A preparação do solo para o plantio de batata tem sido objeto de intensas pesquisas com o objetivo de determinar o que deve ser feito em termos de práticas fitotécnicas, para que a área apresente as melhores condições de desenvolvimento dos tubérculos. É interessante que antes do preparo da área sejam coletadas amostras de solo para análise, uma vez que os resultados analíticos servirão para orientar a calagem e a adubação necessárias. O número, o local e a profundidade de retirada das amostras devem obedecer às recomendações técnicas do laboratório responsável pela análise.
As operações necessárias para que o solo seja adequadamente preparado devem também estar de acordo com o sistema de produção, ou seja, se o plantio será mecanizado ou manual; orgânico, convencional ou plantio direto. No Brasil, o plantio direto para cultivo de batata não é praticado em escala comercial.
Depois da escolha do local para estabelecimento da cultura, iniciam-se as operações de aração. Para esta prática, é importante considerar que as raízes da planta de batata podem atingir um metro de profundidade e os tubérculos são formados em até 50 cm de profundidade.
Geralmente, as operações de aração são em número de duas. A primeira aração deve ser mais profunda, em torno de 40 cm, cuidando-se para que seja antecedida de pelo menos dois meses seguida de uma gradagem. Já foi constatado que o movimento das máquinas em cima da área de plantio pode provocar compactação do solo. Caso seja verificada a ocorrência de compactação, uma operação de subsolagem é recomendada.
Por ocasião do plantio, é realizada a segunda aração, seguida de uma ou duas gradagens, de maneira a deixar o solo destorroado e pronto para os procedimentos de abertura dos sulcos de plantio. A calagem é uma prática em que, além da quantidade do corretivo a ser aplicado no solo, deve ser observado o tipo de calcário, a época ou momento da aplicação e a maneira de incorporação deste.
As plantas de batata têm boa tolerância à acidez do solo; a faixa ideal de pH para o cultivo é de 5,5 a 6. Solos com pH alcalino, ou seja, com valores acima de 6 deixam as plantas suscetíveis ao desenvolvimento de doenças causadas por patógenos do solo principalmente Streptomyces spp. (sarna comum) e Ralstonia solanacearum (murcha bacteriana). O momento de proceder às operações de distribuição do calcário é importante. Para isso, como mencionado anteriormente, retirada de amostras do solo da área deve ser efetuada com bastante antecedência para que os resultados analíticos possam orientar em tempo hábil a quantidade e a qualidade do calcário a ser aplicado.
Recomenda-se dividir o total de calcário a ser incorporado ao solo em duas aplicações: na primeira aplica-se a metade da quantidade do calcário calculada para a área antes da primeira aração; o restante é utilizado em uma segunda aplicação antes da primeira gradagem. Esses procedimentos favorecem uma boa incorporação do corretivo ao solo com tempo suficiente para que se faça a correção desejada.
O calcário de uso agrícola, ao mesmo tempo que faz essa correção, também fornece cálcio e magnésio indispensáveis para a nutrição da planta de batata. Existem vários tipos de calcário no mercado, que podem ser resumidos em calcário calcítico e calcário dolomítico.
O calcário calcítico possui maior concentração de óxido de cálcio (CaO) e baixo teor de óxido de magnésio (MgO) (<5%), portanto deve ser usado para a correção de solos com alta deficiência de cálcio. O calcário dolomítico apresenta variação nos teores de cálcio e magnésio e deve ser usado em solos com deficiência em cálcio e moderada deficiência em magnésio, com deficiência em cálcio e magnésio ou com alta deficiência em magnésio. A decisão de qual deve ter sido distribuído manualmente ou mecanicamente ao longo do sulco e incorporado. Em áreas planas, em que se faz uso de tecnologias mais avançadas, podem ser empregadas plantadoras-adubadoras de duas ou mais linhas. Esses implementos agrícolas abrem o sulco, depositam a batata-semente e distribuem o adubo em filete contínuo situado a alguns centímetros ao lado e abaixo do material propagativo.
