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Preços agrícolas e importação de alimentos


Amado de Olveira Filho

             Na agricultura, é comum que o desenvolvimento tecnológico, que permite o aumento de ganho de escala, gere aumento na oferta de produtos e, por conseguinte provoque a redução nos preços agrícolas. Assim, a maioria das políticas de fomento à produção e à modernização tecnológica foram implementadas na agricultura durante boa parte do século XX, na maioria dos países europeus e nos EUA.

            No caso brasileiro, houve também uma elevação significativa na produtividade dos fatores de produção na agropecuária especialmente após a década de 70. Estudos demonstram que a produtividade total dos fatores, da terra e da mão de obra na agropecuária brasileira aumentou significativamente entre 1970 e 1995. Desta forma, os preços de muitos produtos agrícolas assumiram uma tendência declinante nas últimas décadas.

            Podemos resumir esta questão afirmando que o sistema de pesquisa agropecuário e a indústria de insumos produzem inovações tecnológicas mais produtivas e redutoras de custos de produção, que quando difundidas, acabam se refletindo em menores preços dos produtos. Nossa opinião é a de que com isso, no longo prazo, os beneficiários do avanço tecnológico são os consumidores, que recebem a mesma quantidade de produto (ou mais) por preços menores, mesmo em detrimento à renda dos produtores rurais.

            O que estamos testemunhando neste mês de outubro no Brasil é algo mais danoso para a nação que todas as confusões que os aloprados geraram para o Presidente da República. Os preços agrícolas não param de subir, aumentaram em média 6,2%, até 20 de outubro em relação a igual período de setembro, sendo que as maiores altas foram as do milho, trigo e arroz, produtos, portanto de consumo interno.

            A questão toma forma ainda mais grave, quando o Presidente da República participando de um debate na última segunda feira e, questionado pelo seu opositor que o preço do arroz vai disparar no início do próximo ano em função da redução drástica de produção, o Presidente com ironia respondeu: "ora não me venha com essa, se isso acontecer, eu importo arroz".

            Desta forma a nação brasileira ficou sabendo das reais intenções da manutenção de elevadas reservas cambiais pelo atual Governo que já ultrapassam os US$ 76 bilhões neste mês de outubro. Afinal, eles sabem que o País terá de importar alimentos em 2007, com forte reflexo na inflação.

            Outra certeza é de que estas sucessivas e recentes altas dos preços refletem a frustração das safras a partir de 2004, associada à grave crise de liquidez no campo, devido ao câmbio. O que será ruim para o consumidor será um alento para fornecedores de insumos, afinal, os produtores tentarão recuperar a produção com maior utilização dos chamados pacotes tecnológicos.

            Vivemos num país dos paradoxos. Tramita na Câmara dos Deputados, um Projeto de Lei do Deputado Aldo Rebelo que objetiva  introduzir a fécula de mandioca no pão. O que me chamou a atenção, é que na justificativa do projeto, o ilustre parlamentar, justifica a importância da medida que reduzirá a importação de trigo. Afirma o Deputado: "A importação de alimentos do exterior sempre foi, desde Dom João VI que trazia sal de Setúbal e trigo da Inglaterra, uma marca registrada das elites". Estranho não?

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