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Supersafra de Soja: a realidade



Argemiro Luís Brum
A grande imprensa gaúcha, acompanhada por determinados setores, classifica a atual safra de soja, recentemente colhida, como sendo uma supersafra. Tudo depende do ângulo que se analisa seus resultados. Em primeiro lugar, é verdade que em números absolutos o Estado bateu um recorde de produção, atingindo a 12,4 milhões de toneladas (cf. último boletim de Safras & Mercado). No ano anterior nossa produção, atingida pela seca, tinha ficado em apenas 6,6 milhões de toneladas. Dois anos antes, em safra normal, tínhamos colhido 11,5 milhões de toneladas. Assim, sob esse ângulo podemos falar de supersafra. Todavia, e em segundo lugar, ocorre que neste ano de 2012/13 aumentamos em muito a área semeada com a oleaginosa. Dois anos antes nossa área plantada chegou a 4,1 milhões de hectares. No ano seguinte (2011/12) atingimos a 4,25 milhões de hectares. Neste ano de 2012/13 fomos a 4,6 milhões de hectares. Ou seja, e em terceiro lugar, muito do nosso aumento bruto na produção atual se deve ao aumento de área e não exatamente à produtividade. Dito de outra maneira, para os produtores rurais gaúchos houve uma safra normal, porém, jamais supersafra. Tanto é verdade que a produtividade média obtida em 2010/11 ficou em 2.805 quilos/hectare ou 46,7 sacos/hectare. Tal produtividade despencou para apenas 1.590 quilos (26,5 sacos/hectare) no ano passado, devido à seca. E, nesta atual safra (2012/13) chegamos a uma produtividade média estadual de 2.696 quilos/hectare ou 44,9 sacos por hectare. Em outras palavras, nossa produtividade média foi menor do que a normal safra de 2010/11.
Supersafra de Soja: a realidade (II)
Assim, a estiagem de parte de janeiro e fevereiro, que infelizmente se abateu sobre boa parte das regiões produtoras gaúchas, acabou sim fazendo estragos. Isso porque, com essa produtividade média atual, se tivéssemos ficado com a mesma área de dois anos atrás, nossa produção final teria sido de 11,2 milhões de toneladas. Ou seja, 1,2 milhão de toneladas colhidas na safra atual se deve ao aumento de área e não ao desempenho da produtividade. Ora, isso é frustrante para o produtor, pois seu custo aumentou sem que houvesse uma correspondente compensação em produção final. Olhando ainda sob outro ângulo, com a produtividade de dois anos atrás, a área semeada atualmente teria rendido um total de 12,9 milhões de toneladas, isto é, 500.000 toneladas a mais. Traduzindo pelo preço médio obtido durante o momento da colheita (R$ 54,40/saco) - obviamente a média de preço será superior, pois 25% dos produtores gaúchos venderam antecipadamente sua safra, a preços melhores do que no momento da colheita-, apenas como exercício, os produtores rurais gaúchos de soja deixaram de receber um total de R$ 27,2 milhões devido a estiagem deste verão. O que auxiliou realmente os produtores neste ano foi que o preço médio na colheita foi até um pouco melhor do que o obtido no frustrado ano passado (R$ 53,54/saco) e bem superior ao obtido dois anos antes (R$ 41,92/saco). Todavia, isso não é suficiente para, sob o ângulo de quem produz soja no Rio Grande do Sul, avançarmos que tivemos uma supersafra. Em síntese, o resultado foi bom, dentro do que se pode considerar uma safra normal, porém, abaixo das expectativas criadas no momento do plantio.

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