Adubação Verde - Espécies para cobertura verde
Entenda o manejo de algumas espécies possíveis de serem utilizadas em adubação verde.
Escolher a espécie a ser utilizada para cobertura verde é tão importante quanto o manejo em si. As espécies trazem diferentes resultados ao solo, sendo imprescindível determinar, primeiramente, o objetivo da adubação verde. Após determinar o objetivo, pesquisamos por espécies que satisfaçam este, e definimos o manejo e época de cultivo, satisfazendo as necessidades de cada espécie. Seguindo esta página, você encontrará características de diversas espécies para adubação verde.
Espécies | Épocas de plantio (mês) | |||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
J | F | M | A | M | J | J | A | S | O | N | D | |
Aveia | P | I | I | P | ||||||||
Azevém | P | I | I | P | ||||||||
Calopogônio | P | P | P | P | I | I | P | |||||
Crotalária | P | I | I | P | ||||||||
Ervilhaca | P | I | I | P | ||||||||
Feijão de porco | P | P | P | P | I | I | P | |||||
Feijão Guandu Anão | P | I | I | P | ||||||||
Feijão Guandu | P | P | P | P | I | I | P | |||||
Girassol | I | P | P | P | P | I | ||||||
Labe-Labe | P | P | P | P | I | I | P | |||||
Milheto | P | P | P | P | I | I | P | |||||
Mucunas | P | I | I | P | ||||||||
Nabo Forrageiro | P | I | I | P | ||||||||
Soja Perene | P | P | P | P | I | I | P | |||||
Tremoço Branco | P | I | I | P |
Fonte: Carlos, Costa & Costa. 2006
A quantidade de cada nutriente é uma característica que em determinados casos nos ajuda a escolher a espécie mais adequada para uma determinada ocasião. Observe a tabela abaixo, retirada de um estudo:
Leguminosas | Massa seca | Idade (meses)* | N | P | K | Ca | Mg |
---|---|---|---|---|---|---|---|
t/ha | g/dm³ | ||||||
Feijão-de-porco | 6,4 | 6 | 33,8 | 3,1 | 6,7 | 11 | 7,9 |
Guandu | 5,5 | 6 | 14,9 | 2,3 | 3,8 | 3,3 | 2,0 |
Mucuna preta | 2,5 | 3 | 38,6 | 3,0 | 17,2 | 7,1 | 1,8 |
Mucuna anã | 2,0 | 2 | 40,3 | 4,8 | 11,6 | 11,4 | 5,7 |
Chamaecrista | 25,1 | 14 | 28 | 2,5 | 16 | 6,9 | 2,8 |
C. juncea | 4,8 | 4 | 14,7 | 2,2 | 3,6 | 9,9 | 7,0 |
C. spectabilis | 3 | 3 | 23,3 | 2,8 | 5,8 | 17,3 | 8,0 |
t/ha | kg/ha | ||||||
Feijão-de-porco | 6,4 | 6 | 216 | 20 | 43 | 70 | 51 |
Guandu | 5,5 | 6 | 82 | 13 | 21 | 18 | 11 |
Mucuna preta | 2,5 | 3 | 97 | 8 | 43 | 18 | 5 |
Mucuna anã | 2 | 2 | 81 | 10 | 23 | 23 | 11 |
Chamaecrista | 25,1 | 14 | 703 | 63 | 402 | 173 | 70 |
C. juncea | 4,8 | 4 | 71 | 11 | 17 | 48 | 34 |
C. spectabilis | 3 | 3 | 70 | 8 | 17 | 52 | 24 |
Fonte: Lopes & Alvez, 2005.
Este mesmo estudo verificou que, para as plantas de feijão-de-porco, guandu, mucuna preta e chamaecrista, em situações de solos de baixa fertilidade, sem aplicação de fertilizantes e corretivos, a produção de biomassa bem como a quantidade de nutrientes foi menor. Porém, a adaptação destas leguminosas em solos de baixa fertilidade, sem a aplicação de insumos apontam uma alternativa viável em médio e longo prazo para recuperação da fertilidade do solo.
Após decidida a espécie para ser utilizada, é necessário observar características sobre o plantio como profundidade, espaçamento e quantidade de sementes. Observe a tabela abaixo para plantio exclusivo de adubação verde.
Cultura | Prof (cm) | *Sementes (m) linear | *Quantidade (kg/ha) | **Sementes (m²) | **Quantidade kg/ha |
---|---|---|---|---|---|
Aveia preta | 2 a 3 | 56 | 54 | 281 | 60 |
Aveia preta | 2 a 3 | 70 | 50 | 350 | 60 |
Azevém | 1 | 150 | 10 | 752 | 12 |
Calopogônio | 1 a 2 | 18 | 8 | 88 | 10 |
Crotalária breviflora | 2 a 3 | 14 | 10 | 69 | 12 |
Crotalária juncea | 2 a 3 | 11 | 25 | 56 | 30 |
Crotalária mucronata | 2 a 3 | 20 | 6 | 37 | 7 |
Crotalária ochroleuca | 2 a 3 | 20 | 4 | 27 | 5 |
Crotalária spectabilis | 2 a 3 | 15 | 10 | 70 | 12 |
Ervilhaca | 2 a 3 | 30 | 30 | 150 | 40 |
Feijão de porco | 2 a 5 | 3 | 100 | 11 | 120 |
Feijão guandu anão | 2 a 3 | 9 | 25 | 44 | 30 |
Feijão guandu | 2 a 3 | 9 | 45 | 44 | 55 |
Girassol | 2 a 3 | 3 | 9 | 16 | 11 |
Labe-Labe | 2 a 3 | 5 | 40 | 27 | 55 |
Milheto | 2 a 3 | 52 | 12 | 259 | 15 |
Mucunas | 2 a 3 | 3 a 4 | 75 a 80 | 11 a 19 | 90 a 100 |
Nabo forrageiro | 2 a 3 | 24 | 10 | 118 | 12 |
Soja perene | 1 a 2 | 18 | 5 | 88 | 6 |
*Semeadura em linha com espaçamento de 0,25m.
