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Plantas espontâneas na citricultura


José Luis da Silva Nunes
A produção de citros é uma das atividades agrícolas brasileiras mais importantes em função da renda gerada e pela necessidade de mão de obra envolvida. Porém, diversos fatores interferem nesta atividade econômica, diminuindo a capacidade produtiva das culturas citrícolas. Dentre estes fatores, estão as plantas espontâneas ou invasoras.

As plantas espontâneas são, normalmente, espécies agressivas que fazem parte do ecossistema onde estão instalados os pomares. Destas, entre plantas de diversas famílias e gêneros sobressaem-se algumas, pela capacidade infestante dos pomares (Tabela 1).
 
PROBLEMAS OCASIONADOS POR PLANTAS ESPONTÂNEAS

As plantas espontâneas competem com a cultura por água e nutrientes podendo, também, ser responsáveis pela produção e liberação de substâncias alelopáticas no ambiente, além de atuar como hospedeiras intermediárias de insetos pragas e patógenos.

Além dos prejuízos diretos, a presença de plantas espontâneas reduz a eficiência das práticas agrícolas nos pomares, aumentando os custos de produção. Em termos práticos, as espécies invasoras podem ser responsáveis por perdas na ordem de 30 a 40% da produção citrícola, quando não manejadas de forma adequada.

CARACTERÍSTICAS DE UMA PLANTA PARA SER CONSIDERADA ESPONTÂNEA

As plantas espontâneas são dotadas de certas características que lhe são peculiares e que interferem na estratégia de seu manejo. Para se manejar bem estas plantas há necessidade de se conhecer mais profundamente tais características, que podem ser identificadas como:

1. As plantas espontâneas podem se desenvolver (germinar suas sementes e crescer) em ambientes pouco propícios. Esta é uma característica que varia em função da espécie, pois todas germinam e desenvolvem melhor em condições mais amenas, porém certas espécies são capazes de se desenvolver onde outras não seriam capazes;

2. As espécies espontâneas têm como característica uma alta capacidade de multiplicação, expressa por extrema facilidade de florescimento. Isto porque, em quaisquer que sejam as condições, a maioria das espécies invasoras floresce e produz sementes;

3. As plantas invasoras apresentam alta capacidade de perpetuação e competição, expressa, juntamente com a dormência, pela grande quantidade de sementes produzidas;

4. As sementes das diversas espécies espontâneas apresentam adaptações especiais que facilitam a sua dispersão, que pode ser dar de diferentes formas (pelo vento, por animais, pela água de irrigação, pela contaminação de lotes de sementes de plantas cultivadas, etc);

5. As espécies espontâneas apresentam variações genéticas dentro de uma mesma população, que facilitam sua adaptação às práticas de manejo das culturas, tornando-as tolerantes as mesmas. Quanto maior a heterogeneidade de uma população, maior será sua capacidade de adaptação as práticas de manejo.

MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS ESPONTÂNEAS EM POMARES

Para que um pomar mantenha-se produtivo e não sofra a interferência de plantas invasoras, deve-se empregar, o mais corretamente possível, um conjunto de práticas de manejo destas. Estas envolvem uma série de operações que, para terem sucesso, dependem do conhecimento da cultura, da espécie espontânea infestante, das características desta, da época adequada de execução das práticas de manejo, do uso correto dos equipamentos e da capacidade da equipe executora. O manejo correto das plantas espontâneas é importante, pois estas espécies podem interferir de maneira direta e/ou indireta, tanto na formação quanto na produção de pomares adultos. O controle das plantas espontâneas em pomares de citros pode ser feito por métodos de controle culturais e químicos.

a) MÉTODOS CULTURAIS

1. CONTROLE PREVENTIVO
O controle preventivo objetiva reduzir a infestação e não o controle ou a eliminação das espécies que infestam a área. A implementação do controle preventivo consiste em:
a) usar mudas certificadas;
b) evitar trânsito de animais de áreas infestadas para áreas livres de plantas espontâneas;
c) limpar os equipamentos após trabalho em áreas com plantas espontâneas indesejáveis;
d) controlar essas espécies em canais e margens da lavoura e nos caminhos.
Além disso, o produtor deverá utilizar todas as práticas capazes de evitar a introdução, disseminação e aumento da infestação das espécies espontâneas.

