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Selic aumenta ainda em abril (?)



Argemiro Luís Brum
O anúncio da inflação oficial de março (IPCA) veio confirmar a presença de um processo de alta de preços generalizado no país. O mesmo atingiu a 0,47%, levando a inflação acumulada em 12 meses a 6,59%, ou seja, acima do teto da meta. Mesmo que a inflação de março seja a menor em sete meses, indicando um decréscimo da mesma em tendência, e que a expectativa para abril seja de um percentual ainda menor, a realidade preocupa. E isso tudo apesar da interferência do governo na economia, via a redução de impostos inclusive em produtos da cesta básica. Assim, no curto prazo pode-se cogitar um aumento na taxa de juros Selic já neste mês abril (o Copom se reúne na próxima semana). 

Lembramos que faz meses que se projeta uma Selic de 8,5% no final deste ano, contra os atuais 7,25%. Na prática, o Banco Central está em uma sinuca de bico. Se pressionar para um aumento do juro, pode estar atropelando uma realidade que estaria indicando uma redução natural da inflação anual no segundo semestre (a partir de setembro, pelos índices registrados no ano passado, é de se esperar um recuo no acumulado inflacionário). 

Todavia, se nada fizer pode estar dando munição ao mercado para que os preços continuem subindo, além de confirmar sua total falta de independência em relação ao governo. Esta última situação o faz perder credibilidade perante o mercado.

Outro sinal de que não há mais espaço para dúvidas é de que o INPC foi ainda maior, chegando a 0,6%, acumulando em 12 meses 7,22%, contra 6,77% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Dito de outra maneira, as medidas desenvolvimentistas estão fazendo água, exigindo intervenção monetarista, por não termos as condições estruturais para agirmos de outro modo.

Além disso, a sociedade brasileira ainda continua mal preparada para a estabilidade. Senão vejamos a seguinte realidade (cf. Revista Superinteressante, 31/01/2013): no México o Honda City é um carro importado. Não do Japão, mas de Sumaré, uma cidade da região de Campinas, SP, onde tem uma fábrica da Honda. O City saía de Sumaré, em janeiro passado, ia para o porto de Santos, navegava 8 mil quilômetros num contêiner e chegava às concessionárias mexicanas custando R$ 33.500. Aqui, o mesmo carro, da mesma fábrica, custava R$ 53.600. Sim, os impostos no México são menores. Mas nem tão menores.

Lá, 20% do preço total de um carro são impostos. Aqui é entre 30% e 40%. Mas isso sozinho não explica os R$ 20 mil de diferença. A explicação está no fato de que o brasileiro típico ainda acha normal hipotecar a vida num carro. E com a subida na renda média nos últimos anos, R$ 50 mil, R$ 60 mil já parece um preço bom por um carro razoável. Mas isso é preço de Mercedes lá fora. E tal acomodação está em todo o lugar, como se percebe na postura popular perante a elevação dos preços do tomate no Brasil nestas últimas semanas.

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