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Sinais Contraditórios



Argemiro Luís Brum
O Brasil terminará o biênio 2011/2012 com o pior crescimento econômico desde o governo Collor de Mello (1991/1992). Naquela oportunidade, o crescimento do biênio ficou em 0,25%. Nesse atual biênio deveremos ficar em 2,1%, caso realmente fiquemos com um PIB de 1,5% em 2012 (o mercado já indica um resultado menor). As razões são conhecidas, sendo duas as principais: o mercado externo recua e nossas exportações caem significativamente, mesmo com o Real desvalorizado em mais de 20% desde março passado; o mercado interno se esgota, mesmo com a continuidade de medidas oficiais pontuais em favor do consumo, cristalizado no forte recuo da produção industrial. Para 2013 o governo espera crescimento acima de 4% (acompanhado por estimativas do FMI), enquanto a maioria dos economistas nacionais espera algo ao redor de 3%. Todavia, neste final de ano começam a surgir sinais contraditórios que ameaçam tal recuperação, mesmo a menos otimista. Em primeiro lugar, será difícil manter os juros nos atuais níveis diante de uma pressão inflacionária que deverá ser maior a partir do aumento anunciado no preço dos combustíveis. Em segundo lugar, o governo, por absoluta incapacidade de superar os interesses corporativistas e políticos, não consegue reformar o Estado. Assim, não pode continuar abrindo mão de receitas de impostos oferecendo isenções temporárias a determinados setores (caso dos automóveis, por exemplo). Tanto isso é verdade que, para 2012, decidiu arriscar perigosamente em diminuir o tamanho do superávit fiscal (um dos três pilares da estabilização da economia) em R$ 25,6 bilhões. Com isso, a despesa total esperada para o ano sobe para 18,8% do PIB, ou R$ 842,4 bilhões. Um recorde! O setor público deveria poupar neste ano 3,1% do PIB, segundo o orçamento. Deverá ficar agora em 2,6%. Isso porque, contraditoriamente, o governo, mesmo sabendo que estaria dando isenções a setores específicos, continuou projetando arrecadação tributária muito otimista. Afinal, esperava já neste ano um PIB de 4%, contrariando a tendência evidente de um PIB bem menor. Paralelamente, ao invés de fazer economias, o setor público continua gastando mais do que pode. A Câmara Federal, por exemplo, acaba de aprovar um projeto que dá aumento salarial de 49,4% a seus servidores. Enquanto isso, os brasileiros que viajam ao exterior, mesmo com o menor valor do Real, parecem igualmente não entenderem que o momento é de realizar poupança (aliás, uma incompreensão que também se faz muito presente no cenário interno do país, haja vista o crescente endividamento e inadimplência da população e empresas nacionais). Somente em outubro passado os brasileiros gastaram no exterior US$ 2,09 bilhões, o segundo maior valor mensal da história nacional. Infelizmente, estamos esquecendo um preceito econômico fundamental no horizonte de médio prazo: antes de acelerar o consumo, que é importante, precisamos gerar poupança para podermos investir. Algo que o Brasil nunca teve suficientemente e, pelo andar da carruagem, não terá tão cedo.

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