Conheça os inimigos naturais das principais pragas do tomate orgânico!
Diversas pragas podem surgir no cultivo de tomate orgânico, como pulgões, tripes, traças, lagartas, moscas-minadoras, moscas-brancas, brocas, ácaros etc. Dentro de um cultivo orgânico, o controle destas pragas deve ser feito buscando equilibrar o sis

Diversas pragas podem surgir no cultivo de tomate orgânico, como pulgões, tripes, traças, lagartas, moscas-minadoras, moscas-brancas, brocas, ácaros etc. Dentro de um cultivo orgânico, o controle destas pragas deve ser feito buscando equilibrar o sistema, e um dos pontos fundamentais é manter a presença de inimigos naturais que controlem o nível populacional das pragas. Diversos inimigos naturais desempenham esse papel de controle. Antes de entender como podemos favorecer a presença destes insetos benéficos, é importante conhecer melhor as espécies mais importantes.
Inimigos naturais de pulgões
As joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae) são importantes predadoras dos pulgões. Podemos citar as joaninhas dos gêneros Harmonia, Hipodamia, Cycloneda, Criptolaemus e Schymmus, que tanto na fase larval quanto na fase adulta são predadores de várias espécies de pulgões em hortaliças. Larvas de Scymmus argentinicus podem consumir até 3000 pulgões durante toda a sua vida útil.
Os Crisopídeos (Neuroptera: Chrysopidae) também são uma espécie importante no controle do pulgão. Durante todo o seu ciclo de vida consomem cerca de 300 insetos. A espécie mais comum é a Chrysoperla externa, altamente eficiente no controle do pulgão, mas bastante sensível aos inseticidas naturais utilizados na agricultura orgânica.
Existem também os Sirfídeos (Diptera: Syrphidae), outro importante grupo de predadores de pulgões, cujas larvas das moscas são predadoras. Dentre as espécies mais comuns no Brasil, temos a Allograpto neotropica Curran e Pseudodoros clavatus.
Também podemos citar os percevejos da família Anthocoridae, principalmente do gênero Orius, que predam pulgões de diversas espécies. A ninfa da espécie Orius insidiosus consome cerca de 60 a 80 insetos durante esse estágio de desenvolvimento. Essa espécie também consome os tripes, na verdade, possui maior preferência por esses insetos.
Dentre outras espécies de inimigos naturais de pulgões, podemos citar as tesourinhas (Dermaptera), aranhas, besouros da família Carabidae, formigas do gênero Formica, himenópteros parasitóides (como Aphidius colemani, Lysiphlebus testaceipes, Diaeretiella sp.) outros percevejos predadores.
Inimigos naturais de tripes
Dentre os inimigos naturais de tripes, os principais são os percevejos do gênero Orius, sendo a espécie Orius insidiosus a principal. Também podemos citar os ácaros da família Phytoseiidae, que ocorrem naturalmente em áreas conservadas que não sofreram interferência de produtos químicos, como as espécies dos gêneros Phytoseiullus, Euseius e Iphyseiodes. Os crisopídeos também se alimentam de tripes, consumindo cerca de 220 tripes adultos em testes feitos em laboratório.
Inimigos naturais das moscas-brancas
Dentre os exemplos de inimigos naturais das moscas-brancas, podemos citar os crisopídeos, as joaninhas e os antocorídeos, além da ação conjunta com parasitóides. Como parasitóides podemos citar o gênero Encarsia Förster e os fungos entomopatogênicos Verticillium lecanii, Paecilomyces fumosoroseus e Aschersonia aleyrodis.
Inimigos naturais de lagartas e brocas
Os besouros da família Carabidae, tanto a larva quanto o adulto, junto com nematóides e fungos entomopatogênicos, são importantes reguladores das lagartas de solo. Antocorídeos, aranhas e crisopídeos também são importantes predadores das brocas e lagartas. Já as lagartas grandes podem ser predadas por pentatomídeos, como o Podisus sp., reduviídeos, como o Zelus sp. e vespídeos, além de moscas parasitóides pertencentes à família Tachinidae.
Também podemos citar os parasitóides das famílias Braconidae e Ichneumonidae e os parasitóides de ovos Trichogramma sp.
Inimigos naturais de moscas-minadoras
Como inimigos naturais das moscas-minadoras podemos citar os parasitóides das famílias Braconidae e Eulophidae, que depositam seus ovos nas larvas no interior da folha atacada. As vespas tiram as larvas das galerias e com elas provisionam os ninhos.
Inimigos naturais de ácaros
Os principais inimigos dos ácaros fitófagos são os ácaros predadores e antocorídeos.
Inimigos naturais de coleópteros
Diversos artrópodes podem predar os besouros que atacam o tomate. Dentre os artrópodes podemos citar as famílias Araneidae (Aranea), Formicidae (Hymenoptera) e Staphilinidae (Coleoptera), mas também existem outras famílias. Esses grupos são bastante comuns em áreas de produção de tomate sem uso de inseticidas.
Como manejar o ambiente para favorecer os inimigos naturais das pragas do tomateiro?
