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Fertilidade

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Arroz de sequeiro

A aplicação de adubação e calagem de acordo com a necessidade da cultura reduz o risco de degradação do meio ambiente. A quantidade de nitrogênio recomendada para a cultura do arroz de sequeiro está em torno de 90 kg ha-1, aplicado em duas vezes, metade no plantio e o restante na época do perfilhamento ativo. Se o arroz é plantado após soja, uma redução de 30 kg N ha-1 é recomendada.

A aplicação de P depende da análise do solo, quando o teor de P é menor que 5 mg kg-1, a aplicação de 100 a 120 kg P2O5 ha-1 é recomendada. A aplicação de K também é feita com base na análise do solo. Quando o K está na faixa de 25 a 50 mg kg-1, uma aplicação de 80 kg K2O ha-1 é recomendada. Quando o teor de K é maior de 50 mg kg-1, a aplicação de adubação de manutenção em torno de 50 kg K2O ha-1 é recomendada. Com relação os micronutrientes, a deficiência de Zn é comumente observada em arroz de terras altas. A deficiência de Zn pode ser corrigida com a aplicação de 5 kg Zn ha-1. O pH adequado para o arroz de terras alta está em torno de 5,5.

Arroz irrigado

As transformações que ocorrem quando os solos são submersos, como no cultivo do arroz irrigado, favorecem a disponibilidade de nutrientes no solo, tanto os nativos deste, quanto os contidos nos adubos, principalmente P, K e Ca. Também concorrem para elevar o pH dos solos ácidos para valores entre 6,0 e 6,5 e eliminar o Al trocável.

As recomendações para o arroz irrigado têm como meta proporcionar ao produtor o maior retorno líquido por cultivo e por unidade de área. O sistema baseia-se na utilização da análise de solo como um instrumento básico para determinar as necessidades de utilização de corretivos e fertilizantes. Análises de solo a cada cultivo de arroz são indicadas para o sistema tradicional, ou seja, arroz seguido de arroz, eventualmente intercalado com pastoreio extensivo. Nas situações em que o arroz faz parte de um sistema de rotação de culturas, recomenda-se monitorar a fertilidade do solo a cada dois cultivos, considerando-se para os cultivos de sequeiro em rotação ou sucessão ao arroz, a interpretação de fósforo correspondente à classe de argila do solo.

No caso da calagem, quando aplicada em quantidades indicadas para corrigir a acidez do solo, a meta é a obtenção do máximo retorno econômico em médio prazo, ou seja, para um período de aproximadamente cinco anos. A indicação de necessidade de nova aplicação de corretivo só deverá ser feita após esse período, mediante uma nova análise de solo, além da observação do desempenho das culturas.

Amostragem do solo

A coleta de solo para a formação da amostra que identificará as condições de fertilidade é a etapa crítica de todo o processo de análise. Uma amostra mal coletada pode constituir a principal fonte de erro do processo de recomendação de corretivos e fertilizantes e o laboratório de análise de solo não tem como diagnosticar nem corrigir erros de amostragem.

O número de amostras depende dos tipos de solo que constituem a área a ser cultivada na propriedade. Os diferentes tipos de solo são facilmente reconhecidos pelas diferenças de textura, de cor, da conformação do terreno, pelas variações da vegetação nativa, de manejo, de tratos anteriores, entre outros. Em terrenos ondulados, mesmo com pequenas diferenças de nível, as partes altas, as encostas e as partes baixas são consideradas áreas distintas. Desta maneira, o número de amostras a serem enviadas ao laboratório depende da identificação de áreas na propriedade com características semelhantes ou homogêneas. Dentro de cada área homogênea, devem ser coletadas de 10 a 20 sub-amostras com pá, trado ou calador (tubo de aço) (Figura 1), na camada de 0-20 cm de profundidade do solo.

Figura 1 - Esquema da amostragem de solo em arroz irrigado.

 

Essas sub-amostras devem ser colocadas em um recipiente limpo, de material não metálico, misturadas e delas deve ser retirada uma amostra de aproximadamente 500 g para remessa ao laboratório. A amostra deve ser acondicionada em saco isento de resíduos para evitar contaminações. Ao etiquetá-la, deve-se preencher as informações necessárias, que possibilitem identificar a amostra com a área na propriedade.

Uma amostra de solo representativa permitirá que a análise química sirva de base para uma recomendação racional e econômica de adubos e de corretivos.

Calagem

Em solos ácidos, cultivados sob condições de sequeiro, o crescimento das plantas é limitado devido aos baixos valores de pH, à presença de alumínio e manganês em níveis tóxicos e à baixa atividade microbiana, diminuindo a taxa de mineralização da matéria orgânica. Como consequência, há baixa disponibilidade e menor aproveitamento de alguns nutrientes essenciais, especialmente, nitrogênio, fósforo, enxofre e molibdênio.

