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A importância do nitrogênio no trigo

Leia tudo o que você precisa saber sobre o nitrogênio no trigo.


Foto: Divulgação

O ciclo do nitrogênio é diretamente ligado à matéria orgânica, visto que é onde se encontra 95% do nutriente. Assim, o ciclo do nitrogênio é diretamente ligado ao ciclo do carbono, que é fixado através da fotossíntese pelas plantas, e quando estas morrem, a decomposição (mineralização) do carbono serve de energia para microrganismos (com auxílio de oxigênio). Dessa forma, a capacidade do solo em fornecer nitrogênio para as plantas depende do teor e taxa de decomposição da matéria orgânica presente no solo e em restos culturais. Para ler mais sobre o comportamento do nitrogênio no solo, nas plantas e nos fertilizantes, clique aqui.

O nitrogênio é o nutriente mais absorvido pela cultura do trigo, sendo fundamental em todas as fases de desenvolvimento da cultura. Faz parte das moléculas de proteínas, ácidos nucleicos e clorofila, e está envolvido em todos os processos do metabolismo do cereal. O nitrogênio aumenta o número de espigas, aumenta a força de glúten (W) através do aumento do teor de proteína nos grãos, além de estar diretamente ligado à fotossíntese, crescimento e desenvolvimento da planta.

Dessa forma, a planta de trigo geralmente responde bem à adubação nitrogenada, através do aumento da área foliar, resultando em aumento da fotossíntese e consequentemente fotoassimilados, além de aumentar o perfilhamento, número e peso de grãos. No solo, o nitrogênio é um nutriente difícil de ser manejado nas regiões tropicais e subtropicais.

 

Deficiência / excesso de nitrogênio no trigo

Quando a planta carece de nitrogênio, ela fica debilitada e com pouca energia para combater a entrada de doenças. Geralmente, as plantas com deficiência de nitrogênio sofrem amarelecimento das plantas e crescimento atrofiado, reduzindo o tamanho da planta e o perfilhamento. Os sintomas surgem primeiro nas folhas mais velhas, pois o elemento é móvel dentro da planta, se deslocando para pontos de crescimento.


Clorose em plantas de trigo, causada por deficiência de nitrogênio. Foto: Yara Brasil

 


Crescimento reduzido de trigo, causada por deficiência de nitrogênio. Foto: Yara Brasil


Já quando a adubação nitrogenada é feita com doses excessivas, a formação de tecido vegetal é acelerada, sendo um prato cheio para fungos biotróficos como oídios e ferrugens. Além disso, o rápido crescimento da planta faz com que o dossel fique bastante fechado, favorecendo a umidade e consequentemente a sobrevivência de fungos, ao mesmo tempo que dificulta a penetração de fungicidas. Ocorre também desperdício do fertilizante, gerando prejuízo financeiro, além de maior chance de acamamento das plantas. Por último, o excesso de nitrogênio pode ser deslocado para o ar ou corpos d'água causando também prejuízos ambientais.

 

Adubando nitrogênio no trigo

Ao diagnosticar a deficiência de nitrogênio, é comum fazer a adubação do nutriente em cobertura. Porém, muitas vezes o problema não é resolvido, pois a aplicação do nutriente deve ser muito bem estudada, determinando precisamente as doses e épocas de aplicação, sem seguir “receitas de bolo”, mas sim, uma série de fatores que irão influenciar na dose: análise do solo, teor de matéria orgânica, textura do solo, estádio de desenvolvimento das plantas, cultura anterior, sanidade, manejo etc., sendo imprescindível consultar um profissional para se determinar a melhor dosagem.

A maior absorção de nitrogênio pelo trigo ocorre entre o alongamento e o espigamento, atingindo o acúmulo máximo na antese, aproximadamente aos 100 dias. De forma geral, aplica-se uma pequena dose (no máximo 20 kg/ha) de nitrogênio no plantio, e o resto parcelado em cobertura, durante o desenvolvimento das plantas. O parcelamento do nitrogênio proporciona maior absorção do nutriente pela planta, quando comparado à aplicação única. Esta adubação em cobertura geralmente é feita durante o perfilhamento pleno, início da formação da espiga e emborrachamento (5 a 7 dias antes da liberação das espigas).

Devemos cuidar para evitar aplicações em excesso, pois resultam em elongação do caule, podendo causar acamamento e prejudicando o enchimento de grãos. Pode ocorrer também a germinação na espiga, gerando um aumento na respiração e diminuição da massa. Este problema também favorece o desenvolvimento de doenças.

Poaceas como o trigo geralmente possuem 2,9% de nitrogênio na composição da planta inteira, e 2,0% nos grãos. Como não fazem simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio, todo o nutriente deve ser obtido do solo e dos fertilizantes. Para aumentar o teor de nitrogênio no solo, pode ser feita rotação de culturas com plantas leguminosas, como ervilhaca comum ou forrageira e o nabo forrageiro.


