ETIOLOGIA
A soja é infectada por duas espécies de Phakopsora que causam a ferrugem:
a) Phakopsora meibomiae (ferrugem “americana”), nativa no Continente Americano, ocorre desde Porto Rico (Caribe) ao sul do Paraná (Ponta Grossa);
b) Phakopsora pachyrhizi (ferrugem “asiática”), presente na maioria dos países produtores de soja.
A doença era atribuída à Phakopsora pachyrhizi. Porém, a partir de 1992, após comparação com espécimes americana e asiática, a espécie americana foi denominada de Phakopsora meibomiae e considerada pouco agressiva à soja. Em 2001, amostras do fungo presentes no Brasil e Paraguai foram analisadas nos Estados Unidos empregando testes de biologia molecular e constatou-se ser a espécie asiática, Phakopsora pachyrhizi. Dois tipos de esporos são conhecidos em Phakopsora pachyrhizi: uredósporos e teliósporos. Os uredósporos (15- 24 μm x 18-34μm) são os mais comuns e se constituem na fase epidêmica da doença. São ovóides a elípticos, largos, com paredes com 1,0 μm de espessura, densamente equinulados e variando de incolor a castanho amarelo pálidos. A penetração ocorre de forma direta através da cutícula. O processo de infecção depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha, sendo necessário no mínimo seis horas, com um máximo de infecção ocorrendo com 10-12 horas de molhamento foliar. Temperatura entre 15ºC e 28ºC são favoráveis à infecção. Phakopsora pachyrhizi apresenta grande variabilidade patogênica e, através do uso de variedades diferenciadoras, várias raças têm sido identificadas. Em Taiwan, foram identificadas nove raças e no Japão, onze. No Brasil, a quebra de resistência em uma safra evidenciou a existência de raças. Quatro genes dominantes com herança independente são conhecidos e denominados como Rpp1 – Rpp4.
EPIDEMIOLOGIA
O processo infeccioso se inicia quando os uredósporos germinam e produzem um tubo germinativo que cresce através da superfície da folha até que se formar um apressório. A penetração ocorre diretamente através da epiderme, ao contrário das outras ferrugens que penetram através dos estômatos. Urédias podem se desenvolver de 5 a 10 dias após a infecção e os esporos do fungo podem ser produzidos por até 3 semanas. A temperatura para a germinação dos uredósporos pode variar entre 8ºC a 30ºC e a temperatura ótima é próxima de 20ºC, porém, sob alta umidade relativa do ar, a temperatura ideal para a infecção situa-se ao redor de 18ºC a 21ºC.
Nesta faixa de temperatura, a infecção ocorre em 6h30min após a penetração, mas são necessárias 16 horas de umidade relativa elevada para que a infecção se realize plenamente. Por isso, temperaturas noturnas amenas e presença de água na superfície das folhas, tanto na forma de orvalho como precipitações bem distribuídas ao longo da safra favorecem o desenvolvimento da doença.
O vento é a principal forma de disseminação desse patógeno, que só sobrevive e se multiplica em plantas vivas, para lavouras próximas ou a longas distâncias. Desta forma,outro fator que agrava ainda mais o seu estabelecimento no Brasil é a existência de outras plantas hospedeiras, constituídas por 95 espécies de 42 gêneros de Fabaceae.
CICLO DA FERRUGEM ASIÁTICA
De uma infecção inicial, estima-se que uma primeira geração de pústulas pode manter a esporulação por até 15 semanas, mesmo sob condições de baixa umidade. Se as condições para reinfecção são esporádicas durante a estação, pode haver potencial de inóculo suficiente para restabelecer a epidemia. A ferrugem asiática possui diversos hospedeiros alternativos e assim há uma grande quantidade de fontes de inóculo. Os esporos são disseminados pelo vento, podendo viajar grandes distâncias (Figura 1).
Figura 1 - Ciclo da ferrugem asiática. Fonte: E. M. Reis & M. A. Carmona
Por serem sensíveis à radiação ultravioleta, provavelmente estas viagens ocorrem em sistemas de tempestade aonde as nuvens protegem os esporos do sol. O sucesso da infecção é dependente da disponibilidade de molhamento na superfície da folha. Pelo menos 6 horas de água livre parece ser necessária para promover a infeccção. Chuvas abundantes e frequentes durante o desenvolvimento da doença têm sido associadas com epidemias mais severas. Após a infecção, as primeiras pústulas com uredósporos maduros surgem em 7 a 8 dias e este curto ciclo de vida da doença significa que, sob condições favoráveis, epidemias de ferrugem asiática podem progredir de baixos níveis de detecção para desfolhações dentro de um mês.
José Luis da Silva Nunes
Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia