Cloreto de Potássio (KCl) - vantagens e manejo do adubo
Tudo o que você precisa saber sobre o fertilizante cloreto de potássio.
O Cloreto de potássio (KCl) é um fertilizante potássico, que possui cerca de 60% de óxido de potássio (K2O) em sua composição. O potássio é um nutriente muito importante para as culturas, pois é o principal regulador osmótico das células vegetais, além de ser um ativador de diversas enzimas, atuar na fotossíntese e translocação de fotoassimilados, atuar na resistência à doenças, crescimento dos meristemas e qualidade dos produtos agrícolas.
O Cloreto de Potássio é o fertilizante mais importado pelo Brasil, e é extraído de minerais como carnalita e silvita, porém também pode ser obtido por outros processos. Quanto ao potássio em si, clique aqui para ler sobre características gerais deste nutriente e seus efeitos na planta.
Vantagens e desvantagens do Cloreto de Potássio
O Cloreto de Potássio, seguido as normas do MAPA deve possuir no mínimo 50% de K2O solúvel em água e 39% de Cloro (Cl), e possui como vantagens o alto teor de potássio e sua rápida disponibilidade para as plantas na forma K+. Porém, como desvantagem deste produto, temos o fato de que a sua alta solubilidade torna o produto suscetível à lixiviação (a depender das condições de solo), perdendo o nutriente para as camadas mais profundas e não fornecendo efeito residual no solo. Também ocorrem altas perdas do nutriente por escorrimento superficial, principalmente quando aplicado a lanço.
Outro fator é que solos com minerais 2:1 retém este nutriente fortemente, tornando-o indisponível para a planta, e indetectável nas análises de solo. Isso faz com que seja comum a prática de novas aplicações, causando problemas de salinidade devido ao alto aporte de cloro.
O cloreto de potássio possui alto índice salino. A salinidade causa desequilíbrio na microbiota do solo, prejudicando microorganismos benéficos neste ambiente, responsáveis por efeitos como a disponibilização de outros nutrientes como o nitrogênio (muito importante na nodulação da soja), e também causa efeitos de fitotoxidez nas plantas, podendo queimar sementes e plântulas.
Outra desvantagem que pode ocorrer é a compactação química e a acidificação dos frutos devido ao excesso de cloreto e o desequilíbrio da umidade do solo.
Para evitar estes tipos de problemas, pode-se usar outros produtos com potássio, como por exemplo silicato de potássio, porém, deve-se entender que outros produtos também possuem suas vantagens e desvantagens.
Manejo do Cloreto de Potássio
Por estes fatores citados anteriormente, não se recomenda ultrapassar 80 ou 100 kg de cloreto de potássio por aplicação (com intervalos mínimos entre aplicações de 15 dias), dependendo do caso (tipo de solo, cultura...), para evitar que o excesso de cloro cause estes efeitos indesejáveis, e evitar que o potássio que não seja imediatamente absorvido pela planta seja lixiviado.
Quanto ao tipo de solo, solos argilosos possuem maior capacidade de reter o potássio devido à sua maior CTC (ocorrendo menor lixiviação), necessitando menor parcelamento. Já os solos arenosos, devido à menor CTC, exigem maior parcelamento deste fertilizante. Para ambos os solos, em alguns casos pode-se disponibilizar totalmente o fertilizante já na semeadura, dependendo da dosagem e cultura.
Quanto à salinidade, em se tratando de altas dosagens, acima de 50 kg de K2O (observe que estamos falando da dose do nutriente isoladamente, e não do fertilizante), se feitas com cloreto de potássio (ou NPK com cloreto de potássio), recomenda-se o parcelamento da aplicação para evitar a possibilidade de fitotoxidez salina na semente. Ao aplicar no sulco de plantio durante a semeadura da soja, a dose máxima é de 60 kg de K2O por hectare em solos argilosos, ou 50 kg em solos arenosos. Já em milho, a dose máxima é de 50 kg por hectare. Se a necessidade de aplicação for maior que estas doses, o resto deve ser aplicado em cobertura. Claro, podem haver variações desse valor a depender da região. Além disso, o adubo deve ser posicionado 5 cm abaixo e 5 cm ao lado da semente.
A aplicação a lanço é viável pois o potássio é móvel no solo, e não lixivia em doses baixas, não volatiliza e não imobiliza. Porém, a aplicação a lanço pode resultar em perda do nutriente por escorrimento superficial de água, dependendo das condições.
Obs.: alguns estudos atuais defendem que o problema de salinidade na semente é muito mais influenciado pela distância entre o adubo e a semente do que pela dosagem em si, afirmando que mesmo em altas dosagens, não haverá este problema se o fertilizante for posicionado com uma distância adequada da semente.
Para reduzir as perdas do potássio no solo, podemos:
- Aumentar as cargas negativas do solo, adsorvendo mais potássio e reduzindo as perdas por lixiviação. Isto pode ser feito através da rotação de culturas, incremento da matéria orgânica e correção de pH do solo através da calagem;
- Parcelamento da aplicação, com intervalos mínimos de 15 dias.
Armazenamento do cloreto do potássio (KCl)
O cloreto de potássio deve ser armazenado em local fechado, protegido do solo, sol e de umidade. Deve-se evitar o armazenamento a céu aberto, mas, caso não seja possível, o local deve ser bem drenado, e as embalagens colocadas sobre estrados ou paletes para proteção térmica.
As pilhas podem ser cobertas com lona ou filme plástico, e devem ser amarradas. No caso de big-bags, deve-se empilhar no máximo 3 big bags.
Diferença entre o Cloreto de Potássio vermelho x Cloreto de Potássio branco
Os cloretos de potássio vermelhos possuem ferro oriundo do seu local de origem, o que não interfere na sua eficiência. Ambos os produtos vermelho e branco possuem a mesma eficiência agronômica.
Tolerância e sensibilidade das culturas ao cloreto
- Gostam de cloreto: coco, aipo, acelga, beterraba forrageira...
- Toleram o cloreto: cereais, algodão, banana, arroz, soja, milho, amendoim, mandioca, cana-de-açúcar, pastagens, beterraba-vermelha, palmeira dendém, colza, couves de folha grosseira...
- Toleram o cloreto de forma condicionada: café, kiwi, cenoura, girassol, batata, tomate, ervilha, espinafre, nabo, rabanete, couves (finas e couve-rábano), chicória, ananás, pepino...
- Sensíveis ao cloreto: flores e plantas ornamentais, cebola, pepino, culturas em estufa, morango, amora, mirtilo, framboesa, manga, pimenta, abacate, castanha de caju, cacau, pêssego, batata (para melhoramento e para fécula), tabaco, amêndoas, feijão rasteiro, fava, melão...
Aplicação do potássio nas diferentes culturas
Destacamos que as informações abaixo são generalizadas, principalmente quanto à dosagem. Cada produção possui suas particularidades, sendo necessário sempre um olhar técnico sobre o processo produtivo e situação do solo para se elaborar uma recomendação.
Adubação potássica em milho
O milho utiliza muito potássio para a sua produção, extraindo em média quase 200 kg/ha de K2O para produzir 10t de grãos, e absorve o potássio desde os estágios iniciais de desenvolvimento da cultura. Até esta etapa, o milho já absorveu 90% de toda a sua demanda potássica. Sendo assim, recomenda-se aplicar o potássio todo no sulco de plantio (quando possível, a depender das condições), ou em até 30 dias após o plantio. No caso de altas dosagens, recomenda-se o parcelamento, sendo uma opção aplicar 1/3 no plantio, evitando o contato com a semente, e o resto em cobertura entre V3 e V6. A aplicação a lanço pode ser feita até o começo da fase reprodutiva.
Quanto à dosagem, esta depende do resultado da análise foliar / de solo, da expectativa de produtividade, da finalidade (silagem ou grãos), do sistema de cultivo etc.
Adubação potássica em soja
A aplicação de potássio oscila, em média, entre 40 a 80 kg/ha, a depender da análise de solo e expectativa de produtividade.
Para dosagens acima de 50 kg de K2O (observe que estamos falando da dose do nutriente isoladamente, e não do fertilizante), se feitas com cloreto de potássio (ou NPK com cloreto de potássio), devem ser parceladas, sendo uma aplicação no plantio, e outra aplicação em 30 a 40 dias após a emergência.
Adubação potássica em feijão
O potássio é bastante absorvido pela cultura do feijão, sendo superado apenas pelo nitrogênio. Existem dois grandes momentos de aumento da velocidade de absorção do nutriente no feijão, sendo o primeiro entre 25 e 35 dias após a emergência (na diferenciação dos botões florais) e o segundo no florescimento e formação das vagens, entre 35 e 55 dias após a emergência. Assim, o nutriente deve estar disponível no solo antes destes momentos para não haver perda de produtividade. Assim, recomenda-se a adubação ainda no plantio e, quando o solo for arenoso, parcelar aplicando metade no plantio e metade em cobertura, entre 25 e 30 dias após a emergência.
Quanto à dosagem, geralmente oscila entre 20 a 50 kg/ha, dependendo do nível do nutriente no solo, produtividade esperada e sistema de cultivo.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo