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Fertilidade para cultura do girassol

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Foto: Divulgação

Solo

Assim como para qualquer outra cultura agrícola comercial, o solo para o girassol não deve apresentar restrições ao desenvolvimento radicular, sejam elas físicas, químicas ou biológicas.

O girassol é uma espécie sensível à acidez do solo, geralmente apresentando sintomas de toxidez de Al em pH em CaCl2 0,1 M menor que 5,2, valor comum encontrado nos solos do Cerrado brasileiro. Tolerância à acidez do solo torna-se, portanto, uma característica importante no melhoramento genético dessa espécie para os Cerrados.

Em geral, os efeitos tóxicos do Al se manifestam inicialmente nas raízes (redução do crescimento, danos) e, com o agravamento do processo, no desenvolvimento de toda a planta. Como consequência, as plantas apresentam redução de produtividade causada, entre outros fatores, pelo desequilíbrio nutricional e pelo estresse hídrico.

O girassol pode ter boa produtividade tanto em solos arenosos quanto em argilosos, desde que os argilosos apresentem boa drenagem e os arenosos tenham controle de acidez, já que são naturalmente menos férteis. A textura do solo deve ser considerada para se determinar a profundidade de semeadura, pois um bom estabelecimento da cultura é imprescindível para a produção de sementes. Em solos argilosos, a semeadura não deve ser muito profunda, ou então poderá haver atraso e desuniformidade de emergência. A má drenagem desse tipo de solo leva a um crescimento superficial das raízes, dificultando a sustentação mecânica da planta.

Profundidades de semeadura maiores que 5 cm, temperaturas abaixo de 10°C ou ausência de água na camada de 10 a 15 cm de solo podem prolongar o período de emergência em até 15 dias. Os problemas relacionados com a germinação e emergência perduram até a colheita. A profundidade de semeadura para a cultura do girassol oscila de 2 a 8 cm, dependendo do sistema de cultivo e do tipo de solo.

Com relação ao relevo, declividades maiores que 8% comprometem a conservação do solo contra erosão e a mecanização, sendo, então, terrenos mais suaves ideais para implantação e condução da cultura do girassol. O sucesso da cultura também depende da ausência de pragas, agentes fitopatogênicos e nematóides no solo. Nematóides causadores de galhas (gênero Meloidogyne) foram constatados como os principais parasitas do girassol e fatores limitantes à produção em diversos estados brasileiros.

Assim, têm-se que os solos mais indicados para a produção de girassol são os de textura média, profundos, com boa drenagem, razoável fertilidade e pH de moderadamente ácido a neutro; superior a 5,2 (determinação em CaCl2), com menos de 8% de declividade e livres de agentes patogênicos.

Nutrição Mineral

No Brasil, ainda há uma grande carência de informações acerca da nutrição mineral, calagem e

adubação da cultura do girassol, nas diferentes regiões em que essa espécie tem sido cultivada. O conhecimento dos níveis críticos de nutrientes no solo, aliado a informações de sua taxa de acúmulo, extração e exportação na planta, permite que o manejo da adubação seja feito de maneira mais precisa, assim, pesquisas nessa área ainda devem ser feitas.

Os elementos essenciais para a produção do girassol são: C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn. Os três primeiros elementos são fornecidos pela água e ar, representando cerca de 95% da massa da matéria seca das plantas, incluindo-se os aquênios. Dentre os macronutrientes, os primários são os mais absorvidos e os problemas de deficiência nutricional freqüentemente estão relacionados a eles ou ao boro.

O nitrogênio (N) é o elemento mais limitante à produção sendo também o mais absorvido e exportado pelos grãos. Deve estar disponível, em forma assimilável à planta entre as fases 3 a 5 (quatro pares de folhas até a floração, entre 30 e 80 dias após a emergência). Durante esse período, cerca de 80% do nitrogênio é absorvido, e a absorção de grande quantidade de nitrogênio em relação a fósforo (alta relação N/P), promove formação de plantas excessivamente folhosas, prejudicando a produção e baixando o teor de óleo, razões pelas quais, a relação N/P deve estar sempre próxima de 1.

O fósforo (P) é igualmente importante, pois nas primeiras fases do desenvolvimento da planta influi diretamente sobre o crescimento das raízes, e posteriormente, sobre a granação,  proporcionando um efeito "enchimento de grãos". A absorção de grande quantidade de fósforo em detrimento de nitrogênio (alta relação P/N) ocasiona plantas com baixa produção e com aquênios com alto teor de óleo. Por volta de 60 a 70% do fósforo é absorvido nas fases 3, 4 e 5, ou seja, 4 pares de folhas até a floração.

O potássio (K) é o segundo elemento mais absorvido pela planta (atrás apenas do nitrogênio), atuando para aumentar a resistência da planta à seca, às doenças, e ao acamamento, uma vez que confere maior rigidez à haste do girassol. Também atua na regulação da pressão osmótica e na translocação dos fotossintetizados na planta.

