Leia tudo sobre o tomate Santa Cruz
Leia tudo o que você precisa saber sobre a variedade de tomate Santa Cruz.
A cultivar Santa Cruz nasceu em um núcleo Agrícola em Santa Cruz (RJ), cultivada por colonos japoneses durante a II Guerra Mundial. Essa cultivar surgiu espontaneamente em lavouras no estado de São Paulo, e seu nome é devido ao fato de que foi bastante cultivada em Santa Cruz e teve uma boa aceitação no estado. Acredita-se que tenha se originado de um provável cruzamento natural entre as variedades Rei Humberto e Redondo Japonês ou Chacareiro, ocorrido em Suzano, SP. Nas três décadas seguintes, essa cultivar se espalhou pelo resto do país, ultrapassando as cultivares mais plantadas. Isso se deve pela sua boa adaptação aos diferentes climas e solos, além de boa resistência ao transporte à longa distância quando comparada com cultivares da época.
Outro fator interessante da cultivar, é o fato de que ela apresentava bons resultados em seleções praticadas pelos produtores, originando frutos maiores e com mais qualidade. Na época, as cultivares que mais se destacavam recebiam o nome dos produtores que fizeram a seleção (Nagasaki, Adachi, Kada etc.).
Desde a década de 40, houve intenso processo seletivo na cultivar Santa Cruz, resultando em aumentos sequentes do tamanho do fruto. A partir da década de 60, o setor público de pesquisa e empresas de sementes também realizaram melhoramentos na cultivar, aumentando bastante o tamanho do fruto, lançando cultivares como a Ângela e a Santa Clara, que você pode ler mais sobre elas abaixo. Atualmente, a massa média do tomate Santa Cruz é cerca de 3 vezes maior se comparado à média de 1940.
Cultivar Ângela
O tomate Santa Cruz, ainda que com características muito interessantes ao mercado, era suscetível a diversas pragas e doenças como fusariose, cancro-bacteriano, vira-cabeça e alguns vírus. A partir de meados de 1960, através de programas de melhoramento, começou-se a buscar cultivares Santa Cruz com novas características condizentes com as necessidades do mercado. Em 1969, o Instituto Agronômico de Campinas, a partir do cruzamento de uma variedade Santa Cruz com uma variedade com resistência ao vírus da risca-do-tomateiro (PVY), lançou a cultivar Ângela, com resistência à podridão apical, à rachadura dos frutos, ao vírus Y, ao Fusarium e Stemphylium. Essa nova cultivar conseguiu manter bons níveis de produtividade em diversas regiões do país.
Rapidamente diversas seleções da cultivar Ângela começaram a ser comercializadas no mercado, sendo a Ângela Gigante I-5.100 uma das mais importantes, com aumento de aproximadamente 50 gramas da massa média de frutos.
Essa cultivar apresenta um hábito de crescimento indeterminado, ou seja, o caule principal cresce mais do que as ramificações laterais, apresentando dominância apical, e apresentando maior teor de Sólidos Solúveis Totais. Os frutos possuem excelente uniformidade e alta produtividade, além de boa qualidade, cor vermelha intensa, e resistência a algumas doenças.
Cultivar Santa Clara
A cultivar de tomate Santa Clara foi lançada em 1985, a partir do cruzamento de cultivares Ângela e o híbrido F1 Duke, resistente ao verticílio e alternaria. Essa cultivar foi obtida a partir de programa de melhoramento do Instituto Agronômico de Campinas, e obteve bastante sucesso no mercado.
A cultivar apresentava plantas com porte mais baixo, com frutos volumosos (aproximadamente 215 gramas em média), arredondados, com três lóculos e sem ombros verdes. Em pouco tempo essa cultivar ultrapassou o sucesso da cultivar Ângela Gigante I-5.100 nas regiões produtoras de tomate estaqueado. A cultivar Santa Clara liderou o mercado até 1998 aproximadamente, até que os tomates salada longa vida, oriundos de Israel dominaram o mercado.
