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Nitrogênio nas plantas: função, comportamento no solo e principais adubos nitrogenados

Leia sobre o comportamento do nitrogênio no solo e nas plantas.


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Introdução
O ciclo do nitrogênio no solo

      - Relação carbono/nitrogênio
      - Nitrificação do nitrogênio
      - Desnitrificação
      - Lixiviação do nitrogênio no solo
      - Volatilização da amônia
      - Contribuição de nitrogênio pela matéria orgânica
O nitrogênio na planta
O nitrogênio nos fertilizantes

      - Amônia anidra
      - Ureia
      - Nitrato de amônio
      - Monoamônio e diamônio fosfato
      - Nitrato de cálcio, nitrato de potássio e nitrato de sódio
      - Sulfato de amônio
      - Fertilizantes nitrogenados orgânicos
Definição da dose de nitrogênio
Manejo dos fertilizantes nitrogenados

      - Irrigação adequada
      - Parcelamento da adubação
      - Irrigação controlada
      - Contribuição dos estercos, fixação biológica do nitrogênio e adubação verde
Critérios econômicos para a escolha de adubos nitrogenados

 

 

Introdução

O nitrogênio, depois do C, H e O, é o elemento mais demandado pelos vegetais. Parte da quantidade de N requerido pelas culturas pode ser suprida pelo solo, no entanto, em muitas situações o solo é incapaz de atender toda a demanda por N, tornando-se necessária a fertilização nitrogenada.

O elemento é um dos macronutrientes primários sendo o mais utilizado, mais absorvido e mais exportado pelas culturas; nutriente de obtenção mais cara; e é o mais lixiviado nos solos, requerendo cuidados especiais em seu manejo pelos riscos de contaminação do lençol freático. Nesta página você encontrará informações detalhadas sobre todos estes processos.

Apresenta acentuado dinamismo no sistema solo devido a sua grande variação do número de oxidação (-3 até +5), isto é, grande variedade de combinações. Apresenta diversas formas gasosas (N2, NO, NO2, N2O, NH3) o que ocasiona trocas constantes, elevada solubilidade das formas inorgânicas, principalmente da forma nítrica (NO2, NO3), extremamente móveis no solo.

 

O ciclo do nitrogênio no solo

O ciclo do nitrogênio é diretamente ligado à matéria orgânica, visto que é onde se encontra 95% do nutriente. Assim, o ciclo do nitrogênio é diretamente ligado ao ciclo do carbono, que é fixado através da fotossíntese pelas plantas, e quando estas morrem, a decomposição (mineralização) do carbono serve de energia para microrganismos (com auxílio de oxigênio).

As células dos microrganismos liberam enzimas que quebram as moléculas maiores que estão na palhada em decomposição, quebrando-as em pedaços menores de forma que consigam assimilar estes nutrientes, e após a morte destes microrganismos, ocorre a liberação destes mesmos nutrientes na forma mineral, sendo absorvidos pelas plantas. Estudos apontam que são poucas as situações em que uma planta absorve um nutriente sem que ele passe antes por uma célula microbiana. Subentende-se também que quanto mais rápido os microrganismos atingem o seu pico populacional, mais rápido estes morrerão e mais rápido os nutrientes como o nitrogênio serão disponibilizados para a planta, evidenciando a importância de se estimular a microbiota do solo. Porém, quando estes microrganismos começam a morrer, eles liberam o nitrogênio que pode ser absorvido tanto pela planta quanto pela microbiota novamente, formando uma espécie de competição pelo nutriente.

Explicando melhor esta situação, ocorre simultaneamente mineralização (morte dos organismos) e imobilização (crescimento dos organismos). Quando ocorre um predomínio de mineralização (ocorrendo um predomínio da morte dos microrganismos), o nitrogênio está saindo da forma orgânica, e se convertendo para a forma inorgânica (forma em que as plantas absorvem o nutriente). Porém, os microrganismos também podem usar o nitrogênio inorgânico para o seu crescimento, ocorrendo uma competição pelo nutriente e diminuindo temporariamente a disponibilidade para as plantas plantas. A direção para onde os processos de mineralização-imobilização tendem, depende da relação carbono:nitrogênio (Relação C/N) do material em decomposição.

