Adubação orgânica - Fontes, composição e eficiência
É importante definir previamente qual o objetivo da adubação orgânica.
Antes de se realizar uma adubação orgânica, é importante ter em mente o objetivo desta adubação, pois a matéria orgânica atua como condicionadora do solo, melhorando características físicas do solo, e como fornecedora de nutrientes. Quando temos o segundo objetivo, o adubo deve possuir altos teores de nutrientes essenciais às plantas, susceptibilidade à decomposição e liberação dos nutrientes em uma velocidade compatível com a demanda da cultura. Por exemplo, adubos com teores reduzidos de nitrogênio não devem ser utilizados para fornecer nutrientes, e podem até imobilizar os elementos na solução do solo, indisponibilizando estes às plantas. Deve-se destacar que o efeito do composto como agente condicionador do solo, melhorando suas características físicas, (retenção de água, plasticidade, porosidade, etc), talvez seja mais importante que seu efeito fertilizante.
Os principais tipos de fertilizantes orgânicos são:
- Esterco de animais herbívoros (estrume) como gado, ovelhas ou cavalos, podendo estar misturado com restos vegetais. É necessário curtir os dejetos dos animais, juntando o material no chão e revirando-o a cada três dias aproximadamente, sempre evitando a umidade excessiva. Em aproximadamente um mês, o material estará pronto para uso na horta. Estes materiais possuem composições muito variadas, e são bons fornecedores de nutrientes, sendo o fósforo e potássio rapidamente disponíveis. Já o nitrogênio depende da facilidade de degradação dos compostos.
- Adubação verde: é uma prática altamente recomendada em regiões tropicais e subtropicais, onde é possível plantar adubos verdes o ano inteiro, obtendo benefícios como fertilização do solo e melhoria das qualidades e estrutura do solo.
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- Húmus de minhoca: resultante da decomposição da matéria orgânica digerida pelas minhocas, sendo a forma de matéria orgânica mais decomposta, facilitando a sua absorção e sendo uma boa fonte de micro-organismos para o solo. Outro fator positivo do húmus de minhoca, é o fato de que ao se locomoverem, as minhocas criam túneis que facilitam a penetração das raízes no solo e a aeração. Confira nossa seção sobre minhocultura clicando aqui.
- Peixes e crustáceos: as cascas de crustáceos são excelentes opções para hortas, e são ricos em fósforo e nitrogênio, porém, para ocorrer a compostagem, devem ser enterradas. Também pode-se usar restos de peixes em plantios que exigem mais nitrogênio.
- Borra de café: rico em fósforo, potássio e nitrogênio, trata-se de um composto de fácil manuseio. Após coar o café, o borrão pode ser depositado em volta das plantas, e também afasta lesmas e caracóis.
- Cascas de ovos: rico em potássio e cálcio, indica-se que sejam lavadas, trituradas e adicionadas ao redor das mudas
- Vinhaça: produzida nas destilarias de álcool, é rica em potássio, podendo também conter bons teores de nitrogênio, enxofre, matéria orgânica e alguns microelementos. A aplicação racional é feita com base no teor de potássio, sendo a maioria das aplicações in natura com quantidades entre 50 e 200 m³ por hectare.
- Torta de filtro: resíduo da indústria açucareira, é rica em fósforo, cálcio, cobre, zinco e ferro, porém, possuindo uma alta relação C/N, podendo diminuir a disponibilidade de nitrogênio no solo. É também pobre em potássio, podendo ser aplicada combinada com vinhaça.
- Resíduos de biodigestores: com uma composição variável, são ótimos adubos orgânicos, porém, deve-se atentar à presença de metais pesados.
Composição de adubos orgânicos
Abaixo apresentamos a concentração de nutrientes e elementos indesejáveis em diversos materiais fontes de adubação orgânica. Você encontra informações mais detalhadas para o manejo dos diferentes tipos de adubos orgânicos nas páginas específicas de cada fonte. Os adubos orgânicos devem, sempre que possível, ser analisados previamente, pois tanto a concentração de macro e micronutrientes como o teor de água podem variar muito, a depender da origem do material, espécie, alimentação, proporção entre os dejetos (fezes + urina), manejo e material utilizado para cama. Além disso, os adubos precisam passar pelo processo de maturação e estabilização antes de serem utilizados.
