O solo é um mineral não consolidado influenciado por uma gama de fatores, tais como o material de origem, a topografia, o clima (temperatura e umidade) e os microrganismos, que, no decorrer do tempo, atuam na sua formação. Cada solo se diferencia por suas propriedades e características físicas, químicas, biológicas e morfológicas do material de origem. O manejo apropriado decorre de sua classificação, que destaca suas características gerais e específicas e os agrupa de forma ampla, com base nas características gerais, e em subdivisões, de acordo com suas propriedades específicas. As propriedades morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas são critérios distintivos.
O Brasil apresenta uma grande diversidade de classes de solos. Para agrupar os solos brasileiros de acordo com suas características comuns, disponibilizar uma ferramenta para previsão do seu comportamento diante de determinados usos e/ou práticas de manejo e permitir a comunicação entre os diversos profissionais que atuam na ciência do solo e áreas correlatas, desenvolveu-se o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS). O SiBCS congrega o conhecimento e o estado atual da arte sobre os solos brasileiros, nomeando, hierarquizando, agrupando e separando os solos, de acordo com as características comuns ou diferenciais.
Arroz de sequeiro
A maioria dos solos de cerrado onde o arroz de sequeiro são Oxissolos de baixa fertilidade, o que evidencia o manejo da fertilidade como um dos aspectos mais importantes para a produção das culturas na região. Desta forma, o uso de adubação adequada constitui um fator importante para o aumento da produtividade nestes solos, visto que possuem teores extremamente baixos de nitrogênio (N), o fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e zinco (Zn).
Além de pouco férteis, os solos de cerrado são extremamente ácidos, o que diminui a disponibilidade de nutrientes para as culturas. Entre os nutrientes essenciais, o nitrogênio, o fósforo e o potássio são os que a planta necessita em maior quantidade. Para a incorporação dos solos de cerrado ao processo produtivo é indispensável o uso adequado de adubação e calagem. O uso adequado de adubação não somente aumenta a produtividade, mas também reduz o custo da produção e propicia maior retorno econômico para os produtores.
Arroz irrigado
Os solos cultivados com arroz irrigado na Região Subtropical do Brasil, especificamente nos Estados do Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC) são encontrados, principalmente, nos ecossistemas de várzeas (solos de várzea) formados por planícies de rios, lagoas e lagunas, apresentando como uma característica comum a formação em condições variadas de deficiência de drenagem (hidromorfismo). No Rio Grande do Sul (RS), ocupam extensas áreas (5.400.000 ha - 20% da área total do Estado), com relevo variando de plano a suavemente ondulado, sendo encontrados nas regiões das Planícies Costeiras Interna e Externa e no Litoral Sul (junto às Lagoas dos Patos e Mirim) e nas planícies dos rios da Depressão Central e da Campanha e Fronteira Oeste, em geral em baixas altitudes (0-200 m).
Em Santa Catarina (SC), os solos cultivados com arroz, ocupam áreas relativamente menores (685.000 ha - 7% da área total do Estado), localizadas principalmente nas Planícies Litorâneas (90% das áreas de várzeas), ao sul, da divisa com o RS até o Cabo de Santa Marta, e ao norte, na Baía de Babitonga e região de Joinville e Itajaí, sendo os 10% restantes encontrados no Planalto de Canoinhas, em altitudes desde valores próximos ao nível do mar até 1100 m.
O manejo dos solos cultivado com arroz irrigado nos Estados do RS e SCpode parecer simples em função da facilidade do uso de máquinas, da baixa suscetibilidade à erosão e das condições favoráveis à irrigação, pois as áreas são planas, amplas e contínuas. Entretanto, em função de suas características peculiares, seu manejo torna-se de extrema complexidade, requerendo que se tenha um certo conhecimento sobre eles para melhor manejá-los.
Características gerais dos principais solos cultivados com arroz irrigado
Os solos cultivados com arroz irrigado no Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC) apresentam drenagem naturalmente deficiente, decorrente de densidade elevada, baixa porosidade total, alta relação micro/macroporos, presença de camada subsuperficial com baixa permeabilidade e do relevo plano a suave ondulado. Parte destas condições são acentuadas pelo preparo do solo realizado em condições de umidade excessiva.
