A safra 2004/2005 foi frustrante para produtores brasileiros de soja, em termos de preços e rentabilidade. Depois de qua...
A safra 2004/2005 foi frustrante para produtores brasileiros de soja, em termos de preços e rentabilidade. Depois de quase cinco anos de bons resultados (alguns excelentes), a temporada 2005 foi marcada pela forte quebra de produção no Rio Grande do Sul e também em algumas outras regiões, ainda que de forma menos intensa. A colheita acabou totalizando 51,09 milhões de toneladas, contra as estimativas iniciais de 60 milhões de toneladas.
Mas o principal entrave do ano foi a valorização do Real frente ao dólar, que reduziu os preços em reais. Como o plantio, realizado em 2004, coincidiu com preços altos de insumos e, durante a venda da safra, os valores em reais do grão ficaram muito abaixo do esperado, a rentabilidade da cultura caiu, levando a um desânimo geral no setor.
Na verdade, os preços não foram tão baixos se considerada a média histórica, mas pesou a grande diferença entre os valores praticados em 2004 e os obtidos em 2005, especialmente no primeiro semestre. A cotação média de abril deste ano foi 36,5% inferior à de abril de 2004 – neste ponto, é preciso ressaltar que o preço de 2004 é que estava atipicamente alto, pois as cotações internacionais estiveram muito acima da média no primeiro semestre de 2004.
Em dólares por saca, o preço praticado em 2005, segundo o Indicador CEPEA/ESALQ, variou entre US$ 11,36/saca de 60 kg (média de fevereiro) e US$ 13,84/sc (média de julho), valores que não podem ser considerados baixos em dólar. O problema foi mesmo o câmbio, decrescente de forma quase linear ao longo deste ano, reduzindo os valores em reais.
A queda da rentabilidade da soja foi, portanto, fato neste ano. Muitos produtores buscaram renegociar dívidas relativas a investimentos realizados em anos anteriores e, em alguns casos, dívidas de custeio, especialmente nas áreas afetadas pela seca.
Nestas, além do preço mais baixo, muitos produtores não colheram volume suficiente para pagar o custeio.
Quanto ao desenvolvimento da safra, até o início de dezembro, as lavouras apresentavam boas condições no Brasil – no final do mês, a estiagem na região Sul passou a preocupar sojicultores, especialmente no Rio Grande do Sul. Se a seca persistir no estado, será a terceira seguida no RS em menos de cinco anos. Em outras áreas de produção do País, a intensificação da chuva e o tempo nublado por longo período favorecem o desenvolvimento da ferrugem asiática na lavoura. O sinal de alerta é maior nas regiões em que foi detectado o desenvolvimento da doença em áreas sentinelas. Segundo levantamento da Embrapa, até 27 de dezembro, 140 regiões brasileiras apresentavam ocorrência de ferrugem asiática na safra 2005/06, sendo 47,8% das áreas comerciais e 39,3% em unidade de alerta (sentinelas).
O mercado mundial reagiu à seca no Brasil e na Argentina. A cotação do contrato Maio/06 da Bolsa de Chicago estava em queda até o início de dezembro, mas reverteu a tendência no fim do mês. Certamente, uma quebra na safra brasileira não interessa a produtores brasileiros – preços altos não têm efeito quando não se tem o que vender. O produtor brasileiro ganha quando a quebra é nos Estados Unidos e não aqui.
Pesquisadores responsáveis: Vania Di Addario Guimarães
e Mauro Osaki
Informações complementares, gráficos e tabelas se encontram no arquivo em anexo no rodapé da página