Nas tabelas abaixo, são apresentados os teores médios de carbono orgânico, macro e micronutrientes, matéria seca e elementos indesejáveis de alguns materiais fontes para adubação orgânica:
Material orgânico | C-org | N-total* | P2O5 | K2O | Ca | Mg | Matéria seca |
---|---|---|---|---|---|---|---|
% (massa/massa) | |||||||
Esterco sólido (suínos) | 20 | 2,1 | 2,8 | 2,9 | 2,8 | 0,8 | 25 |
Composto de dejeto de suínos | 42 | 1,6 | 2,5 | 2,3 | 2,1 | 0,6 | 40 |
Esterco sólido (bovinos) | 30 | 1,5 | 1,4 | 1,5 | 0,8 | 0,5 | 20 |
Cama de frango (3-4 lotes)** | 30 | 3,2 | 3,5 | 2,5 | 4,0 | 0,8 | 75 |
Cama de frango (5-6 lotes)** | 28 | 3,5 | 3,8 | 3,0 | 4,2 | 0,9 | 75 |
Cama de frango (7-8 lotes)** | 25 | 3,8 | 4,0 | 3,5 | 4,5 | 1,0 | 75 |
Cama de peru (2 lotes)** | 23 | 5,0 | 4,0 | 4,0 | 3,7 | 0,8 | 75 |
Cama de poedeira | 30 | 1,6 | 4,9 | 1,9 | 14,4 | 0,9 | 72 |
Cama sobreposta de suínos | 18 | 1,5 | 2,6 | 1,8 | 3,6 | 0,8 | 40 |
Vermicomposto | 17 | 1,5 | 1,3 | 1,7 | 1,4 | 0,5 | 50 |
Lodo de esgoto | 30 | 3,2 | 3,7 | 0,5 | 3,2 | 1,2 | 5 |
Composto de lixo urbano | 12 | 1,2 | 0,6 | 0,4 | 2,1 | 0,2 | 70 |
Cinza de casca de arroz | 10 | 0,3 | 0,5 | 0,7 | 0,3 | 0,1 | 70 |
kg/m3 | |||||||
Esterco líquido de suínos | 9 | 2,8 | 2,4 | 1,5 | 2,0 | 0,8 | 3 |
Esterco líquido de bovinos | 13 | 1,4 | 0,8 | 1,4 | 1,2 | 0,4 | 4 |
* A proporção do N total que se encontra na forma mineral (amoniacal: N-NH3 e N-NH4+; nítrica: N-NO3 e N-NO2) é, em média, de 25% na cama de frangos, 15% na cama de poedeiras, 30% no lodo de esgoto, 25% no esterco líquido de bovinos, 60% no dejeto líquido de suínos e 5% na cama sobreposta e no composto de dejeto de suínos. A proporção de N na forma mineral pode variar de acordo com o grau de maturação e tempo de armazenamento do adubo orgânico.
** Indicações do número de lotes de animais que permanecem sobre a mesma cama.
Assista aos vídeos abaixo, do Engenheiro Agrônomo Jonathan Basso no canal "AgroBrasil", sobre a contribuição nutricional de 1 ano de esterco de bovinos e suínos:
Material orgânico | Cu | Zn | Cr | Cd | Pb | Ni |
---|---|---|---|---|---|---|
mg/kg* | ||||||
Cama de frango (5-6 lotes)** | 2 | 3 | -*** | - | - | - |
Esterco de bovinos | 2 | 4 | - | - | - | - |
Esterco líquido de suínos | 16 | 43 | - | - | - | - |
Cinza de casca de arroz | 8 | 89 | - | - | - | - |
Cinza de madeira | 44 | 65 | 45 | 1,7 | 10 | 29 |
Composto de lixo urbano | 96 | 490 | 260 | 2 | 59 | 122 |
Lodo de curtume | 23 | 118 | 1400 | 0,1 | 33 | 16 |
Vermicomposto | 67 | 250 | - | - | - | - |
* Concentração expressa com base em material seco em estufa a 65ºC.
** Indicações do número de lotes de animais que permanecem sobre a mesma cama.
*** Sem informação
Fonte: Laboratórios de Análises do CEFAF-EPAGRI e do Departamento de Solos-UFRGS.