** Semeadura a lanço
Fonte: Carlos, Costa & Costa. 2006
Espécie | Dias para florescimento | Hábito | Altura (m) | Massa verde / seca (t/ha) |
---|---|---|---|---|
Aveia | 70-150 | Touceira ereta | 0,8-1,2 | 25-60/3-6 |
Azevém | 150-180 | Touceira ereta | 0,6-0,8 | 30-60/3-6 |
Calopogônio | Perene | Trepadora | 0,4 - 0,8 | 20-30/4-5 |
Crotalária breviflora | 90-100 | Arbustivo ereto | 0,8-1,0 | 15-20/3-5 |
Crotalária juncea | 90-120 | Arbustivo ereto | 2,0-3,0 | 50-70/15-20 |
Crotalária mucronata | 120-150 | Arbustivo ereto | 1,5-2,0 | 20-40/5-10 |
Crotalária ochroleuca | 120-150 | Arbustivo ereto | 1,5-2,0 | 20-30/7-10 |
Crotalária spectabilis | 90-100 | Arbustivo ereto | 1,2-1,5 | 20-30/4-6 |
Ervilhaca | 120-150 | Decumbente | 0,5-0,8 | 20-30/4-6 |
Feijão de porco | 90-100 | Herbáceo determinado | 0,8-1,0 | 20-40/3-6 |
Feijão guandu anão | 90-120 | Arbustivo ereto | 1,0-1,2 | 20-40/4-9 |
Feijão guandu | 150-180 | Arbustivo ereto | 2,0-3,0 | 20-40/4-9 |
Girassol | 60-90 | Arbustivo ereto | 1,5-2,5 | 40-90/7-12 |
Labe-labe | 120-150 | Trepadora | 0,5-1,0 | 15-30/5-9 |
Milheto | 60-90 | Touceira ereta | 1,0-2,5 | 40-50/8-10 |
Mucuna anã | 90-120 | Herbáceo determinado | 0,5-1,0 | 10-50/2-8 |
Mucuna cinza | 120-150 | Trepadora | 0,5-1,0 | 10-50/2-8 |
Mucuna preta | 150-180 | Trepadora | 0,5-1,0 | 10-50/2-8 |
Nabo forrageiro | 60-90 | Herbáceo determinado | 0,5-1,5 | 25-50/2-5 |
Soja perene | Perene | Trepadora | 0,4-0,8 | 20-30/4-5 |
Tremoço branco | 120-150 | Arbustivo ereto | 0,8-1,2 | 30-40/3-5 |
Fonte: Carlos, Costa & Costa. 2006
Abaixo, listamos e caracterizamos algumas espécies possíveis de serem utilizadas para adubação verde / plantas de cobertura.
Espécies de inverno
Gramíneas
Apesar de não fixarem nitrogênio atmosférico, são importantes para quebrar o ciclo de proliferação de pragas, moléstias e plantas daninhas das culturas comerciais de leguminosas. Além disso, promovem uma cobertura de solo mais duradoura do que leguminosas, crucíferas e outras, devido a maior relação Carbono / Nitrogênio
- Aveias (Avena spp.): em muitos países é usada na alimentação humana devido ao alto teor de proteína (17 a 19%) e vitaminas, embora cerca de 80% seja destinado às pastagens. Esta planta atua reduzindo moléstias causadas por Rhizoctonia e Sclerotinia na soja, moléstias radiculares no trigo e população de nematoides. A aveia branca é mais adaptada a regiões temperadas, enquanto a preta é mais adaptada a regiões tropicais e subtropicais. Deficiência hídrica e altas temperaturas nos dias anteriores à emergência da panícula prejudicam os grãos, a floração e a maturação da cultura. Já na fase inicial de crescimento, a aveia suporta longos períodos de estiagem, recuperando o crescimento após a chuva. Na maturação, exige altas temperaturas e baixa umidade. Se utilizada como matéria prima para a indústria, não deve receber chuva após a maturação, pois causa escurecimento indesejável aos grãos.
Quanto ao solo, a aveia é menos exigente do que o trigo, cevada, centeio e azevém, produzindo bem em quase todos os tipos de solos, preferindo os solos leves, permeáveis, bem drenados, férteis e com alto teor de matéria orgânica. Já a aveia preta prefere solos argilosos, sendo mais rústica que a branca quanto à fertilidade e resistência à deficiência hídrica, sendo também menos sensível à acidez do solo do que o trigo, crescendo bem com pH entre 5,0 e 7,0.
A aveia amarela possui boa resistência à ocorrência de ferrugem e pulgões. Apresenta também maior resistência à seca. Pode ser cultivada em consorcio (azevém, ervilhaca, trevo, centeio etc.) ou solteira.
A aveia preta é usada para proteger o solo, reciclar nutrientes, rotacionar com outras gramíneas de inverno como trigo e cevada, alimentar animais (principalmente bovinos) e produzir grãos. Apresenta ótimos resultados quando consorciada com ervilhaca, nabo forrageiro ou outras leguminosas forrageiras. A consorciação é feita na proporção de ½ de sementes de aveia para ½ de sementes de ervilhaca ou nabo forrageiro (50kg/ha de aveia + 40 kg/ha de ervilhaca, ou 50kg/ha de aveia + 5 kg/ha de nabo forrageiro).
A semeadura da aveia solteira pode ser realizada em linhas espaçadas de 15 a 20 cm, usando 90 a 100 kg de sementes por hectare. Na semeadura a lanço, podem ser acrescentados até 20% de sementes, usando aproximadamente 120 kg de sementes por hectare.
Apesar de ser usada para proteger e adubar o solo, a aveia pode sofrer um ou dois cortes para pasto antes de se realizar a rolagem, dessecação e/ou incorporação. Esta deve ser feita quando a planta estiver em plena floração, 120 a 140 dias após a semeadura, feitos ou não os cortes. O ciclo completo para a produção varia entre 150 a 180 dias, com rendimento médio ao redor de 1200 kg/ha. A época de semeadura, como planta recicladora, vai de final de março até início de julho. - Azevém (Lolium multiflorum): é uma planta rústica, agressiva e com boa capacidade de perfilhamento, sendo cultivada nos estados do sul do Brasil, principalmente, para a alimentação de gado leiteiro. No Paraná, é bastante utilizada na rotação com soja, para controle de plantas invasoras e diminuição da aplicação de herbicidas no sistema plantio direto.
Trata-se de uma planta melhoradora do solo, com alta tolerância à geada, adaptada a regiões de clima temperado, desenvolvendo-se também em clima subtropical. Se desenvolve em qualquer tipo de solo, porém, preferindo os argilosos e ricos em matéria orgânica, sendo mais exigente que o centeio em questão de fertilidade, e possuindo boa tolerância à acidez do solo. Por outro lado, é considerada uma planta que esgota o solo.
Esta planta possui um ciclo que varia de 160 a 180 dias, dependendo da cultivar e da época de semeadura, que ocorre entre o final de março até o início de julho. A semeadura do cedo proporciona a produção de pasto ainda nos meses de inverno. Já na semeadura do tarde, o crescimento é mais lento, resultando em menor cobertura do solo, e a produção de feno ocorre no final do inverno e início da primavera. Para a cobertura do solo, como semeadura em linhas, se utiliza entre 30 e 40 kg. Já na semeadura a lanço, deve-se aumentar a quantidade em 20%. - Centeio: é utilizado como planta de cobertura e adubação verde, melhorando as condições físicas do solo, destacando-se pela sua precocidade, rusticidade em relação ao ataque de pulgões e condições de baixa fertilidade, redução de plantas daninhas em sistema plantio direto e resistência ao ataque de nematoides.
Trata-se de uma planta extremamente resistente à temperaturas baixas, suportando até 25ºC negativos, porém, pode ser prejudicado por ventos quentes e secos e excesso de chuva na floração, e apresenta elevada tolerância à seca. Cresce e desenvolve-se tanto em solos arenosos quanto argilosos, ácidos e bem drenados. Tem alta capacidade de absorção de nutrientes, sendo eficiente em aproveitar elementos menos solúveis, se apresentando como um bom reciclador de nutrientes.
Seu ciclo de vida tem de 140 a 180 dias, florescendo aos 120 - 130 dias após a semeadura, que ocorre entre o final de abril até meados de julho. O espaçamento entre plantas é de 17 a 20 cm, e usa-se, para a cobertura de solo, de 85 a 100 kg de sementes por hectare, dependendo do poder germinativo. Em semeadura a lanço esse valor sobe para 90 a 110 kg por hectare. Para a produção de sementes a quantidade é de 45 a 65 kg por hectare na semeadura em linhas e 70 a 85 kg na semeadura a lanço. A semente deve ser posicionada em uma profundidade de 3 a 5 cm no solo.
Imagem: Pixabay
Leguminosas
São plantas que realizam a fixação simbiótica do nitrogênio atmosférico, promovendo grande melhoria química do solo. Porém, para aumentar a duração da cobertura do solo, é importante que estas sejam cultivadas em consórcio com gramíneas.
- Ervilhacas (Vicia spp.): o gênero é classificado em 3 grupos (produção de grãos, forrageiras e espontâneas). Sua importância se deve ao seu uso múltiplo, como planta de cobertura e alimentação animal. A ervilhaca comum (Vicia sativa) se adapta ao clima temperado úmido sem grandes oscilações de temperatura, principalmente na maturação, tendo restrições em clima subtropical, prosperando muito bem nas regiões mais frias. No geral, as ervilhacas toleram mal temperaturas abaixo de 0°C, sendo sensíveis às mudanças bruscas de temperatura. A ervilhaca comum não tolera muito bem geadas prolongadas, mas suporta bem geadas isoladas. Se a temperatura atingir 5ºC negativos, a parte aérea morrerá, porém irá rebrotar com a elevação da temperatura. Já temperaturas e umidades elevadas favorecem o desenvolvimento de doenças fúngicas. Assim, a temperatura ideal situa-se entre 15ºC e 20°C. Em geral, são plantas resistentes à seca.
Quanto ao solo, são plantas que se desenvolvem praticamente em todos os tipos, desde que bem drenados, não salinos e com umidade suficiente. Estas plantas são mais tolerantes aos solos ácidos que a maioria das leguminosas. A ervilhaca peluda (mais rústica que a comum) pode se desenvolver também em solos pobres.
Além de proteger o solo, estas espécies melhoram as qualidades físicas, químicas e biológicas, reciclando nutrientes e diminuindo a necessidade de adubação nas culturas subsequentes. As ervilhacas incorporam ao solo até 150 kg de nitrogênio por hectare (o equivalente a 330 kg de ureia) por safra. Alguns trabalhos apontam a ervilhaca como a melhor cultura antecessora ao milho na rotação de culturas.