Preço médio do tomate santa cruz
No gráfico abaixo, podemos observar a evolução do preço médio da caixa de 20 kg do tomate Santa Cruz AA (atacado), baseado em valores nas cidades de São Paulo e Campinas.
Fonte: HFBrasil
Características das cultivares Santa Cruz
Os tomateiros Santa Cruz são plantas altas, com crescimento geralmente indeterminado, que formam frutos oblongos bi ou triloculares, com o peso médio variando entre 80 a 220 gramas cada fruto. Possuem o diâmetro transversal menor que o longitudinal. São colhidos quando apresentam mais de 30% da superfície com coloração rosada, e são enviados logo a seguir para a distribuição. Os frutos exibem alta firmeza, sendo resistentes ao transporte, e conservação, durando entre 8 e 21 dias após a colheita, dependendo da maturação e temperatura do ambiente. Esses frutos dessa cultivar possuem preço mais baixo e sabor ligeiramente ácido, além de boa resistência à diversos patógenos (conforme você pode observar na tabela abaixo), facilitando a produção e diminuindo o impacto causado por agrotóxicos.
As cultivares do grupo Santa Cruz representam aproximadamente 7% do mercado brasileiro de tomate de mesa em área, sendo representado pelos híbridos longa vida estrutural com padrão Santa Cruz. Quando comparados ao Salada longa vida, o grupo Santa Cruz possui melhor qualidade gustativa e alcança melhores preços no comércio.
Resistência do tomate Santa Cruz à doenças
Na tabela abaixo, você pode conferir algumas características de diversas cultivares de tomate Santa Cruz quanto à resistência a doenças. É importante entender que cada cultivar pode apresentar resistência a apenas algumas raças específicas dos patógenos causadores de doença. Além disso, podem existir diferentes níveis de resistência às doenças. Dessa forma, sugere-se consultar as empresas para informações mais detalhadas acerca das resistências.
Nome | Empresa | Resistências |
Campestre | H. M. Clause | Pinta/mancha bacteriana, TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio, Mancha-de-estenfílio |
Norty | H.M. Clause | Murcha-de-verticílio, Fusarium, Mancha de Cladospório, ToSRV (Tomato severe rugose virus), TSWV (Tomato spotted wilt virus), Mancha-de-estenfílio |
EliTY | Horticeres | ToSRV (Tomato severe rugose virus), Murcha-de-verticílio, TSWV (Tomato spotted wilt virus), Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne) |
Jumbo | Horticeres | ToMV (Tomato mosaic virus), Murcha-de-verticílio, Mancha-de-estenfílio, Cancro bacteriano |
Santa Clara | Horticeres | Murcha-de-verticílio, Fusarium |
Mozateco | Enza Zaden | ToMV (Tomato mosaic virus), Fusarium, ToSRV (Tomato severe rugose virus), Murcha-de-verticílio, Meloidoginose (Meloidogyne arenaria), Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica) |
Naram | Enza Zaden | ToMV (Tomato mosaic virus), Mancha de cladosporium, Murcha-de-verticílio, Fusarium, Meloidoginose (Meloidogyne arenaria), Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica) |
Paipai | Enza Zaden | ToMV (Tomato mosaic virus), Murcha-de-verticílio, Fusarium, TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha de fusarium, Meloidoginose (Meloidogyne arenaria), Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica) |
Quiroga | Enza Zaden | ToMV (Tomato mosaic virus), Fusarium, TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio, ToSRV (Tomato severe rugose virus), Meloidoginose (Meloidogyne arenaria), Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica) |
Kada Gigante | Feltrin | |
Dalva | Feltrin | TMV (Tobacco mosaic vírus), Murcha-de-verticílio, Nematoide das galhas (Meloidogyne) |
Laura | Feltrin |
TSWV (Tomato spotted wilt virus) |
