CI

Manejo do arroz vermelho

-


 

 

As formas de manejo e controle são:

a) Uso de sementes de arroz isentas de arroz vermelho

Esse é um procedimento preventivo fundamental que deve ser sempre adotado pelo agricultor como prática de produção permanente. Aqui vale o ditado “é melhor prevenir do que remediar”, isso porque as soluções representadas pelas práticas descritas a seguir são todas de eficiência relativa e alcançam resultados apenas a médio e longo prazos.

O uso de sementes comerciais com apenas um grão de arroz vermelho em cada amostra de 500 gramas em uma área até então livre desta invasora, representa um potencial de infestação de pelo menos 60 grãos de arroz daninho por metro quadrado após a segunda safra (considerando neste cálculo uma densidade de semeadura de 120 kg ha-1 e que 50% das sementes de arroz vermelho produzidas serão colhidas com a lavoura ou não germinarão no solo). Em alguns estados, como Santa Catarina, não é tolerada a presença de sementes de arroz vermelho nas classes de sementes básica e certificada.

b) Semeadura direta da cultura

É o método que não recebe nenhum preparo do solo e a semeadura da cultura é realizada diretamente na resteva da cultura anterior ou da vegetação presente numa área de pousio. O surgimento de arroz-vermelho nesse caso é evitado simplesmente porque o solo não é revolvido, não se trazendo sementes viáveis para a camada superficial. Não se constitui propriamente num método de controle do arroz vermelho, mas ele evita a emergência ao não desenterrar as sementes contidas nas camadas mais profundas do solo.

c) Semeadura direta após cultivo mínimo

Esse é um sistema alternativo ao de semeadura direta propriamente dita. Nesse caso, através de operações mecânicas de preparo antecipado do solo, tanto realizado no verão como no inverno, estimula-se a germinação das sementes de arroz vermelho e de outras espécies, constituindo-se, portanto, num método de controle, pois leva à redução do banco de sementes no solo.

A semeadura direta com cultivo mínimo do solo deve buscar uma melhor integração orizicultura-pecuária. Isso pode ser feito cultivando-se forrageiras durante o período outono-inverno, as quais irão servir para o pastoreio do rebanho, aumentando a rentabilidade. No início do verão, a resteva dessa pastagem, após sofrer processo de dessecação com herbicida, passará a constituir a cobertura morta para implantação da semeadura direta do arroz.

d) Sistema pré germinado de semeadura e transplante de mudas

O sistema de semeadura em solo inundado com sementes pré germinadas ou transplante de mudas em áreas sistematizadas, é uma alternativa eficiente para a supressão e controle do arroz vermelho em arroz irrigado. Geralmente, o preparo é iniciado com gradagens ou rotativagens e o solo é mantido em condições de umidade (não saturado) adequada para a germinação das sementes existentes no solo. As plantas emergidas podem ser controladas com novas gradagens, pois, em cada operação, mais sementes serão expostas para germinação. Esta operação pode ser repetida diversas vezes antes da semeadura.

Após a inundação do solo e a formação da lama, é importante que o solo seja bem nivelado, facilitando desta maneira a manutenção de uma lâmina de água uniforme. O alisamento do solo proporciona o fechamento dos poros, reduzindo desta maneira a penetração do oxigênio no solo e a germinação das sementes das plantas daninhas. Após a semeadura ou transplante das mudas, é fundamental a manutenção contínua do solo saturado ou com lâmina de água, o que impede a germinação das sementes localizadas sob a superfície do solo.

e)  Sistema Clearfield

 

O sistema “Clearfield” de produção de arroz irrigado consiste no uso de cultivares de arroz portadoras de genes que conferem resistência aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas. Esta característica foi obtida, inicialmente, através de mutação induzida e transferida para cultivares e híbridos comerciais através do melhoramento genético convencional. Esta tecnologia constitui uma alternativa promissora para o controle de arroz vermelho.

Atualmente, as cultivares recomendadas para uso neste sistema são:

- IRGA 422 CL;

- SCS 115 CL;

- Sator CL;

- Avaxi CL;

- XP 710 CL.

Only é o herbicida registrado e recomendado para aplicação ao arroz. O herbicida Only apresenta elevada eficiência no controle seletivo de arroz vermelho, propiciando níveis de controle superiores a 95%. Para isso, realiza-se uma aplicação em pós emergência precoce, quando as plantas de arroz vermelho encontrarem-se no estádio de três a quatro folhas; à medida que se atrasa a aplicação, a eficiência do herbicida diminui. A irrigação da área com lâmina permanente de água até o terceiro dia após a aspersão do herbicida proporciona o melhor controle. Por decorrência, o atraso na irrigação diminui a eficiência final.