Para favorecer os inimigos naturais das pragas do tomateiro, devemos escolher as plantas que atendem às necessidades destes organismos. Algumas condições devem ser observadas:
- Oferta de alimentos: devem ser ofertados alimentos alternativos para os adultos, como pólen, néctar e substâncias açucaradas, aumentando o desenvolvimento das espécies predadoras e parasitóides;
- Disponibilidade de microclima e abrigos para os inimigos naturais, oferecendo proteção contra estresses ambientais;
- Favorecer o desenvolvimento de outras presas (além das pragas) e hospedeiros alternativos para os inimigos naturais, favorecendo sua sobrevivência na ausência de pragas;
- Manejar as épocas de plantio e colheita, podas e roçadas para antecipar a colonização pelos inimigos naturais;
- Posicionar as plantas com um arranjo espacial que favoreça a movimentação dos inimigos naturais na área.
Usando plantas atrativas aos inimigos naturais do tomateiro
Diversas espécies de plantas, espontâneas ou cultivadas, podem atrair os inimigos naturais das pragas do tomateiro. Essas plantas atrativas podem ser cultivadas em faixas, nas bordaduras do cultivo, misturadas nas linhas de cultivo ou em vasos. Como exemplo podemos citar o cultivo de alfafa, em faixas, que serve de hospedeira para crisopídeos, coccinelídeos e percevejos predadores. Estudo feito por Gravena et al. (1984) com o uso de sorgo em faixas intercaladas no tomate demonstrou que, quanto maior for a largura das faixas, maior a atração de predadores da praga mosca-branca e menor a quantidade de virose no tomateiro.
O cravo (Taeges erecta L.) é bastante utilizado em arranjos especiais nas hortas orgânicas com o objetivo de aumentar a presença de inimigos naturais. Essa planta pode ser hospedeira de diversos predadores de pulgões, tripes, moscas brancas, ácaros, lagartas etc. Além disso, diversos parasitóides se hospedam nas faixas de cravo, usando os insetos fitófagos como hospedeiros. Assim, o cravo se caracteriza como uma das culturas com grande potencial de reduzir os inimigos naturais em produções agrícolas.
Outro estudo realizado por TOGNI et al. ilustra o aumento dos inimigos naturais das pragas de tomate no consórcio com coentro. O aumento foi verificado durante o florescimento das plantas de coentro. Foram observadas sete ordens de inimigos naturais, dentre predadores e parasitóides. Observe a tabela abaixo:
Tratamento | ||||
Categoria taxonômica |
Monocultivo de tomate irrigado por aspersão | Consórcio tomate + coentro irrigado por aspersão | Monocultivo de tomate irrigado por gotejamento |
Consórcio tomate + coentro irrigados por gotejamento |
Coleoptera | ||||
Coccinelidae | ||||
Cycloneda sanguinea | 0 | 15 | 5 | 35 |
Eriopis connexa | 10 | 65 | 4 | 134 |
Hippodamia convergens | 3 | 44 | 2 | 222 |
Nephaspis sp. | 1 | 1 | 2 | 13 |
Scymmus sp. | 20 | 33 | 13 | 32 |
Hemiptera | ||||
Lygaeidae | ||||
Geocoris sp. | 2 | 7 | 3 | 21 |
Anthocoridae | ||||
Orius sp. | 4 | 10 | 11 | 13 |
Neuroptera | ||||
Chrysopidae | ||||
Chrysoperla externa | 1 | 2 | 3 | 13 |
Dermaptera | ||||
Forficulidae | ||||
Doru luteipes | 0 | 13 | 2 | 0 |
Percebe-se que o coentro é atrativo para diversas espécies de inimigos naturais das pragas do tomate, principalmente para os Coccinellidae e Allograpta sp. No estudo, algumas outras espécies foram favorecidas mais pela irrigação do que pelo consórcio com coentro. Trata-se de espécies voadoras, e a irrigação criou microclimas favoráveis para essas espécies, sendo a irrigação mais relevante do que o consórcio.
Assim, percebemos que uma das formas de controlar as pragas no tomate orgânico é o favorecimento dos inimigos naturais destas pragas. Em um ambiente diverso em espécies, a chance de ocorrer desequilíbrios é menor. Para ler sobre outras formas de controlar essas pragas no tomate orgânico, recomendamos ler a nossa página "Como controlar pragas em tomate orgânico?".
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
GRAVENA, S. et al. Manejo integrado da mosca-branca Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) em cultivares de tomateiro de crescimento determinado visando redução de virose do mosaico dourado. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Jaboticabal, v. 9, n. 1, p. 97-113, 1984.
HARO, M. M. de. Controle biológico conservativo de pragas em cultivo protegido de tomate orgânico. 2011. 88 p. Dissertação (Mestrado em Agronomia/Entomologia)-Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2011.
TOGNI, P. H. B. et al.. CONSERVAÇÃO DE INIMIGOS NATURAIS (INSECTA) EM TOMATEIRO ORGÂNICO. Arquivos do Instituto Biológico, v. 77, n. Arq. Inst. Biol., 2010 77(4), p. 669–676, out. 2010.