A batata é uma Magnoliopsida, da família Solanaceae, pertencente ao gênero Solanum, que contém mais de 2000 espécies. Destas, cerca de 160 produzem tubérculos, entretanto apenas cerca de 20 espécies de batata são cultivadas. Existem muitas espécies que são silvestres e de grande importância nos programas de melhoramento. As espécies silvestres, por apresentarem grande variabilidade, são muito importantes nos programas de melhoramento, pois contribuem na introdução de genes de interesse agronômico, como, por exemplo, os de resistência a doenças e pragas, em espécies cultivadas.
A batata cultivada no Brasil pertence à espécie tetraplóide Solanum tuberosum. Essa espécie divide-se em duas subespécies, S. tuberosum subsp. tuberosum e S. tuberosum subsp. andigena, sendo esta última cultivada somente nas regiões andinas. Por outro lado, as cultivares mais modernas de batata possuem em seu genoma várias características de outras espécies, como S. demissum , S. chacoense e S. phureja, adquiridas por meio de cruzamentos artificiais, principalmente com o objetivo de incorporação de resistência a doenças.
Uma planta normal de batata é composta de tantas hastes quantos forem os brotos que emergirem da batata-semente, de folhas compostas, flores, raízes, estolões e tubérculos.
As espécies cultivadas podem ser diploides, triploides, tetraploides e petaloides; taxonomicamente essa classificação quanto ao grau de ploidia é a mais aceita. As espécies S. stenotomum, S. phureja, S. goniocalyx e S. anjanhuiri são do grupo das diploides cultivadas (2n = 2X = 24). Pertencem ao grupo das triploides (2n = 3X = 36) as espécies S. juzepczukii e S. chaucha. Entre cultivadas tetraploides (2n = 4X = 48) e petaloides (2n = 5X = 60) encontram-se as espécies S. tuberosum e S. curtilobum, respectivamente. Dentro do gênero Solanum, cerca de 74% das espécies são diploides, que na sua maioria apresentam autoincompatibilidade, aproximadamente 4,5% são triploides e 11,5%, tetraploides. A espécie S. tuberosum ssp. tuberosum é uma espécie autotetraploide (2n = 4x = 48 cromossomos), com herança tetrassômica multialélica.
A batateira é uma planta arbustiva e perene, mas comercialmente cultivada como anual. Sua parte aérea é herbácea e atinge entre 50 e 70 cm de altura; porém, durante a fase reprodutiva, chega a alcançar 1,5 m. O ciclo vegetativo dessa cultura pode ser precoce (menor que 90 dias), médio (90 a 100 dias) ou longo (maior que 110 dias).
O caule aéreo da batata é normalmente oco na sua parte superior. Tem secção circular, quadrangular ou triangular, podendo apresentar asas, que são lisas ou onduladas. Quando o caule cresce diretamente do tubérculo-mãe ou próximo dele, é chamado de "rama", que pode ou não se ramificar.
As folhas são compostas, sendo formadas por um pecíolo com folíolo terminal, por folíolos laterais e, às vezes, por folíolos secundários e terciários. Dependendo da cultivar, as folhas têm tamanho, pilosidade e tonalidade de verde diferentes.
O sistema radicular da planta é relativamente superficial, com a quase totalidade das raízes permanecendo a uma profundidade não superior a 40-50 cm. Entretanto, em solos argilosos férteis e sem camadas de obstrução, podem alcançar até 1,0 m de profundidade.
A flor da batata possui aproximadamente de 3 a 4 cm de diâmetro e cinco pétalas em forma de estrela e a corola gamopétala. A coloração varia de branca a rosa, vermelha, azul e roxa. Normalmente, ocorrem cinco anteras com 7mm a 9 mm de comprimento circundando o pistilo. As inflorescências apresentam geralmente mais de 10 flores. O gineceu é formado por dois carpelos fechados. O androceu e o gineceu amadurecem ao mesmo tempo, facilitando a autofecundação, que ocorre na maioria das cultivares. Em algumas cultivares, os botões florais caem antes da polinização; em outras, há florescimento. Porém, o seu pólen estéril não permite a autofecundação.
Os frutos são biloculares do tipo baga, de cor verde, normalmente medindo de 2 cm a 3 cm de diâmetro, contendo de 40 a 240 sementes por fruto. Muito embora algumas cultivares floresçam e produzam sementes, a batata cultivada é propagada vegetativamente por meio de tubérculos (clones).
A propagação clonal possibilita que o vigor híbrido (heterose) obtido a partir de cruzamentos seja mantido em sucessivas gerações. Quando o plantio é feito com batata-semente, as plantas desenvolvem raízes adventícias nos nós do caule subterrâneo, facilmente visíveis nas brotações dos tubérculos. Quando a semente verdadeira (semente-botânica) é semeada, ocorre emissão de uma raiz pivotante com raízes laterais.
Os tubérculos são caules adaptados para reserva de alimentos e também para reprodução, formando, como resultado, o engrossamento da extremidade dos estolões, que são caules modificados, subterrâneos, semelhantes a raízes. Na superfície dos tubérculos, as estruturas mais evidentes são os olhos, cada um contendo mais de uma gema, e as lenticelas. Quando o tubérculo é cortado longitudinalmente, podem ser observados a periderme (película), o córtex, o anel vascular, a medula externa e a medula interna; esta mais clara, que tem comunicação com os olhos (gemas). A pele ou película da batata, formada de cinco a 15 camadas de células, é praticamente impermeável a líquidos e gases, protegendo o tecido contra o ataque de pragas e doenças.
Quando a colheita é precoce e o tubérculo ainda não está maduro, a película se solta com facilidade, favorecendo a deterioração do tubérculo pela entrada de patógenos e perda de umidade. As lenticelas, que são pequenos sistemas de comunicação entre a parte interna do tubérculo e o exterior, são estruturas importantes para a respiração.
O ciclo fenológico da batateira pode ser dividido em cinco fases:
I - Brotação à pré-emergência: quando as condições ambientais são ideais a esta fase, e se estende por três a seis dias. Nesta fase, os brotos se desenvolvem a partir do tubérculo-semente e começam a emergir do solo, enquanto as raízes começam a se desenvolver.
II - Crescimento vegetativo: esta fase se estende por 15 a 30 dias, dependendo da cultivar e das condições ambientais. A parte aérea é formada, enquanto as raízes e estolões se desenvolvem a partir das gemas subterrâneas.
III - Início da tuberização: esta fase se estende por 10 a 15 dias. Inicia-se a formação dos tubérculos nas extremidades dos estolões, como resultado do armazenamento dos fotoassimilados na forma de amido.
IV - Crescimento dos tubérculos: o desenvolvimento da folhagem é finalizado enquanto grande quantidade de amido é armazenado rapidamente, aumentando o tamanho dos tubérculos.
V - Maturação: neste momento, todos os fotoassimilados são direcionados aos tubérculos, e a matéria seca acumulada atinge o nível máximo, as hastes tendem a prostrar, e as folhas se tornam amareladas, até o secamento total da parte aérea, enquanto a película dos tubérculos se torna mais firme.
José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia