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Plantio da cultura da batata

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Foto: Pixabay

A preparação do solo para o plantio de batata tem sido objeto de intensas pesquisas com o objetivo de determinar o que deve ser feito em  termos  de  práticas  fitotécnicas,  para  que  a  área  apresente  as  melhores condições de desenvolvimento dos tubérculos. É  interessante  que  antes  do  preparo  da  área  sejam  coletadas  amostras  de  solo  para  análise,  uma  vez  que  os  resultados  analíticos servirão para orientar a calagem e a adubação necessárias. O número, o  local  e  a  profundidade  de  retirada  das  amostras  devem  obedecer  às recomendações técnicas do laboratório responsável pela análise.

As operações necessárias para que o solo seja adequadamente  preparado devem também estar de acordo com o sistema de produção,  ou  seja,  se  o  plantio  será  mecanizado  ou  manual;  orgânico, convencional ou plantio direto. No Brasil, o plantio direto para cultivo  de batata não é praticado em escala comercial.

Depois  da  escolha  do  local  para  estabelecimento  da  cultura, iniciam-se  as  operações  de  aração.  Para  esta  prática,  é  importante  considerar que as raízes da planta de batata podem atingir um metro de profundidade  e  os  tubérculos  são  formados  em  até  50  cm  de profundidade.

Geralmente, as operações de aração são em número de duas. A primeira aração deve ser mais profunda, em torno de 40 cm, cuidando-se para que seja antecedida de pelo menos dois meses seguida de uma  gradagem. Já foi constatado que o movimento das máquinas em cima da  área  de  plantio  pode  provocar  compactação  do  solo.  Caso  seja  verificada a ocorrência de compactação, uma operação de subsolagem  é recomendada. 

Por ocasião do plantio, é realizada a segunda aração, seguida de uma ou duas gradagens, de maneira a deixar o solo destorroado e pronto para os procedimentos de abertura dos sulcos de plantio. A  calagem  é  uma  prática  em  que,  além  da  quantidade  do  corretivo a ser aplicado no solo, deve ser observado o tipo de calcário,  a época ou momento da aplicação e a maneira de incorporação deste.

As plantas de batata têm boa tolerância à acidez do solo; a faixa ideal de pH para o cultivo é de 5,5 a 6. Solos com pH alcalino, ou seja, com  valores acima de 6 deixam as plantas suscetíveis ao desenvolvimento  de  doenças  causadas  por  patógenos  do  solo  principalmente Streptomyces spp. (sarna comum) e Ralstonia solanacearum  (murcha  bacteriana). O momento de  proceder às operações de  distribuição do  calcário  é  importante.  Para  isso,  como  mencionado  anteriormente,  retirada de  amostras  do  solo  da  área  deve  ser  efetuada  com  bastante  antecedência  para  que  os  resultados  analíticos  possam  orientar  em  tempo hábil a quantidade e a qualidade do calcário a ser aplicado.

Recomenda-se dividir o total de calcário a ser incorporado ao  solo em duas aplicações: na primeira aplica-se a metade da quantidade  do calcário calculada para a área antes da primeira aração; o restante é  utilizado em uma segunda aplicação antes da primeira gradagem. Esses  procedimentos favorecem uma boa  incorporação do corretivo ao solo  com tempo suficiente para que se faça a correção desejada.

O  calcário  de  uso  agrícola,  ao  mesmo  tempo  que  faz  essa  correção,  também  fornece  cálcio  e  magnésio  indispensáveis  para  a  nutrição  da  planta  de  batata.  Existem  vários  tipos  de  calcário  no  mercado,  que  podem  ser  resumidos  em  calcário  calcítico  e  calcário  dolomítico. 

O  calcário  calcítico  possui  maior  concentração  de  óxido  de  cálcio (CaO) e baixo teor de óxido de magnésio (MgO) (<5%), portanto deve ser usado para a correção de solos com alta deficiência de cálcio. O calcário dolomítico apresenta variação nos teores de cálcio e  magnésio  e  deve  ser  usado  em  solos  com  deficiência  em  cálcio  e  moderada  deficiência  em  magnésio,  com  deficiência  em  cálcio  e  magnésio  ou  com  alta  deficiência  em magnésio. A  decisão  de  qual deve ter sido distribuído manualmente ou mecanicamente ao longo do sulco e incorporado. Em áreas planas, em que se faz uso de tecnologias  mais  avançadas,  podem  ser  empregadas  plantadoras-adubadoras  de  duas ou mais linhas. Esses implementos agrícolas abrem o sulco, depositam a batata-semente e distribuem o adubo em filete contínuo situado a alguns centímetros ao lado e abaixo do material propagativo. 