 

Relação carbono / nitrogênio

Quando a relação C/N é alta (maior do que 30:1), é favorecida a imobilização temporária do N pelos microrganismos. Quando a relação C/N é baixa (menor do que 30:1), é favorecida a mineralização do N pelos microrganismos, sendo o nutriente absorvido pelas plantas. Desta forma é muito importante conhecer a relação C/N da palhada da planta no solo. A palha de trigo, por exemplo, possui uma relação C/N de 84, já o feno de alfafa possui uma relação C/N de 13. Você pode conferir a relação C/N de diversas espécies vegetais clicando aqui.

 

Nitrificação do nitrogênio

A nitrificação do N no solo é a passagem no N na forma de amônio (NH4+) para o nitrato (NO3-) em condições de solos bem drenados. O processo ocorre pela ação de bactérias, e é afetado por:

  • Disponibilidade de NH4+
  • Oxigênio
  • Acidez do solo (pH) - abaixo de pH 4 a nitrificação é inibida
  • Temperatura do solo
  • Umidade

O nitrogênio na forma de nitrato (NO3-) pode ser perdido por lixiviação (chuva) ou por desnitrificação, indo para a atmosfera, ao passo que o nitrogênio na forma de amônio não está sujeito à estas perdas.

 

Desnitrificação

É  um processo respiratório de alguns grupos de microrganismos, que na ausência de oxigênio, usam óxidos de nitrogênio como aceptor de elétrons na cadeia respiratória. É um processo extremamente importante, muito frequente em solos de várzea que são frequentemente alagados. É o principal processo biológico pelo qual o N reativo retorna à atmosfera na forma de N2. É importante perceber que, além do prejuízo econômico, ocorre também o prejuízo ambiental devido ao enorme potencial do nitrogênio de causar efeito estufa (296 vezes mais danoso que o CO2).

O processo também ocorre em solos não saturados, dentro dos agregados, formados devido à lenta difusão de oxigênio, ao passo que este último também é consumido pela respiração de microrganismos e plantas.

Para diminuir a ocorrência do problema, não deve-se usar fontes nítricas do nutriente nestes ambientes.

 

Lixiviação do N no solo

É o movimento do nutriente para baixo no perfil do solo, causado pela infiltração e drenagem de água, se movimentando para locais onde não ocorrem exploração pelas raízes e aproveitamento pela planta. O processo é favorecido por menor número de plantas, solos arenosos e em solos com mais macroporos.

 

Volatilização da amônia

É a transformação do íon de amônio (NH4+) em gás amônia (NH3). Quando a ureia entra em contato com o solo, ocorre a hidrólise (quebra da ureia pela água), formando o carbonato de amônio, que é instável e se decompõe de forma rápida, formando hidroxila e bicarbonato, aumentando o pH do solo na microrregião em torno do grânulo. Este alto pH (excesso de hidroxila e bicarbonato) desestabiliza o amônio. O amônio fica instável, perde um hidrogênio e vira gás amônia, que volatiliza para a atmosfera. Este processo ocorre até o momento em que o pH na microrregião não esteja tão alto. 

Para evitar a volatilização da amônia, a ureia deve ser aplicada antes da chuva ou da irrigação. Estudos apontam que as perdas chegam a atingir 24% do produto após o terceiro dia sem chuva. A chuva aumenta a camada de hidratação no grânulo, empurrando a amônia pra dentro do solo. Quando o gás subir, ao encontrar um ambiente mais ácido ainda dentro do solo (fora da região inicial do grânulo), a amônia se junta com algum hidrogênio e forma amônio novamente. Porém, ressalta-se que não se deve aplicar após uma chuva (mesmo que a previsão indique ocorrência de chuva logo depois), pois além da perda do nutriente, também ocorre a compactação do solo.

No caso da aplicação incorporada de ureia (enterrar entre 10 a 15 cm de profundidade), diminui-se as perdas por volatilização, porém ocorre menor sincronicidade com a demanda da planta. Todo o nutriente é aplicado em um único momento para a planta, podendo ocorrer até intoxicação. Pode-se também usar fertilizantes de liberação lenta (fertilizantes recobertos, encapsulados, insolúveis em água ou lentamente solúveis):

  • Ureia recoberta com enxofre, que atua diminuindo o pH e consequentemente a perda, porém o custo é de cerca de 2 a 3 vezes maior que da ureia normal, logo, ainda é mais econômico aplicar uma quantidade maior de ureia do que produtos deste tipo.
  • Fertilizantes estabilizados: contém aditivos que aumentam o tempo de disponibilidade de N no solo (retardando a volatilização e proporcionando uma maior janela para a incorporação pela água). Temos como exemplo inibidores de urease ou de nitrificação. Destes, o NBPT é o composto mais promissor desenvolvido até o momento.