2. CONTROLE MECÂNICO

O controle mecânico, por meio do arranquio manual, é o método de controle mais antigo usado pelo homem. Este método consiste na eliminação das plantas espontâneas por meio do efeito físico, com uso de equipamentos como a enxada, o cultivador e a roçadeira. Entretanto, o uso destes equipamentos deve ser altamente criterioso.

A roçada, método mais utilizado para manejar a vegetação da entre linha em pomares, elimina a parte aérea das plantas, reduzindo o crescimento de muitas delas, o uso da água e a massa verde da vegetação, proporcionando maior facilidade para movimentação no pomar. Entretanto, o uso repetido da roçada tende a eliminar algumas espécies sensíveis a operação, por esgotar as reservas de carbohidratos, uma vez que o uso frequente desta prática faz com que a planta emita novas brotações repetidamente para retomar o crescimento, demandando energia que é obtida das reservas de carbohidratos. A remoção de grande parte da folhagem reduz a produção de carbohidratos e estimula a metabolização e translocação destes das raízes para a parte aérea, onde será utilizado na reposição da folhagem e do aparato fotossintético, que permitirá a planta continuar seu crescimento.

3. USO DA COBERTURA MORTA

A cobertura morta é uma das grandes responsáveis pela viabilização do Sistema de Cultivo “Plantio Direto”. Neste sistema, a incidência de plantas espontâneas é bastante reduzida, devido à cobertura morta mantida na superfície do solo. A palhada forma uma camada protetora sobre o solo, exercendo efeito físico sobre as sementes e a população de plantas espontâneas, principalmente as jovens, atuando sobre a passagem de luz e liberando substâncias alelopáticas, desta forma, criando condições adversas para a germinação e o estabelecimento de espécies indesejadas e favoráveis ao desenvolvimento da cultura.

A cobertura morta é uma prática agrícola que consiste em cobrir a superfície do solo com uma camada de material orgânico. A formação da cobertura morta pode ser obtida a partir de culturas, principalmente gramíneas, consorciadas ou não com leguminosas, com alta capacidade de produção de matéria seca, semeadas para este fim na própria área onde se deseja ter a cobertura, ou com uso de materiais ou palhadas transportadas de outros locais. Além da semeadura de espécies a outra forma de se obter a cobertura morta é por meio do uso de materiais que muitas vezes estão disponíveis, mas são desprezados, na propriedade. Dentre eles incluem-se restos culturais ou palhadas, folhas, cascas, serragem, entre outras. Na escolha do material deve-se considerar: a quantidade, a disponibilidade, o custo de transporte e de aplicação, a presença de sementes que possam infestar o pomar e o tempo de decomposição, e as espécies ocorrentes na área. Algumas espécies daninhas ultrapassam a cobertura morta formada por determinados materiais orgânicos. Assim, devem-se eleger materiais para formar a cobertura morta considerando-se as espécies existentes na área.

b) CONTROLE QUÍMICO

O controle químico, quando executado adequadamente, tem grande rendimento operacional e apresenta como vantagens, a eficiência no controle, a diminuição da competição desde a implantação da cultura, o controle das plantas espontâneas em época chuvosa, quando o controle mecânico é impraticável, a não promoção de danos às raízes da cultura, o não revolvimento do solo, permitindo a melhor distribuição das plantas na área, bem como o controle das plantas espontâneas na linha da cultura e, principalmente, a rápida execução. Entre as desvantagens estão à exigência de equipamentos adequados e capacitação do operador. Atualmente, o custo do controle químico é bem menor que o dos métodos mecânicos, com a vantagem de agregar a eficácia na eliminação de plantas espontâneas com reprodução vegetativa. Por outro lado, a utilização incorreta do controle químico resulta em elevação dos custos, controle ineficiente, poluição do ambiente e acumulação de resíduos no solo, na água e nos alimentos.

O controle das plantas espontâneas em pomares cítricos, com uso de herbicidas, pode ser feito em pré ou em pós-emergência das mesmas (Tabela 2). Os herbicidas pré-emergentes são aplicados sobre a superfície do solo e necessitam de chuva para sua ativação. Alguns pré-emergentes exigem que no momento da aplicação as sementes das plantas espontâneas ainda não tenham germinado. A dose do herbicida pré-emergente é definida levando-se em consideração o tipo de solo (teores de argila e matéria orgânica afetam grandemente a ação desses herbicidas). Os herbicidas pós-emergentes são eficientes no controle de plantas espontâneas em estádios iniciais de crescimento vegetativo. Estes são aplicados sobre as plantas e absorvidos principalmente pelas folhas. São mais exigentes em condições climáticas do que os pré-emergentes. 
  
