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Pesquisa Agropecuária e Desenvolvimento Sustentável


Newton de Lucena Costa

O conceito de desenvolvimento sustentável condiciona padrões de desenvolvimento e de convívio humano que minimizem a degradação ou a destruição de sua própria base de produção. O que se busca com o desenvolvimento sustentável é a melhoria da qualidade de vida através do gerenciamento racional, com ou sem alterações marcantes da estrutura e das funções dos ecossistemas, concomitantemente com a distribuição eqüitativa e ética dos custos e benefícios entre as populações envolvidas. O Processo de Desenvolvimento social e econômico, em qualquer situação ou época, se faz pela sinergia que se estabelece a partir da conjunção de mudanças tecnológicas e mudanças político-institucionais. Sem novas tecnologias, os sonhos de superação de limitações materiais e psicossociais de tornam tão difíceis, quando não impossíveis, gerando frustração; sem vontade e mecanismos políticos, as tecnologias não são apropriadas pelos potenciais beneficiários e não cumprem o seu objetivo, a sua razão de ser.

A Amazônia Legal corresponde a aproximadamente 70% do território nacional, com uma área geoambiental de características semelhantes, em torno de 52%. A região, em especial o estado do Amazonas, identifica-se como área de megabiodiversidade, com expressivo potencial de uso dos recursos oferecidos pela flora, fauna e microbiota, desde que manejados sob o paradigma do desenvolvimento sustentável.

Historicamente, a contribuição das instituições de Ciência & Tecnologia (C&T), por meio de ações de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), tem se tornado essencial para determinar a direção e o ritmo do desenvolvimento social e econômico de qualquer região, estado ou do País, seja porque resolvem problemas da base tecnológica já instalada, seja porque cria novos conhecimentos e tecnologias que rompem e reestruturam essa base tecnológica e a partir dos quais novas formas de desenvolvimento e novos negócios se tornam possíveis.

A pesquisa agropecuária representa importante fator para a tomada de decisões ao fornecer alternativas tecnológicas viáveis para a implantação das bases estruturais do desenvolvimento sustentável. Para que o processo de desenvolvimento sócio-econômico se instale e ocorra, em estreita sintonia com essas soluções tecnológicas criadas ou adaptadas pela ação de P&D, é preciso que existam fatores igualmente essenciais tais como legislação adequada e investimento em infra-estrutura de produção e comercialização já instalada, e mão-de-obra habilitada, entre outros. Logo, o processo de desenvolvimento coloca diante das organizações de C&T não só demandas de natureza tecnológica, mas também demandas políticas, econômicas e administrativas, imediatas e futuras. A ação de P&D se encarrega de criar ou adaptar produtos e processos bem acabados para dar respostas aos problemas tecnológicos do desenvolvimento sócio-econômico.

A interação com os diversos segmentos componentes do setor primário estadual permitiu o estabelecimento de uma visão bastante aproximada da configuração do ambiente externo, levando à definição de estratégias conjuntas para a execução das diretrizes formuladas pelas instituições federais, estaduais, municipais, as quais demandam resultados de ações de pesquisa & desenvolvimento (P&D). Os diversos segmentos da sociedade estadual estão convictos da importância da Embrapa Amapá, a quem debitam o mérito pelos resultados obtidos até o momento, os quais forneceram o respaldo necessário para o estabelecimento de práticas e processos que viabilizam o desenvolvimento sustentável do Estado. A definição das prioridades de atividades e estratégias de P&D da Embrapa Amapá estão aderentes, articuladas e consistentes com as prioridades dos governos federal, estadual e municipais, em relação à política de desenvolvimento sustentável e sustentado para o Estado. Nelas estão inseridas os aspectos econômicos, socioculturais, ambientais e político-institucionais da esfera federal, além das necessidades e demandas do Estado e dos municípios. As necessidades dos mercados locais consumidores de alimentos e produtos agrícolas, agropecuários, florestais e agroflorestais, além das demandas tecnológicas serão atendidas de forma articulada e consistente, através de parcerias com instituições e órgãos federais, estaduais e municipais, vinculados ao setor primário.

Ambientalmente, o Amapá apresenta três tipos de ecossistemas: cerrados, várzeas e floresta. Embora possa ser considerado uma região com importância potencial para as políticas de conservação e uso da biodiversidade, sua utilização pode incluir atividades agrícolas e florestais. Todavia, é vital levar em conta as características ambientais existentes, associadas às tradições e culturas das diferentes comunidades, bem como a vocação regional e a disponibilidade de tecnologias adequadas e validadas para atender demandas reprimidas para desenvolvimento sócio-econômico regional.

O Amapá possui uma área de 14,3 milhões de hectares, dos quais 10 milhões são cobertos por florestas de terra firme e 858 mil hectares cobertos por florestas de várzea. Muito mais por questões de isolamento geográfico e ausência de programas de desenvolvimento, até o presente momento, a perda da cobertura florestal não chegou a 2%. A demanda local de madeiras para serraria tem sido satisfeita, em parte, pelas ilhas paraenses que se alinham em frente a Macapá e Santana, a capital e a segunda cidade mais importante do Estado, respectivamente. Mesmo com significativa exploração seletiva de madeira, o patrimônio florestal do Estado ainda é um dos mais bem preservados do país.

Na última década, o Amapá tem sido contemplado com uma acentuada imigração de pessoas da Região Norte e Nordeste, principalmente, que aqui chegam em busca da sobrevivência, que acreditam ser possível, a obtenção de um pedaço de chão onde possam plantar e produzir seus alimentos básicos. Os projetos de assentamento agrícola têm se multiplicado e a floresta, considerada um obstáculo para a fixação do homem na terra, vai, lentamente, sendo removida. Neste processo, milhares de metros cúbicos de madeira vão sendo transformadas em cinzas, inclusive as oriundas das matas ciliares, deixando as margens dos igarapés desprotegidos e seus leitos à mercê dos assoreamentos.

O Governo do Estado do Amapá, desde 2003, com o Programa Corredor da Biodiversidade, tem priorizado o extrativismo vegetal, o desenvolvimento de sistemas agroflorestais e silvipastoris, o plantio de frutíferas tropicais e a comercialização de frutas nativas, além de outras atividades. Dentre as frutíferas, o açaí, a pupunha e o cupuaçu são as espécies florestais que receberam maior atenção, tanto para o plantio como para a comercialização de seus frutos. O potencial do fruto do taperebazeiro tem sido bastante comentado, com visível aumento pela procura do suco nas lanchonetes. Na área florestal, o setor que tem recebido maior atenção por parte do Governo, é o moveleiro. O desenvolvimento desse setor deverá estimular a demanda por madeiras e, consequentemente, de mudas de espécies florestais para a reposição ou recomposição florestal, no caso da madeira ser oriunda de área manejada.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá

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