 

Contribuição de nitrogênio pela matéria orgânica

Como a matéria orgânica também contribui com o aporte de nitrogênio, deve ser levada em conta no cálculo de recomendação de adubação. Aproximadamente 5% da matéria orgânica é constituída de Nitrogênio, e aproximadamente 3% da matéria orgânica é mineralizada por ano. Assim, se um solo tiver 3,5% de matéria orgânica, quanto de N é liberado em 4 meses em um hectare? Vejamos os cálculos:

Área = 10.000 m²
Profundidade = 0,2m
Volume = 10.000 x 0,2 = 2000m²
Densidade do solo = 1.300 kg/m³

Massa total de solo = 2000 x 1300 = 2.600.000 kg

N disponibilizado = massa total do solo x porcentagem de MO do solo x porcentagem de N na matéria orgânica x porcentagem de matéria orgânica mineralizada por ano

Como estamos fazendo o cálculo para 4 meses, dividimos o valor por 3

N disponível = 2.600.000 x 0,035 x 0,050 x (0,03 / 3) = 45,5 kg de N/ha

Conclui-se que quanto maior a quantidade de matéria orgânica, maior o aporte de nitrogênio e menor a quantidade necessária na adubação. Nestes casos, se a adubação nitrogenada é feita desconsiderando o aporte do nutriente realizado pela matéria orgânica, pode ocorrer um excesso do nutriente, causando efeitos danosos às plantas. Por outro lado, quanto menos matéria orgânica um solo possui, maior será sua resposta à adubação nitrogenada.

 

Função do nitrogênio na planta

Na grande maioria dos cultivos, o nitrogênio é o nutriente mais exigido pelas plantas. É um componente essencial de proteínas, aminoácidos, ácidos nucleicos, clorofila, vitaminas, carboidratos etc. Basicamente é responsável pelo crescimento da planta e desenvolvimento do sistema radicular, e atua diretamente na fotossíntese.

Sem este nutriente, não teremos clorofila, inviabilizando a fotossíntese e assim a planta não se desenvolve e fica amarela. Sob boas condições, o NH4+ é rapidamente convertido em NO3- pelas bactérias do solo. Ambas as formas podem ser absorvidas e utilizadas pelas plantas, porém a maioria, exceto as aquáticas, como arroz, absorve mais N-NO3 do que NH4+.

 

Sintomas de deficiência de nitrogênio nas plantas

Quanto aos sintomas de deficiência de nitrogênio, como é um nutriente que se movimenta dentro da planta, ele se desloca para as folhas mais novas, e os sintomas aparecem nas folhas mais velhas através de uma clorose, deixando as folhas com uma cor verde claro ou amarelada. Em casos mais severos, pode ocorrer a morte do tecido foliar, começando na ponta das folhas mais velhas. Observa-se também a restrição ou paralisação do crescimento da planta. Observe nas imagens abaixo:


Imagem: deficiência de nitrogênio nas folhas.


Imagem: deficiência de nitrogênio nas folhas.


Imagem: deficiência de nitrogênio nas folhas.

 

Sintomas do excesso de nitrogênio nas plantas

O contrário também pode ocorrer, quando temos um excesso de nitrogênio na planta, observa-se um crescimento exagerado e posterior acamamento das plantas. Estas perdem a sua capacidade de sustentação, queda de rendimento e retardamento da frutificação.

 

O nitrogênio nos fertilizantes

Tabela 1. Adubos minerais nitrogenados (teor em %).
Produto N total N nítrico N amoniacal N amídico CaO MgO S
Amônia anidra (NH3) 82 - 82 - - - -
Aquamônia (NH3+H2O) 16 - 21 - 16 - 21 - - - -
Nitrato de amônio (NH4NO3) 34 17 17 - - - -
Nitrato de cálcio [Ca(NO3)2] 14 14 - - 28 - -
Nitrato de sódio (NaNO3) 14 14 - - - - -
Nitrocálcio (NH4NO3 + calcário) 22 - 27 13,5 13,5 - 7 3 -
Sulfato de amônio [(NH4)2SO4] 20 - 20 - - - 24
Sulfonitrato de amônio (Nh4 + HNO3 + H2SO4) 25 - 26 13 13 - - - 15
Ureia [CO(NH2)2] 45 - - 45 - - -

 


Imagem: ureia (Pixabay)

 

Amônia anidra

A amônia anidra possui teor de N elevado (82%), sendo o fertilizante nitrogenado comercial mais concentrado, e pode ser encontrada no estado líquido em baixas temperaturas ou sob pressões relativamente altas. É normalmente aplicada no solo em uma profundidade de 10 a 20 centímetros, como um líquido pressurizado que imediatamente se vaporiza e reage com a água do solo para ser convertido em amônio (NH4+). O manejo requer treinamento e bons equipamentos e, em caso de vazamento, o produto pode atingir a pele, causando queimaduras.

