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Reciclagem de Fósforo em Pastagens


Newton de Lucena Costa
A reciclagem do fósforo (P) está relacionada com sua estabilidade (baixa solubilidade) e sua baixa mobilidade nos solos. O P é relativamente imóvel no solo e não apresenta formas gasosas. A remoção de P pelo corte e/ou pastejo constitui a principal fonte de remoção do sistema, contudo em pastagens bem manejadas seu retorno através dos resíduos orgânicos e excreções animais resulta num ciclo relativamente fechado. Devido ao alto grau de intemperismo, os Oxissolos e Ultissolos tropicais apresentam baixas quantidades de P disponível, sendo que cerca de 60 a 80% encontra-se sob a forma orgânica. Ademais, estes solos apresentam alta capacidade de fixação  de P. Os íons HPO4 que são liberados pela mineralização do P orgânico ou pelo fertilizantes fosfatados são fixados em formas pouco disponíveis ou indisponíveis para as plantas. Devido ao baixo conteúdo de cálcio e baixo pH, o P mineral forma fosfatos de ferro e alumínio relativamente insolúveis ou solúveis sob condições anaeróbicas (solos reduzidos). Os dois principais processos de fixação de P no solo são: 1. Precipitação com o alumínio trocável. Ao aplicar adubos fosfatados os cátions básicos neles contidos dispersam o alumínio trocável das argilas, o qual se hidroliza e reage com os íons HPO4 formando fosfatos de alumínio insolúveis; 2. Adsorção do P nas partículas de sesquióxidos. Quanto maior o conteúdo de óxidos de ferro e alumínio, maior será a capacidade de fixação de P.
 
Entradas de P no sistema: a principal fonte de P para as pastagens é a mineralização da matéria orgânica do solo. O conteúdo inicial de P orgânico, P total, teor de umidade dos resíduos orgânicos, temperatura e o tempo, são os fatores que determinam o grau de mineralização líquida do P contido nos resíduos orgânicos e animais. Cerca de 3 a 30% do P orgânico contido nas fezes de ovelhas e 2 a 5% do P contido nos resíduos orgânicos vegetais podem ser mineralizados. Em média, cerca de 77% do P da liteira e 79% do P contido nas raízes mortas, tornam-se disponíveis para o crescimento das plantas no ano seguinte à sua deposição. Do total de P contido na parte aérea da planta, 60 a 80% é solúvel em água e a maioria é inorgânico. Em geral, somente a longo prazo o retorno de P através do esterco animal afetará de forma significativa a sua reciclagem, como conseqüência da distribuição irregular das fezes e sua baixa mobilidade. A ocorrência de besouro coprófagos e minhocas aumentam a velocidade de mineralização das fezes através de seu enterrio ao solo. A adição de P através da atmosfera (poeira) ou pelas chuvas é pequena, sendo relatados valores entre 0,04 a 0,6 kg de P/ha/ano. Fato semelhante ocorre com os processos de intemperismo dos minerais primários do solo.

Outro mecanismo importante para a reciclagem ou incorporação de P ao sistema planta-animal é a associação simbiótica entre as raízes e as micorrizas arbusculares. Em geral, os efeitos das micorrizas sobre o crescimento das plantas se manifesta pelo aumento da superfície de absorção de nutrientes, maior longevidade das raízes absorventes e melhor utilização de formas de nutrientes pouco disponíveis para as raízes não colonizadas. Trabalhos realizados em Rondônia demonstraram que a inoculação de Scutellospora heterogama em Desmodium gyroides; Glomus etunicatum em Stylosanthes capitata e Gigaspora margarita em Pueraria phaseoloides, proporcionaram rendimentos de forragem semelhantes ou superiores aos obtidos com a aplicação de 50 kg de P2O5/ha, na ausência de inoculação. Ademais, a absorção de nitrogênio e fósforo foram significativamente incrementadas com a inoculação de micorrizas.
 
Saídas de P do sistema: em solos aráveis e bem drenados as perdas por lixiviação ou volatilização são mínimas, sendo estimada em 0,3 kg de P/ha. Não há evidências de perdas gasosas de P, mesmo sob condições anaeróbicas. Cerca de 69 a 80% do P total da planta pode ser reciclado da vegetação quando esta apresenta-se em estado latente ou em decomposição. A intensidade e duração das chuvas e  o intervalo entre a senescência dos tecidos e a primeira chuva afetam as quantidades de P que retornam ao solo ou que pode ser perdido por escorrimento.
A maior saída de P do sistema deve-se a remoção de forragem para a produção de feno, silagem ou biomassa verde para fornecimento direto aos animais.  A remoção via produtos animais é pequena, sendo reportados valores de 6,71; 6,76; 4,53 e 1,03 kg de P/1000 kg de produto animal, respectivamente para bezerros, novilhos, ovelhas e leite de vaca. Em geral, as perdas variam de 1 a 10 kg de P/ha/ano, dependendo da produtividade da pastagem e da carga animal utilizada. Trabalhos realizados no Amazonas constataram que a quantidade de P exportada por bovinos em pastejo, supridos com sal mineral no cocho, representou apenas 31,53% da somatória dos nutrientes consumidos na gramínea (Brachiaria humidicola) e no sal mineral. Para uma produtividade animal de 256 kg de peso vivo/ha/ano, de um total de 5,93 kg/ha/ano de P consumido, 60,88% foi do sal mineral e apenas 39,12% foi da gramínea; 1,87 kg/ha/ano foram estocados no animal e 4,06 kg/ha/ano retornaram ao solo.
 
Newton de Lucena Costa – Embrapa Roraima
 
 

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