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Características da cultura do algodão

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Foto: Pixabay

São cultivados no mundo dois tipos diferentes de algodão:

- O algodoeiro arbóreo;

- O algodoeiro herbáceo.

O algodão arbóreo é aquele que parece uma árvore mediana, de cultivo permanente. Já a espécie herbácea (Gossypium hirsutum L.r. latifolium Hutch) é um arbusto de cultivo anual, uma entre as 50 espécies já classificadas e descritas do gênero Gossypim. Das 50 espécies classificadas, 17 são endêmicas da Austrália, seis do Havaí, e uma no nordeste brasileiro. Cerca de 90% das fibras de algodão comercializadas no mundo são provenientes da espécie Gossypium hirsutum.

A morfologia do algodoeiro, assim como sua fisiologia, é extremamente complexa. A raiz principal é do tipo pivotante, como uma continuação direta da haste principal da planta e situa-se em sua grande maioria nos primeiros 20 cm de profundidade no solo, podendo atingir, em condições ideais até 2,5 metros de profundidade. O caule é cilíndrico, ereto e às vezes pode apresentar forma ligeiramente quadrangular ou pentangular.

As folhas do algodão são simples e apresenta-se como uma expansão laminar do caule. Existem no algodoeiro três tipos de folhas, as cotiledonares, que são as primeiras que surgem após a germinação, em forma de rim (riniformes), os prófilos, que são pequenas folhas que surgem na base da gema próxima à axila da folha verdadeira, e as folhas verdadeiras, do tipo lobada e incompletas pois não possuem bainha, subdividindo-se em dois tipos: as vegetativas, ou do ramo e as frutíferas, originadas no lado oposto de cada nó frutífero junto à estrutura reprodutiva.

A flor é do tipo hermafrodita e simétrica. O fruto é em forma de cápsula, apresentando de três a cinco lóculos, cada um com seis a oito sementes. Podem apresentar formato arredondado ou alongado na ponta fisiologia O algodoeiro apresenta melhor performance quando instalado em solos de alta fertilidade, sob condições de umidade adequada no solo (sem ocorrer encharcamento ou estresse hídrico), altas temperaturas (melhor faixa entre 23ºc e 32ºc) e alta intensidade luminosa na superfície foliar. Embora o algodão seja conhecido por ter certa resistência a seca, maior que a dos cereais, por exemplo, isso não significa que não necessite de água. Para obtenção de altas produtividades é necessária uma quantidade de água na ordem de 700 mm durante todo o ciclo da cultura.

Durante a maior parte do ciclo da planta de algodão existe diversos eventos ocorrendo ao mesmo tempo, como crescimento vegetativo, aparecimento de gemas reprodutivas, florescimento, crescimento e maturação dos frutos. Cada um desses eventos é de fundamental importância para uma boa produtividade, porém é necessário que eles ocorram de forma balanceada. A temperatura influencia fortemente o crescimento da planta, tendo sido determinada a exigência em temperatura para cada fase do crescimento do algodoeiro. fenologia A fenologia do algodoeiro subdivide-se em duas fases: vegetativa e a reprodutiva. A fase vegetativa inicia-se com a emergência da plântula e termina com a formação do primeiro ramo frutífero. Esta fase é identificada pela letra “V”.

A fase reprodutiva inicia-se com o surgimento do primeiro botão floral e termina quando as fibras no capulho atingem o ponto de maturação para colheita. Esta fase é identificada pela letra “R”.

VE – Emergência: Saída da alça do hipocótilo da plântula (gancho), elevando os cotilédones acima do solo.

VC – Afastamento dos cotilédones: Exposição da gema apical vegetativa à radiação solar. Primeira folha enrolada entre os cotilédones.

V1 – Primeiro nó vegetativo: Primeira folha cordiforme com 30% a 50% de expansão e segunda folha também em forma de coração aberta. Folha aberta significa que os respectivos bordos não se tocam.

V2 – Segundo nó vegetativo: Segunda folha cordiforme com 30% a 50% de expansão e primeira folha lobada (com lóbulos) aberta.