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Composição média de nutrientes em adubos verdes
Abaixo temos a composição de alguns adubos verdes em base seca (não deixe de conferir nossa seção mais detalhada sobre adubação verde):
Material | Mat. Org. (%) | N (%) | C/N | P2O5 (%) | K2O (%) |
---|---|---|---|---|---|
Abacaxi: fibras | 71,4 | 0,9 | 44/1 | traços | 0,5 |
Algodão: semente | 95,6 | 4,6 | 12/1 | 1,4 | 2,4 |
Amoreira: folhas | 86,1 | 3,8 | 13/1 | 1,1 | - |
Arroz: cascas | 54,5 | 0,8 | 39/1 | 0,6 | 0,5 |
Arroz: palhas | 54,3 | 0,8 | 39/1 | 0,6 | 0,4 |
Aveia: cascas | 85,0 | 0,7 | 63/1 | 0,1 | 0,5 |
Aveia: palhas | 85,0 | 0,7 | 72/1 | 0,3 | 1,9 |
Banana: talos de cachos | 85,3 | 0,8 | 61/1 | 0,1 | 7,4 |
Banana: folhas | 89,0 | 2,6 | 19/1 | 0,2 | - |
Cacau: películas | 91,1 | 3,2 | 16/1 | 1,4 | 3,7 |
Cacau: cascas do fruto: | 88,7 | 1,3 | 38/1 | 0,4 | 2,5 |
Café: cascas | 82,2 | 0,9 | 53/1 | 0,2 | 2,1 |
Café: palhas | 93,1 | 1,4 | 38/1 | 0,3 | 2,0 |
Café: semente | 92,8 | 3,3 | 16/1 | 0,4 | 1,7 |
Capim gordura | 92,4 | 0,6 | 81/1 | 0,2 | - |
Capim guiné | 88,7 | 1,5 | 33/1 | 0,3 | - |
Capim jaraguá | 90,5 | 0,8 | 64/1 | 0,3 | - |
Capim limão cidreira | 91,5 | 0,8 | 62/1 | 0,3 | - |
Capim milhã roxo | 91,6 | 1,4 | 36/1 | 0,3 | - |
Capim mimoso | 93,7 | 0,7 | 79/1 | 0,3 | - |
Capim pé-de-galinha | 87,0 | 1,2 | 41/1 | 0,5 | - |
Capim-de-Rhodes | 89,5 | 1,4 | 37/1 | 0,6 | - |
Cassia alata: ramos | 93,6 | 3,5 | 15/1 | 1,1 | 2,8 |
Cassia negra: cascas | 96,2 | 1,4 | 38/1 | 0,1 | traço |
Centeio: cascas | 85,0 | 0,7 | 69/1 | 0,7 | 0,6 |
Centeio: palhas | 85,0 | 0,5 | 100/1 | 0,3 | 1,0 |
Cevada: cascas | 85,0 | 0,6 | 84/1 | 0,3 | 1,1 |
Cevada: palhas | 85,0 | 0,7 | 63/1 | 0,2 | 1,3 |
Crotalária juncea | 91,4 | 1,9 | 26/1 | 0,4 | 1,8 |
Eucalipto: resíduos | 77,6 | 2,8 | 15/1 | 0,3 | 1,5 |
Feijão de porco | 88,5 | 2,5 | 19/1 | 0,5 | 2,4 |
Feijão guandu | 95,9 | 1,8 | 29/1 | 0,6 | 1,1 |
Feijão guandu: sementes | 96,7 | 3,6 | 15/1 | 0,8 | 1,9 |
Feijoeiro: palhas | 94,7 | 1,6 | 32/1 | 0,3 | 1,9 |
Grama batatais | 90,8 | 1,4 | 36/1 | 0,4 | - |
Grama seda | 90,5 | 1,6 | 31/1 | 0,7 | - |
Inga: folhas | 90,7 | 2,1 | 24/1 | 0,2 | 0,3 |
Labe-labe | 88,5 | 4,6 | 11/1 | 2,1 | - |
Lenheiro: resíduos | 39,9 | 0,7 | 30/1 | 0,6 | 0,4 |
Mamona: cápsulas | 94,6 | 1,2 | 53/1 | 0,3 | 1,8 |
Mandioca: cascas de raízes | 58,9 | 0,3 | 96/1 | 0,3 | 0,4 |
Mandioca: folhas | 91,6 | 4,3 | 12/1 | 0,7 | - |
Mandioca: ramos | 95,3 | 1,3 | 40/1 | 0,3 | - |
Milho: palhas | 96,7 | 0,5 | 112/1 | 0,4 | 1,6 |
Milho: sabugos | 45,2 | 0,5 | 101/1 | 0,2 | 0,9 |
Mucuna preta | 90,7 | 2,2 | 22/1 | 0,6 | 3,0 |
Mucuna preta: sementes | 95,3 | 3,9 | 14/1 | 1,0 | 1,4 |
Samambaia | 95,9 | 0,5 | 109/1 | traços | 0,2 |
Serrapilheira | 30,7 | 1,0 | 17/1 | 0,1 | 0,2 |
Serragem de madeira | 93,4 | 0,1 | 865/1 | traços | traços |
Trigo: cascas | 85,0 | 0,8 | 56/1 | 0,5 | 1,0 |
Trigo: palhas | 92,4 | 0,7 | 70/1 | 0,1 | 1,3 |
Tungue: cascas das sementes | 85,2 | 0,7 | 64/1 | 0,2 | 7,4 |
Fonte: Kiehl, 1985.