No sistema pré germinado, o herbicida Only deve ser aplicado sequencialmente, em pós emergência, em doses de 0,75 L ha-1, totalizando 1,5 L ha-1. A primeira aplicação deve ser realizada com plântulas de arroz vermelho com duas a quatro folhas e a segunda 8 a 10 dias após a primeira. A irrigação da área com a introdução de lâmina permanente de água deve ocorrer até o terceiro dia após a segunda aplicação do herbicida. Inicialmente, após a pulverização do herbicida Only, podem ser observados sintomas de toxicidade nas plantas de arroz, variáveis de moderados a relativamente elevados. No entanto, o dano herbicida às plantas de arroz diminui com o passar do tempo, não sendo mais detectado visualmente por ocasião do florescimento das plantas.

O dano inicial causado pelo produto não afeta o potencial de produtividade das cultivares recomendadas para uso no sistema. O uso combinado do sistema de semeadura direta após o cultivo mínimo do solo e o sistema Clearfield aumenta a eficiência final do controle de arroz vermelho, superando os níveis de controle obtidos com cada um dos métodos usados isoladamente.

Além do benefício de maior eficiência, o uso conjunto dos dois sistemas diminui o risco de surgimento de plantas de arroz vermelho resistentes ao herbicida Only, uma vez que se estará utilizando dois produtos com diferentes mecanismos de ação (inibidor da enzima EPSPS e inibidor da enzima ALS).

O sistema Clearfield não pode ser encarado como uma solução definitiva para eliminar totalmente as infestações de arroz vermelho. Ele se constitui em ferramenta adicional que está à disposição dos agricultores para ser complementado com outras técnicas de manejo. O sucesso dessa tecnologia depende de três condições básicas: utilização de sementes de arroz de qualidade, uso do herbicida recomendado e adoção de um programa de monitoramento das infestações de arroz vermelho nas lavouras.

Dentre os procedimentos a serem adotados recomenda-se não cultivar arroz CL na mesma área por mais de dois anos consecutivos, utilizar de forma conjunta as cultivares resistentes (IRGA 422 CL, SCS 115 CL, Sator CL, AVAXI CL ou XP 710 CL) e o herbicida Only, não usar sementes de arroz contaminadas com grãos de arroz vermelho e não permitir que plantas de arroz vermelho não controladas pelo herbicida venham a produzir sementes. Nesta situação, sugere-se o arrancamento das plantas ou a utilização de herbicida não-seletivo, com auxílio da barra química. Além disto, é imprescindível usar outras medidas preventivas, como manter canais, drenos, estradas e bordas da lavoura livres de arroz vermelho, destruindo a “soca” de plantas após a colheita do arroz.

O herbicida Only (imazapic + imazethapyr), utilizado no Sistema Clearfield, pode persistir no solo, vindo afetar culturas sensíveis, semeadas em sucessão ou rotação, inclusive as cultivares de arroz não resistentes àqueles herbicidas. Os danos, em sua maioria, podem ser observados visualmente e, dependendo de seu grau, podem causar até morte de plantas. Como consequência, podem ocorrer reduções significativas na produtividade das culturas não tolerantes.

Alguns estudos e observações de campo sugerem que os principais fatores determinantes da persistência do herbicida Only no ambiente estão diretamente associados às condições de clima e solo, como por exemplo:

1- áreas com problema de drenagem;

2- inverno e primavera ou muito secos ou chuvosos e com temperaturas baixas.

Algumas práticas de manejo podem ser adotadas para minimizar ou mesmo evitar a ocorrência de danos pelo herbicida em culturas não tolerantes semeadas em sucessão ou rotação ao arroz Clearfield:

1- seguir rigorosamente as recomendações para uso do Sistema;

2- empregar o Sistema Clearfield no máximo por dois anos, deixando então a área em pousio ou adotando um sistema de sucessão ou de rotação de culturas, incluindo preferencialmente espécies leguminosas (por exemplo, trevo no inverno e soja no verão);

3- realizar preparo antecipado do solo após a colheita do arroz irrigado, o que facilita a degradação do produto durante a entressafra;

4- manter a lavoura bem drenada durante o período da entressafra;

5- naquelas situações que apresentem problemas de residual herbicida no solo e nas quais forem utilizadas espécies suscetíveis em sucessão ou rotação, escolher cultivares que possam ser semeadas na fase final da época de semeadura recomendada para evitar períodos de baixas temperaturas na fase inicial de desenvolvimento, as quais potencializam a atividade herbicida de compostos do grupo das imidazolinonas, como Only.