No sistema convencional de produção de citros, o produtor pode empregar, de acordo com a necessidade, qualquer dos produtos registrados para cultura, desde que observados o período de carência e outras especificações técnicas específicas de cada produto. Já a produção integrada permite o uso apenas de determinadas marcas comerciais de herbicidas a base de glyphosate, simazine e glufosinate.

I. ADEQUAÇÕES NA APLICAÇÃO DOS HERBICIDAS INDICADOS

Visando-se à racionalização na aplicação dos herbicidas, é interessante que se tenha a informação de quando se deve e pode aplicar uma mistura ou produtos isolados (residuais ou de pós-emergência). Algumas situações podem ser previstas e, com base nelas, se fazem as recomendações para aplicação de herbicida(s) em faixas paralelas às linhas da cultura.

a) Solo nu ou com plantas espontâneas até 8 cm de altura

Pode-se conseguir bons resultados com a aplicação de um herbicida residual (com o solo nu) e, desde que se lhe adicione um surfactante adequado, poderá controlar as plantas espontâneas ainda jovens.

b) Plantas espontâneas com até 30 cm de altura

Neste caso, faz-se necessária a adição de um herbicida em pós-emergência, devido ao estádio mais avançado das plantas espontâneas, e de um herbicida residual que, por sua vez, evitará a germinação de novas plantas por certo período.

É importante que se aplique um volume de calda por hectare adequado, para que se molhem bem as plantas e parte dela atinja o solo em quantidades suficientes para a ação do herbicida residual.

c) Plantas espontâneas com mais de 30 cm de altura
Nessa situação, a recomendação mais adequada envolve herbicidas em pós-emergência com a adição de surfactantes. A massa vegetal já estará grande e reterá a maior parte do herbicida aplicado, de forma que a mistura de um herbicida residual será desaconselhável.

II. PROBLEMAS DO CONTROLE QUÍMICO

O grande risco do uso de herbicidas em pomares de citros é o aparecimento de biótipos de plantas espontâneas resistentes ou a seleção de populações tolerantes a estes.

A resistência aos herbicidas está condicionada a uma mudança genética na população, imposta pela pressão de seleção, causada pela aplicação repetitiva do herbicida na dose recomendada. Os biótipos podem apresentar níveis diversos de resistência. Desta forma, a resistência é a capacidade adquirida de dada planta em sobreviver à determinada dose de um herbicida que, em condições normais, controla os demais integrantes da população. A resistência pode ocorrer naturalmente (seleção) ou ser induzida com o uso de biotecnologia.

Já a tolerância é a capacidade inata de algumas espécies em sobreviver e se reproduzir após o tratamento herbicida, mesmo sofrendo injúrias. Estas características relacionam-se com a variabilidade genética natural da espécie. Em dada população de plantas existem aquelas que, naturalmente, toleram mais ou menos um determinado herbicida.

A resistência de plantas espontâneas a herbicidas assume grande importância, principalmente em razão do limitado número de herbicidas alternativos para serem usados no controle dos biótipos resistentes. O número de ingredientes ativos disponíveis para controle de algumas espécies invasoras é restrito, e o desenvolvimento de novas moléculas é cada vez mais difícil e oneroso. A ocorrência de resistência múltipla agrava ainda mais o problema, já que, neste caso, são dois ou mais os mecanismos que precisam ser substituídos. Assim, o controle dos biótipos resistentes com o uso de herbicidas é comprometido, o que restringe esta prática a outros métodos menos eficientes e mais caros, como os métodos culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O controle das plantas espontâneas em pomares de culturas cítricas nos diferentes sistemas de produção exige o conhecimento das características vegetativas e das respostas das espécies aos fatores que exercem pressão de seleção, tais como as condições ambientais e os métodos de controle empregados.

O controle químico é uma ferramenta importante, entretanto, em situações em que este não pode ser empregado, como em cultivos orgânicos, poderá ser substituído pelos demais métodos de controle, que apresentam vantagens em algumas situações, mas que podem ser menos eficientes e mais custosos em outras. O controle de plantas espontâneas deve ser feito usando-se os métodos de controle (culturais e químicos) de forma integrada, a fim de se manter a infestação destas plantas em níveis adequados, sem favorecer a seleção de espécies tolerantes ou o aparecimento de espécies resistentes.

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