Como a nutrição promove o controle de doenças e pragas no tomateiro?
Leia sobre a importância dos nutrientes no controle de pragas e doenças na cultura do tomateiro.
Além do benefício nutricional na planta, que reflete diretamente na qualidade e quantidade do produto final, os nutrientes também influenciam diretamente na resistência das plantas às pragas e doenças, atuando nos mecanismos fisiológicos e morfológicos. Porém, é fundamental o entendimento de como os nutrientes aumentam ou diminuem as respostas das plantas às pragas e doenças.
Tais efeitos podem ocorrer de forma direta através do estado nutricional da planta, ou indireta, quando a nutrição adequada resulta em estandes densos que alteram a interceptação luminosa e a umidade na lavoura. Porém, vale lembrar que algumas pragas / doenças podem reduzir a absorção de nutrientes pela planta, causando os mesmos sintomas do déficit desses nutrientes no solo, o que pode causar um confundimento no diagnóstico do problema.
Quanto aos mecanismos fisiológicos, os nutrientes nas plantas regulam a síntese de proteínas, aminoácidos, fenóis e lignina, além de participar de diversas rotas metabólicas. Plantas com desequilíbrio nutricional são mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças.
Macronutrientes
O nitrogênio é essencial para a produção de aminoácidos, proteínas, hormônios, fitoalexinas e fenóis, porém, quando em excesso na planta, resulta na produção de tecidos tenros, podendo prolongar a fase vegetativa ou re retardar a maturidade da planta, favorecendo o ataque de patógenos. Já no déficit do nutriente, a planta possui um crescimento lento, e fica debilitada e suscetível ao ataque dos patógenos. A forma em que o nitrogênio se encontra na planta (nitrato ou amônia) influencia muito na severidade dos ataques, pois algumas doenças podem aumentar ou diminuir conforme a fonte do nitrogênio.
O fósforo é um nutriente que acelera a maturação dos tecidos, diminuindo a infecção de doenças que atacam principalmente tecidos jovens. No caso da fusariose, altos níveis de potássio podem aumentar a severidade da murcha, mas a alta calagem e baixo teor de potássio reduzem a severidade da doença. Quanto ao fosfito, alguns estudos mostram que a substituição deste elemento ao fosfato, até um determinado limite, pode induzir a resistência das plantas à doenças. Porém, o potássio absorvido pelo fosfito não é assimilado, podendo resultar em deficiência do nutriente, dessa forma. O fosfito não deve ser usado para substituir o suprimento de potássio, mas apenas na indução de resistência da planta.
O potássio também atua na resistência à doenças, e a sua deficiência torna a planta mais suscetível a certas doenças. Quando ocorre deficiência do nutriente na planta, ocorre menor síntese de compostos como proteínas, celulose e amido, e maior síntese de compostos orgânicos de baixo peso molecular, sendo mais suscetíveis à pragas e doenças.
O cálcio é bastante importante para a divisão, desenvolvimento celular e na constituição da parede celular. Quando ocorre déficit de cálcio, diversos fungos e bactérias possuem maior facilidade de dissolver a lamela média na parede celular.
O magnésio, dependendo da associação patógeno - hospedeiro - ambiente, pode diminuir a incidência de doenças.
O enxofre nas plantas é incorporado em proteínas, aminoácidos, enzimas, vitaminas etc. Como a maioria dos solos são ricos em enxofre, existem poucos estudos quanto ao déficit de enxofre e resistência a doenças.
Micronutrientes
- Boro: é um nutriente que participa no metabolismo de fenóis e lignina, que atuam diretamente na resistência à doenças;
- Cloreto: pode promover a tolerância de plantas à doenças foliares e de solo. Ainda que seja mais comum observarmos relatos sobre toxidez de Cl, quando ocorre deficiência de cloro, ocorre menor produção e transporte de carboidratos na planta. Culturas como o tomate são altamente tolerantes ao cloro. Além disso, o cloro é pouco retido nos solos, sendo o seu excesso lixiviado;
- Cobre: influencia a morte do patógeno ou pode induzir reações de hipersensibilidade da planta;
- Ferro: pode atuar na ativação de enzimas que sintetizam compostos antifúngicos e induz a resistência da planta à doenças;
- Manganês: é muito importante na resistência das plantas às doenças. Promove a lignificação, participa nas rotas de lignina e fenóis solúveis, inibe a síntese de enzimas ativadas pelas doenças, inibe exoenzimas que degradam a parede celular produzidas por alguns fungos patogênicos, inibe o crescimento de fungos etc.
- Molibdênio e zinco: existem poucas pesquisas sobre o efeito desses nutrientes no controle de doenças. Quanto ao zinco, é um nutriente importante para a integridade e estabilidade de membranas nas raízes;
Patógeno | Nutriente | |||||||||||
N | NH4+ | NO3- | P | K | Ca | Mg | S | B | Fe | Mn | Zn | |
Bactérias | ||||||||||||
Clavibacter michiganense | A | A | ||||||||||
Pseudomonas solanacearum | D | A | D | D | ||||||||
Ralstonia solanacearum | D | A | D | D | ||||||||
Vírus | ||||||||||||
PVX | D | D | A | D | ||||||||
Vírus do mosaico do fumo | A | ± | ± | D | D | D | ± | |||||
Nematóides | ||||||||||||
Meloidogyne javanica | ± | D | D | D | D | |||||||
Fungos | ||||||||||||
Alternaria solani | ± | D | D | ± | D | |||||||
Botrytis cinerea | A | D | D | D | A | |||||||
Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici | A | D | ± | ± | D | D | ± | D | D | |||
Sclerotinia sclerotiorum | A | D | ||||||||||
Sclerotium rolfsii | A | D | ± | |||||||||
Verticillium albo-atrum | D | ± | D | A |
A = aumento da severidade; D = decréscimo da severidade; ± = efeitos dependem do meio ambiente
Adaptado de: Hubber (1990) e Zambolim et al. (2005).
O silício no controle de pragas e doenças
A deposição de silício nas células epidérmicas forma uma barreira física que bloqueia a penetração de hifas de fungos ou alguns insetos. Baixo nível de silício no solo e excesso de nitrogênio promovem efeitos como redução da síntese de fenóis e lignina, diminuição das papilas de calose em sítios de infecção, tecidos mais tenros, murchamento, epiderme lisa etc.
No caso do tomateiro, estudos apontam que o silício reduziu o desenvolvimento da murcha bacteriana. Também se observou resultados na diminuição da população do nematoide Meloidogyne javanica. Para ler mais sobre o efeito do silício nas plantas, clique aqui!
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
ALVARENGA, M. A. R.; LOPES, G.; GUILHERME, L. R. G. Nutrição Mineral. In: ALVARENGA, M. A. R. Tomate: Produção em campo, casa de vegetação e hidroponia. 3. ed. Lavras, MG: Editora Universitária de Lavras, 2022. cap. 5, p. 111-181.
BARRETO, M.; CASTELLANE, P. D. Relações entre a nutrição mineral e a incidência de doenças. In: SÁ, E. de; BUZZETI, S. Importância da adubação na qualidade dos produtos agrícolas. São Paulo: Ícone, 2994. p. 45-64.
LEITE, G. L. D.; COSTA, C. A.; ALMEIDA, C. I. M.; PICANÇO, M. Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria em plantas de tomate. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 20, n. 2, p. 399, jul. 2002. Suplemento 2.
MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1980, 253 p.
MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2. ed. London: Academic Press, 1995. 889 p.
ZAMBOLIM, L.; COSTA, H.; VALE, F. X. R. Nutrição mineral e patógenos radiculares. In: MICHEREFF, S. J.; ANDRADE, D. E. G. T.; MENEZES, M. Ecologia e manejo de patógenos radiculares em solos tropicais. Recife: UFRPE, 2005. p. 153-182.