Composição média de nutrientes em resíduos agrícolas industriais
Abaixo, temos a composição nutricional de alguns resíduos industriais.
Material | M.O. (%) | N (%) | C/N | P2O5 (%) | K2O (%) |
---|---|---|---|---|---|
Algodão: resíduo de máquina | 96,3 | 1,9 | 27/1 | 1,0 | 1,7 |
Algodão: resíduo "piolho" | 81,8 | 2,2 | 21/1 | 0,9 | 2,1 |
Algodão: resíduo de sementes: | 96,1 | 1,0 | 50/1 | 0,2 | 0,8 |
Bicho-da-seda: crisálidas | 91,1 | 9,4 | 5/1 | 1,4 | 0,7 |
Bicho-da-seda: dejeções | 82,1 | 2,7 | 17/1 | 0,6 | 3,6 |
Café: borra de café solúvel | 90,4 | 2,3 | 22/1 | 0,4 | 1,2 |
Cajú: cascas da castanha | 98,0 | 0,7 | 74/1 | 0,2 | 0,6 |
Cana-de-açúcar: bagaço | 71,4 | 1,0 | 37/1 | 0,2 | 0,9 |
Cana: bagacinho | 87,1 | 1,0 | 44/1 | 0,1 | 0,1 |
Cana: bagacinho embebido | 89,9 | 1,7 | 29/1 | 0,3 | 1,7 |
Cana: borra de restilo | 78,8 | 3,0 | 14/1 | 0,5 | 1,0 |
Cevada: bagaço | 95,0 | 5,1 | 10/1 | 1,3 | 0,1 |
Couro: em pó | 92,0 | 8,7 | 5/1 | 0,2 | 0,4 |
Fumo: resíduo | 70,9 | 2,1 | 18/1 | 0,5 | 2,7 |
Laranja: bagaço | 22,5 | 0,7 | 18/1 | 0,1 | 0,4 |
Lúpulo: bagaço | 47,8 | 1,6 | 16/1 | 1,3 | 0,8 |
Mandioca: raspas | 96,0 | 0,5 | 107/1 | 0,2 | 1,2 |
Penas de galinha: | 88,2 | 13,5 | 4/1 | 0,5 | 0,3 |
Rami: resíduo | 60,6 | 3,2 | 11/1 | 3,6 | 4,0 |
Resíduo de cervejaria | 95,8 | 4,4 | 12/1 | 0,5 | 0,1 |
Sangue seco | 84,9 | 11,8 | 4/1 | 1,2 | 0,7 |
Tomate: semente (torta) | 94,3 | 5,3 | 10/1 | 2,0 | 2,3 |
Torta de algodão | 92,4 | 5,6 | 9/1 | 2,1 | 1,3 |
Torta de coco | 94,5 | 4,3 | 11/1 | 2,4 | 3,1 |
Torta de mamona | 92,2 | 5,4 | 10/1 | 1,9 | 1,5 |
Torta de soja | 78,4 | 6,5 | 7/1 | 0,5 | 1,5 |
Torta de usina de cana | 78,7 | 2,1 | 20/1 | 2,3 | 1,2 |
Turfa | 38,8 | 0,3 | 57/1 | - | 0,3 |
Fonte: Kiehl, 1985.
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Adubação orgânica - Introdução e vantagens
Adubação orgânica - Maturidade e estabilidade
Adubação orgânica - Cálculo de nutrientes, relação C/N e associação com adubação mineral
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Adubação verde - O que você precisa saber
Estercos - Adubos orgânicos de origem animal
Compostagem - Etapas, vantagens e manejo
José Luis da Silva Nunes - Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BARCELLOS, L.A.R. Avaliação do potencial fertilizante do esterco líquido de bovinos. Santa Maria, 1991. 108p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal de Santa Maria/RS.
EMBRAPA et al. MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 1. ed. Brasília, DF: Editora Universidade Rural, 2013.
KIEHL, Edmar José. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba, SP: Ceres, 1985. 492 p.
SCHERER, E.E.; BALDISSERA, I.T; ROSSO, A. de. Utilização dos dejetos suínos como fertilizante. In: EPAGRI. Aspectos práticos do manejo de dejetos. Florianópolis: EPAGRI/EMBRAPA-CNPSA, 1995. 106p.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004.