Solos situados em patamares mais elevados ou em terras adjacentes às várzeas, de relevo suave ondulado a plano, eventualmente também são usados com cultura de arroz irrigado. No RS, esses solos são encontrados na região da Campanha e Fronteira Oeste. Em SC, ocorrem em patamares mais elevados de várzeas de praticamente todas as regiões.
Até um determinado ponto, as condições apresentadas pelos solos de várzea podem ser consideradas favoráveis para o cultivo do arroz irrigado por reduzir as perdas de água e de nutrientes, porém são restritivas ao desenvolvimento do sistema radicular das culturas de sequeiro, podendo, em casos extremos de compactação, ser prejudiciais mesmo para o arroz irrigado. Em função da heterogeneidade do material de origem e dos diferentes graus de hidromorfismo, apresentam grande variação nas características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas, o que determina seu agrupamento em diferentes classes, com diferentes limitações.
As principais classes em que estão incluídos os solos cultivados com arroz na Região subtropical, de acordo com o novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, são:
Planossolos
No RS, incluídos Gleissolos associados, os planossolos ocupam 56,0% da área de solos de várzea, representam cerca de 11% da área total do Estado do RS, não sendo encontrados em SC. Abrangem as unidades de mapeamento Vacacaí, Pelotas, Mangueira, São Gabriel e Bagé. Essa classe apresenta como característica geral a presença de um tipo especial de horizonte B textural, com incremento de argila do A (ou E) para o B em uma pequena distância (cerca de 7,5 cm), associado a cores acinzentadas ou escurecidas que refletem uma baixa permeabilidade, chamado de horizonte B plânico.
É representada pelos Planossolos Hidromórficos Eutróficos típico (Vacacaí) e solódico (Pelotas e Mangueira) e pelos Planossolos Háplicos Eutróficos típico (São Gabriel) e vértico (Bagé). São solos com fertilidade de baixa a moderada, apresentando normalmente baixos teores de matéria orgânica e deficiência em fósforo.
Gleissolos
Principais solos cultivados com arroz irrigado em SC, incluídos os Cambissolos e Organossolos associados (61,0% da área de várzea). No RS, ocorrem nas partes mais baixas das várzeas e nas depressões, em áreas de ocorrência planossolos, sendo também cultivados em grande escala com arroz. Caracterizam-se por apresentar um horizonte com cores cinzentas (horizonte glei), imediatamente abaixo do horizonte A, ou que começa dentro de 50 cm da superfície, indicativo de formação em ambiente de redução devido à saturação por água durante um longo período do ano. A textura é média ou argilosa em todos os horizontes, não apresentando horizonte B textural associado à mudança textural abrupta, o que os diferencia dos Planossolos. A sequência de horizontes é A, (E), Bg e/ou Cg. No RS, incluem os solos das unidades de mapeamento Banhado, Colégio, Itapeva e Taim (6,1% da área de várzea), além de solos em subdominância nas unidades Vacacaí e Pelotas.
Em SC, são encontrados formando unidades simples e em associação com organossolos e cambissolos. Além dos trabalhos de drenagem e sistematização, os gleissolos necessitam, em SC, também de correção de deficiência química, em função da baixa fertilidade e dos altos teores de alumínio trocável.
Chernossolos
São encontrados somente no RS, ocupando 16,1% destas. São utilizados com arroz irrigado os que ocorrem na região da Fronteira Oeste, de drenagem imperfeita e em relevo suave ondulado a plano em áreas contíguas às várzeas (Uruguaiana), e os localizados no Litoral Sul (Formiga), que se apresentam mal drenados e em relevo plano. Outros chernossolos, imperfeitamente drenados, localizados em áreas baixas próximas às várzeas nas regiões da Campanha (Ponche verde), são também às vezes cultivados com arroz. São solos que apresentam horizonte A chernozêmico seguido por horizonte B textural ou incipiente com argila de atividade alta e saturação por bases elevada (eutróficos) em todo o perfil. Apresentam, normalmente, fertilidade natural de moderada a alta, suportando, junto com alguns vertissolos, as melhores pastagens nativas da região da Campanha. Nas áreas de relevo plano, quando cultivados com arroz irrigado, proporcionam altas produtividades.