Após todos os procedimentos de preparo do solo, inicia-se o plantio, em que os conceitos de semeadura, preparo de mudas e transplantio utilizados para as demais espécies vegetais não se aplicam. O plantio da batata é então realizado com uso do próprio tubérculo, denominado batata-semente ou tubérculo-semente.

A qualidade da batata-semente é considerada fator fundamentalpara garantir alta produtividade, tubérculos de boa qualidade e boa safra. Apesar de avanços na produção nacional de batata-semente básica, o Brasil ainda depende de cerca de três a quatro mil toneladas de batata-semente importada, cujo material se origina principalmente de países da Europa Ocidental e América do Norte. A batata-semente básica, que não é importada, é produzida no Brasil, porém, na maior parte, através do sistema de cultura de tecidos e também, mais recentemente, pela tecnologia do broto destacado de batata-semente.

A qualidade da batata-semente é medida pelo índice de degenerescência, que é o grau de perda de capacidade produtiva do material quando utilizada em gerações sucessivas. A degenerescência de lotes de batata-semente está basicamente associada ao acúmulo de viroses perpetuadas via tubérculo/batata-semente, embora outros fatores bióticos e abióticos possam também estar associados. As viroses de maior importância econômica, causadoras de degenerescência da batata-semente, são: Potato leafroll virus (PLRV) e Potato virus Y (PVY), ambas transmitidas por insetos vetores, destacando-se os afídeos-pulgões. Essa interação vírus-vetor, associada às condições climáticas favoráveis que o Brasil apresenta para a presença constante tanto de plantas hospedeiras dos vírus quanto dos insetos vetores, leva à condição caracterizada como “rápida degenerescência” da batata-semente.

Assim, há necessidade de renovação do estoque básico (livre de vírus e outros patógenos) a cada dois ou três plantios sucessivos de  um  lote  de  batata-semente  de  alta  sanidade  inicial,  o  que  justifica  a  importação de sementes em associação com as tecnologias de cultura de tecidos e do broto destacado de batata-semente.

Época de plantio

A principal safra da cultura da batata nas principais áreas das regiões Sul e Sudeste do Brasil é a “das águas”, que é plantada do final de julho ao final de setembro e colhida a partir do meio de novembro até o final de janeiro, onde a maioria produz sem o uso frequente de irrigação devido à alta pluviosidade do período nas regiões.

A safra de “verão” é feita nas regiões dos Campos de Cima da Serra dos estados do Sul e Minas Gerais e nas regiões da Chapada da Diamantina, Alto Parnaíba e Planalto Central do entorno de Brasília. Os plantios podem ser feitos nos meses de outubro a janeiro.

O cultivo "da seca", que começa no final de janeiro até final de março e colheita prevista para final de maio a final de julho, deve ser realizado com irrigação suplementar e compensatório nos curtos períodos de estiagem, atentando sempre para evitar as geadas precoces em maio nas regiões onde ocorre inverno rigoroso.

O plantio "de inverno", realizado de abril a julho e colhido entre julho-outubro, é também praticado nessas mesmas regiões, em locais onde não ocorrem geadas, mas depende de irrigações durante o ciclo.

Já o cultivo "da seca", que começa em janeiro-março, deve ser realizado o mais cedo possível para evitar as geadas em regiões onde ocorre inverno rigoroso.

Regiões que apresentem microclimas específicos consideradas não tradicionais para o cultivo da batata, como o Planalto Central e áreas altas na região Nordeste, comumente apresentam condições razoáveis de plantio durante o ano, quando não ocorrer excesso de chuva, que dificulta o controle de doenças e prejudica a aparência dos tubérculos. Nestes locais, maiores produtividades e melhor qualidade do produto são obtidas durante o inverno seco, sob irrigação.

 

José Luis da Silva Nunes

Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia

Fonte

EMBRAPA. Cultura da batata. Sistemas de produção. Versão Eletrônica 2ª edição | Nov/2015. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/132923/1/Sistema-de-Producao-da-Batata.pdf.

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