CI

O que é a adubação verde? Quais as vantagens? Como fazer?

Aprenda a usar plantas de cobertura a seu favor



O que é adubação verde?

Adubação verde, também chamado de cobertura verde, é a planta, cultivada ou não, que tem como finalidade elevar a produtividade do solo através do melhoramento da fertilidade causado pela massa vegetal incorporada ao solo ou mantida na superfície. O uso da adubação verde voltou a ser uma prática viável para a manutenção e/ou elevação da produtividade dos sistemas agrícolas, anuais ou perenes, a partir da elevação dos preços dos insumos tradicionais, principalmente dos adubos nitrogenados. Quando bem realizada, a adubação verde resulta em um maior lucro líquido final, além de deixar o solo em melhores condições.

A adubação verde pode ser feita em rotação de culturas, sucessão de culturas ou em consórcio com a cultura principal.

 

Efeitos da adubação verde no solo

A adubação verde proporciona diversos benefícios químicos, físicos e biológicos no solo que irão refletir diretamente na produtividade agrícola.

 

Efeitos químicos da adubação verde no solo

Quanto aos efeitos químicos, diversas leguminosas podem fixar nitrogênio atmosférico em associação com bactérias. O uso dessas espécies como plantas de cobertura pode reduzir o custo de produção, reduzindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados.

Além disso, o alto aporte de fitomassa aumenta o teor de matéria orgânica no solo, resultando em aumento da CTC do solo, e, consequentemente, maior retenção de nutrientes, reduzindo as perdas por lixiviação.

Ainda, durante a decomposição dos resíduos vegetais, são produzidos ácidos orgânicos que podem se ligar aos íons de alumínio, reduzindo o alumínio tóxico no solo.

Ocorre também uma reciclagem de nutrientes quando as raízes das plantas capturam os nutrientes nas camadas subsuperficiais do solo, e o liberam na camada superficial após o corte das plantas e decomposição dos resíduos, tornando os nutrientes novamente disponíveis para as plantas de cobertura.

Quanto ao fósforo, os adubos verdes promovem o desenvolvimento de microrganismos envolvidos na liberação de enzimas que promovem a solubilização de fosfatos, tornando estes disponíveis para as plantas. Estas enzimas possuem maior atividade em modelos de agricultura com baixa aplicação de fósforo solúvel do que modelos com alta aplicação, pois estas enzimas são adaptativas, influenciadas pela demanda de fósforo das plantas, tendo sua atividade inversamente proporcional à disponibilidade do nutriente. Além disso, ácidos orgânicos liberados pelos adubos verdes podem competir pelos sítios de adsorção com o potássio no solo, deixando o nutriente mais disponível para as plantas.

Quanto ao potássio, as plantas de cobertura possuem grande capacidade de reciclar o nutriente, sendo liberado rapidamente dos tecidos vegetais, com pequena dependência dos processos microbianas. Assim as raízes das plantas de adubação verde resgatam esse nutriente das camadas mais profundas do solo, disponibilizando-os na camada superficial.

 

Efeitos físicos da adubação verde no solo

O aumento da matéria orgânica no solo, causada pela adubação verde, promove também efeitos físicos, como a estabilidade de agregados, densidade do solo, porosidade, taxa de infiltração de água e retenção de umidade. Estas mudanças também melhoram a aeração do solo e desenvolvimento das raízes.

As plantas de cobertura também proporcionam uma proteção física contra o impacto das gotas de chuva, reduzindo a desagregação das partículas de solo e consequentemente a erosão.

 

Efeitos biológicos da adubação verde no solo

A matéria orgânica fornecida pela adubação verde promove a atividade dos microrganismos do solo, além de diminuir as oscilações de temperatura e de umidade, o que também favorece a atividade dos microrganismos. A matéria orgânica também promove a reciclagem de nutrientes, melhorando o aproveitamento dos fertilizantes (principalmente os fosfatados).

Dentre os microrganismos favorecidos, temos os responsáveis pela fixação biológica de Nitrogênio atmosférico, importantes para a redução de custos com adubos nitrogenados. As micorrizas e as minhocas também são favorecidas pela matéria orgânica do solo, ambos organismos que promovem benefícios no solo e consequentemente nas plantas.

