Como controlar doenças em tomate orgânico?
Leia sobre algumas medidas para o controle de doenças em tomate orgânico.
Muitos agricultores optam pelo sistema orgânico de produção, buscando agregar maior valor ao produto e causar menos impacto ao ambiente de produção e à saúde dos consumidores. O tomate produzido em sistema convencional é um alimento que possui grandes quantidades de agrotóxicos, o que causa certa preocupação em uma parcela dos consumidores, que acaba optando pelo consumo de orgânicos.
Porém, o tomateiro recebe grandes quantidades de agrotóxicos justamente por ser altamente suscetível a doenças fúngicas, bacterianas, nematóides e vírus. Dessa forma, o tomate orgânico deve ser produzido com técnicas que buscam o equilíbrio ecológico. É necessário integrar práticas para combinar efeitos de controle. Abaixo, vamos discorrer sobre algumas medidas para o controle de doenças em tomate orgânico.
Escolha correta de cultivares
Um dos fatores mais importantes a se decidir no cultivo de tomate é a escolha de cultivar, buscando cultivares adequadas para as condições de plantio. Além disso, as cultivares apresentam diferentes respostas quanto à suscetibilidade à doenças. Devem ser utilizadas cultivares adaptadas à região de plantio, fazendo com que as plantas tenham melhor desenvolvimento e consequentemente melhor defesa contra doenças.
Nutrição equilibrada
Em uma planta desequilibrada nutricionalmente ocorre acúmulo de substâncias que reduzem a resistência à doenças. Como exemplo, podemos citar a alta concentração do nitrogênio que reduz a produção de compostos fenólicos e lignina nas folhas, diminuindo a resistência à doenças. Visando uma nutrição equilibrada, devemos aplicar tanto os macronutrientes quanto os micronutrientes mais importantes para a cultura. O potássio em quantidades adequadas propicia bons resultados na redução do ataque de doenças. Caso haja deficiência desse nutriente, ocorre acúmulo de aminoácidos solúveis que servem de nutrientes à fungos e bactérias.
O cálcio também possui bastante importância nesse quesito, a presença do nutriente no tecido das plantas é fundamental para a estabilidade da membrana celular e para a inibição da degradação da parede celular causada por patógenos. O silício é um micronutriente que atua como uma barreira física contra patógenos, já o boro e zinco são fundamentais para a integridade de membranas celulares, além de atuar na produção de substâncias que influenciam na resistência da planta às doenças.
Estes nutrientes podem ser encontrados em estercos, adubos orgânicos, pó de rocha, torta de mamona, sulfato de potássio, pó de casca de ovo, cinzas, farinha de osso etc. A adubação deve ser feita com base em cálculos feitos a partir da análise de solo. Você pode ler mais sobre adubos orgânicos clicando aqui.
Além do efeito nutricional, a presença de microrganismos nos biofertilizantes formam uma camada protetora na folha quando aplicados na parte aérea, impedindo ou dificultando a penetração e desenvolvimento de fungos e bactérias.
Quebra-vento
A cerca-viva serve como barreira física para o deslocamento de inóculos de doenças e de alguns insetos-pragas, como mariposas e mosca branca, dificultando o seu deslocamento entre glebas e propriedades. Quando se usa plantas que produzem flores nas cercas-vivas, a função de barreira para insetos pode ser potencializada, pois as flores favorecem o desenvolvimento de insetos predadores que, quando jovens, se alimentam do pólen e, quando adultos, atacam insetos-pragas. Nesse cenário, como exemplo de predadores, temos o Trichogramma pretiosun (vespa).
Sementes e mudas de qualidade
É importante também optar pelo uso de sementes de qualidade, adquiridas de empresas idôneas com garantia fitossanitária. Vale lembrar que diversas doenças, como por exemplo a septoriose e pinta-preta, são transmitidas via semente.
As mudas utilizadas também devem ser de qualidade, apresentando vigorosidade e ausência de sintomas de doenças ou de falta de nutrientes. Além disso, é importante observar a época correta de transplantio, quando a planta possui três a quatro folhas definitivas bem desenvolvidas (geralmente entre 25 e 30 dias após a semeadura).