O Cálcio (Ca) está relacionado ao metabolismo dos nitratos, a manutenção da integridade da membrana plasmática e ao crescimento radicular. Assim, a sua presença no solo é de grande importância a fim de se garantir que as raízes do girassol se desenvolvam e explorem grande volume de solo. O Magnésio (Mg) está ligado a constituição da clorofila e à ativação de enzimas relacionadas com o metabolismo energético. O enxofre (S) é constituinte dos aminoácidos essenciais cistina, cisteína e metionina, apresentando assim, ligação direta com a qualidade da proteína produzida.

Na produção de girassol para forragem, esse aspecto se mostra bastante relevante, pois melhora a qualidade nutricional da forragem dada aos animais.

Em relação aos micronutrientes, o boro (B) tem sido o elemento mais pesquisado e apontado

como principal problema da fertilidade do solo em função da alta sensibilidade das plantas de girassol à sua deficiência no solo. O girassol é uma planta muito responsiva à aplicação de boro e, frequentemente, produz menos que 800 kg de sementes por hectare, podendo atingir de 2000 a 3000 kg.ha-1 de sementes com a adição desse nutriente. Essa espécie é bastante sensível à deficiência do elemento, pois os níveis e quantidades ótimas são relativamente mais altos do que para outras espécies. Consideram-se como os valores críticos de boro para o girassol os teores de 0,4 mg.dm-3 no solo e 40 mg.kg-1 nas folhas.

A deficiência de boro pode estar associada à:

- acidez do solo;

- calagem excessiva;

- baixos teores de matéria orgânica;

- períodos de seca.

Os sintomas mais comuns da deficiência aparecem principalmente nas fases de florescimento e de enchimento de aquênios, e os órgãos com maiores sintomas são as folhas novas próximas ao capítulo e os próprios capítulos, que podem sofrer diversas deformações e inclusive abortamento de flores.

As folhas jovens têm crescimento reduzido e ficam deformadas e com cor verde pálido, evoluindo para bronzeado, tornando-se espessas e quebradiças. Os capítulos tornam-se pequenos, deformados e com grãos chochos na região central. No caule, principalmente em condições de seca, notam-se pequenas fissuras transversais, logo abaixo da inserção do capítulo. Em condições de deficiência acentuada e seca, o caule pode quebrar-se próximo à inserção do capítulo, o qual fica pendurado ou cai no solo.

Calagem

Um aspecto que merece atenção é o fato de o girassol ter sido melhorado geneticamente em solos do hemisfério norte, que têm pH elevado e altos teores de água e matéria orgânica. Tal base genética foi difundida por todo o mundo, inclusive no Brasil, onde predominam solos intemperizados, com baixo pH, altos teores de Al tóxico, alta fixação de P, boa drenagem e lixiviação de nutrientes, baixos teores de matéria orgânica em função da decomposição microbiana mais acelerada (altas temperaturas). Desse modo, a prática da calagem faz-se necessária a fim de se aumentar a disponibilidade de Ca, P, Fe. No entanto, deve-se tomar cuidado, pois se feita em excesso, pode diminuir muito a disponibilidade de Mo, Zn, Mn e B.

O girassol não se desenvolve bem em solos ácidos, com teores de pH abaixo de 5,2 (CaCl2) pelos motivos anteriormente descritos. A presença de Al tóxico em altas quantidades constitui um fator de impedimento químico ao desenvolvimento radicular que inviabiliza o uso dessa cultura como recicladora de nutrientes, uma vez que o volume de solo explorado diminui consideravelmente.

A quantidade de calcário a ser aplicada depende da análise de solo e do valor PRNT do mesmo. Há uma série de fórmulas que indicam a necessidade de calagem, dependendo do estado em que a propriedade agrícola se encontra. É recomendado a elevação do pH a 70% e o teor de Mg a um mínimo de 5mmolc.dm-3. A partir disso, define-se a escolha por calcários com maiores ou menores teores de Mg.

Em solos de cerrado recomenda-se não aplicar mais do que 2 t.ha-1 de calcário a fim de se evitar desbalanceamento entre cátions básicos e micronutrientes, tais como Zn, Mn, Cu e B. Outra consideração que também deve ser feita é que se deve aplicar o calcário cerca de 3 meses antes do plantio a fim de se garantir que haja tempo para sua reação no solo. Dosagens superiores a 3 t.ha-1 devem ser parceladas, metade antes da aração e a outra metade antes da gradeação.

 

 

José Luis da Silva Nunes

Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia

 

Fonte

PAIAO, M.S. A cultura do girassol. In.: PRIMIANO, I.V. (Editor). Piracicaba: Editora da USP. 2012. 69 p.

 

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