A semeadura ocorre de Abril a Junho. Semeaduras do cedo proporcionam crescimento mais acelerado e boa cobertura do solo a partir do final de Maio. Semeaduras de final de maio e durante o mês de junho proporcionam crescimento lento e a cobertura do solo ocorrerá somente a partir de setembro. O espaçamento entrelinhas é de 17 a 30 cm. Para adubo verde é rolada, dessecada ou incorporada na 3ª floração, que ocorre entre 120 a 140 dias após a semeadura, para colher sementes o ciclo atinge de 160 a 180 dias.
Na semeadura solteira, recomenda-se utilizar 60 a 80 kg de sementes por hectare, no consórcio com aveia, recomenda-se 40 a 60 kg de sementes de aveia e 30 a 40 kg de sementes de ervilhaca comum por hectare. Para a ervilhaca peluda, a quantidade pode ser de 25 a 30 kg de sementes. - Ervilha forrageira ou do campo (Pisum sativum var. arvense): além de sua principal finalidade como forrageira e cobertura do solo, os grãos desta espécie podem ser utilizados na alimentação humana, embora tenha um sabor mais amargo que a ervilha de horta.
É uma espécie adaptada para regiões de clima temperado úmido. Adapta-se a climas frescos, não prosperando em regiões quentes e secas. Adapta-se a todos tipos de solos, preferindo solos argilosos com bastante matéria orgânica, soltos, frescos e bem drenados, neutros a ligeiramente ácidos. A semeadura, quando o objetivo for cobertura de solo, é realizada durante o mês de maio, já para produção de grãos, é realizada entre junho e julho.
Na semeadura solteira, recomenda-se usar até 180 kg de sementes por hectare, com um espaçamento entrelinhas de 15 a 40 cm, podendo ser também semeada a lanço. No plantio consorciado, recomenda-se 40 a 60 kg de aveia e 100 kg de ervilha forrageira por hectare. - Fava (Vicia fava L. var major): é uma espécie com potencialidade para uso na alimentação humana, animal e como planta medicinal em distúrbios e moléstias renais. É uma espécie bastante rústica, pouco exigente quanto ao tipo de solo, possui boas características conservacionistas, sistema radicular bem desenvolvido, fixação de nitrogênio atmosférico, porém ainda possui um uso muito restrito. Se desenvolve bem em regiões subtropicais com temperaturas uniformes, não tolerando geadas e deficiência hídrica prolongada. A estiagem acelera a floração, retardando ou paralisando o crescimento das plantas.
A semeadura ocorre de abril a julho, usando-se entre 200 e 230 kg de sementes por hectare na semeadura em linhas (com espaçamento de 17 a 40 cm), e 220 a 250 kg por hectare na semeadura a lanço. - Fava forrageira (Vicia faba L. var. eqüina Pers.): possui maior estatura do que a fava de horta, ramificação mais abundante, folhas menos glaucas, sendo os legumes subcilíndricos mais estreitos e as sementes, quase arredondadas, menores. É cultivada exclusivamente para forragem, com sementes muito apreciadas por equinos e grande valor para bovinos de gorda e de leite.
Esta planta resiste às geadas até 4°C negativos, a temperatura mínima para germinação é cerca de 3°C e a ótima para o crescimento e desenvolvimento é entre 20 e 25°C. A fava forrageira é exigente em Ca e K, e, quanto ao solo, o pH mais adequado se situa entre 6,5 a 8, com boa retenção de umidade. É semeada em linhas, entre abril e julho, com espaçamento de 17 a 40 cm entrelinhas, usando cerca de 150 kg de sementes por hectare, ou até 180 kg na semeadura a lanço. - Lentilha: (Lens esculenta Moench): importante na utilização dos grãos para alimentação humana, porém pode ser usada para alimentação animal e planta de cobertura. É uma planta típica de climas subtropicais, tolerante à deficiência hídrica, porém as geadas intensas podem causar prejuízos. Não deve ser cultivada em zonas tropicais úmidas. Adapta-se a quase todos os tipos de solos, porém, preferindo arenosos, alcalinos e profundos, sendo a umidade excessiva prejudicial, e resistindo bastante à salinidade. Sua semeadura ocorre entre abril e julho, em linhas espaçadas de 17 a 40 cm usando-se 45 a 80 kg de sementes por hectare, ou 50 a 90 kg em semeadura a lanço.
- Serradela (Ornithopus sativus Brot.): adaptada a climas frescos e com umidade suficiente, sendo resistente a frios e geadas. Prefere solos leves, profundos e frescos, com boa umidade, porém sem excessos, com algum teor de matéria orgânica. Tolera solos com acidez média, e é exigente em potássio e fósforo. Pode ser consorciada com aveia ou azevém, e semeada entre abril e julho. Na semeadura em linhas, o espaçamento é de 17 a 40 cm entrelinhas, usando-se 25 a 30 kg de sementes por hectare, ou 30 a 35 kg em semeadura a lanço.
- Sincho (Chícharo comum) (Lathyrus sativus L.): pode ser usado na alimentação humana na forma de vagens e grãos tenros, e o grão seco transformado em farinha, sendo um ingrediente para purê e pão ázimo. Deve-se atentar ao consumo excessivo do sincho, pois causa uma doença do sistema nervoso chamada latirismo (naurolatirismo). É uma espécie adaptada ao clima temperado quente a subtropical, e tropical com estação fria, possuindo boa resistência à seca. Sua semeadura ocorre entre março e julho, usando-se 90 a 120 kg por hectare, na semeadura em linha com espaçamento de 17 a 40 cm entrelinha, ou a lanço com um aumento de 10% a 15% na quantidade.