Capinas
As plantas daninhas competem com o tomateiro, consumindo nutrientes, água e luz, além de liberarem substâncias que inibem o desenvolvimento da cultura. Como exemplo de plantas daninhas que liberam essas substâncias podemos citar o capim-maçambará, a tiririca, a grama-seda e o feijão-de-porco. Dessa forma, deve-se evitar o plantio em áreas infestadas por essas espécies. Além disso, plantas daninhas podem servir de hospedeiras para diversas pragas e doenças que atacam o tomate. Devem ser feitas capinas manuais quando as plantas daninhas ainda são pequenas e não formaram sementes.
Amontoa e tutoramento
A amontoa é essencial para favorecer o desenvolvimento de raízes de tomate, proporcionando maior absorção de nutrientes, favorecendo uma nutrição equilibrada, o que aumenta a tolerância à doenças. Já o tutoramento deve ser feito logo após o transplantio, cuidando para não causar danos nas folhas e no caule. A amontoa proporciona maior aeração, melhora a arquitetura da planta, evita o contato desta com o solo e evita a formação de microclimas quentes e úmidos, desfavorecendo a severidade de doenças.
Irrigação
A irrigação, quando realizada corretamente, diminui a severidade de doenças e favorece o desenvolvimento da planta. No tomate, a irrigação deve ser feita por gotejamento, evitando o molhamento foliar da planta, evitando a formação de condições favoráveis para a proliferação de doenças. Deve-se manter o solo úmido sem que haja encharcamento, pois o excesso de água favorece doenças como por exemplo a bactéria que causa a murcha.
Uso de calda
A calda viçosa é um fungicida que possui controle satisfatório de doenças em tomate orgânico. A calda possui ação fungicida e nutricional, além de prevenir a podridão apical em frutos. Também pode ser utilizada a calda bordalesa para o controle de algumas doenças. É importante lembrar que o uso da calda deve ser autorizado pelo órgão de certificação. Quando permitida, a legislação limita o cobre a 6 kg/ha por ano, pois o uso excessivo pode matar as minhocas. A calda bordalesa é utilizada com uma concentração de 0,3% a 2%, porém, vale lembrar que a concentração acima de 1% inibe o crescimento do tomateiro.
Eliminação de fontes de inóculo.
As folhas baixeiras com sintomas de doenças como pinta preta, septoriose e mancha-de-cladospório podem ser retiradas visando a eliminação de fonte de inóculo dos fungos. As folhas devem ser cortadas com faca afiada que deve ser esterilizada a cada corte. A esterilização é feita em suspensão de sulfato de cobre a 2g/L de água. As folhas retiradas devem ser colocadas em um recipiente, retiradas da área e posteriormente queimadas. As cinzas podem servir como adubo.
No caso de doenças bacterianas, as plantas devem ser retiradas da seguinte forma: posicionar um saco plástico junto ao pé da planta, arrancar-lá de modo que as raízes e a terra aderida caiam dentro do saco, reduzindo a disseminação das bactérias. Retirar o material da área e queimar imediatamente, podendo-se reaproveitar as cinzas como adubo. A área infectada com a bactéria deve ser cultivada com leguminosas e/ou gramíneas, como o sorgo, milho, feijão-comum, feijão-de-corda, hortaliças folhosas etc. Evitar o plantio de solanáceas por tempo indeterminado, pois são suscetíveis ao patógeno, bem como evitar o plantio de tomate próximo a áreas infectadas.
Controle biológico
Para controlar algumas doenças causadas pelos fungos Phytophthora, Fusarium, Rhizoctonia e Verticillium, podemos utilizar o fungo Trichoderma. O fungo ocorre de forma natural em solos com bastante matéria orgânica, e controla fungos patogênicos e nematoides através de antagonismo, antibiose e parasitismo. Existem diversos produtos à base de Trichoderma no mercado, sendo geralmente aplicados no substrato e/ou solo.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
TALAMINI, V.; NUNES, M. U. C. Estratégias de controle das principais doenças do tomateiro orgânico na região central de Sergipe. Comunicado Técnico 219 - Embrapa, Aracaju, SE, 2018.
Tomate Orgânico: Técnicas de cultivo. 1. ed. Rio de Janeiro: CI Orgânicos, 2015.