Plintossolos
São somente encontrados no RS, representados pelo Plintossolo Argilúvico Alumínico abrúptico (parte da unidade Vírginia), Plintossolo Argilúvico Eutrófico abrúptico (Durasnal) e Plintossolo Argilúvico Distrófico arênico ou espessarênico (pertencentes à unidade Tuia). Incluídos os Luvissolos e Argissolos, ocupam 8,3% da área de várzea. São solos geralmente profundos, imperfeitamente ou moderadamente drenados, formados sob condições de restrição à percolação de água. Apresentam um horizonte com mosqueados vermelhos e amarelos, macios quando úmidos, mas que endurecem irreversivelmente quando secam, formando nódulos duros, identificados como plintita (f), em quantidade igual ou superior a 15%.
Vertissolos
Encontrados na região da Fronteira Oeste, no RS, ocupam menos de 1% das áreas de várzea desse Estado. A classe é representada pelo Vertissolo Ebânico Órtico chernossólico (unidade de mapeamento Escobar). São, em geral, pouco profundos e imperfeitamente ou mal drenados. Em relação à utilização, esses solos são adequados do ponto de vista químico, porém não apresentam atributos físicos favoráveis ao manejo, sendo muito duros quando secos, formando torrões compactos, e muito plásticos e muito pegajosos quando molhados, aderindo aos implementos agrícolas. A maior parte desses solos é utilizada com pastagens naturais de boa qualidade e, em menor escala, com culturas anuais como trigo, milho e sorgo. Em áreas planas são cultivados com arroz irrigado.
Organossolos
No RS, são encontrados em áreas relativamente pequenas, na Planície Costeira Externa (Torres e Viamão) e no Litoral Sul (Banhado do Taim). Em SC, ocorrem em áreas mais expressivas, perfazendo em torno de 9% das áreas de várzea, além de formarem várias associações e inclusões em unidades de gleissolos. Na sua maior parte, são fortemente ácidos, com baixa saturação por bases e freqüentemente com altos teores de alumínio trocável. Quando drenados e cultivados podem ficar sujeitos a uma acentuada subsidência (rebaixamento da superfície) e diminuição gradativa no teor de matéria orgânica.
Devem ser tomados cuidados com o risco de fogo e com o emprego de máquinas pesadas devido à baixa capacidade de suporte. A baixa fertilidade natural, a deficiência de aeração e os impedimentos à mecanização constituem-se em importantes limitações ao uso desses solos. Em alguns locais em SC e no RS, em condições favoráveis, eles têm sido utilizados com arroz irrigado, milho, soja, hortigranjeiros e pastagem.
Cambissolos
Encontrados em SC nas áreas de várzea de todas as regiões, ocupando posições ligeiramente superiores e de melhor drenagem do que os gleissolos. Suas partes mais planas são freqüentemente sistematizadas e utilizadas com arroz irrigado. Normalmente apresentam mosqueados de redução e cores acinzentadas após os primeiros 50 cm da superfície como conseqüência da presença do lençol freático, por isso são classificados como gleicos.
A origem diversificada faz com que apresentem muitas variações nas propriedades físicas e químicas. Dessa forma, podem ser classificados como Cambissolos Háplicos eutróficos (ou distróficos) gleicos e apresentam textura argilosa ou média, sendo os de textura média mais comumente encontrados nos vales do Itajaí e na região de Joinville.
Espodossolos e Neossolos Flúvicos e Quartzarênicos Hidromórficos e Órticos
Apresentam uma aptidão muito restrita para o uso com arroz irrigado, pois são muito arenosos ou sujeitos a inundações muito freqüentes. Ocupam cerca de 12% da área de solos de várzea no RS e 30% da de SC.
