CI

Piracema...


Amado de Olveira Filho

Está chegando mais um período de piracema aos rios de Mato Grosso. Trata-se de uma medida necessária, porém, difícil de ser compreendida como aceitável considerando ser uma medida que basicamente busca retirar os pescadores “profissionais” dos rios mato-grossenses. Neste sentido entendo que é uma demonstração de enorme atraso para uma sociedade que pretende ser considerada como moderna.

Destarte, temos então o Governo Estadual e Federal afirmando que a “profissão de pescador artesanal” não é mais profissão, afinal em dado período do ano, os pescadores precisam estar organizados em “Colônias” e estas filiadas a uma Federação de Pescadores para que possam receber uma transferência financeira que lhes permitam a sobrevivência no período de piracema, ou seja, a profissão não tem sustentabilidade econômica.

Devemos também avaliar a alternativa de que não temos mais um estoque pesqueiro que possa manter esta atividade profissional atuando o ano todo, ou seja, falta a sustentabilidade ambiental que se soma a econômica e torna a profissão inviável. Com esta conclusão, porque deixar, somente no Estado de Mato Grosso, seis mil famílias pensando que têm profissão?

As lideranças do setor, que conhecemos e podemos afirmar se tratar de pessoas extremamente bem intencionadas, precisa reivindicar o fim deste quadro perverso que coloca milhares de famílias trabalhadoras na vala comum daqueles considerados economicamente incapazes, necessitando de recursos públicos para a humilhante travessia do período em que não podem trabalhar.

Este é o cenário, porém, as alternativas são muitas! O Estado e a União precisam canalizar os recursos que gastam ano após ano, sob a forma de ajuda, para transformar estes milhares de famílias em produtores de peixes, estruturando a cadeia da piscicultura para que possam produzir e agregar valores ao pescado. Mato Grosso é rico em água e, ainda temos garimpos abandonados, que podem ser transformados em tanques de peixes.

 Temos ainda as margens dos rios que são terras públicas, temos também, especialmente em Cuiabá e Várzea Grande as centenas de crateras deixadas pela extração de argilas e, mais ainda, temos recursos financeiros oriundos das taxas arrecadadas na época em que o IBAMA era o Gestor ambiental em Mato Grosso. Por outro lado, temos o que é mais precioso e necessário, a disposição desta gente que é briosa e não fugirá da raia se convocada.

Entendo que a hora é agora, não vamos esperar a Piracema de 2008/2009 para apenas registrar uma nova Piracema. É necessário que sejam elaborados e implantados projetos pilotos, pequenos e ajustados para que no decorrer do ano possa ficar provado que é possível transformar estes pescadores em produtores de peixes e devolver-lhes a dignidade. Eu acredito que dará certo!

Um outro cenário nada animador para você consumidor é a certeza de que a Piracema também serve para alguns levarem vantagens sobre você, cobrando um absurdo por um quilo de peixe, mesmo os criados em tanques. Esta certeza nos leva a reafirmar que o poder público precisa fazer bem mais que decretar o período do defeso da Piracema, precisa apoiar os pescadores artesanais, suas entidades e mudar este quadro, antes que a cada ano, estejamos mais próximos de pedir a Deus a repetição do milagre da multiplicação dos peixes.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.