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Quer pagar quanto (por mês?)


Cláudio Boriola

Um fenômeno está acontecendo nas maiores lojas e financiadoras do Brasil: o aumento do número de parcelas no pagamento das compras!

Em algumas concessionárias já é possível comprar um carro estendendo o seu pagamento por até seis anos (72 vezes), situação inimaginável até então. Eletrodomésticos mais caros, como uma geladeira, por exemplo, sai por até 24 meses, sendo que o limite era de 12 pagamentos. Até os serviços de crédito pessoal já calculam o pagamento em 24 vezes, com juros de 6% ao mês.

Isso acontece não por benevolência das instituições financeiras, mas sim porque o Brasil passa por um momento relativamente tranqüilo. Apesar dos freqüentes abalos políticos e de uma queda ou outra nas bolsas de valores, o ambiente é confiável para os investidores e para financiadoras. Mas logicamente, há aspectos negativos para os dois lados envolvidos nesse jogo: quem empresta e quem pega emprestado.

Para as financeiras, essa abertura pode resultar em um tremendo tiro no pé. Com os pagamentos estendidos numa maior quantidade de parcelas, a inadimplência pode bater à porta com mais freqüência. O que é também reflexo do ponto negativo para o consumidor. Sem planejar, ele vai fazendo as compras, pagando pouco por mês. A partir daí, cria-se um efeito cascata de débitos no orçamento familiar. As parcelas, que são de valores baixos, começam a pesar e pode se chegar a um momento em que tem de escolher o que vai pagar: as despesas mensais fixas ou as parcelas do que se comprou, sem o devido planejamento. O objetivo principal dessas medidas é aumentar a movimentação financeira e o consumo nas classes com menos poder aquisitivo. E isso sem informação e educação financeira é uma bomba relógio.

Podemos conferir essa política nos mais diversos ramos. No turismo, por exemplo, empresas aéreas e agências parcelam passagens e pacotes em até 10 pagamentos. A nova ministra do turismo, Marta Suplicy, já sinalizou que pode colocar em funcionamento um programa de turismo voltado para a população de baixa renda. A ministra só deve se atentar ao grave problema de infra-estrutura que algumas regiões do nosso país ainda tem. Se mal damos conta do número de visitantes que temos, imagine com esse "novo público"... Mas esse já é um outro problema a ser resolvido pela pasta e sua nova ministra.

Realmente é uma grande tentação poder comprar um carro ou algum outro item pagando pouco por mês, mas é necessário ter um certo sangue frio na hora de realizar essas compras e evitar o parcelamento a perder de vista. Aliás, uma compra bem feita e planejada muitas vezes dispensa o parcelamento. Portanto, gaste caneta e papel no planejamento de um compra, mas não gaste o dinheiro que não tem.

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