A calagem é definida como a prática de manejo que corresponde à utilização de calcário, ou produtos equivalentes, que atuam como agente corretivo da acidez do solo e como fonte de cálcio e de magnésio para as plantas, com a finalidade de proporcionar às plantas um ambiente de crescimento radicular adequado, seja através da diminuição da atividade no solo de elementos potencialmente tóxicos (alumínio, manganês e ferro) e/ou favorecendo a disponibilidade de elementos essenciais. As indicações de calagem pressupõem a sua utilização integrada às recomendações de adubação, em consonância com as demais práticas agronômicas (Figura 2).

Figura 2 - Disponibilidade de nutrientes e eliminção do efeito tóxico de alumínio e ferro com a elevação do pH promovida pela prática da calagem.

 

Entretanto, em solo inundado, a elevação do pH ocorre naturalmente como consequência do processo de redução do solo. Disso resulta o fenômeno conhecido como “auto-calagem”. As novas condições de pH e de disponibilidade de alguns nutrientes, decorrentes da redução do solo, atingem níveis estáveis num período variável de quatro a seis semanas após a inundação.

Quando o arroz é semeado em solo seco e a inundação é iniciada ao redor de 30 dias após a emergência (sistema convencional, plantio direto e cultivo mínimo), a correção da acidez e as condições de solo mais adequadas ao crescimento da cultura, provocadas pela inundação, ocorrem, apenas, próximo ao fim da fase vegetativa (40 a 60 dias após a emergência). Considerando-se que é nesse período que a planta absorve grande parte dos nutrientes essenciais, admite-se que a calagem corrige a acidez e propicia melhores condições para o desenvolvimento das plantas desde o início do ciclo. Nesses casos, recomenda-se a correção da acidez sempre que o pH em água for de 5,5 e a saturação por bases <65% (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Critérios para definição de necessidade, quantidades de corretivos da acidez e procedimentos associados.

 

Para os sistemas de cultivo de arroz irrigado em que a planta está sob condições de solo inundado desde o início do ciclo (pré-germinado e transplante de mudas), não é recomendada a calagem, exceto para o caso de corrigir prováveis deficiências de cálcio e/ou de magnésio, ou seja, quando o solo apresentar níveis de Ca de 2,0 cmolc/dm³ e/ou Mg de 0,5cmolc/dm³. Nesses casos, recomenda-se aplicar 1 t ha-¹ de calcário dolomítico com PRNT 100% (Tabela 2).

 

Tabela 2 - Recomendações de calcário (PRNT = 100%) para corrigir a acidez, visando elevar o pH em água a 5,5 e 6,0 pelo índice SMP.

 

 

A calagem também pode minimizar os efeitos prejudiciais da toxidez por ferro, que passou a se manifestar mais intensamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a partir do lançamento das cultivares modernas. Devido ao efeito residual do calcário por cinco ou mais anos e à intensificação do cultivo de arroz em rotação e/ou sucessão com culturas de sequeiro, como pastagens, soja, sorgo e milho, deve-se fazer a correção do solo levando em consideração a exigência dessas culturas.

Ao adquirir um corretivo da acidez, deve-se considerar o custo do produto por tonelada efetiva do material posto na propriedade, levando-se em conta o PRNT do material e não o custo por tonelada bruta do produto.Para se obter os efeitos esperados, o calcário deverá ser aplicado, preferencialmente, três meses ou mais antes da semeadura do arroz. Contudo, resultados experimentais demonstram que a aplicação do calcário de ótima qualidade (PRNT próximo a 100%) produz retorno econômico já no primeiro cultivo, quando aplicado até 30 dias antes da semeadura.

Uma boa incorporação de calcário, principalmente em solos já cultivados, tem sido obtida com gradagem ou rotativação seguida de aração e outra gradagem. A finalidade da primeira gradagem é de melhorar a distribuição e, ao mesmo tempo, fazer uma pré-incorporação do calcário na camada superficial do solo, anteriormente à lavração.

Adubação

As recomendações de adubação para o arroz irrigado foram estabelecidas com base nos teores de matéria orgânica (para nitrogênio), de fósforo e de potássio no solo e diferenciam-se para os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

No Rio Grande do Sul, considera-se que os diversos fatores determinantes da produção do arroz, em associação com as características edafo climáticas das regiões agroecológicas de cultivo, determinam diferentes potenciais de produtividade para a cultura. Por essa razão, as indicações de fertilizantes são relacionadas ao incremento de produtividade pretendido, a partir do potencial de produção das diferentes regiões de cultivo.

