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Vamos mudar Mato Grosso?


Amado de Olveira Filho

          Esta semana li uma frase muito interessante, proferida pelo Produtor Rural e Presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste José Nardes. Disse ele: "não podemos mudar o câmbio e nem mudar Mato Grosso para próximo do mar. Então precisamos trabalhar na redução do combustível, porque o preço do frete praticado no mercado atualmente é inviável para os produtores".

            Este é um dos problemas meu caro Nardes, precisamos muito mais, afinal este problema de localização da produção agrícola já era tratada por David Ricardo, economista Inglês nos idos de 1820. Para ele, a distância do local do cultivo ao centro consumidor indicava maiores custos de produção, portanto, maiores lucros para os proprietários das terras mais próximas ao mercado, que receberiam uma vantagem adicional ou uma renda diferencial correspondente à diferença dos custos de transportes.

            Assim, Ricardo trabalhava sob a ótica de renda diferencial e, os produtores rurais de Mato Grosso necessitam trabalhar sob a ótica da redução dos custos de produção para a obtenção da necessária sustentabilidade econômica com o nivelamento da renda aos proprietários de terras próximas ao mercado. Portanto não se trata apenas da redução dos preços do óleo diesel, mesmo sendo este um pesado componente nos custos dos fretes.

            Uma alternativa para o aumento da renda agrícola em Mato Grosso é o aumento da produtividade, algo que não pode ser considerado quando temos ainda uma boa coleção de pragas rondando nossa agricultura. Porém, qualquer outra fórmula para a solução deste problema, lá vem os custos de fretes como uma variável com forte peso a ser considerado.

            Mas se as ações das entidades obtiverem sucesso e reduzir o preço do óleo diesel para a agricultura o problema estará resolvido? Claro que não! Atualmente as transportadoras, majoritariamente responsáveis pelo transporte de grãos de Mato Grosso, também reclamam de seus custos que não são conseqüências somente do valor do combustível, mas de impostos, péssimas rodovias, custos elevados de peças de reposição, etc.

            Destarte, ao reduzirmos os preços do óleo diesel, estaremos reduzindo os custos das transportadoras e, de forma residual, o custo final do frete para a agropecuária, algo que não será de forma alguma a solução do problema. Não é possível determinar às transportadoras que reduzam os fretes na proporção da influência de redução do óleo diesel. Isto se dá mesmo a contragosto de alguns, porque ainda estamos numa economia livre, onde o estado deveria garantir a livre concorrência.

            Não temos alternativas de curtíssimo prazo, Mato Grosso precisa mais que os investimentos previstos no PAC. Precisamos de todas as obras anunciadas no programa, como a conclusão das rodovias 158, 163, 242, 364, quando então alcançaremos as grandes hidrovias e para que tenhamos finalmente uma mínima concorrência entre os modais rodoviário, hidroviário e ferroviário. Porém, precisamos que todos os governos reduzam seus custos, sob pena de que a elevada carga tributária continue a inviabilizar não só Mato Grosso, mas as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil.

            Antes de tudo isto acontecer, vamos brigar sim pela redução do preço do óleo diesel que em Mato Grosso é um absurdo, mas vamos brigar da mesma forma, para garantir os investimentos do PAC. Caso contrário, como não se pode mudar Mato Grosso para próximo do mar, restará um só caminho, mudar de Mato Grosso.

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