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Nutrientes e distúrbios fisiológicos na cultura do tomate

Sob o ponto de vista nutricional, para a obtenção de plantas produtivas e com produção de qualidade, é necessário que haja disponibilidade e absorção dos nutrientes em proporções adequadas, tanto via solo como também pela suplementação via foliar.



Foto: Sheila Flores

Sob o ponto de vista nutricional, para a obtenção de plantas produtivas e com produção de qualidade, é necessário que haja disponibilidade e absorção dos nutrientes em proporções adequadas, tanto via solo como também pela suplementação via foliar. Qualquer desequilíbrio nessas proporções pode causar a deficiência ou o excesso de nutrientes ou mesmo a ocorrência de distúrbios fisiológicos.

 

Nitrogênio

 

Como o nitrogênio é um nutriente que desempenha importante papel no crescimento vegetativo, que influencia a formação inicial da planta e define o potencial produtivo da planta ao longo do ciclo vegetativo, ele tem efeito direto na qualidade das frutas e no balanço nutricional da planta. O nível de nitrogênio disponível no solo é definido pelo teor de matéria orgânica do solo e sua liberação está associada à taxa de mineralização dessa matéria orgânica, que, por sua vez, é controlada especialmente por fatores como o tipo de matéria orgânica, a umidade e a temperatura do solo que condicionam a atividade dos microrganismos. Outros fatores que interferem na disponibilidade de nitrogênio no solo são a imobilização microbiana, lixiviação ou perdas gasosas (desnitrificação e volatilização).

 

Na planta, o nitrogênio tem função central na produtividade sendo componente de aminoácidos, amidas, proteínas, ácidos nucleicos, nucleotídeos, coenzimas, hexoaminas, clorofila e metabólitos secundários, como alcaloides, glicosídeos cianogênicos, glucosinolatos e aminoácidos não proteicos que atuam na defesa da planta. Uma vez que o nitrogênio se encontra em vários componentes celulares, o sintoma mais característico de sua deficiência é a redução na taxa de crescimento. Além disso, observam-se folhas pequenas na planta, de coloração verde-clara visível em todas as folhas, caule fino, menor número e peso dos frutos, bem como frutos de qualidade inferior. O sintoma de deficiência de nitrogênio pode ser ocasionado também pelo excesso de frio, estiagem e/ou alagamento.

 

Já o excesso de nitrogênio resulta no crescimento excessivo das partes vegetativas, prolongamento do ciclo vegetativo, formação de frutos ocos, maior ocorrência de frutos defeituosos, maior susceptibilidade às doenças, maturação tardia e redução da produtividade.

 

Fósforo

 

É um nutriente importante no metabolismo vegetal, pois participa de inúmeras reações bioquímicas como respiração, transformação de energia, além de ter papel na constituição de enzimas. A deficiência de fósforo compromete o desenvolvimento da parte aérea e do sistema radicular, sendo caracterizada pelo afinamento do caule e por folhas novas com áreas de coloração castanho-arroxeadas e foscas. O sintoma de sua deficiência pode ser ocasionado por baixas temperaturas, seca, pragas do solo e toxidez de alumínio relacionada ao baixo pH do solo.

 

A participação do fósforo no processo de formação e de desenvolvimento vegetal tem os seguintes aspectos principais: acelera a formação das raízes e é essencial para o seu funcionamento como apoio mecânico e órgão de absorção de água e de íons; maior efetividade da polinização das flores e, por isso, mais frutificação; regulador de maturação; maior viabilidade das sementes; maior teor de carboidratos, óleo, gordura e proteínas. Quando deficiente, causa menor vegetação e produção, reduz a qualidade e provoca senescência precoce.

 

O suprimento adequado de fósforo, além do aumento da produtividade, proporciona o aumento do tamanho e peso dos frutos e melhora sua coloração e valor nutritivo. Já quanto ao excesso desse nutriente, são poucas as informações disponíveis. Há pesquisas que indicam haver diminuição da disponibilidade de zinco no solo, provocando sua deficiência nas plantas.

 

Potássio

 

É o nutriente mais exportado pelos frutos. Dentro da planta, atua no controle de abertura e fechamento dos estômatos, na transpiração, no transporte de carboidratos, na qualidade das frutas, dentre outras funções.

 

A deficiência de potássio ocasiona o encurtamento dos internódios do caule, problemas de coloração dos frutos e também se manifesta nas folhas por meio da clorose que evolui para uma mancha necrótica na forma de “queima das bordas” das folhas mais velhas, em forma de V a partir das pontas (Figura 9). Como a difusão é o principal mecanismo de suprimento de potássio às plantas, a umidade do solo exerce importante influência no suprimento desse nutriente.

 

O excesso de frutos na planta e drenagem deficiente do solo também predispõem a planta ao aparecimento dos sintomas de deficiência de potássio. Além das folhas, a qualidade dos frutos é afetada, tornando-os ácidos, pequenos, com coloração deficiente e falta de firmeza (frutos com cavidade interna oca). O excesso de potássio, por outro lado, é problemático. Pode ocasionar frutos rachados e também interagir negativamente na absorção de outros nutrientes, como cálcio e magnésio, causando consequentemente desequilíbrios nutricionais na planta. O desequilíbrio provocado pela adubação excessiva de potássio provoca a diminuição da absorção de magnésio pela planta e o aparecimento precoce de sua deficiência, ocasionando o aparecimento de sintomas de clorose internerval nas folhas mais velhas, mesmo com teor suficiente de magnésio no solo. Nesses casos, aplicações foliares de magnésio preventivas se tornam importantes para evitar o aparecimento do sintoma de sua deficiência.