Em Santa Catarina, as recomendações de adubação para o arroz irrigado são apresentadas para duas expectativas de produtividade, também estabelecidas de acordo com a adequação dos fatores que influenciam a produção, sendo descritas a seguir:

a) Produtividade entre 6,0 e 9,0 t ha-1: quando o arroz for cultivado com limitação em algum dos fatores que afetam a produção.

b) Produtividade superior a 9 t ha-1: quando o arroz for cultivado em condições favoráveis de clima, especialmente alta radiação solar no período reprodutivo, uso de variedades com alto potencial produtivo, época e densidade de semeadura adequadas para a região, manejo adequado da irrigação, com relação à época e ao controle da lâmina de água, controle adequado de plantas daninhas, especialmente o arroz vermelho, e controle fitossanitário da lavoura.

Nitrogênio

O nível de adubação nitrogenada que leva ao máximo rendimento econômico de grãos de arroz depende dainteração de vários fatores, destacando-se entre eles a disponibilidade de N no solo, o tipo de planta e as condições climáticas, particularmente a temperatura e a radiação solar.

O N disponível do solo é praticamente todo proveniente da decomposição e mineralização da matéria orgânica (M.O.). Assim, uma avaliação simplista do grau de disponibilidade de N no solo é baseada na análise do teor de M.O.. Em relação a resposta ao N, as cultivares de arroz são agrupadas em três tipos de plantas: tradicional, com baixa resposta, intermediário (americanas), com resposta intermediária e moderno, que apresenta maior resposta.

Quando a semeadura ocorre dentro da época recomendada, nos anos em que a radiação solar é alta no período compreendido entre 15 dias antes e 15 dias após o florescimento da cultura, devem ser esperados rendimentos elevados, sendo alta a probabilidade de ocorrência de resposta do arroz à aplicação de níveis mais elevados de N (Tabelas 3 e 4).

 

Tabela 3 - Recomendação de adubação nitrogenada para o arroz irrigado no Rio Grande do Sul, considerando o incremento de produtividade pretendido.

 

Tabela 4 - Recomendação de adubação nitrogenada para o arroz irrigado em Santa Catarina, considerando a expectativa de produtividade.

 

Para os sistemas convencional e plantio direto, recomenda-se a aplicação de 10 kg ha-1 de N, em pré-plantio (na base). O restante da dose deve ser aplicada em cobertura no início da diferenciação da panícula (IDP), caso não seja maior que 50 kg ha-1. Quando a dose for superior a 50 kg ha-1, aplicar metade no perfilhamento e metade no IDP. A aplicação no perfilhamento pode ser realizada imediatamente antes do início da submersão, o que concorre para reduzir as perdas de N.

Nos sistemas pré germinado e de transplante de mudas, a aplicação de N em cobertura depende do ciclo da cultivar. Para cultivares de ciclo longo, aplicar 1/3 da dose no início do perfilhamento (IP), 1/3 no perfilhamento pleno e, se necessário, o restante no IDP. Para cultivares de ciclo médio e curto, aplicar metade da dose no IP e a outra metade no IDP. Devem ser interrompidas as entradas e saídas de água dos quadros, por um período mínimo de 3 a 5 dias, quando a aplicação de N em cobertura ocorrer sobre uma lâmina de água. A primeira adubação de cobertura com nitrogênio deve ser realizada com aplicação do fertilizante preferencialmente em solo seco, desde que a inundação da lavoura se estabeleça o mais rápido possível (indica-se um tempo máximo entre a aplicação de N e a inundação da lavoura de três dias). Nos casos em que não for possível a primeira aplicação de N em solo seco, a aplicação do fertilizante pode ser realizada sobre a lâmina de água.

A uréia e sulfato de amônio são as fontes de nitrogênio indicadas para o arroz irrigado. As fontes nítricas não são aconselhadas devido às elevadas perdas que ocorrem no solo. O uso de sulfato de amônio em doses altas e sob temperatura elevada pode ser prejudicial ao arroz, fato este atribuído à formação de gás sulfídrico oriundo da redução de sulfatos.

Fósforo

Em decorrência da baixa mobilidade do P no solo, de sua grande translocação dentro da planta e de sua importância na fase inicial de crescimento das plantas de arroz, recomenda-se sua aplicação integral em pré-plantio. No sistema pré germinado, os fertilizantes fosfatados podem ser aplicados e incorporados por ocasião da formação da lama ou após o renivelamento da área, anteriormente à semeadura.