- Tremoços (Lupinus spp): utilizado como planta de cobertura na recuperação das condições físicas e biológicas do solo, e como fixador de nitrogênio, porém, é bastante suscetível a problemas fitossanitários. O tremoço azul é o mais indicado por ser menos suscetível às moléstias. Deve-se atentar à presença de alcalóides tóxicos nas espécies amargas, impedindo a sua utilização na alimentação humana.
O tremoço exige bastante sol e não se adapta bem em climas excessivamente quentes e úmidos, sendo sensível à deficiência hídrica na fase de plântula, embora o tremoço amarelo seja menos exigente em umidade do solo. Requer um clima relativamente frio, chegando a suportar até 4°C negativos, no caso do tremoço branco e amarelo, e 6°C a 8°C negativos para o tremoço azul, porém, não sobrevivem muito a geadas. As temperaturas médias de 10°C a 14°C são muito favoráveis ao seu crescimento.
Quanto ao solo, o tremoço amarelo se desenvolve bem em solos arenosos e ácidos, já o branco e azul se adaptam melhor em solos argilosos, mais férteis e pouco ácidos.
A semeadura ocorre entre março e junho, sendo a época mais indicada entre abril e a primeira quinzena de maio. Para a produção de sementes, indica-se o plantio no cedo, e para adubo verde, a época de semeadura depende do ajuste com os cultivos comerciais. A semeadura em linhas é feita com 80 a 100 kg de sementes com um espaçamento de 17 a 40 cm entrelinhas, e a semeadura a lanço com 100 a 120 kg de sementes por hectare. - Trevo encarnado (Trifolium incarnatum L.): adaptado a climas temperados, e preferencialmente úmidos, e é pouco resistente à seca. Cresce mais em temperaturas baixas do que a maioria dos outros trevos, desenvolvendo os talos florais com a duração da luz do dia de 12 horas. Adapta-se aos solos leves, arenosos e argilosos, bem drenados, tolerando acidez mediana, maior em relação aos trevos branco e vermelho. Exige uma fertilidade do solo mediana.
A semeadura é realizada entre março e junho, utilizando-se 8 a 10 kg/ha de sementes, entretanto, é mais usado o cultivo consorciado com aveia, azevém e cornichão para fins de pastejo. - Trevo-doce branco (Melilotus albus Medic): bianual de inverno, fixador de nitrogênio, é uma forrageira e de cobertura de solo, com um vigoroso sistema radicular e promove modificações no espaço aéreo do solo, melhorando a infiltração e armazenamento de água. Se desenvolve em condições amplas do clima, sendo resistente à seca e ao rigor do inverno. Não tolera acidez, e possui exigências de fertilidade semelhantes às da alfafa, com boa habilidade para utilizar os minerais menos solúveis.
A semeadura ocorre entre abril e julho, utilizando-se 8 a 10 kg de sementes por hectare na semeadura a lanço.
Outras famílias
- Colza e canola (Brassica napus L. var. oleífera Metzg.): de clima temperado frio, existem variedades de inverno e de primavera, as primeiras exigem vernalização para que ocorra a floração, e as de primavera são menos exigentes em baixas temperaturas, permitindo o cultivo em regiões de clima temperado quente ou subtropical. As cultivares de inverno apresentam um ciclo bem superior às cultivares de primavera, tendo um maior potencial produtivo.
A semeadura ocorre a lanço ou em plantio direto, utilizando-se cerca de 5 kg/ha de sementes. No plantio direto pode-se usar a mesma semeadora de trigo, com caixa para sementes forrageiras, e o mesmo espaçamento entre linhas. A semeadura ocorre entre o início do mês de maio até meados de junho, tendo um ciclo de 140 a 180 dias. A rolagem ou dessecação é realizada com 30% dos frutos (síliquas) formados. O cultivo para grãos pode render em média 1500 kg/ha. É importante ficar atento aos efeitos alelopáticos da canola em relação à soja, que prejudicam o cultivo desta cultura.
Imagem: Pixabay
- Nabo forrageiro (Raphanus sativus L. var. oleiferus Metzg.): trata-se de uma crucífera, utilizada na medicina popular, visto que as raízes e folhas contêm ácido sulfociânico e a parte aérea é usada como estimulante das funções gástricas. Possui grande valor na alimentação animal e como planta de cobertura, devido ao seu crescimento rápido, cobrindo o solo entre 30 a 40 dias, agressividade e eficiência na competição com plantas daninhas. Apesar de não fixar nitrogênio, o seu sistema radicular recicla este e outros nutrientes que foram perdidos no solo através de seu sistema radicular robusto, que também descompacta o solo.
As variedades europeias podem ser cultivadas em climas temperados, continentais e tropicais, sendo resistentes às geadas tardias. Quanto ao solo, adapta-se bem aos solos arenosos, exigindo fertilidade média.
A semeadura é realizada entre maio e meados de junho, usando-se 8 a 12 kg de sementes por hectare. Entre os 70 e 80 dias começa a florescer, e dos 90 aos 120 pode ser rolado, dessecado ou incorporado (vale lembrar que seus resíduos se decompõem rapidamente, deixando o solo descoberto, recomendando-se consórcio com aveia, usando 4 a 6 kg de sementes por hectare de nabo forrageiro, e 40 a 60 kg de sementes por hectare de aveia). Até a colheita de sementes, o nabo tem um ciclo de 150 a 180 dias, com maturação desuniforme. - Gorga (Spergula arvensis L.): da família das cariofiláceas, é uma planta daninha de diversas culturas econômicas, e utilizada na alimentação de gado leiteiro, ovelhas e aves, produzindo um alto volume de forragem em pouco tempo.
É uma espécie adaptada a clima frio, com bom desenvolvimento com temperatura média do mês mais quente inferior a 22°C e a do mês mais frio inferior a 18°C, com boa resistência ao frio e geadas, beneficiando-se com alta umidade relativa do ar.
