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Como controlar pragas em tomate orgânico?

Leia sobre o controle de pragas em tomate orgânico.



Foto: Divulgação

Muitos agricultores optam pelo sistema orgânico de produção, buscando agregar maior valor ao produto e causar menos impacto ao ambiente de produção e à saúde dos consumidores. O tomate produzido em sistema convencional é um alimento que possui grandes quantidades de agrotóxicos, o que causa certa preocupação em uma parcela dos consumidores, que acaba optando pelo consumo de orgânicos.

Porém, o tomateiro recebe grandes quantidades de agrotóxicos justamente por ser altamente suscetível a doenças fúngicas, bacterianas, nematóides e vírus. Dessa forma, o tomate orgânico deve ser produzido com técnicas que buscam o equilíbrio ecológico. É necessário integrar práticas para combinar efeitos de controle. Abaixo, vamos discorrer sobre algumas estratégias para o controle de pragas em tomate orgânico.

 

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Estratégias gerais para o controle de pragas em tomate orgânico
      - Nutrição e irrigação equilibradas
      - Quebra-vento
      - Escape
      - Sementes e mudas de qualidade
      - Eliminação de plantas daninhas ou voluntárias e restos culturais
      - Rotação de culturas
Controle de pragas
      - Controle de formigas em tomate orgânico
      - Controle de nematóides em tomate orgânico
      - Controle da broca pequena no tomate orgânico
      - Controle da traça do tomateiro em tomate orgânico
      - Outras pragas e controles

 

Estratégias gerais para o controle de pragas em tomate orgânico

Nutrição e irrigação equilibradas

A adubação deve ser equilibrada, realizada a partir da análise de solo ou foliar, considerando os requerimentos da cultura, sempre cuidando para evitar excesso ou deficiência. Por exemplo o nitrogênio, quando em quantidades excessivas, ocasiona maior teor de açúcares e aminoácidos livres na planta, torna os tecidos mais tenros e favorece o ataque e desenvolvimento de insetos sugadores como pulgões e mosca-branca. 

Quanto à irrigação, esta deve ser feita de forma a favorecer o rápido estabelecimento das plantas, evitando o estresse hídrico. Plantas sob estresse hídrico são mais suscetíveis ao ataque de pragas. Além disso, a irrigação por aspersão ou por pivô pode controlar mecanicamente os pulgões, lagartas pequenas e mosca-branca presente nas folhas na parte superior das plantas.

 

Quebra-vento

A cerca-viva serve como barreira física para o deslocamento de inóculos de doenças e de alguns insetos-pragas, como mariposas e mosca branca, dificultando o seu deslocamento entre glebas e propriedades. Quando se usa plantas que produzem flores nas cercas-vivas, a função de barreira para insetos pode ser potencializada, pois as flores favorecem o desenvolvimento de insetos predadores que, quando jovens, se alimentam do pólen e, quando adultos, atacam insetos-pragas. Nesse cenário, como exemplo de predadores, temos o Trichogramma pretiosun (vespa).

 

Escape

Podem ser utilizadas cultivares de ciclo curto e manejo da época de plantio, visando escapar dos picos populacionais de pragas como tripes, pulgão, traça do tomateiro, broca-pequena-do-tomateiro e ácaro. Quanto ao local, deve-se evitar o plantio próximo de culturas como algodão, soja ou feijão, que são plantas hospedeiras de insetos sugadores como mosca-branca e pulgões.

 

Sementes e mudas de qualidade

É importante também optar pelo uso de sementes de qualidade, adquiridas de empresas idôneas com garantia fitossanitária. Vale lembrar que diversos insetos e ácaros, como por exemplo A. lycopersici, T. urticae e P. latus, podem infestar as sementes

As mudas utilizadas também devem ser de qualidade, apresentando vigorosidade e ausência de sintomas de pragas ou de falta de nutrientes. As mudas devem ser produzidas em viveiros com pedilúvio, antecâmeras e cobertos com telas à prova de insetos sugadores.Além disso, é importante observar a época correta de transplantio, quando a planta possui três a quatro folhas definitivas bem desenvolvidas (geralmente entre 25 e 30 dias após a semeadura). Mudas não utilizadas não devem retornar aos viveiros, pois podem transportar insetos ou ácaros-praga.

Os viveiros devem ser instalados longe de plantios comerciais ou abandonados de tomate, independente da presença ou não de Begomovírus e mosca-branca.

 

Eliminação de plantas daninhas ou voluntárias e restos culturais

Plantas daninhas podem servir de hospedeiras para diversas pragas e doenças que atacam o tomate. Devem ser feitas capinas manuais quando as plantas daninhas ainda são pequenas e não formaram sementes. A eliminação dessas plantas contribui na quebra do ciclo biológico das pragas.

Devem ser eliminadas também plantas voluntárias de tomate do cultivo anterior, de forma a interromper o ciclo de desenvolvimento das pragas e reduzir o nível populacional.

Deve-se destruir e incorporar restos culturais de cultivos abandonados ou com ciclo interrompido, eliminando a população remanescente de pragas na área, e reduzindo o deslocamento desses organismos entre as lavouras.

Pode ser feito também o vazio sanitário por pelo menos 60 dias, deixando a área livre da cultura e de plantas hospedeiras, quebrando o ciclo das pragas.

 

Rotação de culturas

Pode ser feita a sucessão e rotação de culturas com plantas que não sejam hospedeiras de pragas do tomateiro, evitando o plantio sucessivo de tomate e outras solanáceas e cucurbitáceas, alho ou cebola na mesma área de cultivo. A rotação com plantas não hospedeiras interfere no ciclo de desenvolvimento das pragas, reduzindo o nível populacional.

