Enxofre elementar - o que você precisa saber sobre o fertilizante
O enxofre elementar é uma fonte que possui 99% de enxofre.
O enxofre elementar é uma fonte que possui 99% de enxofre. Devido ao alto teor do nutriente, a incorporação deste produto aos fertilizantes minerais vem sendo usada como estratégia para diminuir custos de produção, transporte, estocagem e aplicação, além de se tornar atrativa em situações de aumento do preço do gesso agrícola.
O enxofre elementar não é solúvel, e não entra na solução do solo, não sendo lixiviado. Já o enxofre na forma de sulfato pode ser lixiviado em solos com a subsuperfície (20 a 40 cm) com textura arenosa.
É importante ressaltar que o enxofre elementar, assim como a ureia ou o sulfato de amônio, acidificam o solo através da liberação de hidrogênio. Caso ocorra a acidificação, pode ser controlada pela calagem.
Para este enxofre estar disponível para as plantas, deve sofrer um processo de oxidação, se convertendo para S-sulfato (Janzen & Bettany, 1987a), forma em que as plantas conseguem absorver o nutriente. Este processo de oxidação é influenciado por diversos fatores:
- Microrganismos do solo: diversos grupos de microrganismos podem oxidar o enxofre elementar no solo;
- Temperatura: a temperatura ótima para oxidação do enxofre não é bem definida, mas estudos apontam que esta oscila entre 30°C e 40ºC. Em temperaturas baixas, a oxidação do enxofre elementar é nula ou quase neutra, não valendo a pena o uso de enxofre elementar nestas situações;
- Granulometria do enxofre elementar: quanto menor o tamanho da partícula de enxofre elementar, maior o processo de oxidação devido ao aumento da área superficial específica, favorecendo o contato com os microrganismos que transformam o nutriente, disponibilizando-o para as plantas (Wainwright, 1984). Em estudo realizado por Lee et al. (1988), concluiu-se que partículas menores que 0,15 mm sofrem 90% de oxidação em 340 dias, já as partículas maiores que 0,15 mm sofrem de 24 a 55% de oxidação no mesmo período;
- pH do solo: o aumento de pH do solo resulta em maior taxa de oxidação do enxofre elementar. Tal fato possivelmente ocorre pelo pH alto tamponar o ácido sulfúrico formado na oxidação, que é prejudicial à atividade de microrganismos que transformam o enxofre elementar em sulfato (Barrow, 1971);
- Matéria orgânica: o maior teor de matéria orgânica no solo resulta em maior taxa de oxidação do enxofre elementar. Isto pode acontecer devido à resposta de organismos que oxidam o enxofre elementar utilizando o substrato como fonte de energia (Wainwright et al., 1986);
- Umidade e aeração: em solos com baixa umidade, a oxidação é menor, pois os microrganismos precisam de água para realizar suas atividades. Já em locais com alta umidade, a oxidação também é limitada pela falta de oxigênio. Em lavouras de arroz, por exemplo, deve-se evitar o uso de enxofre elementar, pois a falta de oxigênio no solo fará com que a oxidação (e disponibilidade do nutriente para as plantas) ocorra de forma muito lenta.
Existem algumas formas de se potencializar a oxidação do enxofre elementar, tais como incorporação do adubo ao solo, aplicação em área total ao invés de aplicação localizada e correção prévia do solo com calcário (Vitti et al., 2015).
Geralmente este produto é utilizado com bentonita, uma argila expansiva que é fundida as partículas finas do enxofre elementar, resultando em uma forma granulada que facilita a aplicação do produto (Boswell et al., 1988). Estes grânulos se desintegram devido à ação da umidade do solo, expondo as partículas finas do enxofre elementar aos microrganismos, que executam a oxidação do nutriente, tornando-o disponível para as plantas.
Formas de enxofre elementar
O enxofre elementar na forma de grânulos, sem nenhum aditivo, possui baixa eficiência, devido à sua baixa área superficial específica. Desta forma, o enxofre nesta forma deve ser evitado.
Enxofre pastilhado
No mercado existem produtos com enxofre elementar pastilhado com e sem a adição de bentonita, devido às diferentes origens destes produtos. Os produtos pastilhados com maior capacidade de dissolução terão a maior taxa de oxidação, e consequentemente mais rápido o nutriente estará disponível para as plantas.
Damato et al. (2008) realizaram estudo avaliando a efetividade do enxofre elementar com e sem bentonita em solos com textura arenosa, intermediária e argilosa. As duas formas do produto tiveram eficácia similar para os 3 solos.
Ureia, MAP e TSP revestidos com enxofre
Neste tipo de produto, realiza-se uma aspersão do enxofre elementar na forma de pó sobre os grânulos de ureia, monoamônio fosfato (MAP) ou superfosfato triplo (TSP), sob temperatura de 102ºC, ocorrendo uma fusão do enxofre elementar e recobrimento dos grânulos.
Enxofre incorporado com grânulos fosfatados
Este produto é feito através do enriquecimento de fertilizantes fosfatados com enxofre, misturando sulfato e enxofre elementar no processo de granulação, sem reduzir o teor de fósforo.
A incorporação de sulfato e enxofre elementar aos fertilizantes sólidos pode resultar em um produto com grânulos de enxofre elementar entre 5 e 200 micrometros, combinados com monoamônio fosfato (MAP), dioamônio fosfato (DAP) ou superfosfato triplo (TSP) e misturas NPK.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BARROW, N. J. Slowly available sulphur fertilizers in south-western Australia. I. Elemental sulphur. Australian Journal of Experimental Agriculture and Animal Husbandry, Collingwood, v. 2, p. 211-216, 1971.
BOSWELL, C. C. Dryland lucerne responses to elemental sulphur of diferente particle sizes applied at diferente rates and frequencies in North Otago, New Zealand. New Zealand Journal of Agricultural Research, Wellington, v. 40, p. 283-295, 1997.
JANZEN, H. H.; BETTANY, J. R. Measurement of sulfur oxidation in sois. Soil Science, Baltimore, v. 143, n. 6, p. 444-452, 1987a.
LEE, A.; BOSWELL, C.C.; WATKINSON, J. H. Effect of particle size on the oxidation of elemental sulphur, thiobacili numbers, soil sulfate and its availability to pasture. New Zealand Journal of Agricultural Research, Wellington, v. 13, p. 179-186, 1988.
VITTI, Godofredo Cesar; OTTO, Rafael; SAVIETO, Julia. Manejo Do Enxofre na Agricultura. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS - IPNI, Piracicaba, SP, n. 152, Dezembro 2015.
WAINWRIGHT, M. Sulfur oxidation in soils. Advances in Agronomy, San Diego, CA, v. 37, p. 349-396, 1984.
WAINWRIGHT, M.; NEVELL, W.; GRAYSTON, S. J. Effects of organic matter on sulphur oxidation in soil and influence of sulphur oxidation on soil nitrification. Plant and Soil, Dordrecht, v. 96, p. 369-376, 1986.