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Agricultores africanos contabilizam o aumento do preço dos fertilizantes

Os preços dos fertilizantes no Zimbábue subiram quase 30%


Foto: Nadia Borges

Vendo seu milho ficar amarelo enquanto esperava fertilizante gratuito do governo, a agricultora zimbabuense Marian Kanenungo não tinha nada além de composto improvisado de um formigueiro para ajudar a salvar sua colheita com poucas esperanças disso.

Kanenungo, uma pequena agricultora em Mudzi, 230 km a noroeste da capital Harare, é um dos muitos que lutaram para comprar fertilizantes durante a temporada de plantio de 2022/23, depois que os preços dispararam após a invasão da Ucrânia pela Rússia. "Se eu comprar fertilizante, isso significa que meus netos não irão à escola. Tive que usar solo de formigueiro e composto como adubo, mas, como você sabe, isso não vai render muito", disse Kanenungo, de 50 anos.

Sanções a entidades dentro da Rússia, grande exportadora de fertilizantes, após a invasão da Ucrânia e um salto no preço do gás, fundamental na fabricação de produtos nitrogenados, elevaram globalmente os preços dos nutrientes agrícolas no ano passado.

Os preços dos fertilizantes no Zimbábue subiram quase 30% nesse período, com um saco de 50 quilos de fertilizante basal custando em média US$ 45 e um saco de fertilizante de cobertura cerca de US$ 60, disse Prince Kuipa, diretor de operações do Zimbabwe Farmers Union, à Reuters.

O sindicato, que representa a maioria dos agricultores do país, disse que os altos preços dos fertilizantes podem impactar a produção agrícola, apesar das chuvas favoráveis na região de cultivo de milho. "O número de sacos (de fertilizantes) que os agricultores podem comprar foi seriamente afetado", disse Kuipa.

O governo do Zimbábue tem um esquema de apoio de insumos de longa duração para ajudar com custos como fertilizantes. Ele aumentou o número de pequenos agricultores cobertos pelo esquema em 25%, para 2,89 milhões durante a temporada 2022/23, na esperança de ajudar mais famílias a lidar com a crescente inflação de alimentos.

Mas com os preços globais altos, tem lutado para fornecer fertilizantes aos agricultores, deixando muitos pequenos agricultores enfrentando uma colheita ruim.

Isso inclui Emilia David, uma mãe de três filhos de 27 anos. "Para salvar minhas colheitas, tive que aplicar folhas de árvores em decomposição. Sei que isso é antiquado, mas não há nada que eu possa fazer. Meus filhos precisam comer", disse ela.

INSEGURANÇA ALIMENTAR

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura nomeou Zimbábue, Malawi e Angola como países da região da África Austral que enfrentam insegurança alimentar devido ao uso reduzido de fertilizantes.

No Malawi, a produção de milho deverá cair 4% este ano, depois que o Programa de Insumos Acessíveis (AIP) do governo lutou para acompanhar os aumentos de preços, disse o ministro da Agricultura, Sam Kawale.

Os preços dos fertilizantes no Malawi mais do que duplicaram no ano passado, com uma saca de 50 kg sendo vendida a 75.000 kwacha (US$ 72,71), pressionando o orçamento de 109 bilhões de kwacha do governo para o programa de apoio a insumos. "O custo do programa (AIP) quase triplicou", disse Kawale ao receber uma remessa de 20.000 toneladas de fertilizante doado pela Uralchem-Uralkali da Rússia em 6 de março.

O Malawi foi um dos primeiros países africanos a receber o adubo doado através do Programa Alimentar Mundial, parte das 260 mil toneladas de adubo da empresa russa estagnadas em vários portos europeus. Mas para Zione Maulidi, um pequeno agricultor do Malawi de 45 anos que recebeu parte do fertilizante russo doado, a ajuda chegou tarde demais. "Este fertilizante que recebemos não vai nos ajudar", disse Maulidi, examinando sua colheita raquítica. "O período de aplicação acabou e a safra de milho falhou."

Fonte: Reuters com tradução Agrolink*

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