Saúde do solo é tema na Expointer 2023
O RS Inovation Agro está trazendo uma série de painéis de debate sobre assuntos inovadores e aplicados à agropecuária
O espaço RS Inovation Agro, organizado pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS, está trazendo uma série de painéis de debate sobre assuntos inovadores e aplicados à agropecuária na Expointer 2023. Um assunto fortemente debatido na última segunda-feira, 28, foi a saúde do solo e como a biotecnologia pode auxiliar a aumentar a produtividade aliada à sustentabilidade, com destaque para dois painéis apresentados.
O painel “A Biotecnologia como fonte de avanços para o agro no RS”, com Adriana Ambrosini, pesquisadora de UFRGS e CEO da Agrega Pesquisa e Desenvolvimento LTDA e Izabel Vianna Villela, CEO da Rede SulBiotec/InnVitro Gestão e Suporte em Toxicologia como palestrantes e como moderador, Alexandre José Macedo, diretor do Centro de Biotecnologia da UFRS foi realizado na última segunda-feira, 28.
Durante o painel, a pesquisadora Adriana Ambrosini ressaltou a importância da inteligência artificial aliada a análises genômicas do solo. Segundo a pesquisadora, a partir das análises genômicas do solo, é possível saber quais os grupos microbianos predominantemente presentes no solo (sejam benéficos ou maléficos), a partir da presença de genes específicos, como de fixação biológica de nutrientes, relacionados ao ciclo do fósforo e de resistência a doenças. De acordo com a pesquisadora, em um futuro próximo, será possível predizer ao produtor a produtividade da área, já que dados de produtividade de cultura da região serão cruzados com os dados de um local específico, dando mais precisão ao diagnóstico.
A CEO da Rede SulBiotec/InnVitro Gestão e Suporte em Toxicologia, Izabel Vianna Villela comentou o papel de divulgação da biotecnologia aliada à produção agrícola na região sul e em como isso tem surtido um efeito positivo. Segundo Villela, existem empresas que financiam projetos, e isso muitas vezes viabilizam a aplicação dessas ideias, que muitas vezes surgem em pequenas empresas de baixo capital ou startups. Ela ainda frisou como a agricultura brasileira tem se tornado sustentável nos últimos anos, comparando com outros países produtores de alimentos e insumos.
O segundo painel sobre biotecnologia, teve como tema “Bioinsumos e suas tendências tecnológicas”, com os palestrantes Ronaldo Carbonari, engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Rosana Taschetto Vey, sócia-fundadora e CEO da Inocular Soluções Agrícolas e Bruno Marin Arroyo, gerente nacional de Desenvolvimento de Mercado da Agrobiológica. A moderadora foi Bibiane Segala, gestora de Inovação e Tecnologia da Inova RS Central. Bruno Marin Arroyo falou sobre a importância de serem traçadas estratégias para diminuir a pressão por pragas e doenças em um país com as dimensões continentais, como o Brasil, onde os produtos químicos têm perdido eficiência por conta dessa pressão. Uma dessas estratégias é a inclusão de bioinsumos através do manejo integrado, onde é possível reduzir a utilização de agroquímicos e manter um controle eficiente, trazendo rentabilidade para o produtor.
O gerente de desenvolvimento de mercado citou alguns exemplos práticos, como o controle de nematoides, que hoje é realizado prioritariamente por defensivos biológicos, assim como o controle do mofo-branco em soja, através da aplicação de Trichoderma (fungicida biológico) e o controle de insetos como a cigarrinha do milho com a utilização de Metarhizium (inseticida biológico).
No evento, Rosana Taschetto comentou que a estratégia ideal não é a eliminação total de todos os agrotóxicos do manejo convencional e sim introduzir aos poucos o uso de biológicos, aumentando o intervalo e aplicação de químicos e inserindo uma aplicação de biológico nesse intervalo. Além disso, comenta que o produtor precisa mudar a visão em relação ao solo e como a aplicação de agrotóxicos e fertilizantes químicos podem interferir na biota do solo, trazendo prejuízos para a ciclagem e mineralização de nutrientes, decomposição da matéria orgânica e consequentemente, o bom funcionamento do sistema como um todo ao longo do tempo. Outro ponto abordado, é a importância de preparar o solo para a aplicação e manutenção desses microrganismos no solo, a partir de uma calagem adequada e a manutenção dos resíduos vegetais das culturas antecessoras, para que esses microrganismos utilizarem como substrato.
O extensionista da Emater/RS, Ronaldo Carbonari, mencionou a importância da tecnologia de aplicação quando se fala em viabilidade de bioinsumos e que tem percebido na prática que a aplicação em sulco de plantio tem sido mais positiva quando comparada ao tratamento de sementes para inoculantes de soja e controle de doenças de raízes e colo, além da complementação de aplicações aéreas para controle de pragas e doenças de parte aérea.
Também foi comentado das opções de bioinsumos, sendo divididos em duas grandes linhas, sendo os formulados industriais que são fornecidos prontos para o produtor e também a possibilidade de produção on farm (produção do inóculo na fazenda). Essa segunda opção tem sido muito debatida, devido a dificuldade de se produzir mantendo o controle de qualidade, em um processo esterilizado e o mais limpo possível, a fim de se evitar contaminação e de se manter a concentração adequada do produto para aplicação. Um ponto positivo dessa tecnologia, é a redução de custos, já que é possível reduzir em torno de 50 a 60% quando comparado a aquisição de formulados industriais. Bruno Marin Arroyo ressaltou que esse método se torna relevante para quem tem grandes propriedades, e que o produtor precisa ter ciência que dependerá de mão de obra especializada para fazer uso desse tipo de tecnologia.
Rosana Taschetto citou ainda que cuidados com armazenagem e transporte são essenciais para se manter a viabilidade desse tipo de produto, já que se trata de organismos vivos. Além disso, é importante analisar a compatibilidade com outros produtos, principalmente os químicos e o que pode ser aplicado em conjunto sem que se tenha prejuízo quanto a viabilidade.
Ao final do debate, Rosana Taschetto salientou que é perceptível que quem começa a utilizar os biológicos, dificilmente irá deixar de usar. Também comentou que é importante que o produtor comece a pensar no sistema como um todo e em como plantas bem nutridas e saudáveis, respondem melhor em produtividade e também são mais tolerantes a doenças, ataques de pragas e outras intempéries.
Material elaborado pela engenheira florestal Franquiele Bonilha com revisão Seane Lennon*