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Tendências - O juro que temos



Argemiro Luís Brum
O juro que temos

O Copom, em sua última reunião do ano, manteve a Selic em 7,25% ao ano, indicando que a mesma deva durar por longo tempo. Ou seja, o governo anuncia que a Selic não deverá baixar mais e, segundo o mercado, pode começar a subir no final de 2013. Na prática, algumas lições merecem ser destacadas deste movimento de afrouxamento econômico realizado pelo governo. Em primeiro lugar, após o mais longo período de redução da taxa básica desde janeiro de 1999 (o atual movimento que se encerrou neste mês de novembro começou em julho de 2011), o processo da baixa dos juros não surtiu efeito desejado e na rapidez que a própria teoria indica. Geralmente, após seis meses da redução indicada, os efeitos sobre o mercado começam a se fazer sentir. Ora, isso significa que desde janeiro do corrente ano nossa economia está sob influência direta de juros mais baixos. Todavia, a produção econômica não reagiu. Pelo contrário, nosso PIB só recuou em boa parte do ano. Apenas neste terceiro trimestre alguma sinalização de recuperação anualizada aparece, porém, ainda sem sustentação suficiente para se dizer que realmente viramos a página do crescimento. Em segundo lugar, e o governo percebeu isso finalmente em maio passado, somente reduzir a Selic não basta se o juro de mercado não recuar. A tentativa de redução dos juros gerais, via o uso dos bancos públicos e os discursos oficiais, caminhou nesse sentido. Todavia, lá onde os brasileiros mais se endividam (cartão de crédito e cheque especial) os juros recuaram muito pouco. Em terceiro lugar, precisamos de juros muito mais baixos ainda. Com a atual Selic o juro real anual ainda é de 2% se considerarmos uma inflação otimista de 5% neste final de 2012. Todavia, num passado não muito distante chegamos a ter juro real superior a 10% ao ano, igualmente medido pela Selic. Em quarto lugar, o desafio será manter a inflação sob controle em 2013! O próprio crescimento da economia para 3% ao ano (talvez mais, segundo o governo) se encarregará de pressionar para cima os preços internos, que já vivem sob pressão. Além disso, se os combustíveis subirem 15% como deseja a Petrobrás, sem uma contrapartida (redução do custo da energia elétrica, por exemplo), a inflação tende a disparar. Em quinto lugar, em isso ocorrendo, o governo se verá na obrigação de elevar a Selic para conter a inflação, podendo ter que antecipar o movimento, agora estimado para o final de 2013.


O juro que temos (II)

Dito isso, para o consumidor e as empresas nacionais, independente da Selic, os juros atualmente praticados, embora tenham recuado um pouco, ainda são exorbitantes no país. Entre janeiro e agosto deste ano o juro no país consumiu R$ 23 bilhões. É de se imaginar quanto teria sido o valor caso não tivesse havido o movimento de baixa, mesmo que de efeito limitado. Enquanto a Selic, auxiliada pela baixa dos juros internacionais no contexto da atual crise mundial, caiu de 22% para 7,25% em 10 anos, os juros comerciais pouco recuaram. E, quando isso ocorreu, foi apenas recentemente, mais “no grito” oficial do que

propriamente por razões estruturais de nossa economia. E a tendência não é de grandes melhorias pela frente já que a inadimplência continua subindo no longo prazo, entre famílias e empresas, levando o setor financeiro a abusar da alta dos juros como um colchão de proteção, fazendo o conjunto da sociedade pagar a conta. Aliás, segundo o IBGE, as famílias brasileiras só percebem 1,9% do que realmente desembolsam com o pagamento de juro, vivendo constantemente enganadas. E, nesse sentido, um dos maiores engodos é o crédito em parcelas sem juros. Ora, em lugar nenhum do mundo o pagamento à vista tem o mesmo valor do pagamento parcelado. Isso ocorre aqui porque o pagamento à vista foi inchado, levando o consumidor a preferir comprar a prazo e, com isso, pagar juros. Assim, o país precisa sim criar as condições estruturais para reduzir muito mais o juro e eliminar essas artimanhas comerciais. Afinal, reduzir o juro significa que parte do dinheiro, que hoje vai para o sistema financeiro, seja redistribuída para a produção e o consumo.

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