Sistematização dos solos em arroz irrigado
Os solos próprios para o cultivo do arroz irrigado caracterizam-se pela topografia plana, geralmente hidromórficos, que permanecem saturados em períodos de maior precipitação. A drenagem deficiente está relacionada não apenas à topografia plana, mas, principalmente à ocorrência de horizontes argilosos, que por apresentarem uma condutividade hidráulica muito baixa, dificultam a percolação da água no perfil. Estas características, normalmente desfavoráveis para outras culturas, tornam-se adequadas para o cultivo do arroz, facilitando a manutenção de uma lâmina de água sobre a superfície do solo e dificultando a lixiviação de nutrientes.
Para o aproveitamento eficiente e racional destes solos, há necessidade de condicioná-los, anteriormente ao cultivo, a um processo de sistematização do terreno, que consiste na criação de um sistema funcional de manejo que vai desde a remoção de detritos vegetais, abertura de canais de drenagem e irrigação, construção de estradas internas, regularização da superfície do terreno, em nível ou desnível, entaipamento, até a construção de estruturas complementares, conforme a necessidade de cada projeto.
A sistematização deve basear-se em estudos envolvendo dados do terreno, como análises das condições do solo, de água, topográficas e obedecendo às características peculiares de cada propriedade. Há duas modalidades de sistematização para as lavouras de arroz, que são realizadas em função do sistema de cultivo.
Sistematização do solo em desnível
Este sistema visa uniformizar a superfície do solo, transferindo das partes mais elevadas para as depressões do terreno. Normalmente a declividade natural do terreno é mantida, podendo-se ajustar o gradiente conforme a necessidade da cultura a ser implantada. No caso do arroz, a água de irrigação é retida sobre a superfície do solo através de taipas em curva de nível.
A diferença de cotas de uma taipa para outra depende da declividade do terreno e do sistema de cultivo. Esta modalidade de sistematização possui como vantagens o menor movimento da terra, menor custo inicial e melhor drenagem superficial. As desvantagens são o aumento do volume de água utilizada e a desuniformidade da lâmina, causando maiores dificuldades no controle de plantas daninhas e manejo de insumos agrícolas.
Sistematização do solo em nível
Neste sistema a área é subdividida em quadros, preferencialmente de formato regular. O terreno dentro de cada quadro é nivelado, em um plano pré definido, utilizando-se o solo das cotas mais elevadas para aterrar os de cotas inferiores.
O tamanho destes quadros pode variar em função do desnível do terreno, sendo que, quanto menor a declividade, maior será a área de cada quadro. Para facilitar a mecanização é aconselhável que os mesmos possuam áreas compatíveis com o tamanho das máquinas e que apresentem uma adequada relação entre comprimento e largura. É aconselhável que a largura dos quadros se situe entre 20 e 50 metros, variando em função do desnível do terreno e das características do solo. Quadros com comprimento superior a 200 metros dificultam a manutenção do nivelamento e os tratos culturais.
No processo de nivelamento do solo, quando ocorrerem cortes superiores a profundidade do horizonte A e os horizontes subsequentes forem de baixa fertilidade, faz-se necessário a retirada do primeiro horizonte e a sua posterior reposição após o nivelamento das camadas inferiores do solo. É importante salientar que se deve ter mais cuidado com a fertilidade do solo nestas áreas.
Para cada área deve-se projetar estrutura de irrigação e drenagem individualizadas, bem como acessos facilitados a todos os quadros. Os quadros são cercados por taipas com altura mínima de 20 centímetros.
A sistematização de quadros em nível apresenta vantagens, tais como:
a) Distribuição mais adequada da água, permitindo a irrigação uniforme da cultura desde o seu estabelecimento e maior facilidade no controle de plantas daninhas;
b) Redução da perda de nutrientes do solo, da incidência de pragas e doenças e da oscilação de temperatura da água e do solo. Com isto, a uniformidade da lavoura possibilita maior eficiência nos tratos culturais e na colheita, melhor aproveitamento do solo, com redução da área ocupada por taipas e economia de insumos.
Como desvantagem, na maioria dos casos, a alternância de cultivo com outras culturas é dificultada pela deficiência de drenagem superficial, originada pelo nivelamento do terreno. Além disto, o custo inicial da sistematização de quadros em nível é normalmente mais elevado do que a sistematização em desnível.
José Luis da Silva Nunes
Eng. Agrº, Dr. em Fitotecnia