Fungos e micotoxinas no armazenamento do trigo: o que fazer?
Leia sobre o controle de fungos no armazenamento do trigo.
Os fungos produzem substâncias nos grãos, chamadas de micotoxinas, que podem causar doenças em quem consome os grãos contaminados. Na Europa, no século X, houve uma epidemia em que milhares de pessoas consumiram centeio contaminado por alcalóides do fungo Claviceps purpurea. Nos séculos XIII e na Segunda Guerra Mundial, diversas pessoas morreram devido ao consumo de trigo e outros cereais contaminados.
Quando os fungos se desenvolvem em grãos armazenados, ocorre a diminuição do poder germinativo, perda de matéria seca, redução do valor nutricional e produção de toxinas. As micotoxinas, quando presente em alimentos, podem causar, nos humanos e animais, manifestações nefrotóxicas, mutagênicas, estrogênicas, neurotóxicas, imunossupressoras, carcinogênicas etc. As maiores concentrações de toxinas ocorrem em farelos, podendo contaminar rações e causar grandes perdas na criação animal.
Diversos fatores favorecem o desenvolvimento de fungos no armazenamento, como umidade dos grãos, temperaturas, período de armazenamento, danos mecânicos, níveis de dióxido de carbono e de oxigênio, presença e quantidade de esporos e danos provocados por pragas, que também atuam como vetores.
Os fungos podem atacar os grãos no armazenamento (fungos de armazenamento) ou até antes da colheita e permanecer causando prejuízos durante o armazenamento (fungos intermediários). Dentre as toxinas mais importantes, podemos citar as produzidas pelos fungos do gênero Fusarium. As suas toxinas ocorrem frequentemente, contaminando diversos cereais, principalmente milho, trigo e cevada.
Fusarium nos grãos de trigo
Este gênero de fungos tem como temperatura ótima para o seu desenvolvimento a faixa entre 24ºC e 26ºC, e a atividade de água mínima de 0,90. Porém, as toxinas ZEA e T2 são produzidas em temperaturas mais baixas (12ºC e 8ºC, respectivamente), indicando que o fungo produz estas toxinas quando sofre choque térmico.
A fusariose da espiga é uma doença muito importante no trigo, sendo a fase de floração da cultura a mais crítica. A alta umidade durante este período, causando molhamento da superfície por 48 a 60 horas, junto com temperaturas acima de 15ºC favorecem bastante a infecção pelo fungo.
Como prevenir as micotoxinas nos grãos e subprodutos armazenados?
Para evitar a presença das toxinas produzidas pelos fungos, devemos:
- Realizar o manejo integrado de pragas e doenças durante a produção e após a colheita;
- Promover a rápida e eficiente secagem de grãos no recebimento na unidade armazenadora;
- Monitorar sistematicamente através de métodos eficientes que permitam orientar a logística e manejo de lotes no recebimento na unidade armazenadora;
- Utilizar sistemas de alerta para a ocorrência de brusone e giberela no trigo.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BORÉM, A.; SCHEEREN, P. L. Trigo: do Plantio à Colheita. [S. l.]: Universidade Federal de Viçosa, 2015.
PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável. [S. l.: s. n.], 2011.
Salvadori, José & Marsaro Júnior, Alberto & Suzana-Milan, Crislaine & Lau, Douglas & Engel, Eduardo & Pasini, Mauricio & Pereira, Paulo. (2022). Pragas da cultura do trigo.