Como controlar a giberela no trigo?
Saiba tudo sobre a giberela no trigo e o seu controle.

Causada pelo fungo Gibberella zeae, forma assexuada Fusarium graminearum, também conhecida como fusariose, a giberela é uma doença que afeta espigas cereais de inverno como trigo, cevada, centeio, aveia e triticale. A doença reduz tanto o rendimento quanto a qualidade dos grãos e alimentos derivados. No Brasil, os relatos de danos variam de 14% a 60%.
A doença pode ser propagada fungos presentes em restos vegetais ou no solo, ou por sementes infectadas, causando a morte das plântulas que apresentam podridão cortical úmida com cor pardo-avermelhada a pardo-clara.
Danos causados pela giberela no trigo
A doença provoca o abortamento de flores, formação de grãos chochos e enrugados, com baixo peso e densidade, e devido a estas alterações no grão, grande parte será perdida na trilha. Também ocorrem danos indiretos como redução de proteínas, amido, celulose e hemicelulose. Além disso, os grãos infectados podem ser tóxicos para o consumo devido à presença de toxinas produzidas pelos fungos, que podem causar vômitos e espasmos musculares ao homem e aos animais, além de poder causar disfunção sexual.
Vale destacar que apenas a presença da giberela no grão não significa que exista a presença das micotoxinas, pois a ocorrência, tipo e quantidade de micotoxina dependem de fatores como ambiente, espécie de fungo, severidade da infecção e cultivar / tipo de produto. Quando produzidas, estas toxinas deixam o grão menos palatável aos animais.
A influência das condições ambientais na giberela
O ambiente influencia o desenvolvimento de giberela. Condições de alta umidade durante 2 a 3 dias e temperatura de 24ºC a 30ºC favorecem a doença. Ainda que a temperatura seja baixa, mas se a umidade se manter alta por períodos acima de 3 dias, a infecção também pode ocorrer. Em épocas secas, como ocorre durante os anos do fenômeno La Niña na região sul do país, a giberela não é um problema tão significativo. Já em anos de El Niño, as condições favorecem muito a doença.
Como a giberela pode ocorrer a partir do espigamento, que ocorre durante a primavera na região sul do Brasil, primaveras chuvosas e com altas temperaturas podem resultar em ocorrências intensas de giberela.
Sintomas da giberela no trigo
Como sintomas da giberela no trigo podemos citar as espiguetas despigmentadas, com cor esbranquiçada ou de palha, que se destacam das espiguetas sadias. Podem surgir também nas espigas secas pontuações escuras. As aristas das espiguetas contaminadas se desviam do sentido normal das espiguetas sadias, e as espigas ficam com aspecto de arrepiadas. Caso seja um trigo com genótipo mútico (espigas sem aristas) ou com aristas apicais, a giberela causa apenas o sintoma de descoloração de espiguetas. Caso seja um genótipo muito suscetível à doença e/ou aconteçam condições ambientais bastante favoráveis à doença, toda a espiga pode ficar afetada. Além disso, em condições ambientais bastante favoráveis, podem ser vistas a olho nu estruturas do patógeno, e algumas espiguetas podem apresentar coloração vermelho-alaranjada.
Os sintomas na espiga causados pela giberela podem ser parecidos com os sintomas da brusone (descoloração da porção superior das espigas), porém, no caso da giberela, o ráquis possui cor escura na região das espiguetas sadias, e os grãos afetados da espiga apresentam os sintomas (chochos, enrugados, cor branco-rosada a pardo-clara).
Sintoma da giberela do trigo: espiguetas despigmentadas (Foto: Cassiane Salete Tibola / Embrapa Trigo).
Ciclo da doença
No caso da Giberela, não ocorrem ciclos repetitivos de produção de esporos nas espigas, porém, a severidade da doença pode aumentar bastante com a invasão do micélio do fungo para outras espiguetas. O fungo pode estar presente no solo, semente, diversos hospedeiros (gramíneas) e, principalmente, em restos culturais, sendo assim, o plantio direto um fator que favorece o aumento da doença. Estas estruturas do fungo presentes nos solos e restos de plantas irão hibernar e dar origem à micélios do fungo na próxima temporada.
Como controlar a giberela no trigo?
Indica-se realizar o manejo integrado, através do uso de cultivares resistentes à doença, manejo cultural com rotação de culturas, escalonamento da época de semeadura e uso de cultivares de ciclos reprodutivos diferentes. Na rotação de culturas, espécies como soja, canola e girassol podem ser utilizadas para o controle da giberela. Também pode ser feito o controle químico com fungicidas, porém, este último método tem sua eficácia bastante variável entre os princípios ativos utilizados, em função do ano, local de cultivo e diferença genética entre as cultivares. A eficiência do fungicida também é atrelada ao uso na fase inicial de infestação do fungo. Sendo assim, as aplicações devem ser feitas no início da fase reprodutiva do fungo, com as anteras expostas, ou em momentos que antecedem longos períodos de molhamento foliar e altas temperaturas.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BORÉM, A.; SCHEEREN, P. L. Trigo: do Plantio à Colheita. [S. l.]: Universidade Federal de Viçosa, 2015.
PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; CUNHA, G. R. da. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável. [S. l.: s. n.], 2011.