 

 

Cálcio

 

O cálcio desempenha importante papel na planta, já que é um nutriente presente na lamela média das paredes celulares, regulando a permeabilidade e a seletividade do plasmalema e sua presença é indispensável para o desenvolvimento do sistema radicular. Para a cultura do tomate, a disponibilidade e a absorção de cálcio são de grande interesse, pois a podridão apical é um distúrbio fisiológico bastante comum na cultura do tomateiro, diretamente associado à deficiência localizada de cálcio na região apical dos frutos (Figura 10). O balanceamento da disponibilidade de nutrientes no solo e a disponibilidade adequada de água são indispensáveis para evitar esse problema.

 

 

Por outro lado, altos teores de potássio e de magnésio, oriundos de adubações desequilibradas com esses nutrientes, também podem propiciar o aparecimento de podridão apical, tanto direta como indiretamente, uma vez que podem induzir a baixos teores de cálcio na planta. Baixas concentrações de cálcio nos frutos são geralmente resultantes da ação de fatores ambientais e culturais, associadas principalmente ao déficit hídrico, embora os teores de cálcio no solo possam influenciar. O distúrbio fisiológico também está associado às características do cultivar que podem torná-lo ou não mais suscetível. Deve-se portanto utilizar preferencialmente cultivares pouco suscetíveis à deficiência de cálcio. Geralmente a deficiência de cálcio não é caracterizada por sintomas visíveis nas folhas.

 

Como a absorção e o transporte do cálcio na planta é basicamente via xilema pelo suprimento de água e sua mobilidade no floema pelo fluxo de seiva elaborada é mínima ou ausente, este nutriente merece cuidado especial. O suprimento de água via xilema para o fruto ocorre logo após a fecundação, durante a divisão celular. Após esse período, ocorre o crescimento das células do fruto, fase em que acontece o crescimento das células que recebem água e carboidratos via floema, no qual a mobilidade do cálcio é muito baixa ou nula. Portanto, se ocorreu algum problema de suplemento de cálcio na fase inicial, é possível efetuar pulverizações com cálcio, via foliar, como uma medida complementar eficiente, desde que detectada a necessidade de sua aplicação. Para esse fim, as fontes de cálcio mais utilizadas são o cloreto de cálcio (600 g/100L de água), o nitrato de cálcio (750 g/100L de água) ou cálcio quelatizado (300 mL/100L de água).

 

Magnésio

 

O magnésio é um dos constituintes da clorofila, muito importante portanto para a fotossíntese. Os sintomas de deficiência são bem nítidos e ocorrem da metade do ciclo vegetativo em diante. Devido a sua fácil translocação na planta, sintomas ocorrem inicialmente nas folhas mais velhas, caracterizando-se por amarelecimento das regiões internervais das folhas, cujas manchas, na forma de V, evoluem das margens da folha em direção à nervura central (Figura 11). Esse sintoma evolui para necrose dos tecidos atacados.

 

Solos rasos e/ou mal corrigidos (pH baixo), estresse hídrico e excesso de potássio são alguns dos fatores que contribuem para a ocorrência dessa deficiência. Em muitos casos, o aparecimento do sintoma de deficiência não é por falta de magnésio no solo, mas sim ocasionado pelo desequilíbrio da relação potássio-magnésio na folha estar acima de 4:1. Aplicações de magnésio via foliar devem ser utilizadas se observada sua deficiência nas plantas, ou mesmo antes do aparecimento de sintomas nas lavouras onde houver excesso de adubação potássica ou teores elevados no solo. O sulfato de magnésio na dosagem de 2 kg/100L de água tem sido uma boa fonte de correção nesse caso.

 

Boro

 

O boro é um nutriente importante no metabolismo vegetal do tomateiro. Por atuar nos ápices vegetativos da planta, estimula a formação de raízes, o crescimento das plantas, além de garantir uma boa floração. Exerce também importante função na translocação do cálcio no interior da planta, na germinação do pólen e na absorção de água. Por ser pouco móvel na planta, os sintomas de deficiência de boro ocorrem, inicialmente, nos pontos de crescimento, onde se observa redução no crescimento e encurtamento dos internódios ou afinamento do talo, que pode até mesmo provocar rachadura e inclusive rompimento das nervuras (Figura 12).

 

A deficiência de boro pode causar abortamento de flores. Já nos frutos pode provocar rachaduras, distúrbio que é denominado fruto com lóculos abertos. Os sintomas são mais propensos a aparecer em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica e pH muito alto, associado a períodos com extremos de temperatura do ar, principalmente altas temperaturas.

 

A aplicação foliar de bórax cristal (200 a 300 g/100L de água) ou ácido bórico (400 g/100L de água) é recomendada para controlar a deficiência de boro no tomateiro. Aplicação via solo também possui boa eficiência em termos de prevenção de deficiência; porém, quando constatado o sintoma visual, pode-se fazer aplicações via foliar ou via fertirrigação com ácido bórico (6 g/planta). Contudo, devem-se evitar aplicações em excesso, tanto via solo como via foliar, uma vez que a faixa de tolerância da cultura entre deficiência e toxidez é muito estreita.

 

 

 

Texto retirado do artigo: Sistema de produção integrada para o tomate tutorado em Santa Catarina

 

Veja na integra clicando aqui.

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