 

Ureia

Clique aqui para acessar nossa página com mais informações sobre o manejo da sobre ureia.

Devido a sua alta concentração de N (45%), boa relação de custo-benefício e rápida absorção pelas plantas, é o fertilizante nitrogenado mais utilizado, sendo normalmente aplicado em gramíneas, pastagens, milho, trigo etc. Deve-se observar o clima no momento da aplicação para evitar perdas por volatilização, que podem resultar em grande prejuízo. Outro cuidado é com a aplicação em linha de semeadura, altas doses de ureia aplicadas na linha podem causar danos às sementes. 

As maiores perdas de nitrogênio ocorrem principalmente com o uso da ureia. Estudos apontam que podem ocorrer perdas de até 80% do N aplicado, dependendo das condições. Em situações com aplicação superficial de ureia, temos um valor médio de 20% de perdas. A incorporação ou chuva em 2 ou 3 dias após a aplicação diminuem as perdas.

Em geral, temos como fatores que favorecem as perdas de amônia, a presença de resíduos de culturas na superfície, a falta de chuva / irrigação após aplicação, alto pH do solo, altas temperaturas, baixo teor de argila e de MO (baixa CTC) e umidade seguida por tempo seco (a maior perda ocorre quando se aplicar depois da chuva, e o solo está secando sob calor, vento e baixa umidade do ar).

No mercado existem alguns produtos que diminuem muito as perdas de ureia no solo, como por exemplo inibidores de urease, porém, deve-se prestar atenção ao custo benefício.

 

 

Nitrato de amônio

Clique aqui para acessar nossa página com mais informações sobre o nitrato de amônio.

É um adubo que contém metade do nitrogênio na forma de nitrato, e metade na forma de amônia. Ao ser aplicado no solo, na presença de oxigênio e água, o produto final será oxigênio, nitrato e água, pois a amônia, na maioria dos solos, será transformada da forma amoniacal para a forma nítrica através da ação de bactérias nitrosomonas. Apresenta elevada solubilidade em água, sendo frequentemente usado em culturas fertirrigadas. É considerado a forma mais eficiente e rápida dos fertilizantes nitrogenados. O nitrogênio nesta forma volatiliza pouco, pois se encontra já na forma química em que as plantas absorvem, resultando também em menor impacto ambiental. Deve ser armazenado em local fresco e arejado, longe de produtos inflamáveis e não fertilizantes.

 

Monoamônio e diamônio fosfato

Clique aqui para acessar nossa página com mais informações sobre o monoamônio e diamônio fosfato.

Pode ser aplicado para corrigir fósforo no solo.

No caso do monoamônio, quando aplicado ao solo, cada mol desse nutriente libera 2 íons de hidrogênio, nitrato, fosfato e água. Pode ser aplicado para corrigir fósforo no solo.

No caso do diamônio, nós temos 2 íons de amônio compondo a molécula, e no resíduo final teremos 3 hidrogênios

 

Nitrato de cálcio, nitrato de potássio e nitrato de sódio

Clique aqui para acessar nossa página com mais informações sobre o nitrato de cálcio e nitrato de potássio.

Nestes adubos, não ocorrem perdas por volatilização e salinização/acidificação do solo. São facilmente lixiviados, sendo uma boa opção o uso em cobertura, evitando-se o uso em condições inundadas.

 

Sulfato de amônio

Clique aqui para acessar nossa página com mais informações sobre o sulfato de amônio.