Pode ser muito útil como planta de cobertura, recicladora de nutrientes e melhoradora de solo por suas características conservacionistas como rusticidade, crescimento rápido, melhoramento das propriedades físicas do solo e como planta não esgotante, embora seu manejo não seja fácil.
A semeadura ocorre entre abril e julho, porém a melhor época é de abril a maio, utilizando-se 6 a 10 kg de sementes por hectare, com espaçamento de 17 a 40 cm entrelinhas, ou 10 a 15 kg por hectare na semeadura a lanço.
Espécies de verão
Importantes em propriedades de agricultura familiar, com mão-de-obra disponível, e terra e capital limitados. Os insumos externos são mínimos, suprindo as necessidades da lavoura com o uso racional das fontes de matéria orgânica. Esterco animal e restos culturais, junto com o cultivo consorciado são as engrenagens do sistema de produção.
Gramíneas
Não fixam nitrogênio, mas apresentam uma produção elevada de massa verde e massa seca com alta relação C/N, sendo uma cobertura mais duradoura, com maior tempo de proteção ao solo de fatores de erosão.
- Milheto (Pasto italiano) (Pennisetum americanum (L.) Leehe.): adapta-se a vários tipos de solos, incluindo arenosos frescos, tolerando seca, acidez e salinidade, mas desenvolve-se melhor em solos de aluvião e férteis. É semeado entre setembro e dezembro, com espaçamento de 40 a 60 cm entrelinhas, usando 10 a 15 kg de sementes por hectare, ou até 25 kg na semeadura a lanço.
- Sorgo forrageiro (Sorghum bicolor (L.) Moench.): anual, de estação estival, com a mesma adaptação climática do milho, mas com alguma resistência à deficiência hídrica. Pode ser utilizado como alimentação animal (forragem, silagem, fenação) e para proteção do solo. A semeadura ocorre entre agosto e janeiro, utilizando 15 kg de sementes por hectare na semeadura em linhas, com espaçamento de 50 a 80 cm entrelinhas, e até 40 kg por hectare na semeadura a lanço.
- Teosinto (Zea mexicana (Schrad.) Reeves & Mangelsd.): cultivada no sul do Brasil, porém não resiste às geadas. Tem folhas adocicadas, sendo apetecido pelo gado. Adapta-se a solos francos, férteis e frescos, porém não tolera solos encharcados. Semeado entre setembro e dezembro, usando-se 60 kg de sementes por hectare, com espaçamento de 50 a 80 cm entrelinhas, e na semeadura a lanço deve-se aumentar a quantidade de sementes em 20%.
Leguminosas
Grupo de plantas recicladoras de maior contribuição para a melhoria de propriedades químicas, físicas e biológicas do solo em função da elevada produção de massa seca aérea e radicular. Devem compor sistemas de produção que tenham o cultivo consorciado como base, sendo usadas em propriedades de economia de base familiar. Em empresas rurais somente se justificam se houver necessidade de rotação de cultura para quebrar o ciclo de moléstias, pragas ou plantas daninhas.
- Crotalária grantiana (Crotalaria grantiana Harv.): é mais exigente em fertilidade do solo do que as demais. É uma planta herbácea, com porte baixo, e boa competidora com as plantas daninhas e boa resistência à deficiência hídrica.
- Crotalária juncea (Crotalaria juncea L.): anual, de crescimento rápido (com boa capacidade de controle de plantas invasoras e de nematoides), e com capacidade de fixar até 165 kg de nitrogênio por hectare (o equivalente a 360 kg de uréia por cultivo). Desenvolve-se em áreas de baixa fertilidade, e é adaptada ao clima tropical, não resistindo à geadas. É semeada entre setembro a dezembro (para a produção de sementes, semear em setembro), e geralmente consorciada com milho, mandioca e culturas perenes. A semeadura em linhas é realizada com 40 a 50 kg de sementes por hectare, usando-se espaçamento de 30 a 50 cm entrelinhas, podendo ser realizada também a semeadura a lanço. Recomenda-se o cultivo consorciado com milho, mandioca ou frutíferas em geral, como fonte de nitrogênio para as culturas comerciais.
Recomendamos também assistir ao vídeo abaixo do canal "Instituto Agriverdes", em que o professor Milton Padovan esclarece outros benefícios do uso da Crotalária juncea em cobertura verde. - Crotalária espectábilis / guizo-de-cascavel (Crotalaria spectabilis Roth.): crescimento menos acelerado do que a crotalária juncea e menor capacidade competitiva com plantas daninhas. Não suporta geadas, a atua no controle de nematoides. Semeada de setembro a dezembro (semear em setembro para a produção de sementes), através de semeadura a lanço ou em linhas, utilizando-se 20 a 25 kg de sementes por hectare. Na semeadura em linhas, utilizar espaçamento de 30 a 40 cm entrelinhas. Recomenda-se o cultivo consorciado com milho, mandioca ou frutíferas em geral, como fonte de nitrogênio para as culturas comerciais.
- Crotalária breviflora (Crotalaria breviflora): leguminosa com porte baixo, muitas vezes utilizada nas entrelinhas de pomares ou lavouras de café. Atua na diminuição da população de nematoides na área.
- Crotalária mucronata (Crotalaria mucronata): é uma espécie agressiva e rústica, cujas raízes conseguem romper camadas adensadas no solo. Contribui para a diminuição de nematoides, e é uma planta de clima tropical subtropical, não tolerando geadas.
- Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis (L.) DC.): boa rusticidade e adaptação aos solos paupérrimos que imediatamente enriquecem. Possui as mesmas exigências climáticas do feijão comum, sendo bastante resistente à deficiência hídrica e altas temperaturas. Semeado de setembro a dezembro, podendo ser semeado em consórcio com milho, mandioca, frutíferas ou outras culturas comerciais, e exerce bom controle das plantas invasoras, principalmente tiririca.
Na semeadura, utilizar cerca de 120 kg/ha de sementes na menor densidade (5 plantas por metro de linha) e sementes menores, ou até 200 kg/ha quando utilizada a maior densidade (8 plantas por metro de linha) com sementes maiores, ou quando semeado a lanço. - Feijão miúdo / caupi (Vigna unguiculata Walp.): com grande importância na alimentação humana, oferece usos múltiplos como: vagens tenras, com alto teor de vitamina B; grãos germinados, com alto teor de vitamina C e B; e grãos secos, cozidos, com sabor acentuado. É uma planta de clima tropical, mais exigente em calor e luz do que o feijão comum, porém, menos sensível à seca, requerendo temperaturas maiores que 20°C para atingir a maturação. Possui elevada resistência à deficiência hídrica, porém o excesso de umidade é prejudicial. Não é uma espécie exigente do solo, se adaptando a quase todos os tipos, inclusive os mais pobres, bem drenados, desenvolvendo folhagem abundante em solos muito férteis, em detrimento à produção de grãos.
A semeadura ocorre de setembro a janeiro, podendo ser consorciado ou solteiro, a lanço, em linhas ou em covas, com espaçamento de 30 a 40 cm nas entrelinhas, utilizando-se entre 30 e 65 kg/ha de sementes, conforme a cultivar. Para a semeadura a lanço, aumentar a quantidade de sementes em 20%. - Feijão guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp): adaptado ao clima tropical e subtropical, exigente em temperaturas elevadas, é uma planta de fotoperíodo longo com boa resistência à deficiência hídrica. Se desenvolve em solos pobres, mas não tolera solos úmidos, preferindo os secos, soltos e profundos. Tem grande importância na alimentação humana (vagens verdes, grãos tenros e farinhas), cerca, sombreamento, medicina caseira (folhas anti-hemorrágicas e diuréticas, inflamação na garganta, dores de dente, laxante, aftas etc.) e conservação do solo.
Quanto à semeadura, esta é realizada de setembro a janeiro, usando entre 40 e 50 kg de sementes por hectare, com espaçamento de 50 cm entrelinhas e 5 a 8 plantas na linha.
Já no consórcio com milho ou outras culturas comerciais, utiliza-se cerca de 20 kg de sementes por hectare, com espaçamento de 2 metros nas entrelinhas. O guandu arbóreo deve ser cultivado por no máximo 2 anos, pois os caules engrossam e se tornam muito lenhosos, dificultando o enterrio da massa para adubação verde. - Labe-labe (Lablab purpureum (L.) Sweet): é uma planta de ciclo longo, podendo ser pastoreadas antes de rolada e/ou dessecada. É uma boa opção para rotação com milho, aumentando a produção de grãos, podendo ser utilizada também com milheto, sorgo forrageiro e capim sudão, nas entrelinhas de pomares ou como forrageira. É recomendada para a recuperação de solos, e não tolera geadas. É semeada entre setembro e janeiro, com espaçamento de 50 cm nas entrelinhas com uma quantidade de 40 a 60 kg de sementes por hectare. Já na semeadura a lanço, deve-se utilizar 50 a 70 kg por hectare.
- Mucunas (Stizolobium spp.): a mais difundida é a mucuna rajada, que contribui de 50 a 200 kg de nitrogênio por hectare para o solo. Se desenvolve bem nas regiões tropicais e subtropicais, necessitando de climas quentes, invernos suaves e sem ocorrência de geadas, tendo boa resistência à deficiência hídrica e tolerância a solos ácidos.
Para adubação verde, deve ser semeada entre setembro e janeiro, necessitando de 140 a 150 dias para florescimento. É semeado a lanço, em covas ou em linhas com a quantidade de sementes entre 80 e 100 kg por hectare. Na semeadura em linhas indica-se 50 cm de espaçamento entrelinhas, com 6 a 8 sementes por metro na linhas.
Para produzir sementes, esta leguminosa necessita de suporte para os ramos (cercas ou linhas de milho sobre terraços), e indica-se o espaçamento de 1 metro entrelinhas, utilizando-se 20 a 25 kg de sementes por hectare.
As mucunas são pouco exigentes em fertilidade do solo, podem ser cultivadas solteiras ou em consórcio com, culturas perenes, mandioca, café ou milho (devendo ser semeadas no período de floração da cultura), e atuam na diminuição de nematoides, caruncho e plantas invasoras. No caso de perenes, deve-se realizar o manejo dos ponteiros dos ramos, para que a planta não se agarre em espécies perenes devido ao hábito trepadeiro.
Outras famílias
- Trigo mourisco / Trigo sarraceno (Fagopyrum esculentum Moench.): geralmente é produzido para alimentação animal, e em outros países, para alimentação humana. É uma planta rústica, com rapidez na cobertura do solo e ciclo curto (entre 10 e 12 semanas), podendo ser utilizada como planta de cobertura. É uma das melhores espécies para adubação verde em culturas perenes como cafezais, laranjais e outras. É uma cultura que abafa as plantas daninhas, porém pode-se tornar infestante e competir com cultivos comerciais. Possui efeitos negativos (possível alelopatia) quando antecede o trigo, trazendo fortes efeitos negativos. As cultivares mais usadas são Japonesa, Prateada, Comum e Botan.
