O desenvolvimento da cultura da aveia é favorecido em solos bem drenados, mas que também têm capacidade de reter água e nutrientes em formas disponíveis às plantas, além de não apresentar restrições ao crescimento radicial, como excesso de alumínio e de compactação, baixa incidência de plantas daninhas e pressão de fitopatógenos. Dessa forma, as áreas indicadas para o cultivo são, geralmente, solos de textura franca a argilosa, com pouca acidez, sendo utilizadas em rotação com outras culturas de inverno e cobertura de solo. Essas condições são importantes para a produção de grãos, possibilitando maior resposta de rendimento e de qualidade industrial à fertilidade do solo (propriedades físicas, químicas e biológicas, que favorecem o crescimento das plantas).
Diagnóstico da fertilidade do solo e de nutrientes nas folhas
Para a indicação da necessidade de calagem e de adubação, o diagnóstico da fertilidade consiste em interpretar os resultados da análise química do solo, podendo ser complementada com a análise foliar. Essas análises possibilitam o diagnóstico das condições nutricionais, evitando a aplicação de doses excessivas ou subestimadas de corretivos e de fertilizantes, e, consequentemente, possibilitam agregar receita ou decrescer os custos de produção e riscos de impactos ambientais. Os resultados das análises são interpretados com base em tabelas de adubação, que foram obtidas em experimentos em campo, validados para as condições regionais. Assim, a utilização dessas tabelas pressupõe padronização de amostragem de solo e foliar, além dos métodos de análises químicas e condições edafoclimáticas.
A periodicidade da análise de solo depende do histórico de calagem e de adubação, além do tipo de solo. Em solos com teores de fósforo, potássio ou com acidez não corrigida, a análise de solo pode ser efetuada a cada cultivo, até que os níveis desses atributos sejam adequados. Por outro lado, quando os teores desses nutrientes são altos, em geral, a análise de solo pode ser efetuada a cada dois cultivos consecutivos. As indicações de adubação fosfatada e potássica sugeridas a seguir foram elaboradas para dois cultivos consecutivos, após a análise de solo. Já em solos corrigidos e com teor muito alto de fósforo e de potássio, a análise de solo pode ser efetuada a cada três anos. Durante esse período, a adubação pode ser baseada na quantidade exportada desses nutrientes. Essa periodicidade de amostragem de solo se aplica aos solos de textura média a argilosa, possibilitando o monitoramento da acidez.
Contudo, além da textura, outros fatores podem interferir na acidificação do solo, e, consequentemente, a periodicidade de análise de solo deve ser ajustada às situações específicas. Em solos arenosos, a acidificação é menor e, em alguns casos, o teor de alumínio trocável pode ser nulo, mesmo decorrido mais de seis anos da última calagem. Comumente, nesses solos a capacidade de troca de cátions (CTC a pH 7,0) é baixa (< 5,0 cmolc /dm3), assim como a concentração de cálcio (< 2,0 cmolc /dm3) e de magnésio (< 0,5 cmolc /dm³). Nessas situações, a frequência de análise de solo, em geral, pode ser semelhante à de solos com textura média ou argilosa, ou seja, pode ocorrer a cada três anos. A análise foliar pode ser efetuada quando for necessário diagnosticar a relação entre os nutrientes, ou para identificar possíveis sintomas de deficiências nutricionais, ou diagnosticar áreas com menor rendimento de grãos ou de forragem.
A análise química do tecido vegetal também pode ser aplicada aos grãos, possibilitando mensurar a quantidade de nutrientes exportada da lavoura ou por diferentes cultivares e glebas e, consequentemente, aumentar a precisão das doses de fertilizantes indicadas para a reposição de nutrientes.
Amostragem de solo
A camada de solo amostrada para fins de indicação de calagem e adubação deverá representar a espessura de solo mais explorada pelas raízes para absorver nutrientes, além de coincidir com a camada de amostragem utilizada nos experimentos de calibração de calagem e de adubação, pois esses foram considerados para elaborar as tabelas de indicação das quantidades de calcário e de nutrientes propostas pela pesquisa.
