Em 24 de junho de 2020 foi disponibilizada ao público a publicação Trichoderma – uso na agricultura1. O documento é resultado do esforço de uma centena de pesquisadores e professores de ciências agrárias do Brasil, que consolidaram num livro as informações dispersas pelo mundo sobre Trichoderma spp., um dos mais importantes agentes de controle biológico na agricultura. O uso de biopesticidas como este, está adquirindo grande importância pelo mundo, com crescimento anual de 15%, segundo a Consultoria Markets & Markets. Em 2017, o comércio de biopesticidas rendeu cerca de US$ 6,4 bilhões e a expectativa é que chegue a US$ 16,7 bilhões até 2024. Aumento de 161%, no período de 7 anos. O mercado já disponibiliza 246 produtos biológicos à base de Trichoderma, registrados em diferentes países.
Assim como no restante do planeta, o mercado de insumos biológicos está em franca expansão, também no Brasil. As vendas saltaram de R$ 262,40 milhões, em 2017, para R$ 464,5 milhões, em 2018. No conjunto, os produtos biológicos cresceram 77% no período de um ano, mas os biofungicidas (Trichoderma, por exemplo) cresceram mais; quase 150% segundo levantamento da CropLife Brasil. O primeiro produto biológico à base de Trichoderma registrado no Brasil foi em 2006. Os registros saltaram para 27 em 2011 e para cerca de 200, em 2019, indicando o interesse que este tipo de tecnologia vem despertando entre os agricultores brasileiros.
Trichoderma é um fungo que habita o solo e é um importante aliado do agricultor no controle das doenças radiculares da soja, como o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), a podridão vermelha da raiz (Fusarium spp.) e a podridão radicular (Rhizoctonia solani). A Embrapa estima que somente o mofo branco esteja infestando aproximadamente 10 milhões de hectares de soja no Brasil, cujo controle com agrotóxicos é insuficiente. Precisa, ademais, do apoio de biofungicidas, como o Trichoderma, para inviabilizar as estruturas de resistência do fungo que sobrevivem no solo.
O Trichoderma é um microrganismo do bem, um inimigo natural das pragas e doenças dos cultivos. É capaz de beneficiar desde hortaliças até grandes culturas, como a soja. Existem na natureza milhares de linhagens deste fungo, algumas delas - segundo pesquisas realizadas pelo Embrapa Meio Ambiente – podem aumentar a disponibilidade de fósforo de baixa solubilidade no solo para as plantas, promovendo seu crescimento.
Na percepção da grande maioria das pessoas, os fungos são organismos associados a doenças, como os fungos causadores da ferrugem asiática e do mofo branco da soja. Mas existem fungos do bem, como o Trichoderma, cuja exploração na agropecuária brasileira para o controle de fitopatógenos vem se expandindo. Seu uso se dá em diversas formas, como pela pulverização, aplicação no sulco de semeadura ou em tratamento de sementes. Pode beneficiar diversas culturas, como soja, milho, algodão e também hortaliças, entre outras.
Boa parte dos solos brasileiros (Cerrado, por exemplo) são ricos em óxidos de ferro e alumínio e fixam o fósforo mineral do fertilizante, tornando-o indisponível para as plantas, que só conseguem absorver entre 10 e 40% do fósforo fornecido via adubação. Estudos da Embrapa Meio Ambiente indicaram que a inoculação de soja com um isolado de Trichoderma aumentou a absorção de fósforo em 141%, indicando seu potencial para também auxiliar na nutrição de plantas. Entretanto, é preciso frisar que não é qualquer isolado que apresenta tal capacidade. O Brasil depende da importação de fertilizantes fosfatados em cerca de 50% das suas necessidades e poderia reduzir tal dependência utilizando microrganismos solubilizadores de fosfatos, como os bacilos disponibilizadores de fósforo - já no mercado - e também explorar o potencial que alguns isolados de Trichoderma podem ter para mobilizar o fósforo fixado no solo.
Insumos biológicos, a próxima grande onda da agricultura brasileira e mundial.