Esta planta é sensível às geadas, e se desenvolve bem em clima úmido e fresco, requerendo tempo seco entre a germinação e o início da floração, umidade regular ou tempo nublado durante a floração, e tempo seco entre a maturação e colheita. Quanto aos solos, desenvolve-se bem em solos arenosos e argilosos, desde que bem drenados, e é tolerante à acidez, possuindo também grande capacidade de assimilação de nutrientes minerais.
A semeadura é realizada entre fevereiro e março, com 40 a 50 kg de sementes por hectare, utilizando-se espaçamento entrelinhas de 17 a 35 cm. Já para a semeadura a lanço, utiliza-se de 60 a 70 kg de sementes por hectare.
Espécies perenes
Existe um grande potencial de utilização de coberturas permanentes de solo, principalmente em pomares. Estas plantas protegem o solo de agentes climáticos como a radiação solar, que decompõe a matéria orgânica, e a chuva intensa que causa a degradação do solo através da erosão. Além disso, estas plantas sequestram o carbono, fixam nitrogênio atmosférico, aumentam o teor de matéria orgânica, mobilizam nutrientes e favorecem a microbiota do solo. As espécies de cobertura perenes, ao competirem e interferirem no ciclo reprodutivo de plantas daninhas, reduzem a mão-de-obra empregada no controle destas plantas indesejadas. Porém, o uso de coberturas perenes nestes sistemas de produção ainda não é exatamente nítido, carecendo de pesquisas e experimentos para obtermos mais informações sobre o manejo e resultados. Através de pesquisas, podemos encontrar alguns estudos ilustrando benefícios para culturas comerciais perenes (como citros ou bananeiras) por meio de cultivo de coberturas perenes. Apesar da possibilidade de considerarmos algumas famílias para o uso na cobertura de solo, a prática com leguminosas é a mais racional e difundida devido à capacidade de fixação de nitrogênio desta família, sistema radicular ramificado e profundo e riqueza de compostos orgânicos.
Ao usarmos coberturas perenes, devemos fazer uma poda de limpeza em plantas cítricas objetivando o aumento de luz solar nas entrelinhas, favorecendo o desenvolvimento de plantas de cobertura. Deve-se optar por leguminosas de porte baixo, diminuindo a competição intraespecífica por luz, bem como fazer um controle eficiente e periódico das plantas daninhas, pois as leguminosas perenes apresentam um crescimento lento, diminuindo seu potencial de competição por nutrientes. O sucesso desta prática depende, também, dos cuidados com a supressão da vegetação espontânea.
Quanto à nutrição, é importante observar que ambas as leguminosas e cultura comercial devem ter suas necessidades nutricionais atendidas, com adubações específicas e, se necessário, irrigar também as plantas de cobertura, principalmente na fase de estabelecimento, visando um desenvolvimento mais rápido ao cobrir o solo.
Espécies
- Amendoim forrageiro (Arachis pintoi): trata-se de uma espécie leguminosa, que realiza fixação biológica de nitrogênio, e se destaca das outras devido à maior velocidade de cobertura do solo, tendo uma boa produção inicial de fitomassa. Além disso, não é agressiva à pomares cítricos.
Esta espécie pode ser usada em pastagens, em consórcios com gramíneas, sendo uma boa alternativa para o gado de corte. Para ser viável, o cultivo deve ser realizado seguindo as condições climáticas e solo, devendo-se plantar na época certa (a depender da região) e, se necessário, irrigando a planta na ausência de chuvas, como no caso do Cerrado. De maneira geral, o índice pluviométrico deve ser maior do que 1200 mm anuais. - Soja perene (Neonotonia wightii): utilizada como cobertura verde com espécies frutíferas, podendo ser usada também como forragem para alimentação do gado (com alta palatabilidade, digestibilidade e bom valor forrageiro), a soja perene é uma planta trepadora, que se desenvolve bem em altitudes elevadas. Não tolera solos mal drenados ou com excesso de alumínio, é exigente em fertilidade do solo e possui uma boa resistência à seca, porém morre com a geada (rebrotando após o inverno). Possui um crescimento inicial lento, e em climas quentes, produz sementes que germinam facilmente. Para o plantio, as sementes devem ser escarificadas por métodos simples como imersão em água.
- Calopogônio (Calopogonium muconoides): trata-se de uma espécie leguminosa, com alta capacidade de fixação de nitrogênio. Se adapta em solos de banhado e pouco férteis, argilosos ou arenosos. É uma planta perene de clima tropical quente e úmido, porém, quando ocorre uma estação bastante seca e duradoura, pode tornar-se anual. A sua cobertura de solo ajuda na diminuição de erosão, podendo ser utilizada em encostas. Possui lento crescimento inicial, formando uma camada densa em cerca de 5 meses, e possui potencial forrageiro.
Caso você queira ler mais características sobre as espécies de plantas utilizadas como plantas de cobertura, a Epagri lançou, em 2023, uma publicação com diversas características e parâmetros sobre 44 espécies. Para consultar o material, clique aqui!
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004.
EMBRAPA et al. MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 1. ed. Brasília, DF: Editora Universidade Rural, 2013.
BARNI, Nídio Antonio et al. Plantas Recicladoras de Nutrientes e de Proteção do Solo, para Uso em Sistemas Equilibrados de Produção Agrícola. Boletim FEPAGRO, Porto ALegre, 12 jul. 2003.
CARLOS, José A. Donizeti; COSTA, Juliana Amorim da; COSTA, Manoel Baptista da. Adubação verde: Do conceito à prática. Série Produtor Rural, [s. l.], ano 2006, n. 30, 2006.
LOPES, Otávio Manoel nunes; ALVEZ, Raimundo Nonato Brabo. Adubação Verde e Plantio Direto: Alternativas de Manejo Agroecológico para a Produção Agrícola Familiar Sustentável. Documentos, Belém, PA, 2005.