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Qualidade da cama e sua importância na produção avícola



Karina Ferreira Duarte

Introdução

 

A composição da cama pode sofrer variações de acordo com o material utilizado, época do ano, idade da criação, dieta oferecida, manejo adotado e densidade. Ao final do ciclo de produção, a composição da cama de maravalha, contem em média 14% de proteína bruta, 16% de fibra bruta, 13% de matéria mineral, % de cálcio e % de fósforo, segundo dados da Embrapa suínos e aves.

A qualidade da cama pode influenciar diretamente na produtividade do lote, pois quando o lote é criado sob uma cama de boa qualidade, está menos susceptível a problemas sanitários. Dermatites, ulcerações do cochim plantar e calos de peito, por exemplo, são afecções diretamente ligadas à baixa qualidade da cama. As condições do conchim plantar das aves tem sido propostas como um dos melhores indicadores de bem estar das aves. No futuro, a severidade das dermatites presentes no cochim plantar serão determinantes para a densidade de alojamento dos frangos.

A cama de frango aliada a fatores como pH, atividade da água e temperatura, constitui um ambiente favorável para o desenvolvimento de diversos grupos bacterianos.

A presença de bactérias na cama é inevitável e entre os problemas decorrentes da sua presença em altas concentrações, podem-se citar a contaminação do ambiente natural, infecções nos frangos e maior contaminação do trato digestório por bactérias indesejáveis, resultando em maior contaminação dos produtos oriundos do abatedouro. Sabe-se que a presença e o metabolismo de microrganismos presentes na cama, são acompanhados por produção de calor, liberação de CO2 e formação de amônia.

Dentre as bactérias presentes na cama, encontram-se em maiores quantidades as bactérias aeróbias e microaerófilas. Entre os Gram-positivos e Gram-negativos mais freqüentes destacam-se Lactobacillus sp e Escherichia coli, respectivamente.

Segundo Rehdeger (2002) a grande diversidade de bactérias presentes na cama pode ser dividida em dois grupos:
 
a. Bactérias que não representam risco direto à saúde animal, mas que influenciam as condições da cama, consistindo no grupo mais expressivo numericamente.
b. Patógenos primários e secundários de aves ou os comensais para aves, porém potenciais patógenos para humanos.

 

Os organismos não patogênicos, grupo um, participam de complexos processos de reciclagem dos nutrientes excretados pelas aves, tais como os que atuam na decomposição do ácido úrico resultando em amônia, e os proteolíticos que produzem enzimas (proteases) que decompõem proteínas da excreta.

O grupo dois, no entanto, é o grupo de interesse quando se considera riscos microbiológicos da reutilização de cama, sobretudo os agentes zoonóticos, devido as suas implicações em saúde pública. A Salmonela e Campilobacter, especialmente Campylobcater jejuni figuram entre os agentes implicados em segurança alimentar mais relevantes. Bactérias como Escherichia coli e Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens entre outros, também podem estar presentes na cama e atuarem como patógenos oportunistas ou contaminantes de alimentos (Fiorentin, 2005).

 
Fatores importantes para um manejo adequado da cama
 
1. Tipo de material utilizado;
2. Pré-aquecimento: ajuda a remover condensação do piso;
3. Manejo durante a criação adequado: água, ração e condições ambientais;
4. Boa ventilação no interior do galpão;
5. Intensidade luminosa uniforme para estimular a distribuição das aves;
6. Atenção com o manejo de água: deve-se ter conhecimento do volume necessário para ajustar o fluxo e evitar vazamento dos nipples.

 

Os materiais utilizados variam muito de época para época e de região para região, mas devem ter sempre características desejáveis quanto à maciez, capacidade de absorção, compressão, isolamento térmico, além de ser livre de fungos, não tóxicos e de baixo custo.

A temperatura média da cama varia em função da densidade e espessura. O aumento da temperatura da cama pode contribuir, juntamente com o calor gerado pelas aves, aquecedores e fluxo de calor entre a instalação e o ambiente externo, para um aumento de temperatura interna dos galpões e como uma carga adicional de calor para as aves. Assim, poderia haver uma redução na ingestão de alimentos pelas aves, com conseqüente efeito na taxa de crescimento.

A espessura da cama não só é determinante no controle da temperatura como também na deterioração da qualidade da mesma. Recomenda-se que a altura da cama seja alterada em função da densidade de criação. A espessura recomendada pode variar de 5 - 10 cm, dependendo ainda do material utilizado, período do ano e condições do galpão.

A temperatura, umidade e ventilação deve ser continuamente monitoradas para garantir que a cama se mantenha em boas condições. Deve haver uma taxa de ventilação mínima adequada ao longo de todo o galpão. Esta taxa de ventilação deve prevenir que o ar dentro do galpão exceda níveis perigosos de dióxido de carbono e amônia. A umidade relativa do ar em torno de 70% é sempre recomendável.

A amônia é o poluente tóxico mais freqüentemente encontrado no galpão, sendo sua formação atribuída à decomposição microbiana do ácido úricos dos excrementos.

Concentrações de 75 a 100 ppm, têm reduzido em 15% tanto a produtividade dos frangos como a produção de ovos. A produção de amônia na cama varia de acordo com temperatura, quantidade de substrato, manejo e dieta oferecida.

A umidade da cama é uma das maiores preocupações na produção de frangos de corte devido ao impacto negativo à saúde, bem estar e desempenho produtivo das aves. As causas de uma cama úmida em um galpão de frangos são sempre multifatoriais e em geral, se devem a uma interação entre nutrição, manejo e condições da saúde intestinal das aves. Dentre estes fatores, destacam-se os níveis de sódio, cloro e potássio na dieta, o conteúdo e digestibilidade da proteína, os níveis de fibra, a tecnologia de fabricação do alimento e a qualidade da gordura.

Como exemplo de ingredientes que contém níveis variáveis de sódio e cloro, estão aqueles originários das indústrias de bolacha e a farinha de peixe. Dependendo da fonte de água, é importante checar as concentrações de minerais, principalmente sulfatos e magnésio. Estudos indicam que o uso inadequado de fitase na ração pode aumentar a incidência e severidade de cama molhada. Isto porque a fitase aumenta a secreção de outros minerais que resultam passagem rápida do alimento pelo intestino e aumento no consumo de água.

O aumento da densidade populacional, em galpões avícolas, tem como implicação além de outros problemas, o aumento da quantidade total de água excretada pelos frangos de corte. É sabido que a quantidade de água ingerida pelo frango aumenta com a idade e com as condições ambientais de criação. Nesse sentido, em condições de calor, quando a água é utilizada pela ave como tampão térmico, a relação entre a quantidade de água ingerida e a quantidade de água excretada pode aumentar em até cinco vezes ou mais, dependendo do grau de estresse pelo calor. A implicação do aumento deste processo está relacionada com a qualidade da cama, pois com o maior volume de água excretada ocorre deterioração da cama, tanto do ponto de vista de isolante térmico, quanto sanitário.
 
Conclusões e recomendações
 
 
Ao adquirir o material de cama para frangos de corte deve-se atentar para sua qualidade, observando-se a procedência do mesmo e as condições em que estava armazenado, com o principal objetivo de não introduzir materiais contaminados no aviário. Uma cama de boa qualidade é importante para a saúde das aves e fundamental para o sucesso da criação, além de se constituir em ótima fonte de nutrientes para a agricultura.

 

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