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Características do cafeeiro

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Foto: Divulgação

 

A adoção, pelos cafeicultores, de cultivares de Coffea arabica L. com alto potencial genético de produção, aliada à melhor qualidade de bebida, foi um dos fatores que mais contribuíram para o aumento da produtividade e da rentabilidade da cultura, bem como a expansão de novas fronteiras da cultura.

As características anatômicas podem ser mais exploradas nas avaliações de novas cultivares, pois as interferências externas, de acordo com o ambiente em que as plantas estão inseridas, podem promover modificações na anatomia, bem como plantas com estrutura interna favorável para algumas situações de campo poderão ser selecionadas já no início do melhoramento genético.

O conhecimento prévio das características morfológicas, fisiológicas e produtivas dos materiais genéticos disponíveis é imprescindível para a escolha da espécie e das variedades de café a serem utilizadas. Essa decisão deve ser evidentemente subsidiada pelas indicações das instituições de pesquisas, as quais são embasadas em análises estatísticas e biométricas de criteriosas avaliações de campo.

MORFOLOGIA 

A parte aérea da planta de café se desenvolve em uma única haste ortotrópica, a partir da retomada do desenvolvimento do eixo embrionário, durante a germinação, até que a muda atinja de oito a dez pares de folhas. As gemas localizadas nas axilas foliares, geralmente em número de cinco a seis, são denominadas de seriadas e a primeira gema do conjunto é chamada cabeça de série. A presença de gemas seriadas é que confere ao cafeeiro a capacidade de formação de novas brotações ortotrópicas.

As gemas seriadas localizadas nos internódios dos ramos plagiotrópicos (axilas das folhas) originarão ramos e frutos, enquanto as gemas cabeça de série originarão apenas ramos plagiotrópicos secundários ou de maior ordem, o que influenciará diretamente o potencial produtivo da planta. Portanto, maior número de ramos plagiotrópicos, associado ao maior diâmetro de copa, contribuirá para maior produção dessas plantas. Existe somente uma gema cabeça-de-série na axila de cada folha presente no nó ao longo da haste principal e, a partir de cada nó, existe apenas um par de ramos plagiotrópicos.

Os ramos plagiotrópicos de primeira ordem, ou ramificações primárias, se desenvolvem na axila das folhas, presentes a partir do oitavo ou do décimo nó do ramo principal. As ramificações primárias, assim como as de ordem superior, possuem gemas cabeça-de-série com capacidade de se diferenciar em ramificações secundárias e gemas seriadas que dão origem a folhas, ramos secundários ou botões florais, a depender do estímulo ambiental. O fruto do cafeeiro é uma drupa elipsoide contendo dois locus e duas sementes. Após a fecundação, inicia-se a formação dos frutos (fase chumbinho) e eles se expandem rapidamente, até atingir o tamanho máximo por volta de dezembro. Após esta fase inicia-se a granação dos frutos, que compreende os meses de janeiro a março. A partir dessa fase, entre abril e junho, inicia-se a maturação dos frutos, evoluindo até a fase de cereja, com os frutos amarelos ou vermelhos.

As folhas, em plantas adultas, normalmente, estão presentes somente nos ramos plagiotrópicos, no mesmo plano e em posições opostas. A lâmina foliar de 12 a 24 cm é delgada e ondulada de forma elíptica, apresentando pequenas variações entre as variedades. A cor das folhas jovens é um importante descritor para as cultivares do grupo Mundo Novo. A lâmina foliar possui uma ou mais camadas de células externas que constituem a epiderme, especializada na absorção de luz. A epiderme é revestida por uma camada de cutícula (formada por cutina, ceras e pectinas ) que reduz a perda espontânea de água e protege contra danos mecânicos. Apresenta grande diversidade anatômica e morfólogica e, por estar em contato direto com o ambiente, está sujeita a modificações estruturais, em decorrência de vários fatores ambientais, entre eles a luz. Contém diferentes tipos de células, tais como a dos estômatos, do parênquima paliçádico e lacunoso. A transpiração estomática é responsável por mais de 90% da água transpirada. A densidade estomática é definida como o número de estômatos por unidade de área de uma face foliar, sendo fortemente modificada por fatores ambientais.

As alterações nas relações hídricas no cafeeiro são de extrema importância, pois, mesmo pequenas modificações nas condições hídricas podem reduzir intensamente o crescimento, ainda que esses sinais não possam ser visíveis morfologicamente, como murcha de folhas ou qualquer outro sinal de estresse hídrico. Portanto, características da estrutura interna das folhas podem ser importantes para identificação quanto ao nível de tolerância ao déficit hídrico. Fatores ambientais influenciam diretamente a anatomia foliar, sendo a condição hídrica um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento foliar e a anatomia foliar se destaca nas relações com a produção vegetal. A anatomia foliar do cafeeiro demonstra plasticidade para fatores como as condições de radiação, alterando as espessuras do parênquima paliçádico e esponjoso, dimensões estomáticas, entre outras.

