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Você disse classe média?



Argemiro Luís Brum
No sistema capitalista em que vivemos, em qualquer parte do mundo, a classe média tem sido o motor da economia. Primeiro por ser maioria, segundo por ter forte poder de consumo. Isso porque os mais ricos consomem menos por não terem necessidade e os pobres por não terem dinheiro. Assim, é justo trabalhar para que o país venha a ser composto, em sua maioria, pelo menos pela classe média. O Brasil, nesses últimos anos vem divulgando que se tornou um país de classe média, onde 53% de sua população se encontram nesta categoria, fato que teria permitido inserir mais 35 milhões de pessoas nesta faixa nos últimos 10 anos (segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, divulgado no final do mês de setembro). No entanto, é preciso verificar os critérios para definir uma classe média. Em muitos casos, e infelizmente no nosso também, tais critérios transformam o discurso em falácia. Ora, para o governo brasileiro a nossa classe média, agora, é composta pelos cidadãos que vivem em famílias com renda per capita mensal entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00. Desde quando alguém pode ser de classe média recebendo pouco mais de um terço do salário mínimo por mês? Tanto é gritante a demagogia oficial que o próprio governo se encarregou de dividir a classe média em três grupos: a classe “média” baixa, com renda entre R$ 291,00 e R$ 441,00 mensais para cada membro da família; a classe média propriamente dita, com renda entre R$ 441,00 (menos que o salário mínimo) e R$ 641,00; e a classe média “alta” com renda entre R$ 641,00 e R$ 1.019,00. É evidente que nestas condições, somando-se os ganhos via Bolsa Família e outros programas oficiais, o país tenha se tornado um país de “classe média”. Mas, na prática, estamos diante de uma falácia estrondosa, uma inverdade gritante.
Você disse classe média? (II)
Afinal, grande parte destes brasileiros, ao primeiro sinal de dificuldades econômicas, cai para o que seria hoje a classe pobre nacional. Isso porque a sua vulnerabilidade econômica é tremenda. E isso já vem ocorrendo na medida em que o crédito fácil levou 35 milhões de brasileiros ao endividamento pela primeira vez nos últimos cinco anos. Hoje já temos 43,4% das famílias brasileiras endividadas com o sistema financeiro que, mesmo tendo reduzido um pouco os juros, está longe de ser uma tranquilidade. Em 2005 eram apenas 18% das famílias nessa situação. Além disso, o comprometimento da renda das famílias para o pagamento de juros e amortização de tais dívidas subiu de 15,5% para 21,9% entre 2005 e 2012. E mais, são 58,9% de famílias que possuem algum tipo de endividamento, com o agravante de que apenas 22% ficam atentas aos juros a serem pagos quando da realização da dívida. Isso gera um elevado nível de inadimplência, a qual está derrubando grande parte destas famílias para as classes inferiores de renda e, portanto, longe até mesmo desta nossa classe média fantasiosa. Hoje, 19,1% de nossas famílias estão inadimplentes, sendo que em setembro passado o crescimento da inadimplência foi de 8,2% em relação a setembro de 2011, tendo a mesma crescido 15,3% entre janeiro e setembro de 2012. E isso que o quadro melhorou nesses últimos meses! Ou seja, grande parte das famílias que hoje seriam de classe média, pelos critérios oficiais, está longe de realmente ser desta categoria. Isso explica porque a economia travou em 2012, apesar de todos os esforços consumistas editados pelo governo. Afinal, na prática, ainda estamos longe de sermos um país de classe média. Estamos muito mais para um país de inadimplentes em número crescente. Apenas para comparação, a classe média nos EUA, oficialmente, se encontra na faixa de renda entre R$ 4.800,00 a R$ 9.300,00 per capita ao mês e na China em R$ 4.230,00 (pelo câmbio atual).

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