Com concentração de nitrogênio (20%) bem menor do que nitrato de amônia (33%), o nitrogênio proveniente do sulfato apresenta baixíssimas perdas e, associado ao enxofre elementar, no caso do amônio, se apresenta como uma fonte nobre de N. Como sua reação no solo gera 4 mols de hidrogênio para cada mol do fertilizante, ele causa duas vezes mais acidez no solo do que o nitrato de amônio. Indicado para solos pouco ácidos (pois tende a aumentar a acidez do solo) e pobres em enxofre ou para culturas mais exigentes em enxofre. Este adubo nitrogenado só é viável economicamente quando ocorre necessidade de ambos os nutrientes (nitrogênio e enxofre) no solo.

 

Fertilizantes nitrogenados orgânicos

Consulte na nossa seção de adubação orgânica.

 

Definição da dose de nitrogênio

A dose de nitrogênio a ser aplicada depende da: 

  • contribuição do nitrogênio no solo
  • teor de matéria orgânica
  • contribuição da cultura antecedente (vide tabela 3)
  • necessidade da cultura a ser semeada
  • expectativa de rendimento 
  • sistema de cultivo.

No RS e SC é usado o teor de matéria orgânica como uma ferramenta auxiliar na interpretação de nitrogênio e definição da dose a ser aplicada, pois nestes estados ocorre uma significativa associação entre o teor de matéria orgânica do solo e a resposta da cultura ao nitrogênio. Em outras regiões, se trabalha com doses tabeladas conforme a cultura e condições locais. 

Quanto à contribuição da cultura antecedente, temos como exemplo a soja antes do trigo. A soja irá deixar uma certa quantidade de nitrogênio para o trigo, alguns estudos sugerem que a soja irá contribuir com 1 kg de N para cada 60 kg de grão de soja colhidos.

Abaixo temos uma tabela onde podemos observar a contribuição em nitrogênio de cada cultura antecedente.

Tabela 3. Contribuição de nitrogênio da cultura antecedente como cobertura de solo.

Espécies cultivadas para cobertura do solo Massa seca N acumulado Relação C/N
------------ kg/ha ------------
Chícaro 3267 91 16
Ervilha comum 3259 86 16
Tremoço azul 4890 111 15
Ervilha forrageira 3154 79 16
Aveia preta 4726 55 43
Nabo forrageiro 4379 101 18
Crotalaria juncea 10522 189 28
Feijão-de-porco 5527 150 17
Guandu anão 4807 103 23
Crotalária spectabilis 6000 137 20
Mucuna cinza 7243 179 21
Mucuna preta 7062 161 23
Aveia + ervilhaca 5970 99 24

Fonte: Oliveira et al. (2002)


 

Tabela 4. Contribuição de nitrogênio da cultura antecedente em rotação de culturas no SPD.
Rotação de culturas no SPD Massa seca N acumulado Relação C/N
------------ kg/ha ------------
  Argissolo vermelho-amarelo (RS)1
Tremoço azul/milho 7380 84,3 35
Ervilha comum/milho 6400 86,6 30
Ervilha forrageira/milho 5640 54,7 41
Pousio/milho 5410 51,6 42
Aveia preta/milho 4300 40,2 43
  Argissolo vermelho (RS)2
Lablab/milho 13680 208,7 26
Aveia+ervilhaca/milho+caupi 8770 114,5 30
Aveia+ervilhaca/milho 8640 107,7 31
Aveia/milho 7680 60,9 50
Ervilhaca+gorga/milho 5860 105,0 20
Pousio/milho 3430 46,8 25

Fonte: 1Conçalves et al. (2000); 2Bayer et al. (1998).

 

Necessidade de nitrogênio das culturas

É um método pouco difícil de ser estimado, pois não existe uma análise de solo que indique a quantidade de N que será absorvida em um determinado ciclo e cultura. Desta forma, recomenda-se recomendações baseadas em dados indiretos e subjetivos:

  • expectativa de produtividade
  • histórico de uso anterior do solo (cultura antecedente)
  • análise foliar (algumas culturas perenes)
  • teor de matéria orgânica
  • análises de solo
  • inferência de taxas de mineralização de N de adubos orgânicos e de restevas


Modelos

Existem alguns modelos para estimar a necessidade de nitrogênio pelas culturas:

  • Modelo planta: proporciona uma estimativa razoável da quantidade de N necessário pela cultura
    Nfert = Ncol / Ef
    Sendo:
    Nfert = quantidade de N a aplicar
    Ncol = quantidade de N exportada pela colheita
    Ef = eficiência de utilização do fertilizantes. O valor varia entre 0,5 a 0,75, a depender da espécie, solos e condições climáticas em geral.
    Exemplo (trigo): 
    teor de N nos grãos = 2,2%
    Ef = 0,7
    expectativa de rendimento = 3000 kg/ha
    teor de N retirado nos grãos = 3000 x 2,2% = 66 kg
    Nfert = 66 / 0,7 = 94 kg/ha