PRINCIPAIS ESPÉCIES DE CAFÉ

Coffea arabica

É a espécie mais importante e responde por cerca de 70% do café comercializado mundialmente. É nativa das terras altas da Etiópia, antiga Abissínia, e atualmente é cultivada no continente americano, na África e na Ásia. Apresenta bebida de qualidade superior, de aroma marcante e sabor adocidado, sendo largamente difundida no mundo, consumida pura ou em misturas com outras espécies de cafés. Dentre as espécies do gênero Coffea, C. arabica é a única tetraploide, possuindo quatro conjuntos do número básico de cromossomos do gênero (n=11), totalizando 44 cromossomos.

Quanto ao modo de reprodução, C. arabica é autógama, o que significa que a sua reprodução ocorre, principalmente por meio de autofecundação, chegando a ter 90% das suas flores fertilizadas pela junção de pólen e óvulo oriundos da mesma planta. As plantas de café arábica são arbustos monocaules, com até 4,0 m de altura. As folhas são ovaladas ou sublanceoladas, os bordos são ondulados, e geralmente medem cerca de 10 cm a 15 cm de comprimento por 4 cm a 6 cm de largura. A coloração predominante é verde escuro, sendo que a epiderme superior apresenta aspecto brilhante. Nos vértices formados entre as nervuras secundárias e a principal, geralmente ocorrem minúsculas cavidades denominadas domácias.

As flores são hermafroditas e agrupadas em conjuntos de 8 a 15, formando inflorescências denominadas glomérulos. A base de cada flor é composta por um pedicelo de 1mm a 3 mm de comprimento e um cálice curto. As pétalas, geralmente em número de cinco, são soldadas formando a corola que mede cerca de 8 mm a 10 mm longitudinais. A partir de cada pétala surge um filete curto, em cuja a extremidade fixam-se anteras lineares de 6 mm a 8 mm. O pistilo é constituído de um tubo longo (12 mm a 15 mm) que se projeta, a partir do ovário até acima da corola, culminando com um estigma bífido. O fruto é uma drupa ovóide bilocular, que quando madura pode apresentar coloração vermelha ou amarela. Por causa da pouca importância do endocarpo, é frequentemente considerado como baga.

As sementes, geralmente em número de duas, são envolvidas pelo endocarpo, que é chamado de pergaminho e recobertas por um perisperma delgado, conhecido como película prateada. O grão é comercialmente conhecido como fava e compõe-se principalmente do endosperma, que apresenta coloração verde azulado. O endosperma é rico em polissacarídeos (50% a 55% da matéria seca do grão), lipídeos (12% - 18%) e proteínas (11% - 13%). Estas características estão estreitamente relacionadas com o desenvolvimento de sabores e aromas e podem variar em função da localização da lavoura, controle fitossanitário, processamento agrícola e ocorrência de defeitos.

CAFÉ ROBUSTA

Café robusta é uma denominação generalizada que agrupa as variedades da espécie Coffea canephora. É nativo das florestas baixas da África Equatorial, na bacia do rio Congo, e atualmente cultivada em alguns países da África Central e Ocidental, no sudeste da Ásia e na América do Sul. Sua utilização é mais comum no preparo de “ligas” ou misturas (blends), nas quais é misturado ao café arábica, podendo compor até 30% do produto final. Por possuir maior teor de sólidos solúveis que o café arábica e apresentar maior rendimento após o processo de torrefação, o café robusta é componente essencial dos cafés solúveis.

Normalmente, as plantas de C. canephora são diplóides, portanto apresentam duas cópias do número básico de cromossomos (n=11), perfazendo um total de 22 cromossomos por núcleo celular. Apresentam reprodução alógama e auto incompatibilidade do tipo gametofítica, o que determina a fecundação cruzada, como único meio de reprodução sexuada da espécie. As plantas da espécie C. canephora são arbustos multicaules, apresentam desenvolvimento inicial mais lento do que o C. arabica, entretanto quando atingem a maturidade possuem copas mais desenvolvidas e porte mais elevado, apresentando no aspecto geral a seguinte descrição morfológica:

- A raiz geralmente é bem mais vigorosa do que a do café Arábica, sendo bastante volumosa e eficiente na absorção de nutrientes e água do solo, o que torna a planta mais tolerante a deficiências nutricionais e hídricas;

- As folhas são maiores do que as variedades da espécie arábica, apresentando cor verde menos intensa, nervuras salientes, forma elíptica lanceolada e bordas onduladas;

