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SPD e a revolução do agro Brasileiro



Amélio Dall’Agnol

Que a atividade agrícola brasileira deu um salto qualitativo gigante no último meio século, ninguém contesta. A dúvida pode residir sobre as causas que levaram o agronegócio brasileiro a ter tamanho desenvolvimento, em tão curto espaço de tempo.

Certamente foram muitas as causas, mas neste espaço limitado comentaremos apenas a introdução e implementação do Sistema Plantio Direto (SPD) nas lavouras do Brasil, a principal ou uma das principais tecnologias que mais impactaram o desenvolvimento do agronegócio nacional. Hoje no Brasil, o SPD está presente em mais de 30 milhões de hectares (Mha) de lavouras e estima-se que sejam mais de 110 Mha em todo o Planeta. No Brasil, esta novidade tecnológica foi particularmente importante na introdução e estabelecimento de uma segunda cultura no período outono/inverno; particularmente do milho safrinha, atualmente a principal safra do cereal.

Para o estabelecimento do SPD, foram fundamentais o desenvolvimento de maquinário adaptado para o novo sistema de cultivo e o término de vigência da patente do herbicida glifosato e sua consequente queda do preço, o que permitiu a dessecação pre plantio das lavouras, a baixo custo. Não menos importante foi o desenvolvimento da soja transgênica resistente ao herbicida, que promoveu aumento da produtividade pela redução da mato competição.

A bem da verdade, nos primórdios da agricultura no Planeta, os cultivos eram realizados sem o uso de arados e grades. Estes equipamentos surgiram muitos séculos depois como resposta ao desejo dos agricultores por facilidades no manejo da terra. Depois de décadas de uso do arado e da grade, essas ferramentas trouxeram mais desvantagens do que vantagens aos produtores, o que fez pesquisadores ingleses questionarem as conveniência do seu uso e na década de 1940 iniciaram-se estudos visando conhecer a real necessidade de usar tais equipamentos no preparo do solo. Descobriu-se que o arado e a grade são dispensáveis, desde que não haja competição das plantas daninhas com as culturas.

Embora a Inglaterra tenha sido pioneira nos estudos sobre o uso do SPD na agricultura, por lá ele não é muito utilizado, de vez que, na latitude da Inglaterra, o solo se apresenta muito frio no início da primavera, o que dificulta a germinação das sementes das culturas de primavera/verão. Além deste inconveniente, a falta de máquinas e de herbicidas adequados para o manejo da nova tecnologia, dificultaram o seu rápido estabelecimento nos anos 1970 e 1980.

O primeiro herbicida utilizado na dessecação pré-plantio no SPD foi o Paraquat, surgido no início dos anos 70, seguido pelo Glifosato, uma década depois. As primeiras semeadoras para o SPD eram deficientes no corte da palhada e embuchavam com facilidade. A primeira semeadora com disco ondulado para corte frontal da palha foi lançada em 1966, pela Allis Charmers nos EUA e, posteriormente, este mecanismo foi substituído pelo disco duplo defasado, o qual passou a equipar a maioria das semeadoras comerciais do Brasil e do exterior. Em meados da década de 70 iniciou-se a fabricação das primeiras semeadoras para plantio direto no Brasil (Rotacaster).

O agricultor pioneiro no uso continuado do SPD foi o Sr. Herbert Bartz, de Rolândia, PR, quem importou, em 1972, máquinas dos EUA e da Inglaterra para iniciar a operação do novo sistema de plantio no Brasil. Não muito tempo depois, ele foi seguido por outros três pioneiros de Ponta Grossa, também do PR (Manoel Pereira, Jack Djiskstra e Wibe Jagger), na promoção da adoção do sistema.

O SPD traz diversos benefícios para o solo, embora nos primeiros quatro ou cinco anos a produtividade do campo possa cair em função da não incoporação dos restos culturais, o que priva o solo dos benefícios nutricionais advindos da decomposição desses resíduos. Por esta razão, é recomendado adicionar fertilizantes nitrogenados nesse período. Dentre os benefícios do plantio direto está o enriquecimento do solo com matéria orgânica, a redução da compactação do terreno, a maior retenção e infiltração da água no solo, assim como, a redução da erosão e perda de nutrientes pelo arrasto da camada superficial do solo - a mais rica em nutrientes.

Previamente à implantação do SPD, o terreno deve ser vistoriado para corrigir os defeitos causados pela erosão e para incorporar calcário na presença de acidez, de vez que o solo não mais deverá ser revolvido após estabelecido o novo sistema. O sucesso do sistema depende muito do manejo da palhada (viva ou morta), a qual responde pela principal causa da pouca erosão de um terreno protegido por cobertura permanente com biomassa.

O deslanche da agricultura brasileira tem início na década de 1970, quando também teve início a adoção do SPD e o estabelecimento do cultivo do milho safrinha. Se bem não seja o único responsável pelo excelente desempenho da atividade agrícola desde então, o SPD foi uma das principais causas e merece reconhecimento.

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