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Produção de sementes de soja

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1. Introdução

Uma vez completada a fase vegetativa de uma planta, cujo período, em dias, pode variar bastante dentro de uma mesma cultivar, inicia-se a fase reprodutiva, cuja duração é praticamente constante. Essa é a razão de se ter épocas recomendadas de semeadura, em função de uma cultivar ser de maturidade precoce ou tardia. Quando iniciada a fase reprodutiva da planta, esta é irreversível e determina a perpetuação da espécie.

O desenvolvimento e a maturação das sementes são aspectos importantes a serem considerados na tecnologia de produção de sementes, pois entre os fatores que determinam a qualidade das sementes estão as condições de ambiente predominantes na fase de florescimento/frutificação e a colheita na época adequada. Portanto, o conhecimento, de como se processa a maturação das sementes e dos principais fatores envolvidos, é de fundamental importância para a orientação dos produtores de sementes, auxiliando no controle de qualidade, principalmente no que se refere ao planejamento e a definição da época ideal de colheita.

Diversos fatores ambientais e sanitários atuam e podem afetar a qualidade das sementes no campo, tais como temperaturas elevadas durante a maturação, flutuações da umidade ambiental, incluindo secas ou excesso de chuvas, deficiências na nutrição das plantas, presença de insetos, além de adoção de técnicas inadequadas de colheita.

Além disto, patógenos como Phomopsis sp, Colletotrichum truncatum (agente causador de antracnose), Cercospora kikuchii (agente causador da mancha púrpura) e Fusarium spp, podem afetar a qualidade das sementes, sendo os mais frequentemente associados com as sementes de soja. Assim, a qualidade das sementes é estabelecida durante a etapa de produção no campo, sendo que as demais etapas (secagem, processamento e o armazenamento) poderão somente manter a qualidade.

Desta forma, os principais fatores que podem afetar a qualidade das sementes no campo e as possíveis alternativas que podem ser adotadas para superar tais limitações podem ser definidos como:
 
2. Deterioração no campo

A deterioração no campo (ou deterioração por umidade) é a fase do processo de deterioração que ocorre depois do ponto de maturação fisiológica e antes que as sementes sejam colhidas. É um dos fatores que mais afeta a qualidade das sementes de soja, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. Isto porque, as sementes de soja têm, no ponto de maturação fisiológica, a mais alta viabilidade e o máximo vigor.

O intervalo entre a maturação fisiológica e a colheita raramente apresenta condições climáticas favoráveis para a conservação da qualidade das sementes, especialmente em regiões tropicais. A exposição das sementes de soja a ciclos alternados de alta e baixa umidade antes da colheita, devido à ocorrência de chuvas frequentes, ou às flutuações diárias de umidade relativa do ar, resulta na deterioração por umidade. Esta será, todavia, mais intensa se tais condições estiverem associadas com temperaturas elevadas. A presença de rugas nos cotilédones, na região oposta ao hilo, é um sintoma típico da deterioração por umidade.

Além das consequências diretas na qualidade das sementes, a deterioração por umidade pode resultar em um índice maior de danos mecânicos na colheita, já que as sementes deterioradas são extremamente vulneráveis aos impactos mecânicos. A deterioração a campo pode ser intensificada pela interação com alguns fungos, como Phomopsis spp. e Colletotrichum truncatum (Figura 1), que, ao infectar as sementes, podem reduzir o vigor e a germinação.


 

Figura 1 - Sementes de soja com infecção de Colletotrichum truncatum.


 
3. Momento de colheita
 
As sementes devem ser colhidas no momento adequado, evitando-se qualquer atraso na colheita. As sementes são normalmente colhidas quando, pela primeira vez, o grau de umidade se encontra abaixo de 18%, durante o processo natural de secagem no campo.

Esta operação requer que o produtor de sementes tenha amplos conhecimentos de regulagem do sistema de trilha, evitando a produção de elevados índices de danos mecânicos. Além disso, deverá estar disponível uma estrutura adequada de secadores, para que o grau de umidade das sementes seja reduzido a níveis adequados, sem que ocorra redução na germinação e vigor.

 
4. Seleção de regiões e épocas mais propícias para produção de sementes
 
A seleção de áreas mais apropriadas para a produção de sementes de soja de alta qualidade requer estudos de investigação apropriados, especialmente em regiões tropicais. A produção de sementes de alta qualidade requer que as fases de maturação e de colheita ocorram em condições climáticas secas, associadas com temperaturas amenas.

Tais condições não são facilmente encontradas em regiões tropicais, porém pode encontrar-se em regiões com altitude superior a 700 m, ou com o ajuste da época de semeadura para a produção de sementes. Para cada 160 m de elevação em altitude, ocorre, em média, uma redução de 1ºC na temperatura. Como regra geral, a maturação e a colheita da semente de soja devem ocorrer mais ou menos a 22ºC de temperatura.

Em regiões tropicais e subtropicais, existem diferentes épocas de semeadura para a produção de grãos e para a produção de sementes. Para a produção de grãos, a época de semeadura deve ser ajustada de modo que possam obter-se produtividades máximas. Entretanto, para a produção de sementes, o fator qualidade tem prioridade sobre o fator produtividade. Muitas vezes, altas produtividades são sacrificadas em favor da obtenção de sementes de melhor qualidade. A época de semeadura deve ser ajustada para que a maturação das sementes ocorra em condições de temperaturas amenas associadas com menores índices de precipitação. Pode-se selecionar a época de semeadura que propicie menores índices de deterioração por umidade nas sementes, através da comparação do ciclo das cultivares de soja utilizada, observando-se especificamente a época de ocorrência da maturação e colheita com os padrões de chuvas de uma determinada região.

 
5. Aplicação de fungicidas foliares
 
Os fungicidas foliares são recomendados para controlar doenças de final de ciclo, como a mancha parda (Septoria glycines) e para o controle de oídio (Microsphaera diffusa), bem como propiciar melhores rendimentos e alta qualidade de sementes.
Entretanto, o melhor método para o controle de patógenos transmitidos por sementes é o uso de cultivares resistentes, que permite a redução da aplicação de fungicidas foliares.

 
6. Estresse ocasionado por seca e alta temperatura durante o enchimento de grãos
 
Sementes de soja submetidas a estresse de alta temperatura e seca podem ser pequenas e menos densas, imaturas ou verdes, enrugadas ou deformadas, o que ocasiona reduções na produtividade, germinação e vigor das mesmas. A intensidade de tais sintomas é dependente do nível de ocorrência dessas condições, como também da cultivar que está sendo utilizada.

A ocorrência de condições de seca associada com altas temperaturas, mesmo que por breve período, durante a fase de enchimento do grão, ocasiona a formação de sementes menores e com vigor reduzido, mesmo que o poder germinativo permaneça inalterado. Um estresse severo, com temperaturas acima de 30ºC associado a déficit hídrico, durante a fase de enchimento dos grãos, poderá ocasionar a formação de sementes leves e enrugadas. Lotes com elevadas percentagens de sementes enrugadas não devem ser utilizados para a semeadura, pois sua qualidade já estará comprometida.

 
7. Danos causados por insetos
 
As espécies de ocorrência mais comuns na cultura da soja são o percevejo da soja (Nezara viridula), percevejo-pequeno (Piezodorus guildini), percevejo-marrom (Euschistus heros), mosca branca (Bemisia tabaci raça B), além do complexo de lagartas, que comprometem a produção de produção de fotoassimilados, o acúmulo de biomassa nas sementes e danificam a vagem e os grãos (Figura 2).

Insetos sugadores, como os percevejos, podem inocular doenças, como o fungo Nematospora coryli. A colonização dos tecidos das sementes por este fungo causa sérias necroses, resultando em perdas de germinação e de vigor. As sementes picadas podem apresentar manchas típicas, podendo ser deformadas e enrugadas.

O controle dos insetos nos campos de produção de sementes deve ser realizado com muita atenção. A sua presença deve ser constantemente monitorada. Os danos causados às sementes de soja são irreversíveis. Nos campos de produção de sementes, caso a incidência seja superior a 0,5%, é recomendável fazer o controle. É normal nos campos de produção de sementes, em regiões tropicais, que se faça mais de uma aplicação de inseticida para controle de inseto.


 

Figura 2 - Insetos sugadores da soja: A - Nezara viridula, B - Piezodorus guildini, C - Euschistus heros e D - Bemisia tabaci raça B.


 
José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia


Bibliografia consultada
PESKE, S.T.; ROSENTHAL, M.D.; ROTA, G.R.M. Sementes: Fundamentos científicos e tecnológicos. 3ª edição. Pelotas: Editora rua Pelotas, 2012. 573p.



 
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