 

  • Modelo solo-planta: leva em conta o nitrogênio fornecido pelo solo e a demanda da planta. É um sistema mais difícil de ser praticado, pois esta análise geralmente não é feita em laboratórios.
    Nfert = Nplanta - (Nmo + Nsolo) / Ef
    Sendo
    Nfert = quantidade de N a aplicar
    Nplanta (quantidade de N exportada pela cultura)
    Nmo = quantidade de N mineralizado (determinado no laboratório)
    Nsolo = quantidade de nitrogênio disponível no solo antes da semeadura
    Ef = eficiência de utilização do fertilizante. O valor varia entre 0,5 a 0,75, a depender da espécie, solos e condições climáticas em geral.

 

  • Modelo solo-planta-sistema de cultivo: leva-se em conta a necessidade de planta, e o que o solo fornece, porém tem uma maior precisão
    Exemplo para a cultura do trigo:
    N para desenvolvimento da planta e formação de grãos
    - 33 a 50kg N / ha / 1t de grãos
    - Teor de N: 2,0 a 2,8% no grão e 0,4 a 0,8% na palha, na colheita
    Em lavouras de alto rendimento, a exigência de nitrogênio por tonelada de grãos pode ser maior devido à redução de eficiência do uso do nutriente pela planta

 

Em alguns momentos devemos alterar a quantidade estimada de nitrogênio, como por exemplo: 

  • quando ocorre mineralização intensa
  • quando há grande quantidade de resteva
  • quando aplicado fertilizante orgânico
  • quando a cultura anterior for uma leguminosa
  • quando ocorre pastejo
  • quando o sistema plantio direto é iniciado

 

Manejo dos fertilizantes nitrogenados

Do ponto de vista agronômico, para a maioria das culturas sob condições de cultivo de sequeiro, ou dependente apenas das chuvas, a eficiência dos diferentes nitrogenados deverá ser semelhante. Evidentemente, na avaliação de casos específicos, esta eficiência tende a ser variável em função de alguns fatores, entre os quais citam-se:

  • disponibilidade no local;
  • outros nutrientes na composição;
  • doses a serem aplicadas;
  • forma de aplicação;
  • condições do solo (umidade, textura, tipo de argila, pH, etc);
  • condições de clima (índice pluviométrico e temperatura);
  • condições da cultura (ciclo, variedade, capacidade de proliferação de raízes, eficiência metabólica, etc).  

De uma maneira geral, a eficiência dos fertilizantes nitrogenados pode ser consideravelmente aumentada, levando-se em conta os seguintes aspectos:

 

Irrigação adequada

A incorporação adequada dos fertilizantes nitrogenados, tanto por ocasião do plantio, como no caso das coberturas, é de fundamental importância para se evitarem as perdas por volatização de amônia, principalmente em solos alcalinos, calcários ou áreas que foram calcariadas em excesso. Em geral, a recomendação de se aplicar o fertilizante na dose necessária para o plantio, 5 cm ao lado e 5 cm abaixo da semente, ainda é válida para a maioria das culturas produtoras de grãos. As aplicações de nitrogênio em cobertura, principalmente nas formas amídicas (ureia) e amoniacais (sulfato de amônio e outros), devem ser feitas em sulco, cobrindo-se o fertilizante com cerca de 5 cm de terra. Quando a incorporação do fertilizante nitrogenado aplicado em cobertura não é possível de ser feita, as perdas por volatização de amônia podem ser minimizadas, misturando-se o fertilizante com a camada superficial do solo. 

 

Parcelamento da adubação de nitrogênio

O parcelamento da adubação, de acordo com as necessidades da cultura e em função das características do solo e do clima é, sem dúvida, uma das práticas e manejo mais recomendadas para aumentar a eficiência dos fertilizantes nitrogenados.

Em geral deve-se usar maior número de parcelamentos (3 e 4), sob as seguintes condições:

  • altas doses de nitrogênio (120-150 kg N ha-1);
  • solos de textura arenosa e/ou solos argilosos com baixa CTC;
  • áreas sujeitas a chuvas de alta intensidade;
  • variedades de ciclo longo, quando se tratar de culturas anuais.

