CI

Vão-se os dedos ficam os anéis?


Amado de Olveira Filho
Não era bem isto que o filósofo disse. Mas é o que está acontecendo com uma das mais antigas das atividades econômicas, em escala, praticada no Estado de Mato Grosso. A nossa pecuária de corte está com toda a sua cadeia com grandes dificuldades. A marolinha chegou a este importante setor de nossa economia. Um grande número de frigoríficos está suspendendo suas atividades, temporariamente, em nosso Estado.
Como existem números de várias fontes, gostos e tentações para avaliar os impactos de emprego e renda, por única falta de uma instituição que centralize, depure e divulgue as informações do setor, falam na possibilidade de demissões que vão de 10 a 20 mil trabalhadores, falam que chegam a 14 plantas industriais, enfim, tem número para todo gosto.
Da Acrimat, recebi uma tabela denominada “Estratificação das propriedades de pecuária de Mato Grosso”, que merece ser avaliada com muita atenção por todos os agentes públicos e privados com interesse no setor. Dela se extrai a informação de que aproximadamente 24% das propriedades rurais concentram mais de 92 mil produtores, produzem quase 6 milhões e 400 mil cabeças de nosso rebanho total, no entanto, cada um destes milhares de pecuaristas possui menos de 300 cabeças de gado.
Está aí um grande problema que atinge um contingente enorme de pequenos produtores. Se as prováveis demissões de mais de 10 mil trabalhadores são assustadoras, pois significa mais que o dobro das demissões da poderosa EMBRAER, imaginem o desemprego, o prejuízo e a desgraça que se abaterá sobre mais de 92 mil produtores, cujo número deve ser multiplicado por quatro, que representa a composição média familiar.
É claro que nem todos estes pequenos produtores vendiam seus bois para tais frigoríficos, porém, grande parte sim, mas o efeito de um mercado travado recai sobre todos, indistintamente. A tabela da Acrimat trás ainda mais informações, segundo ela, mais de 11 mil e 600 propriedades, produzem outros 6 milhões e 300 mil cabeças que também correspondem a quase 24% do rebanho total e estes pecuaristas possui entre 300 e 1 mil cabeças de gado.
Devemos destacar que apesar de parecer muito gado, um pecuarista com 1 mil cabeças de gado bovino, não consegue manter um filho estudando numa universidade privada. Conhecemos dezenas nesta situação. Porém, com até 1 mil cabeças de gado a planilha da Acrimat aponta que somam mais de 103 mil pecuaristas. Portanto mais 400 mil pessoas envolvidas, sem contar os seus trabalhadores. Outro destaque que merece reflexão pelas autoridades públicas é onde se concentram estes pequenos produtores. Via de regra, em pequenos municípios.
A solução para este problema não é nada fácil. Pode-se afirmar que se trata de um conflito de escolha. Ou seja, a solução se caracteriza em uma ação que visa à resolução de problema, mas que pode acarretar em outro. Estamos falando de uma provável redução na alíquota de ICMS para Mato Grosso exportar boi em pé para outros estados. Esta solução poderia, de fato, incorrer em demissões na indústria frigorífica num número maior que as que ocorrerão numa paralisação temporária destas indústrias.
Devemos recordar que não faz tanto tempo, o Estado de Mato Grosso recorreu a redução de ICMS na exportação de gado em pé para outros Estados. O resultado foi que o conflito na época se normalizou e a medida pode ser suspensa. Portanto, utilizar, mesmo que via Confaz de uma medida preventiva para não comprometer a atividade de mais de 100 mil produtores rurais em todo o Estado, é uma medida que de fato vale a pena.
Se isto não for possível e, ainda, considerando que neste mês teremos em todo o Estado o aumento da oferta pelos grandes pecuaristas de bois criados a pasto, teremos o problema agravado, assim, poderemos afirmar que o filósofo estava errado, pois irão os dedos juntamente com os anéis.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.