 

Manual de adubação e calagem para os estados do RS e SC (2016)

O manual define uma dose de nitrogênio para o trigo conforme o teor de matéria orgânica no solo, considerando também a cultura antecedente. Observe a tabela abaixo:

Tabela 1. Dosagem de nitrogênio para a cultura do trigo.
Matéria orgânica do solo Cultura antecedente
Leguminosa Gramínea 
% ---------- kg de N/ha ----------
≤ 2,5 60 80
2,6 - 5,0 40 60
> 5,0 ≤ 20 ≤ 20

 

Da dosagem total, 15 a 20 kg devem ser aplicados na semeadura, e o restante em cobertura, nos estádios de afilhamento e alongamento do colmo. Quando aplicado após o espigamento ou emborrachamento, não irá afetar o rendimento de grãos, mas pode resultar em aumento de proteína, o que não implica em alteração da força do glúten a tal ponto de modificar a classificação comercial do trigo.

Se houver bastante matéria seca de milho (acima de 4 t/ha), recomenda-se antecipar a aplicação de nitrogênio em cobertura, principalmente em solos arenosos e/ou com baixo teor de matéria orgânica. 

Se forem utilizadas cultivares de trigo suscetíveis ao acamamento, as doses devem ser menores do que as indicadas acima, ou utilizar reguladores de crescimento. Em locais quentes, com cultivo de soja anterior ao trigo, recomenda-se aplicar no máximo 40 kg/ha de N ao total, independente do teor de matéria orgânica no solo, evitando danos por acamamento. Já em regiões frias e em solos com bastante teor de matéria orgânica, as doses de N podem ser aumentadas visando maior rendimento.

Quando o trigo é cultivado para duplo propósito (pastejo e produção de grãos), recomenda-se aplicar 25 a 30 kg/ha de nitrogênio por tonelada de matéria seca a ser produzida, exceto para solos com mais de 5% de matéria orgânica. A aplicação de cobertura, neste caso, é feita logo após o corte / pastejo, coincidindo com o período próximo ao início do alongamento do colmo em plantas com mais de 20 cm de altura. O corte / pastejo subsequente pode ser feito em 28 a 35 dias depois do primeiro.

 

Observando o efeito da aplicação de nitrogênio

Para observarmos o efeito da aplicação do nitrogênio em cobertura, podemos fazer uma "janela de observação", fechando o distribuidor de fertilizante durante alguns segundos, em um pequeno percurso de 10 ou 20 metros. Após duas semanas, se a cor das plantas de trigo for menos intensa, significa que as plantas no entorno terão se beneficiado da aplicação do nutriente, evidenciando a deficiência do nitrogênio no solo.

 

Aplicação do nitrogênio no trigo via fertirrigação

Como o nitrogênio é um elemento que possui alta mobilidade no solo, alto potencial de perdas e alta solubilidade em água, pode ser aplicado via fertirrigação, de forma a diminuir esses prejuízos, aplicando o nutriente conforme a demanda da cultura. A aplicação é feita de forma que o nutriente penetre no solo, sendo absorvido pelas raízes, e não através de absorção foliar. Este tipo de aplicação, além de diminuir os prejuízos financeiros pela perda do nutriente, diminui o impacto ambiental, aumenta a eficiência do uso do nutriente, diminui o uso de máquinas, diminui a compactação do solo, diminui os danos mecânicos à cultura e diminui a mão-de-obra.

 

Resposta do trigo à aplicação nitrogenada

Existem três tipos de resposta do trigo à aplicação de nitrogênio:

  • Alta resposta: ocorre em cultivares de porte baixo, em solos com pH corrigido e concentrações adequadas de fósforo e potássio, cultivo de gramíneas ou culturas não fixadoras de nitrogênio, solo arenoso e solo com recente adoção do sistema de plantio direto;
  • Média resposta: ocorre em solos ácidos onde será feita a calagem, com cultura precedente fixadora de nitrogênio ou solo em pousio por um ano;
  • Baixa resposta: ocorre com cultivares de porte alto, solo em pousio por dois ou mais anos, cultura precedente fixadora de nitrogênio ou solo cultivado com espécie destinada à adubação verde.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

DARIO, G. J. A.; DARIO, I. S. N. Adubação. In: BORÉM, A.; SCHEEREN, P. L. Trigo: do Plantio à Colheita. [S. l.]: Universidade Federal de Viçosa, 2015. cap. 6, p. 119-140.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2016.

WIETHÖLTER, S. Fertilidade do solo e a cultura do trigo no Brasil. In: PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável.. [S. l.: s. n.], 2011.

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