Quanto à supressão de patógenos, a adubação verde inibe o desenvolvimento de nematoides através da alelopatia, e, além disso, os resíduos vegetais aumentam a atividade biológica do solo, aumentando o número de espécies de organismos, o que promove um equilíbrio natural no solo, diminuindo a possibilidade de algum patógeno predominar. Crotalárias, mucunas e guandu são algumas das espécies de adubação verde que mais promovem o controle de nematoides.

 

Decomposição da adubação verde

A decomposição do adubo verde depende de diversos fatores:

  • Composição química dos resíduos vegetais
  • Temperatura;
  • Umidade;
  • pH;
  • Teor de nutrientes no solo.

Quanto à composição química dos resíduos vegetais, a relação C/N e os teores de lignina e polifenóis exercem bastante influência. Resíduos com baixa relação C/N (<25) e teores reduzidos de lignina e polifenóis promovem rápida mineralização, proporcionando grandes quantidades de nutrientes. Já os resíduos com alta relação C/N (>25) e altos teores de lignina e polifenóis são decompostos de forma mais lenta, podendo formar uma cobertura morta estável, o que beneficia as características físicas do solo como estrutura, porosidade, infiltração de água, aeração, menor oscilação térmica etc.

 

Vantagens da adubação verde

O uso da adubação verde proporciona melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo, proporcionando vantagens como: 

  • Proteção contra agentes erosivos: diminuição do impacto da gota de chuva (plantas atuam como uma barreira física) e diminuição da velocidade do escoamento superficial de enxurradas através da ação de plantas e raízes;
  • Menor aquecimento da superfície do solo através da interceptação dos raios solares, resultando em menores perdas de água por evaporação e menor decomposição da matéria orgânica;
  • Melhoria da infiltração/armazenamento de água no solo: as raízes das plantas formam agregados no solo em diferentes profundidades, a formação de agregados aumenta a porosidade do solo, aumentando os macroporos (responsáveis por drenar a água da chuva) e os microporos (responsáveis por armazenar água no solo), melhorando as condições para a próxima cultura comercial em épocas de estiagem;
  • Descompactação do solo: causada pelo aumento da porosidade no solo, criando uma estrutura melhor para o desenvolvimento de raízes. Recomenda-se a mistura de 5 espécies para esse fim.
  • Incorporação de nitrogênio ao solo: com o uso de espécies leguminosas, ocorre um aumento deste nutriente no solo através da fixação biológica de N atmosférico ou incorporação da biomassa. Espécies como a Crotalária podem incorporar 159 kg/ha/ano por exemplo, reduzindo os custos em adubação mineral.
  • Reciclagem de nutrientes: o sistema radicular mais profundo das plantas para adubos verdes capta os nutrientes em camadas mais profundas, trazendo-os novamente para a superfície, sendo absorvidos pela cultura comercial, além da maior quantidade de nutrientes aportados pela palhada das plantas de adubação verde.
  • Melhoria na atividade biológica do solo: aumento da microbiota do solo responsável pela degradação dos restos culturais, sendo um efeito benéfico. Além disso, ocorre também o aumento de microrganismos que venham a realizar o controle biológico de fitopatógenos.
  • Controle de plantas invasoras: com o plantio de espécies para adubos verdes, sobra menor espaço para a proliferação de plantas daninhas, além de possíveis efeitos alelopáticos das espécies utilizadas.
  • Auxílio no controle de pragas e doenças: plantas para adubação verde podem servir como hospedeiras para insetos que realizam o controle biológico de insetos praga, além de possivelmente quebrar o ciclo de vida de fitopatógenos. Por exemplo, espécies de crotalária em rotação com milho e soja diminuem a incidência de nematoide das galhas e nematoide das lesões. Este benefício, além de uma melhor sanidade na lavoura, resulta em menor gasto com defensivos agrícolas.
  • Possibilidade de comércio e/ou uso: dependendo da espécie utilizada, esta pode ter seus produtos comercializados e/ou consumidos pelo produtor.
  • Recuperação de áreas degradadas: espécies específicas realizam a manutenção da fertilidade em áreas degradadas, além da melhoria da qualidade e estrutura do solo, e diminuição dos fatores de degradação, como visto anteriormente.

 

Porém, para não termos prejuízos, é necessário pensar em alguns aspectos como: 

  • Realização de um bom planejamento das atividades;
  • Planejamento financeiro e da mão-de-obra
  • Dimensionamento da área;
  • Conhecimento do solo (e os tipos de adubos verdes que podem ser implementados com este solo);
  • Estabelecimento prévio dos objetivos com a adubação verde (melhoria da estrutura do solo, fertilidade, diminuição de plantas daninhas ou pragas etc.);
  • Escolha correta das espécies. Deve-se atentar também ao efeito alelopático de algumas espécies, por exemplo a canola possui efeitos prejudiciais à soja;
  • Planejar a compra de insumos e uso de máquinas;
  • Preparo do solo;
  • Época de incorporação das plantas no solo conforme a variedade cultivada.

 

Características das espécies para adubação verde

Algumas características das plantas para adubo verde devem ser observadas, como por exemplo:

  • Efeitos alelopáticos: algumas plantas possuem esta característica, prejudicando o crescimento de outras culturas, a exemplo da colza/canola que possui efeitos alelopáticos para a soja, ou o trigo mourisco que exerce um drástico efeito alelopático sobre o desenvolvimento do trigo comum. 
  • Rusticidade: a rusticidade é outra característica a ser observada, a planta recicladora deve ter baixa exigência em adubação química e pH
  • Ciclo: a planta para adubo verde deve possuir um ciclo de 80 a 100 dias como planta intercalar entre cultivos comerciais no mesmo ano agrícola, ou de 120 a 150 dias quando assume a condição de planta de estação cheia, substituindo um cultivo comercial dentro do ano agrícola. As espécies de ciclo curto entrarão em floração aos 40 - 50 dias após a semeadura e estarão prontas para a rolagem ou dessecação aos 50 - 60 dias, no estádio de floração plena. Já as plantas de estação cheia irão florescer 70 a 90 dias após a semeadura, e estarão em condições de serem roladas ou dessecadas aos 100 - 120 dias após o plantio. Uma planta com ciclo superior a 150 dias poderá prejudicar os cultivos comerciais.
  • Agressividade: quanto às plantas infestantes, a planta usada para adubo verde deve possuir uma boa agressividade competitiva contra aquelas, apresentando rápido crescimento e estabelecimento para competição, sem necessidade de lançar mão do uso de herbicidas ou capinas mecânicas. O planejamento da época de semeadura, espaçamento e densidade podem ser suficientes para que a planta recicladora se sobreponha às demais espécies. Além disso, a planta recicladora não deve representar ameaça aos cultivos comerciais como planta daninha. A menor ação de controle deve ser suficiente para retirar a espécie recicladora da competição com cultivos comerciais. 
  • Hospedeira de pragas / doenças: outra característica fundamental para a planta de adubo verde, é que esta não seja hospedeira das mesmas pragas e doenças da cultura comercial, quebrando assim o ciclo de vida destes problemas.
  • Reprodução: o florescimento e produção de sementes sem nenhuma interferência também são desejáveis, e para isso as exigências de temperatura, fotoperíodo, umidade e outras devem ser supridas pelo ambiente. Além disso, as sementes devem ter um alto vigor e poder germinativo, pois, caso contrário, irão demandar maiores quantidades de sementes por área, além da existência de plantas mal desenvolvidas, com debilidade competitiva frente às plantas daninhas. Ainda sobre as sementes, estas quando são grandes resultam em uma elevação de custos, e a forma da semente influencia a uniformidade de distribuição na área de cultivo, pois muitas semeadoras não são adaptadas às peculiaridades de forma de algumas espécies. A produção da própria semente pelo produtor reduz os custos de produção e assegura o sucesso da rotação e sucessão de culturas, porém deve-se ter cuidados quanto à sanidade de sementes.
  • Praticidade: a praticidade de manejo também é um fator importante no manejo de adubos verdes. A planta não deve exigir procedimentos que exijam um maior conhecimento e mão-de-obra. 

Devemos optar por espécies que sirvam tanto como melhoradoras das qualidades do solo, como para consumo animal ou humano, ou, ainda, para comercialização.


Imagem: Pixabay

 

Métodos de adubação verde

Para as espécies de verão, é possível realizar o cultivo durante a primavera e verão em regiões com suficiente disponibilidade de água. Já para as espécies de inverno, é possível o plantio destas na região sul do Brasil e em regiões elevadas do sudeste (onde ocorrem menores temperaturas em alguns meses), desde que haja chuva suficiente.