- As flores são brancas, apresentando maior tamanho e um grande número por inflorescência e por axila foliar, contendo de 5 a 8 lobos na corola, com igual número de estames, também aderidos à sua base. O estilete é longo e o estigma é bífido, sendo o pedicelo floral incluído no caulículo, cujos lobos se prolongam em apêndices foliares;

- Os frutos podem apresentar tamanho variando de pequeno a grande, com formato arredondado ou comprido e de cor geralmente, vermelho claro a intenso, sendo a cor amarela muito rara. O exocarpo é fino com ou sem protuberância, o mesocarpo pouco aquoso, tendo pouca mucilagem e o endocarpo bastante delgado. As sementes do café Robusta geralmente são de tamanho inferior, pesam mais e têm menos casca do que as sementes de café Arábica;

- As sementes de C. canephora permanecem viáveis por menos tempo que as sementes de Arábica, sendo portanto mais recalcitrantes. Quando um dois ou três óvulos se desenvolvem no fruto, os grãos têm, respectivamente, formato ovóide, plano-convexo e triangular e são denominados de: moca, chato e triangular;

- Os grãos do tipo chato são os mais comuns, todavia a percentagem de grãos do tipo moca observados em C. canephora é menor do que em C. arabica. Os grãos de C. canephora têm elevado teor de cafeína, são menos aromáticos e quando torrados produzem bebida diferenciada.

A variabilidade da espécie Robusta quanto à época de maturação possibilita o escalonamento da colheita e o aumento da uniformidade dos grãos, quando a lavoura é composta de talhões por mudas clonais.

CONILON

Esta variedade é originária do Gabão (África) e foi introduzida no Sudeste brasileiro, nas primeiras décadas do século XX, onde ficou conhecida como “Conilon”. Essa designação originou-se a partir do francês Kouillou ou Qouillou. No meio rural, é comumente chamada de “Canelão”, pelos produtores. Apresenta grande variabilidade genética em produtividade, maturação, porte, características de frutos, de grãos e com relação à tolerância a pragas e doenças. As plantas apresentam diferentes níveis de tolerância à ferrugem e à broca-do-café, sendo de modo geral, bastante suscetíveis. Maior tolerância desta variedade, tem sido observada em relação ao bicho-mineiro.

O sistema radicular é volumoso, com maior competição com as ervas-daninhas. Há intensa emissão de ramos ortotrópicos, o que dificulta a condução das plantas. Os internódios são longos, os ramos são mais compridos e pouco ramificados, provocando perda rápida da saia. As folhas são pequenas, sublanceoladas e com bordos ondulados. O fruto pode ser chato ou piriforme (fruto pera), comumente contendo protuberância apical chamada de “coroa”.

As sementes são pequenas e sua coloração pode variar de amarelo-palha a marrom. Apresenta maior produção de grãos do tipo moca, em comparação com outras variedades de C. canephora. Quanto ao ciclo de maturação, as plantas podem ser precoces, intermediárias e tardias.

As plantas mais precoces são colhidas em meados de março e as mais tardias até julho. Nos ensaios realizados com progênies da variedade Conilon em Rondônia, têm-se observado plantas produtivas, vigorosas, de porte alto, intenso crescimento lateral, elevado rendimento médio (café coco/café beneficiado) e alta percentagem de ocorrência de frutos do tipo moca. As sementes apresentam tamanhos variáveis, sendo geralmente pequenas e leves.

EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS

O cafeeiro é uma planta tropical de altitude adaptado ao clima úmido com temperaturas amenas e, normalmente, é afetado nas suas fases fenológicas pelas condições meteorológicas, especificamente pela distribuição pluviométrica, temperatura do ar e variação foto-periódica, interferindo, desse modo, na fenologia, na produtividade e qualidade da bebida Regiões nas quais a temperatura média situa-se entre 18 e 22ºC e com índice pluviométrico anual entre 1.200 mm e 1.800 mm com distribuição regular de chuvas, são consideradas favoráveis ao cultivo do cafeeiro arábica.

Quanto à deficiência hídrica anual, o cafeeiro suporta bem o limite máximo de 150 mm, principalmente se esta coincide com o período de dormência da planta, porém, não se estendendo até a fase de floração e início da frutificação. As melhores condições para o cultivo do café são temperatura média anual de 19 a 21ºC e precipitação de 1.400 a 1.500 mm anuais, bem distribuída no período de primavera, verão e outono. No inverno, o ideal é que sofra pequeno déficit hídrico, principalmente em agosto/setembro, com temperaturas na faixa de 16 a 18ºC.

Em decorrência da variação sazonal, não é possível estabelecer um nível ótimo de precipitação anual para o cafeeiro. Isso ocorre porque o atendimento às exigências hídricas do cafeeiro depende de alguns fatores, como a distribuição anual das chuvas, as condições de energia térmica durante as estações do ano e, consequentemente, o ritmo anual da evapotranspiração potencial.

 

José Luis da Silva Nunes

Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia

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