. Dissertação de Mestrado (Mestre em agronomia.) - Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. p. 68.
SCHIEDECK, Gustavo et al. Minhocultura: Produção de húmus. ABC da Agricultura Familiar, EMBRAPA. Brasília, ed. 2, 2014.