Um número menor de parcelamentos da adubação (1 a 2) deve ser feito, sob as seguintes condições:

  • doses de nitrogênio baixas ou medias (40-80 kg N ha-1);
  • solos de textura média ou argilosa, com alta CTC;
  • áreas sujeitas a chuvas de baixa intensidade;
  • variedades de ciclo curto, quando se tratar de culturas anuais. 

 

Irrigação controlada

Muitas vezes, sob condições de agricultura intensiva, as aplicações de fertilizantes nitrogenados em cobertura não podem ser feitas com incorporação do produto. Nesse caso, o uso de irrigação controlada permite uma rápida solubilização do fertilizante aplicado, movimentação dos nutrientes na solução do solo até uma certa profundidade e redução das perdas por volatilização de amônia.

Embora haja variações quanto ao tipo de solo, para cada 1 mm de irrigação há uma percolação de aproximadamente 1 cm. Assim sendo, uma irrigação com 10 mm de lâmina d’água após a aplicação de uréia é suficiente para diminuir sensivelmente as perdas por volatilização. Este princípio de manejo aplica-se, também, para as culturas de arroz sob inundação, sendo atingida maior eficiência dos fertilizantes nitrogenados, fazendo-se a drenagem do excesso de água, distribuindo-se o fertilizante nitrogenado a lanço, seguindo-se inundação controlada.  

 

Contribuição dos estercos, fixação biológica e adubação verde no nitrogênio

Em certos sistemas de cultivo, notadamente em pequenas glebas, a contribuição do uso dos estercos não pode ser desconsiderada. Em função das doses aplicadas e das possíveis taxas de mineralização, sob condições ideais, esta contribuição pode chegar a níveis bem altos. Para mais informações, confira nossa seção de adubação orgânica.

Da mesma forma, a fixação biológica de nitrogênio em leguminosas é um componente importante, tanto qualitativa como quantitativamente, no que diz respeito a eficiência dos fertilizantes nitrogenados, quer sejam em monoculturas ou em rotação de culturas. Nas leguminosas, portanto, a técnica de inoculação de estirpes adequadas de bactérias fixadoras de nitrogênio ocupa lugar de destaque no processo global de eficiência deste nutriente.  

Assim como a fixação biológica, também a adubação verde com leguminosas constitui-se em fator de grande importância na avaliação do uso eficiente de nitrogênio. A contribuição desta técnica na nutrição nitrogenada tende a ser expressiva, principalmente sob condições de solo cultivado intensivamente. Neste contexto, as doses de nitrogênio a serem aplicadas podem ser reduzidas consideravelmente, principalmente quando se cultivam variedades de baixa exigência em nitrogênio.

 

Critérios econômicos para a escolha de adubos nitrogenados

Quando o interesse é de aplicar nitrogênio, a escolha do adubo pode ser feita apenas pelo cálculo do preço por kg de nitrogênio contido no fertilizante. Porém, podem ocorrer diferentes respostas entre adubos nitrogenados devido à presença de nutrientes complementares como por exemplo no caso enxofre no sulfato de amônio. Tal fato acontece quando ocorre carência do enxofre neste caso, sendo necessário calcular o valor econômico adicional decorrente do nutriente complementar. Porém, se o solo não necessita de enxofre, este fato é irrelevante. O mesmo pode ocorrer também com o cálcio e magnésio no nitrocálcio.

Todos os adubos nitrogenados são semelhantes com a solubilidade e efeito residual, não sendo este um fator a ser considerado.

 

 

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Fertilizantes minerais potássicos

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Ecila Maria Nunes Giracca - Eng. Agrª, Drª em Ciência do Solo

José Luis da Silva Nunes - Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia

Anderson Wolf Machado - Eng. Agrº

 

Referências:

Pierre, W. H. 1928. Nitrogen fertilizers and soil acidity: I. Effect of various nitrogenous fertilizers on soil reaction. In Journal of the American Society of Agronomy 20:254-269.

GONÇALVES, C.N.; CERETTA, C.A. & BASSO, C.J. Sucessões de culturas com plantas de cobertura e milho em plantio direto e sua influência sobre o nitrogênio do solo. R. Bras. Ci. Solo, 24:153-159, 2000.

BAYER, C. & MIELNICZUK, J. Conteúdo de nitrogênio total num solo submetido a diferentes métodos de preparo e sistemas de cultura. R. Bras. Ci. Solo, 21:235-239, 1997.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004.

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