Midas | Feltrin | Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), Murcha-de-verticílio, ToSRV (Tomato severe rugose virus), TSWV (Tomato spotted wilt virus) |
Santa Clara 5800 | Feltrin | Fusarium, Murcha-de-verticílio |
Tainá | Feltrin |
TSWV (Tomato spotted wilt virus) |
Marisa | TSV | Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica), TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio |
Cienaga | Seminis | TSWV (Tomato spotted wilt virus), Mancha-de-alternária, Fusarium, ToSRV (Tomato severe rugose virus), Murcha-de-verticílio, Pinta/mancha bacteriana |
Santyno | Agristar | Fusarium, Meloidoginose (Meloidogyne arenaria), Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica), TMV (Tobacco mosaic vírus), TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio, ToSRV (Tomato severe rugose virus) |
Kada (Paulista) | Isla | |
Santa Clara I-5300 | Isla | Murcha-de-verticílio, Murcha-de-fusarium, Mancha cinza da folha do tomate |
BS ISC0045 | Blueseeds | Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), TMV (Tobacco mosaic vírus), TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio |
BS ISC0050 | Blueseeds | Fusarium, Oídio, Nematoide das galhas (Meloidogyne), TMV (Tobacco mosaic vírus), TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio |
BS ISC0114 | Blueseeds | Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), TMV (Tobacco mosaic vírus), TSWV (Tomato spotted wilt virus), ToSRV (Tomato severe rugose virus), Murcha-de-verticílio |
Carina Golden | Sakata | Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica), ToSRV (Tomato severe rugose virus), Murcha-de-verticílio |
Carina Star | Sakata | Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica), Pinta/mancha bacteriana, TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio |
Carina TY | Sakata | Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica), ToSRV (Tomato severe rugose virus), Murcha-de-verticílio |
Débora Max | Sakata | Murcha-de-verticílio, Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica) |
Débora Victory | Sakata | Fusarium, Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica), TSWV (Tomato spotted wilt virus), Murcha-de-verticílio |
Veloster | Sakata | Murcha-de-verticílio, Fusarium, TSWV (Tomato spotted wilt virus), ToSRV (Tomato severe rugose virus) |
Sperare | Basf | Mancha-de-alternária, Fusarium; Nematoide das galhas (Meloidogyne), Nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica); TSWV (Tomato spotted wilt virus); TYLCV (Tomato yellow leaf curl virus) |
Kiara | Agrocinco | Murcha-de-verticílio, Fusarium, (Tomato mosaic virus) |
Ellus | Syngenta | Murcha-de-verticílio, Fusarium, TSWV (Tomato spotted wilt virus), ToSRV (Tomato severe rugose virus), ToTV (Tomato torrado virus), ToCV (Tomato chlorosis virus) |
Buriti | Isla | Murcha-de-verticílio, Fusarium, ToSRV (Tomato severe rugose virus) |
Fonte: Alvarenga et al., 2022
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
Banco de dados - Evolução dos preços médios dos hortifrutícola pesquisados pela Equipe/Hortifruti do Cepea. HFBrasil, 2022. Disponível em: https://www.hfbrasil.org.br/br/banco-de-dados-precos-medios-dos-hortifruticolas.aspx.
ALVARENGA, Marco A. R. et al. Cultivares. In: ALVARENGA, Marco A. R. Tomate: Produção em campo, casa de vegetação e hidroponia. 3. ed. Lavras, MG: Produção Independente, 2022. cap. 3, p. 39-79.
SHIRAHIGE, Fernando Hoshino. Produtividade e qualidade de híbridos de tomate (Solanum lycopersicum L.) dos segmentos Santa Cruz e Italiano em função do raleio de frutos, em ambiente protegido. Orientador: Prof. Dr. PAULO CÉSAR TAVARES DE MELO. 2009. Dissertação (Mestre em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, 2009.