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Um desafio ambiental: o papel dos transgênicos no Brasil


Peter Raven

Ao lado da Rússia, Índia e China, espera-se que o Brasil assuma um papel importante na economia global até a metade deste século. A tarefa da sociedasde brasileira, agora, é encontrar um caminho rumo ao desenvolvimento econômico sustentável, sem que isso afete a biodiversidade. Na Amazônia, por exemplo, decisões críticas têm sido feitas, que afetarão o futuro da população direta e indiretamente.

O papel da agricultura é primordial para o futuro do País. Um Brasil que abriga, hoje, cerca de um sexto das espécies de plantas de todo o mundo é um Brasil que deveria optar por soluções agrícolas que causassem menos impacto nas comunidades naturais. Uma das alternativas para esse fim é a biotecnologia. Ainda que haja poucos produtos transgênicos aprovados no País, essa ferramenta poderá trazer grandes contribuições para a produção agrícola mundial até o fim desta década, com sementes tolerantes à seca e com maior valor nutricional.

No caso da atividade agrícola, importante setor na economia brasileira, a aplicação de inseticidas na lavoura é um dos obstáculos quando o objetivo é alcançar um desenvolvimento sustentável. Desde 1947, a aplicação de quantias relativamente altas de pesticidas sintéticos é essencial para a obtenção de máxima produtividade no campo. Porém, mesmo com as freqüentes aplicações usadas atualmente, estima-se que 43% da produção agrícola é perdida pelo ataque de pragas e doenças na planta; aliás, uma das razões pelas quais o agroquímico é aplicado!

A favor destes produtos está a justificativa que outros 30% da produção também estaria perdida, o que, com seu uso, é salvo. Porém, contrário a esses ganhos, as conseqüências negativas associadas também devem ser analisadas. A saúde dos seres humanos e dos ecossistemas exige um uso limitado de pesticidas. Já que estudos mundiais comprovam que os métodos usados para a produção de plantas transgênicas não oferecem perigos, e que eles são tão seguros à saúde humana quanto os alimentos convencionais, vale analisar quais benefícios eles conferem e seus possíveis riscos ambientais.

O amplo uso das plantas transgênicas já alcançou importantes reduções na aplicação de inseticidas, um resultado positivo ao meio ambiente em geral e à saúde humana. Desde o início de sua adoção, em 1997 até 2000, o uso da soja, canola, algodão e milho geneticamente modificados eliminou 22,3 mil toneladas de químicos aplicados e, desde então, as pulverizações diminuíram em níveis subseqüentes. Cerca de 70 milhões de pássaros são mortos por ano nos Estados Unidos, resultado da pulverização de inseticidas nas lavouras, e outros animais são afetados de forma similar. No Brasil, o uso de herbicidas na soja caiu de 3,06 kg/hectare para 1,44 kg/ha depois que a soja transgênica passou a ser cultivada. E a produtividade local rapidamente alcançou a da Argentina, que foi ultrapassada pela produção brasileira, sendo que no país vizinho as variedades transgênicas são aprovadas há 10 anos.

Poderíamos citar, neste contexto, a Europa. Se metade do milho, canola, beterraba e algodão cultivados no continente fosse geneticamente modificada para resistir ao ataque de insetos-pragas, estima-se que haveria uma redução imediata de 14,5 mil toneladas de inseticidas (4,5 mil toneladas de ingredientes ativos). Isto representaria 7,5 milhões de hectares de lavoura sem aplicação de inseticidas, o que resultaria a economia de aproximadamente 20,5 milhões de litros de diesel, prevenindo a emissão de 73 mil toneladas de CO2 na atmosfera. Aliado a outros métodos para diminuir a aplicação de inseticidas e fertilizantes, como o Manejo Integrado de Pragas, o plantio de transgênicos poderia conferir benefícios na busca de uma agricultura sustentável e produtiva em todo o bloco europeu.

Baseado nestes dados, por que os métodos associados com a modificação genética são vistos, na Europa, com desconfiança quando os ganhos seguidos de seu amplo uso são tão evidentes?

Podemos fazer a mesma pergunta em relação ao Brasil: por que as aprovações são tão lentas, quando não há evidência que sustentem sua proibição? Na Índia e na China, o progresso do desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas tem sido relativamente rápido, e com bons resultados. Talvez os pareceres favoráveis que começaram neste ano no Brasil, todos atestando a segurança do milho transgênico, poderão levar o país a atuar de forma mais competitiva frente aos mercados internacionais, usufruindo dos benefícios econômicos e, principalmente, ambientais provenientes dessas tecnologias.

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