Em geral, em áreas sob sistema de plantio direto, a camada de solo a amostrar corresponde a 0-10 cm, enquanto no sistema convencional de preparo de solo (aração e gradagem) a amostragem deve ser de 0-20 cm. Essa camada é indicada, igualmente, para áreas novas, com campo natural ou pastagem naturalizada ou áreas com preparo convencional, onde o sistema de plantio direto será implantado. A camada de 0-10 cm também se aplica às áreas em que o plantio direto iniciou com a incorporação da dose indicada de calcário, ou quando esse sistema ainda não está totalmente consolidado. Essa última camada pode ser utilizada para monitorar a acidez em solos pouco ácidos, como Neossolos, Chernossolos e Vertissolos, ou em Latossolos e Argissolos, desde que com acidez potencial baixa (pH SMP > 5,3) natural, no horizonte superficial.
A camada de 0-20 cm, por sua vez, é mais indicada em áreas onde o calcário foi incorporado, no início do sistema de plantio direto, e houve a consolidação desse sistema. No sistema plantio direto consolidado, há maiores teores de matéria orgânica e disponibilidade de fósforo do solo, com menor toxidez de alumínio; há, também, melhores condições físicas, principalmente de temperatura do solo e de infiltração e manutenção de água disponível. Isso se deve à manutenção de resíduos culturais na superfície do solo e ao acréscimo de compostos orgânicos no solo, melhorando a estrutura e reduzindo a erosão, em relação ao preparo convencional de solo, além de outras melhorias na disponibilidade de nutrientes e atividade biológica, que favorecem o crescimento da raiz.
Em áreas com a aplicação de corretivos de acidez e de fertilizantes inorgânicos em cobertura por vários anos, o gradiente de acidez e de nutrientes pode ser expressivo ao longo do perfil de solos argilosos e ácidos, manejados com o sistema de plantio direto. Nessa situação, é sugerida a amostragem estratificada, coletando-se a camada de 0-10 cm, separada da camada de 10-20 cm. Essa estratificação também é indicada quando não se conhece o perfil químico do solo amostrado. Porém, quando a calagem é recente (< 2 anos), a primeira ca mada pode ser subdividida e o solo amostrado, de 0-5 e 5-10 cm. Em solos argilosos e sem revolvimento, a estratificação da camada de 0-20 cm em subcamadas possibilita diagnosticar a ocorrência de acidez ou a deficiência de nutrientes em subsuperfície, principalmente de fósforo.
Interpretação da acidez do solo
A acidez decresce a disponibilidade da maioria dos nutrientes do solo, além de limitar o desenvolvimento, alterar a morfologia da raiz e influenciar outros fatores biológicos relacionados com a disponibilidade de nutrientes. O diagnóstico de acidez do solo pode ser efetuado medindo-se o valor do pH em água, ou do pH em CaCl2 , que indicam a concentração de íons ácidos na solução do solo. A interpretação dos valores desses atributos é efetuada em conjunto com a avaliação do pH SMP, indicativo da acidez potencial; dos teores de alumínio (Al), de cálcio (Ca) e de magnésio (Mg) trocáveis e do valor de saturação desses cátions no complexo de troca de cátions (CTC).
Esse conjunto de atributos, quando relacionados com outras características do solo, como textura, teor de matéria orgânica e de nutrientes, além de condições físicas, possibilita avaliar os efeitos da toxidez de Al e de disponibilidade de Ca e de Mg de acordo com as demandas específicas das cultivares de aveia, indicando quando a acidez do solo deve ser corrigida
José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnica
Fonte
Indicações Técnicas da Cultura da Aveia: XXXIV Reunião da Comissão Brasileira da Pesquisa da Aveia. LÂNGARO, N.C.; CARVALHO I.Q. (Orgs.). Passo Fundo: Editora da Universidade de Passo Fundo, 2014. 136 p.