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Perfilhos: ajudam ou prejudicam a produtividade?



No trigo, em outros cereais e nas pastagens não há dúvida de que o perfilhamento é algo benéfico. Os perfilhos podem aumentar o número de panículas produtoras de grãos e/ou preencher espaços vazios no campo ou no pasto. Porém, os produtores não têm tanta certeza quanto aos impactos dos perfilhos quando se trata da cultura do milho. A influência dos perfilhos na produtividade do milho tem sido o assunto de debates entre produtores por quase um século.

Era comum para os produtores, no início do século XX, andar nas lavouras de milho e retirar os perfilhos, assim que aparecessem. Eles temiam que os perfilhos, caso ficassem na lavoura, 'sugassem' os nutrientes da planta principal e que as espigas, produzidas pelos perfilhos, fossem pequenas e imperfeitas.

Os produtores de milho modernos não removem os perfilhos das plantas de milho, mas muitos ainda se preocupam quando ocorre perfilhamento excessivo na lavoura. Os perfilhos não são bonitos de se ver no campo, especialmente no final da safra, quando eles ficam secos e murchos. Um produtor, ao olhar para esse cenário, dificilmente irá acreditar que esses perfilhos não tenham sugado os nutrientes da planta principal. Além disso, os perfilhos podem, algumas vezes, formar espigas, mesmo que pequenas. Os perfilhos também aumentam a massa seca que passa pela colheitadeira, o que pode ser considerado um problema por alguns produtores.

O que são perfilhos?
Perfilhos são ramos laterais que se desenvolvem a partir das gemas axilares dos nós que se localizam abaixo da superfície do solo. Os perfilhos, morfologicamente idênticos ao colmo principal, são capazes de formar seu próprio sistema radicular, nós, entrenós, folhas, espigas e pendão.

As gemas axilares dos nós que ficam acima da superfície do solo formam primórdios de espigas ao invés de perfilhos. Os primórdios de espiga diferem morfologicamente dos perfilhos, uma vez que a elongação do entrenó é mais curta (entrenó do pedúnculo da espiga), as folhas são menores (palha), e o colmo (pedúnculo) termina na espiga (inflorescência feminina) ao invés do pendão (inflorescência masculina.

Ainda que as gemas dos perfilhos se formem em todos os nós abaixo da superfície do solo, o número de perfilhos que se desenvolve é determinado pela população de plantas, nível de adubação, ataque de pragas, fertilidade do solo, condições ambientais no início da safra, variações bruscas de temperatura e umidade e características genéticas do híbrido.

A maioria dos híbridos de milho irá tirar vantagem dos nutrientes e da umidade disponíveis no solo, formando um ou mais perfilhos nos locais de baixa população, nas falhas de plantio ou no início da linha (bordadura).

Geralmente, os perfilhos desenvolvem-se no início do ciclo da cultura, por volta do estádio V6 (6 folhas fora do cartucho). Híbridos com tendência ao perfilhamento podem formar um ou mais perfilhos em cada planta, mesmo em populações relativamente altas, se o ambiente for favorável neste período.

Causas do perfilhamento

Perfilhos em plantas normais

O desenvolvimento de perfilhos em uma lavoura de milho é um sinal de que as condições de crescimento são favoráveis e que existem grandes quantidades disponíveis de nutrientes, água e luz solar. Essas condições favoráveis podem existir simplesmente devido ao clima ou porque a população de plantas está baixa em relação ao potencial produtivo do híbrido. Em condições favoráveis, a planta de milho tem energia e nutrientes suficientes para investir no desenvolvimento de perfilhos.

Perfilhos como resposta a danos

Um ou mais perfilhos comumente se formam se o colmo principal for danificado ou morto por fatores que atinjam a cultura no início de seu desenvolvimento como, por exemplo, granizo, geadas, insetos, vento, pneus de trator, etc. Se o perfilhamento acontecer cedo o suficiente, os perfilhos poderão se desenvolver e produzir espigas que irão contribuir com a produtividade final.

A única vez que perfilhos realmente representam más notícias é quando indicam a presença de doenças ou ataque de insetos.

2.1 Danos por doença

Corn Stunt: O Corn Stunt, ou enfezamento do milho (pálido ou vermelho), é causado por espiroplasmas e fitoplasmas, que são transmitidos e disseminados pela cigarrinha do milho (Dalbulus maydis).

O perfilhamento excessivo é sintoma típico do enfezamento vermelho, que também provoca o avermelhamento das folhas, a proliferação de espigas pequenas e deformadas e o encurtamento dos entrenós.

Já o enfezamento pálido causa o aparecimento de estrias esbranquiçadas na base das folhas, encurtamento dos entrenós e proliferação de espigas pequenas e sem grãos.

A incidência da doença é influenciada pelo grau de susceptibilidade do híbrido, época de semeadura, temperatura e pressão do inseto vetor na fase inicial do desenvolvimento da cultura. O controle é feito por meio da utilização de híbridos resistentes, rotação de culturas, controle do inseto vetor e evitando-se a semeadura tardia ou em períodos onde o histórico de ocorrência da praga é intenso.

2.2 Danos por insetos

Percevejos: Os percevejos (Dichelops furcatus, D. melacanthus e Nezara viridula) são pragas que atacam o milho no início de seu desenvolvimento, causando perdas na produtividade. Ao se alimentarem, os adultos e ninfas introduzem seu estilete na base da plântula, causando lesões nas folhas internas. Além disso, a injeção de toxinas pelo inseto pode causar a deformação e perfilhamento das plantas. O controle é feito através do tratamento de sementes com inseticidas do grupo dos neonicotinóides ou com pulverizações logo após a emergência das plântulas ou essas duas práticas conjugadas.

Estudos sobre perfilhamento

1.Os perfilhos já são estudados há mais de 80 anos: Há mais de 80 anos, pesquisadores avaliaram os efeitos dos perfilhos no milho. Eles removeram os perfilhos da planta principal no início do desenvolvimento e compararam a produtividade das plantas que tiveram os perfilhos removidos com as que permaneceram com os perfilhos durante todo o desenvolvimento. Eles observaram que a remoção dos perfilhos não aumentou a produtividade em nenhuma situação e, na maior parte dos casos, reduziu a produtividade.

Isso demonstrou que a remoção de perfilhos era uma prática inútil e que, ao invés de aumentar a produtividade da cultura, poderia ainda reduzir as chances da lavoura alcançar produtividades maiores.

Sabia-se que os perfilhos tinham raízes. Mas, não estava claro se as maiores produtividades alcançadas com as plantas que tinham perfilhos era por que os perfilhos estavam repassando os fotoassimilados (nutrientes) para a planta principal ou devido aos grãos produzidos nas espigas dos perfilhos. Técnicos diziam que não era nenhuma das duas hipóteses, mas que, na verdade, a produtividade das plantas em que os perfilhos tinham sido removidos decrescia devido à injúria causada no momento da remoção.

Foi só em 1930 que estudos nas folhas foram conduzidos para explicar sobre a relação perfilho e planta principal. Nesses estudos, o milho foi plantado em baixas populações para assegurar que os perfilhos aparecessem. Todas as folhas foram removidas da planta principal durante o enchimento do grão. Metade das plantas principais que foram desfolhadas tinham perfilhos, as outras não. As folhas dos perfilhos foram deixadas intactas. Plantas com perfilhos produziram quase duas vezes mais grãos que as plantas sem perfilhos. Isso demonstrou a relação entre o perfilho e a planta principal: permite que os fotoassimilados, produzidos pelas folhas dos perfilhos, sejam transferidos para as espigas da planta principal.

2.Estudos recentes com o uso do carbono e radioatividade: Técnicas mais recentes permitem que se faça a medição direta desse movimento. O carbono é um componente importante de açúcares e proteínas necessários para o enchimento de grãos. O carbono do dióxido de carbono pode ser marcado com radioatividade. Quando o dióxido de carbono marcado é absorvido por uma folha, ele pode ser seguido através da planta. A detecção desse carbono marcado em outras partes da planta - como por exemplo a espiga - no final do desenvolvimento da cultura indica o movimento do carbono original da folha para a espiga.

Fisiologistas da Universidade de Wisconsin, usando essas técnicas de marcação, observaram pouco movimento de fotoassimilados entre a planta principal e os perfilhos antes do pendoamento. Contudo, imediatamente depois da formação dos estigmas e durante o enchimento de grãos, grandes quantidades de fotoassimilados moveram-se das folhas dos perfilhos para a espiga da planta principal.

Houve pouco movimento de fotoassimilados quando havia espigas nos perfilhos e na planta principal. Em outras palavras, as espigas da planta principal recebem os fotoassimilados das folhas da planta principal, enquanto as espigas dos perfilhos recebem os fotoassimilados das folhas dos perfilhos.

A única vez que fotoassimilados se movimentaram da planta principal para o perfilho foi quando havia uma espiga no perfilho e nenhuma espiga na planta principal. Esta, claro, é uma situação extremamente rara.

Esses estudos foram conduzidos em uma baixa população de plantas - cerca de metade da população que normalmente seria recomendada para solos com aquele nível de fertilidade - para estimular a formação de perfilhos grandes e saudáveis. Os perfilhos pequenos, sombreados, sem espigas, que, em geral, se desenvolvem sob a população normal nas condições de campo, provavelmente terão pouca influência na planta principal. Se houver uma pequena influência na produtividade, será provavelmente na direção positiva, proporcionando pequenos aumentos.

Sob condições de baixa população, os perfilhos podem ser grandes e numerosos, mas não vão retirar os nutrientes necessários para o enchimento dos grãos da planta principal. Na verdade, em situações de baixa população, os perfilhos podem contribuir para o aumento na produtividade de grãos através do transporte de fotoassimilados para a planta principal ou produzir grãos nas suas espigas.

Comentários

- O desenvolvimento de perfilhos é um aspecto normal da fisiologia da planta de milho.

- Se você tiver uma grande quantidade de perfilhos na lavoura, não se preocupe antes de saber qual a causa do perfilhamento. Ele pode ser um indicativo que algo deve ser ajustado como a população de plantas x híbrido x adubação ou, até mesmo, o controle de pragas iniciais.

- Populações abaixo das recomendadas e plantas mal distribuídas, sob condições ambientais extremamente favoráveis, podem explicar a ocorrência de perfilhamento.

- Exceto quando o perfilhamento é provocado por danos de insetos, injúrias mecânicas ou doenças, eles não terão nenhuma influência negativa na produtividade.

Bibliografia
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POETHIG, R. S. The Maize Shoot. In The Maize Handbook (freeling & Walbot, eds.). New York: Springer-Verlag, Inc, 1994.

THOMISON, Peter. Does Tillering Affect Hybrid Performance?. Columbus: Ohio State Univ. Disponível online em: http://ohioline.osu.edu/agf-fact/0121.html
 
Artigo publicado no portal da Pioneer Sementes, em 01.06.2005
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