Existem basicamente dois métodos básicos para a adubação verde:

  • Rotação: para uma rotação de dois anos, dividimos a área em duas partes, plantando adubos verdes em uma delas por toda a estação, e no ano seguinte, plantando na outra. Para uma rotação de 3 anos, a cada ano um terço da área será cultivada com adubos verdes.
  • Culturas de cobertura de inverno: estas espécies ocupam uma área muitas vezes inutilizada pelo agricultor nesta época. Neste caso, a adubação verde acrescentará matéria orgânica ao ser manejada na primavera.
Tabela 1. Épocas de plantio para espécies de cobertura verde.
Espécies Épocas de plantio (mês)
J F M A M J J A S O N D
Aveia     P I I P            
Azevém     P I I P            
Calopogônio P P P           P I I P
Crotalária                 P I I P
Ervilhaca     P I I P            
Feijão de porco P P P           P I I P
Feijão Guandu Anão                 P I I P
Feijão Guandu P P P           P I I P
Girassol I P P             P P I
Labe-Labe P P P           P I I P
Milheto P P P           P I I P
Mucunas                 P I I P
Nabo Forrageiro     P I I P            
Soja Perene P P P           P I I P
Tremoço Branco     P I I P            

P = época de plantio
I = época ideal para plantio visando rendimento máximo
Fonte: Carlos, Costa & Costa, 2016

 

A cobertura verde pode ser plantada de forma:

  • Solteira: plantio exclusivo do adubo verde;
  • Consorciado com culturas anuais: plantado nas entrelinhas da cultura comercial;
  • Intercalada com culturas perenes: com o uso de espécies de ciclo temporário ou indeterminado;
  • Em faixas: define-se as faixas onde será cultivado o adubo verde, e o resto da área com culturas comerciais.

Nos anos seguintes, as áreas onde se cultivou adubos verdes devem ser deslocadas, de forma que as melhorias no solo ocorram em toda a propriedade.

Você pode ler mais sobre as espécies utilizadas como plantas de cobertura clicando aqui.

 

Continue lendo

Adubação verde - Espécies para cobertura verde

Menu geral de adubação orgânica

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

BARNI, Nídio Antonio et al. Plantas Recicladoras de Nutrientes e de Proteção do Solo, para Uso em Sistemas Equilibrados de Produção Agrícola. Boletim FEPAGRO, Porto ALegre, 12 jul. 2003.

CARLOS, José A. Donizeti; COSTA, Juliana Amorim da; COSTA, Manoel Baptista da. Adubação verde: Do conceito à prática. Série Produtor Rural, [s. l.], ano 2006, n. 30, 2006.

CARNEIRO, R. G.; MENDES, I. C.; LOVATO, P. E.; CARVALHO, A. M. de; VIVALDI, L. J. Indicadores biológicos associados ao ciclo do fósforo em solos de Cerrado sob plantio direto e plantio convencional. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 39, n. 7, p. 661-669, jul. 2004.

EMBRAPA et al. MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 1. ed. Brasília, DF: Editora Universidade Rural, 2013.

FRASER, P.M. The impact of soil and crop management practices on the dynamics of soil macrofauna. In: PANKHURST, C.E.; DOUBE, B.M.; GUPTA, V.V.S.R.; GRACE, P.R., eds. Soil Biota: Management in sustainable farming systems. Victoria: CSIRO, 1994. p.125-132.

KIEHL, E.J. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba: Ceres, 1985. 492p

LOPES, Otávio Manoel nunes; ALVEZ, Raimundo Nonato Brabo. Adubação Verde e Plantio Direto: Alternativas de Manejo Agroecológico para a Produção Agrícola Familiar Sustentável. Documentos, Belém, PA, 2005.

LYNCH, J.M. Biotecnologia do solo. São Paulo: Manole, 1986. 209p.

SANTOS, M.A.; RUANO, O. Reação de plantas usadas como adubos verdes a Meloidogyne incognita; Raça 3 e M. javanica. Nematologia Brasileira, s.l., v.11, p.184-197, 1987.

SIEVERDING, E. Vesicular-arbuscular mycorrhiza management in tropical agrosystems. Eschborn: Technical Cooperation, Federal Republic of Germany, 1991. 371p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.