Estas sugestões de manejo são indicadas à luz das informações atualmente disponíveis, mas poderão sofrer adaptações a condições edafoclimáticas locais ou regionais à medida que a pesquisa avançar no estudo do tema em questão.

f) Uso de regulador do crescimento

Fazor CS (hidrazida maleica) é um regulador de crescimento de ação sistêmica que inibe a formação ou o enchimento de grãos de arroz vermelho, reduzindo a reinfestação desta planta daninha na safra seguinte. A dose recomendada é de 1710 g ha-1 (9,5 L ha-1 p.c.).

Aplica-se quando os grãos de arroz cultivado estiverem no estádio pastoso (R6 a R7) ou mais amadurecidos, e os grãos de arroz vermelho estiverem no estádio leitoso ou mais precoce (R5 a R6). Para que esta prática seja realizada com segurança, o arroz cultivado deve florescer pelo menos 7 dias antes do arroz vermelho. O produto não é eficiente quando aplicado após a fase de grão leitoso do arroz vermelho.

Não se deve aplicar este produto em lavouras destinadas à produção de sementes.

g) Prática de pousio da área

Esse procedimento contribui relativamente pouco para o manejo do arroz vermelho, visto que na realidade apenas faz com que durante determinado período não surjam plantas na superfície do solo, mas o banco de sementes sofre redução muito lenta com a utilização dessa prática.

h) Prática de rotação de culturas

Para adoção desse procedimento, recomendam-se as culturas de sequeiro, tais como soja, milho e sorgo, as quais, se atendidas as exigências de drenagem e irrigação, mostram comportamento promissor em solos hidromórficos.

A eficiência da rotação do arroz irrigado com culturas de sequeiro no controle do arroz vermelho, fundamenta-se em dois aspectos:

1) modificações das condições de solo que favorecem o desenvolvimento do arroz vermelho, principalmente a troca das condições de solo inundado por solo seco durante a estação;

2) efeito dos herbicidas alternativos utilizados nas culturas de soja, milho e sorgo, reduzindo o banco de sementes de arroz vermelho no solo.

i) Manejo da área na entressafra

Em áreas infestadas por arroz vermelho, especialmente aquelas que são utilizadas de forma intensiva com cultivo anual de arroz na mesma área, a melhor alternativa de manejo na entressafra é evitar a aração ou gradagem profunda do solo logo após a colheita. Neste caso, uma alternativa seria apenas a roçada da palhada ou gradagem superficial, evitando o enterramento profundo das sementes.

O emprego da gradagem ou aração profunda irá promover o enterramento das sementes de arroz vermelho no solo, promovendo aumento de sua longevidade. Sementes de arroz vermelho mantidas próximo da superfície do solo, mesmo que durante o inverno, germinarão ou perderão a dormência e viabilidade mais rapidamente de que aquelas localizadas em maiores profundidades no solo. Um percentual relativamente baixo de sementes de arroz-vermelho localizadas na camada superficial do solo (até 5 cm) mantém-se viável por mais de 12 meses.

j) Uso da barra química

O método é recomendado para complementar o controle de arroz vermelho, objetivando-se reduzir a produção de sementes da planta daninha em áreas infestadas. O método consiste na passagem de uma barra que libera herbicida nas plantas de arroz vermelho, utilizando-se produto não seletivo de ação sistêmica. Glifosato tem sido o produto mais usado no procedimento. O herbicida deverá atingir apenas plantas daninhas cuja altura supere a da cultivar comercial. Por isto, deve ser aplicado apenas quando houver um diferencial de estatura entre o arroz cultivado e o arroz vermelho.

Além disto, a aplicação não pode ser atrasada para depois do florescimento do arroz vermelho, sob risco de ocorrer formação de sementes viáveis. Aplica-se a solução herbicida contendo glyphosate na concentração de 30 a 50% v/v.

h) Uso de marrecos de pequim

Os marrecos de pequim alimentam-se de sementes de arroz vermelho localizadas próximo à superfície do solo. Neste sentido, é fundamental que os marrecos sejam colocados na área logo após a colheita do arroz e antes do revolvimento do solo. A densidade de marrecos varia em função da infestação de arroz vermelho e do tempo de permanência das aves no local. Como referência, utilizam-se 30 a 50 marrecos por hectare, mantendo-se-os em um mesmo local enquanto eles permanecerem ativos na captura das sementes. A manutenção dos marrecos em determinado talhão é realizada através do alagamento da área.

 

José Luis da Silva Nunes

Eng. Agrº, Dr. Em Fitotecnia

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.