Após todos os procedimentos de preparo do solo, inicia-se o plantio, em que os conceitos de semeadura, preparo de mudas e transplantio utilizados para as demais espécies vegetais não se aplicam. O plantio da batata é então realizado com uso do próprio tubérculo, denominado batata-semente ou tubérculo-semente.
A qualidade da batata-semente é considerada fator fundamentalpara garantir alta produtividade, tubérculos de boa qualidade e boa safra. Apesar de avanços na produção nacional de batata-semente básica, o Brasil ainda depende de cerca de três a quatro mil toneladas de batata-semente importada, cujo material se origina principalmente de países da Europa Ocidental e América do Norte. A batata-semente básica, que não é importada, é produzida no Brasil, porém, na maior parte, através do sistema de cultura de tecidos e também, mais recentemente, pela tecnologia do broto destacado de batata-semente.
A qualidade da batata-semente é medida pelo índice de degenerescência, que é o grau de perda de capacidade produtiva do material quando utilizada em gerações sucessivas. A degenerescência de lotes de batata-semente está basicamente associada ao acúmulo de viroses perpetuadas via tubérculo/batata-semente, embora outros fatores bióticos e abióticos possam também estar associados. As viroses de maior importância econômica, causadoras de degenerescência da batata-semente, são: Potato leafroll virus (PLRV) e Potato virus Y (PVY), ambas transmitidas por insetos vetores, destacando-se os afídeos-pulgões. Essa interação vírus-vetor, associada às condições climáticas favoráveis que o Brasil apresenta para a presença constante tanto de plantas hospedeiras dos vírus quanto dos insetos vetores, leva à condição caracterizada como “rápida degenerescência” da batata-semente.
Assim, há necessidade de renovação do estoque básico (livre de vírus e outros patógenos) a cada dois ou três plantios sucessivos de um lote de batata-semente de alta sanidade inicial, o que justifica a importação de sementes em associação com as tecnologias de cultura de tecidos e do broto destacado de batata-semente.
Época de plantio
A principal safra da cultura da batata nas principais áreas das regiões Sul e Sudeste do Brasil é a “das águas”, que é plantada do final de julho ao final de setembro e colhida a partir do meio de novembro até o final de janeiro, onde a maioria produz sem o uso frequente de irrigação devido à alta pluviosidade do período nas regiões.
A safra de “verão” é feita nas regiões dos Campos de Cima da Serra dos estados do Sul e Minas Gerais e nas regiões da Chapada da Diamantina, Alto Parnaíba e Planalto Central do entorno de Brasília. Os plantios podem ser feitos nos meses de outubro a janeiro.
O cultivo "da seca", que começa no final de janeiro até final de março e colheita prevista para final de maio a final de julho, deve ser realizado com irrigação suplementar e compensatório nos curtos períodos de estiagem, atentando sempre para evitar as geadas precoces em maio nas regiões onde ocorre inverno rigoroso.
O plantio "de inverno", realizado de abril a julho e colhido entre julho-outubro, é também praticado nessas mesmas regiões, em locais onde não ocorrem geadas, mas depende de irrigações durante o ciclo.
Já o cultivo "da seca", que começa em janeiro-março, deve ser realizado o mais cedo possível para evitar as geadas em regiões onde ocorre inverno rigoroso.
Regiões que apresentem microclimas específicos consideradas não tradicionais para o cultivo da batata, como o Planalto Central e áreas altas na região Nordeste, comumente apresentam condições razoáveis de plantio durante o ano, quando não ocorrer excesso de chuva, que dificulta o controle de doenças e prejudica a aparência dos tubérculos. Nestes locais, maiores produtividades e melhor qualidade do produto são obtidas durante o inverno seco, sob irrigação.
José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia
Fonte
EMBRAPA. Cultura da batata. Sistemas de produção. Versão Eletrônica 2ª edição | Nov/2015. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/132923/1/Sistema-de-Producao-da-Batata.pdf.