V3 – Terceiro nó vegetativo: Primeira folha lobada com 30% a 50% de expansão e segunda aberta. Devido as hábito de crescimento indeterminado, o algodoeiro tende a vegetar indefinidamente, emitindo sucessivos nós vegetativos com folhas lobadas. Os cultivares anuais (algodoeiro herbáceo) associados ao ambiente e ao manejo completam o ciclo natural com 20 a 25 folhas.

VR – Primeiro ramo frutífero: A partir do V5 ou V6 surge o primeiro ramo frutífero (simpodial) com botão floral e folha correspondente fechados. Desta fase em diante, o algodoeiro acelera a desenvolvimento vegetativo emitindo novos ramos frutíferos (RF) nos nós vegetativos subsequentes.

R1 – Primeiro botão floral: Primeiro botão floral (BF) com 5 mm de comprimento, encoberto por brácteas, na primeira posição do primeiro RF. Intensifica-se o acúmulo de matéria seca na planta. Na seqüência, surgem botões florais na seguinte ordem (padrão espiral): 2º BF na primeira posição do 2º RF; 3º botão floral na segunda posição do 1º RF; e assim sucessivamente.

R2 – Primeira flor: Início do florescimento com abertura da primeira flor, na primeira posição do primeiro ramo frutífero. Plantas com 14 a 16 folhas. O florescimento prossegue seguindo o padrão espiral.

R3 – Crescimento da primeira maçã: Inicio da frutificação. Primeira maçã com 1,0 cm de diâmetro na primeira posição do primeiro ramo frutífero.

R4 – Primeira maçã visível: Plantas com florescimento pleno fechando o dossel. Maçã visível na primeira posição do primeiro ramo frutífero, sobressaindo às brácteas, rica em água, macia ao tato e com sementes e fibras em desenvolvimento.

R5 – Primeira maçã cheia: Primeira maçã na primeira posição do 1º RF, iniciando a pigmentação (antocianina), consistente ao tato, aquosa, com sementes e fibras imaturas (alongamento das fibras).

R6 – Final do florescimento efetivo e frutificação plena: Fertilização da última flor economicamente viável, isto é, que origine um capulho possível de ser colhido. Flor localizada a partir do 5º nó vegetativo do ponteiro para baixo. Planta com altura final definida, predominando as maçãs.

R7 – Primeiro capulho: Final da frutificação e maturidade fisiológica. Primeiro capulho na primeira posição do 1º RF. Translocação intensa devido à carga pendente. Acentuada queda de folhas a partir do baixeiro da planta. Final da deposição de celulose nas fibras, maturação das sementes e desidratação das maçãs cheias, consistentes e pigmentadas.

R8 – Maturidade plena: Planta com 2/3 de desfolha contendo 60%a 70% de capulhos. Colheita viável desde que a umidade nas fibras esteja por volta de 12% a 15%.

O algodoeiro é muito sensível à temperatura. Noites frias ou temperaturas diurnas baixas restringem o crescimento das plantas levando-as à emissão de poucos ramos frutíferos. Por isso, a semeadura é aconselhável em regiões ou épocas em que as temperaturas permaneçam entre 18º e 30ºC, nunca ultrapassando o limite inferior de 14ºC e superior a 40ºC.

A temperatura tem importância também como indutora do crescimento das plantas, tendo sido determinada a exigência em unidades de calor para cada fase do crescimento do algodoeiro. Assim, é necessário um determinado acúmulo térmico, representado pelo somatório da diferença entre as temperaturas médias e a temperatura mínima basal diárias, para que o algodoeiro expresse todo seu potencial de crescimento a cada fase de seu desenvolvimento. Essas necessidades térmicas, denominadas de Unidades de Calor (UC) ou Graus Dia (GD) é característica de cada variedade, influenciando fortemente a época de cultivo, em função da latitude e altitude de cada localidade.

Dependendo do clima e da duração do ciclo, o algodoeiro necessita de 700 a 1.300mm de chuva para atender suas necessidades de água; 50 a 60% dessa água é necessária durante o período de floração (50 a 70 dias), quando a massa foliar está completamente desenvolvida.

 

 

José Luis da Silva Nunes

Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia

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