Saiba tudo sobre as ferrugens no trigo e o seu controle!
Leia tudo sobre as características e o controle das ferrugens do trigo.
Existem três tipos de ferrugens que podem atacar o trigo:
- Ferrugem da folha - causada pelo fungo Puccinia triticina
- Ferrugem linear / amarela - causada pelo fungo Puccinia striiformis f. sp. tritici
- Ferrugem do colmo - causada pelo fungo Puccinia graminis f. sp. tritici
O trigo pode perder 50% ou até 100% do rendimento em casos mais severos das doenças, com cultivares suscetíveis e quando não é feito o controle. Destas, a mais comum é a ferrugem da folha, aparecendo em todas as regiões do mundo onde se cultiva o trigo. Esta é a ferrugem que mais ocorre na América do Sul, pois são utilizadas diversas cultivares que são suscetíveis à doença, que ocorre muitas vezes de forma precoce. A ferrugem linear já causou perdas significativas no Chile, Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul. Já a ferrugem do colmo ocorre de maneira menos frequente, mas também já causou altos níveis de danos no passado, tendo duas ocorrências a nível de epidemia entre 1975-2003.
Estes fungos possuem bastante capacidade de adaptação e disseminação, surgindo eventualmente novas raças que causam muitos prejuízos às lavouras.
Ciclo das ferrugens no trigo
A ferrugem da folha possui como principal fonte de inóculo as plantas de trigo de áreas vizinhas ou plantas daninhas voluntárias, que fazem as "pontes verdes". As condições ambientais que favorecem este fungo são as mesmas exigidas pela cultura do trigo. O fungo pode infectar a planta em um período de três horas de molhamento foliar ou até menos, em temperaturas de 20ºC. A 10ºC, são necessárias aproximadamente 12 horas de molhamento para que ocorra a infecção. Já em temperaturas abaixo de 2ºC ou acima de 32ºC, quase não ocorre infecção.
Com temperaturas constantes de aproximadamente 25ºC, a esporulação ocorre dentro de 7 a 10 dias após a penetração do fungo. Já em temperaturas mais baixas, este período é maior. Os uredósporos do fungo podem ser disseminados a longas distâncias pelo vento, animais ou homem.
A ferrugem do colmo é semelhante à da ferrugem da folha, porém requer temperaturas diferentes:
- Germinação: temperatura favorável de 15ºC à 24ºC, temperaturas mínimas de 2ºC e máxima de 30ºC;
- Esporulação: temperatura favorável de 30ºC, temperaturas mínimas de 5ºC e máxima de 40ºC;
Como a ferrugem do colmo requer temperaturas mais altas, acaba sendo mais importante no final do ciclo do trigo, em cultivares tardias ou em cultivos semeados tardiamente. Além disso, para a infecção, a doença requer 6 a 8 horas de molhamento foliar e alta intensidade de luz por três horas. A infecção máxima acontece em situações de 8 a 12 horas de molhamento foliar sob temperatura de 18ºC, e depois, alta luminosidade e temperatura de 30ºC.
A ferrugem do colmo infecta menos devido ao insucesso da maioria dos esporos. Os uredósporos podem se disseminar com o vento por até 8.000 km. A maior fonte de inóculo deste fungo é o arbusto Berberis spp, que também promove o surgimento de novas variedades do fungo.
Já a ferrugem linear é a que exige temperaturas mais baixas, ocorrendo em regiões mais frias ou em áreas elevadas. Possui como temperatura mínima e máxima para a infecção, respectivamente, 0ºC e 23ºC, e temperatura ótima de 11ºC. Por esta característica, a doença pode ocorrer precocemente durante o cultivo, causando danos mais severos.
Quanto ao molhamento foliar, são necessárias pelo menos três horas para a germinação e infecção do fungo, e os uredosporos do fungo podem se disseminar por até 2.000 km pelo vento. Plantas de trigo voluntárias ou de locais vizinhos são uma importante fonte de inóculo inicial.
Sintomas das ferrugens no trigo
A ferrugem do colmo, como o nome diz, ocorre em colmos e bainhas, mas também pode contaminar outras partes das plantas. As pústulas rompem a epiderme, deixando uma textura áspera na superfície. As uredopústulas da ferrugem do colmo produzem uredosporos com cor marrom-avermelhada, com um formato maior e mais alongado do que as da ferrugem da folha.
Ferrugem do colmo do trigo
A ferrugem linear / amarela tem como características as uredopústulas distribuídas em linhas ou estrias, que se espalham pela folha entre os feixes vasculares. As uredopústulas dessa ferrugem são menores e com uma coloração amarela-clara. Em casos severos, também podem afetar outras partes verdes da planta.
Ferrugem linear do trigo.
A ferrugem da folha se caracteriza pelas estruturas dos fungos nas folhas. Surgem pústulas com uredosporos marrom-alaranjados, que ocorrem pelo rompimento da epiderme da folha, se apresentando em um formato geralmente elíptico. Podem ou não serem circundadas por um halo clorótico. Estes sintomas surgem de forma aleatória pela folha e, em casos mais severos das doenças, podem se manifestar em qualquer parte verde da planta.
Ferrugem da folha do trigo.
Quando a planta atinge a maturação, no momento em que as condições ambientais são menos favoráveis aos fungos, as pústulas começam a produzir teliósporos, que possuem cor negra.
Como controlar as ferrugens no trigo
Para controlar as ferrugens no trigo, devemos adotar as práticas do manejo integrado, combinando métodos como as práticas culturais, uso de fungicidas e uso de cultivares resistentes, sendo esta última prática a mais efetiva e econômica.
Quando a resistência de uma cultivar é superada, ou no caso de uso de cultivares suscetíveis, é necessário o uso de fungicidas. Quanto às práticas culturais, podemos citar a eliminação das "pontes-verdes" (plantas voluntárias de trigo entre uma safra e outra), que é uma prática eficiente para o controle das ferrugens. Recomenda-se também eliminar hospedeiros alternativos para reduzir a geração de variabilidades dos fungos.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BORÉM, A.; SCHEEREN, P. L. Trigo: do Plantio à Colheita. [S. l.]: Universidade Federal de Viçosa, 2015.
PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável. [S. l.: s. n.], 2011.