 

Controle de pragas

Controle de formigas em tomate orgânico

As plantas de tomate podem ser atacadas por formigas cortadeiras. Podem ser colocadas cinzas de formigas ou bokashi nos olheiros e carreadores do formigueiro. Além disso, existem iscas orgânicas para o controle do inseto.

 

Controle de nematóides em tomate orgânico

Para controlar nematóides, especialmente do gênero Meloidogyne, responsáveis por formar galha, em solos onde o teor de matéria orgânico é baixo (< 20 g/dm³) e a rotação de culturas com adubo verde não é eficiente para o controle, pode ser utilizados fungos para o controle biológico. Como exemplo podemos citar os fungos Trichoderma harzianum e Paecilomyces lilacinus, aplicados na formação de mudas antes e/ou logo após o transplante.

 

Controle da broca pequena no tomate orgânico

Para esta praga (Neoleucinodes elegantalis) , deve ser feito o monitoramento preventivo com feromônio, identificando o aparecimento da mariposa que irá ovopositar as brocas. O feromônio é impregnado em um septo de borracha que deve ser colocado em armadilhas espalhadas pela lavoura, posicionadas a 1 metro de altura do solo, durante o florescimento do tomate. Quatro armadilhas por hectare são suficientes, devendo ser feito o monitoramento semanal. O efeito atrativo dura 45 dias.

Para o controle, deve-se aplicar a bactéria Bacillus thuringiensis, aplicando o produto ao final do dia, com o sol mais fraco e maior umidade do ar. A calda deve ser aplicada nas inflorescências do tomate, contaminando a broca antes dessa entrar no fruto. 

Para capturar as mariposas, pode-se instalar armadilhas luminosas que devem ficar ligadas do início da noite até cerca de 22h. Pode-se colocar uma armadilha para cada seis hectares, colocando a lâmpada sob uma vasilha com água. Deve-se adicionar um pouco de detergente ou sabão para quebrar a tensão da água, fazendo com que o inseto afunde e morra.

Também pode ser feito o controle biológico com a vespa Trichogramma pretiosum, que parasita ovos de broca pequena do tomate, traça do tomateiro e lagarta mede palmo. O adulto localiza os ovos da praga, e deposita seus ovos, de onde nascerá um novo Trichogramma.

 

Controle da traça do tomateiro em tomate orgânico

A traça do tomateiro (Tuta absoluta) pode ser controlada através de controle biológico. Existem diversos produtos com feromônio sexual para fazer o monitoramento, usando duas armadilhas por hectare. As armadilhas devem ser colocadas a uma altura de 1,60m em relação ao solo ou na altura do tomateiro, e fora do quadro/gleba. A armadilha deve estar próxima ao cultivo, e ser posicionada contra o vento. A inspeção da armadilha deve ser feita a cada três ou quatro dias, e o feromônio deve ser reposto periodicamente, visto que atua por cerca de dois meses.

Para o controle, deve-se aplicar a bactéria Bacillus thuringiensis, aplicando o produto ao final do dia, com o sol mais fraco e a umidade do ar for maior. A calda deve ser aplicada nas folhas em formação no ponteiro e brotos do tomateiro.

Para matar as mariposas também pode-se usar armadilhas luminosas, assim como no caso da broca pequena, citado anteriormente.

Também pode ser feito o controle biológico com a vespa Trichogramma pretiosum, que parasita ovos de broca pequena do tomate, traça do tomateiro e lagarta mede palmo. O adulto localiza os ovos da praga, e deposita seus ovos, de onde nascerá um novo Trichogramma.

 

Outras pragas e controles

Para o controle de ácaros, pode ser feito o controle biológico com o ácaro predador Neoseiulus californicus, que se alimenta de ovos, ninfas, larvas e adultos de outros ácaros, como por exemplo o ácaro rajado. Para o monitoramento e controle de insetos no tomate orgânico podem ser utilizadas também placas ou faixas adesivas coloridas. Cores diferentes atraem insetos diferentes, pulgões, mosca branca e mosca da larva minadora, por exemplo, são atraídas pela cor amarela, já a cor azul atrai tripes.

O desequilíbrio nutricional da planta resulta na ocorrência de pulgões, assim, para controlar a praga, reavalie o programa de adubação. Pode ser utilizado também cinzas polvilhadas durante a fase inicial de infestação, ou aplicadas via pulverização de cinza e cal (2% cada) em água. Outras opções no controle de pragas são a calda sulfocálcica, calda de pimenta e alho, chá de arruda e óleo de Neem. Vale lembrar que o óleo de Neem não é seletivo, ou seja, mata também os insetos benéficos que podem realizar o controle biológico. Dessa forma, esse produto deve ser utilizado com cautela.

Abaixo podemos ver exemplos de controle biológico para diversas pragas do tomate:

  • Orius insidiosus: controla tripes;
  • Neoseiulus californicus: controla ácaro rajado;
  • Macrolophus basicornis: controla mosca-branca e traça-do-tomateiro;
  • Trichogramma: controla traça-do-tomateiro, broca-pequena-do-tomateiro e lagarta (Helicoverpa zea);
  • Bacillus thuringiensis: controla traça-do-tomateiro, broca-pequena-do-tomateiro;
  • Beauveria bassiana: controla mosca-branca.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

MOURA, A. P. de et al. Manejo integrado de pragas do tomateiro para processamento industrial. Circular Técnica 129, Brasília, DF, 2014.

Tomate Orgânico: Técnicas de cultivo. 1. ed. Rio de Janeiro: CI Orgânicos, 2015.

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