A aplicação de fertilizante fosfatado em solo seco, pode ser a lanço ou em linha, preferencialmente ao lado e abaixo do sulco de semeadura. Nas aplicações a lanço, incorporar o adubo na camada superficial do solo, por meio de gradagem. Em áreas já estabelecidas em sistema plantio direto, a aplicação do P pode ser superficial.

As recomendações de adubação fosfatadas para os estados do RS e SC baseiam-se nas análise de solo relativas ao teor de P no solo, extraído pelos métodos Mehlich-I e Resina para o arroz irrigado. O método da resina possibilita aprimoramentos no diagnóstico da disponibilidade de fósforo para solos sob uso intenso de fosfatos naturais (Tabelas 5 e 6).

 

Tabela 5 - Recomendação de adubação fosfatada para o arroz irrigado no Rio Grande do Sul, considerando o incremento de produtividade pretendido.

 

Tabela 6 - Recomendação de adubação fosfatada para o arroz irrigado em Santa Catarina, considerando a expectativa de produtividade.

 

Os teores de 6,0 mg P dm-3 e 20 mg P dm-3 no solo, para os métodos Mehlich-I e Resina, respectivamente, são considerados os teores críticos, acima dos quais a probabilidade de retorno econômico é muito pequena. As recomendações para solos com teores acima desses valores têm como objetivo repor a quantidade retirada pela cultura.

Para solos com baixos teores de fósforo (<3 mg dm-3), recomenda-se dar preferência ao uso de fontes de fósforo solúveis. Para solos com teores maiores que 3 mg dm-3 é viável a utilização de outros fosfatos, isoladamente ou em misturas. No caso de fosfatos naturais, recomendam-se os reativos, sendo a dose calculada considerando até o dobro do teor de P2O5 solúvel em ácido cítrico 2% (relação 1:100), a qual corresponderia a um acréscimo de cerca de 20% na dose calculada com base no teor total, para equivalências ao solúvel.

Potássio

A baixa resposta do arroz irrigado ao K, apesar da alta exigência da cultura pelo nutriente, pode estar relacionada à contribuição do K contido na água de irrigação, (10 a 50 kg ha-1 de K2O), ao aumento da disponibilidade de K, como consequência de seu deslocamento dos sítios de troca, à liberação de K das frações não trocáveis pela inundação e à substituição parcial do K por sódio (Na), que é abundante na maioria dos solos cultivados com arroz.

As aplicações de K devem ocorrer em pré plantio, tanto para semeadura em solo seco, como para o pré germinado. Neste sistema, os adubos potássicos podem ser aplicados e incorporados por ocasião da formação da lama ou após o renivelamento da área, antecedendo a semeadura. Nos sistemas plantio direto e cultivo mínimo, têm sido observados efeitos favoráveis à aplicação de K em cobertura, podendo ser realizada metade na base e metade no IDP, ou integralmente no IDP.

As recomendações de adubação potássicas para os estados do RS e SC baseiam-se nas análises de solo relativas ao teor de P no solo, extraído pelos métodos Mehlich-I. Ressalta-se que, no RS, para a interpretação dos teores de potássio no solo, passou-se a considerar a capacidade de troca de cátions do solo. Os teores críticos de potássio estabelecidos são 45, para solos com CTCpH 7,0 ≤ 5,0, 60, para solos , para solos com CTCpH 7,0 entre 5,1 e 15,0,  e 90 mg dm-3, para solos com CTCpH 7,0 >15,0 cmolc dm-3, respectivamente (Tabelas 7 e 8). 

 

Tabela 7 - Interpretação dos teores de potássio (Mehlich-1) para solos do Rio Grande do Sul, em função da CTC pH7,0.

 

Tabela 8  - Recomendação de adubação potássica para o arroz irrigado no Rio Grande do Sul, considerando a CTC do solo e o incremento de produtividade pretendido.

 

Em Santa Catarina, o valor de 60 mg dm-3 de K no solo é considerado como teor crítico. Independentemente do valor, admite-se que a probabilidade de retorno econômico oriundo da adubação potássica em solos contendo teores acima do nível crítico é muito pequena (Tabela 9).

 

Tabela 9 - Recomendação de adubação potássica para o arroz irrigado em Santa Catarina, considerando a expectativa de produtividade.

 

As fontes de fertilizantes potássicos existentes no mercado são o cloreto e o sulfato de potássio. Recomenda-se o cloreto de potássio por ser mais barato e seguro. O uso de sulfato de potássio em doses elevadas (acima de 60 kg ha de K2O) e sob temperatura alta pode liberar H2S, o qual poderá atingir níveis tóxicos ao arroz.

 

José Luis da Silva Nunes

Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia

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